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Os ideais do Ocidente
Nós, no Ocidente, devemos repensar a maneira como nos relacionamos com os outros povos
A QUEDA do Lehman Brothers, quase dois anos atrás, e o quase colapso do euro, mais recentemente, marcam um novo capítulo na história, que levará como título “o mundo pós-ocidental”.
Para compreender o que significa viver em um mundo como esse, precisamos primeiro contemplar o mundo pré-ocidental, anterior à conquista da Índia pelo Reino Unido e ao início do declínio da China. Foi um período seguido por mais de dois séculos nos quais o Ocidente viveu ao lado de um “outro” que considerava inferior. E isso agora acabou.
Demógrafos preveem que os Estados Unidos e a Europa responderão por apenas 12% da população do planeta em 2050. Para resumir, o “outro” agora é nosso igual. Na verdade, é superior em muitos campos, de seu apetite pelo sucesso à sua confiança determinada no futuro.
Houve, é claro, outros períodos em que civilizações se encontraram em igualdade de condições.
Considere, por exemplo, a república de Veneza em seu relacionamento com os otomanos no século 16. Ou leia as memórias de viagem de Matteo Ricci, um jesuíta que percorreu o império chinês no século 16.
Ou pense sobre os britânicos na Índia, nos anos iniciais da Companhia das Índias Orientais, antes que esta explorasse a fraqueza do império Mughal para estabelecer o seu.
Em cada um desses casos, o respeito mútuo que existia entre as duas potências se baseava em uma mistura de empatia e curiosidade.
Mas foi esse senso de equilíbrio entre civilizações diferentes que desapareceu, primeiro com a ascensão do imperialismo europeu e depois com o início do século de predomínio norte-americano.
Agora, nós, no Ocidente, precisamos voltar a repensar a maneira pela qual nos relacionamos com os outros povos. Não podemos ignorar o fato de que a Ásia e o Ocidente vivem momentos diferentes de desenvolvimento. China e Índia podem estar agora desfrutando do momento de pico em seu crescimento acelerado, antes que problemas estruturais limitem sua ascensão.
A mudança no balanço do poder não deveria ser recebida com negação (ao modo norte-americano) ou com introspecção (ao modo europeu). Pois o momento que vivemos constitui não só um desafio considerável como uma oportunidade única para o mundo ocidental.
Nossas vantagens comparativas nesse novo mundo não são demográficas, militares, financeiras ou econômicas. Encontram-se no reino de ideias e ideais; na democracia, no Estado de Direito e no respeito aos direitos humanos.
Isso é afortunado, porque, pela primeira vez na história recente, uma nova potência mundial, a China, chegou a uma posição de destaque na política do planeta sem uma mensagem universal, e ao mesmo tempo negando claramente as responsabilidades universais que acompanham sua nova situação.
Em contraste, nossa mensagem universal pode servir como vantagem competitiva para o mundo ocidental. Para que isso aconteça, no entanto, nossa variante maculada de capitalismo tem de reconquistar a superioridade moral.
No final do século 18, o início da supremacia ocidental coincidiu com o Iluminismo, movimento baseado na ideia de progresso e emancipação dos seres humanos agrilhoados por preconceito, superstição e assertivas das religiões estabelecidas.
Hoje, esse modelo de excelência está mais visível na Escandinávia, onde o poder é modesto e honesto, as mulheres desempenham papel importante na sociedade, uma variedade humana de capitalismo é praticada e o respeito aos imigrantes é a norma.
Esse claramente não é o modelo seguido pelos Estados Unidos. E tampouco é o modelo de Nicolas Sarkozy ou Silvio Berlusconi.
Chegou o momento de perceber que estamos vivendo além de nossas posses em termos materiais, e muito abaixo de nossa capacidade em termos intelectuais e espirituais.
Por isso, as potências ocidentais precisam se reinventar, mas tendo em mente uma consideração: a de que, apesar de todos os temores surgidos com a ascensão da Ásia, seu futuro depende em última análise daquilo que trazem dentro de si.
DOMINIQUE MOÏSI é conselheiro do Instituto de Relações Internacionais da França. Este texto foi publicado originalmente no “Financial Times”.
"If the people who marched actually voted, we wouldn’t have to march in the first place".
"(Poor) countries are poor because those who have power make choices that create poverty".
ubi solitudinem faciunt pacem appellant