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Re: A Instituição que foi outrora a casa do Barão do Rio Branco
Enviado: Sex Fev 26, 2010 6:12 pm
por Viktor Reznov
lelobh escreveu:Cross escreveu:
ERRADO
80% da população aprova o governo como um todo. Assim até eu, mas nunca houve uma pesquisa especificamente acerca do que a população pensa sobre a política externa.
Informe-se mais apropriadamente.
Não está ERRADO, são pontos de vista diferentes.
Aprova-se o governo como um todo (política externa inclusa).
Aprovar-se o governo em tudo e aprovar-se o governo como um todo são duas coisas diferentes e que requerem uma capacidade de interpretação de texto para diferenciá-las. A primeira implica em que o cidadão considera o governo como bem sucedido em todas as áreas, a segunda implica em que o cidadão pesou os prós e contras e conclui que o governo é bom. Como eu disse, continua errado.
Sterrius escreveu:Eu ainda to tentando entender o que o governo quer do irã, pq as relações e defesas mutuas a muito ja passaram de simples negocios.
Pq nem ideologia da pra dizer que o Irã e o Brasil tem de parecido.
Pirraça ideológica, a idéia de sucesso profissional no Itamaraty é o quanto eles conseguem frustrar o departamento de Estado dos EUA.
Re: A Instituição que foi outrora a casa do Barão do Rio Branco
Enviado: Sex Fev 26, 2010 6:27 pm
por PRick
Cross escreveu:lelobh escreveu:
Não está ERRADO, são pontos de vista diferentes.
Aprova-se o governo como um todo (política externa inclusa).
Aprovar-se o governo em tudo e aprovar-se o governo como um todo são duas coisas diferentes e que requerem uma capacidade de interpretação de texto para diferenciá-las. A primeira implica em que o cidadão considera o governo como bem sucedido em todas as áreas, a segunda implica em que o cidadão pesou os prós e contras e conclui que o governo é bom. Como eu disse, continua errado.
Sterrius escreveu:Eu ainda to tentando entender o que o governo quer do irã, pq as relações e defesas mutuas a muito ja passaram de simples negocios.
Pq nem ideologia da pra dizer que o Irã e o Brasil tem de parecido.
Pirraça ideológica, a idéia de sucesso profissional no Itamaraty é o quanto eles conseguem frustrar o departamento de Estado dos EUA.
Não houve, nem tem sentido fazer enquetes sobre política externa, afinal, como a Constituição diz de forma clara, é COMPETÊNCIA DO PODER EXECUTIVO. Assim, é um pacote fechado, porque afinal, a linha ideológica do atual governo sempre esteve bem clara, ninguém, ficou em cima do muro, babando ovo de grigo ou com rabo preso.
Tratamos os outros segundo NOSSOS INTERESSES e não os dos outros, defendemos o Irã porque está sendo perseguido, fomos contra a invasão do Iraque, porque não foi aprovada pela ONU, e olha que nunca estivemos tão certos, não nos interessa mais sermos guiados por ninguém. A trapalhada do Afeganistão fica cada vez mais clara, é preciso antes de usar a força, saber se terá eficácia.
Antes o problema contra os EUA fossem de pirraça ou de ideologia, como comprovam a OMC, e na Dinamarca. O problema é quase sempre o mesmo, o vil e velho metal.
[]´s
Re: A Instituição que foi outrora a casa do Barão do Rio Branco
Enviado: Sáb Fev 27, 2010 12:07 pm
por lelobh
Cross escreveu:
Aprovar-se o governo em tudo e aprovar-se o governo como um todo são duas coisas diferentes e que requerem uma capacidade de interpretação de texto para diferenciá-las. A primeira implica em que o cidadão considera o governo como bem sucedido em todas as áreas, a segunda implica em que o cidadão pesou os prós e contras e conclui que o governo é bom. Como eu disse, continua errado.
Perfeito, concordo com várias das suas conclusões, mas lembre-se do fato e atenha-se a ele.
Você interpreta os fatos como mais lhe satifaz, e isso é o natural (apesar de parecer não admitir). O colega tenta dobrar um fato para o seu entendimento, mas o fato é: o governo tem 80% de aprovação. Vago e ao mesmo tempo concreto. No meu entendimento essa afirmação inclui a política externa.
Eu interpreto os fatos conforme mais me satisfaz, e assumo isso.
Então não desqualifique interpretações que são plausíveis, por favor.
Re: A Instituição que foi outrora a casa do Barão do Rio Branco
Enviado: Dom Fev 28, 2010 10:39 am
por Marino
O que leva Lula a se aproximar do Irã
Andrés Oppenheimer*
O importante apoio diplomático do Brasil ao regime cada vez mais isolado do Irã deixa atônita a comunidade internacional. Há várias teorias sobre o comportamento do Brasil, algumas bastante perturbadoras.
Nos últimos dias, quando a tradicionalmente cautelosa Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) da ONU finalmente concluiu que o Irã provavelmente vai desenvolver uma arma nuclear, e até a Rússia começou a se distanciar do Irã, o o presidente Luiz Inácio Lula da Silva manterá seus planos de visitar o Irã em 15 de maio.
O Brasil, uma das potências ascendentes do mundo, dará, assim, uma legitimidade a um regime que, além de burlar as normas internacionais sobre energia nuclear, é considerado por boa parte do mundo um dos principais patrocinadores do terrorismo.
O Irã é conhecido também por ajudar grupos terroristas islâmicos como o Hezbollah, e promete publicamente varrer Israel da face da Terra. Até o governo populista argentino, que normalmente se alinha com o Brasil em questões de política externa, diz que o Irã esteve por trás dos atentados terroristas do Hezbollah em Buenos Aires nos anos 90.
No fim do ano passado, Lula surpreendeu o mundo ao receber com tapete vermelho em Brasília o presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad. O Brasil tornou-se, assim, um dos primeiros países não radicais a dar sua bênção a Ahmadinejad após as controvertidas eleições de 12 de junho de 2009.
Por que o Brasil está colocando em risco sua reputação de bom cidadão internacional fazendo isso? Entre as teorias mais disseminadas:
Presunção. Segundo essa escola de pensamento, o sucesso econômico do Brasil e a sabedoria convencional de que ele forma com a China e a Índia as potências emergentes do mundo, subiram à cabeça de Lula.
O brasileiro, que recentemente previu que o Brasil será a quinta maior economia mundial em dez anos, quer enviar uma mensagem de que seu país é um novo ator global que terá de ser levado a sério. E a teoria prossegue: o que poderia ser melhor para atrair a atenção mundial que ter um papel no conflito internacional do momento?
Devaneio diplomático. Lula, encorajado pelo status de celebridade em seu país e no exterior, pode estar levando a sério suas reiteradas ofertas de mediar a crise no Oriente Médio. Lula tem programada uma visita a Israel, aos territórios palestinos e à Jordânia dia 15.
Embora seja difícil de acreditar que Lula possa resolver alguma coisa no Oriente Médio - durante uma visita recente aos Emirados Árabes Unidos e a Israel, não encontrei uma única pessoa que me dissesse que Lula tem alguma chance de obter sucesso onde poderosos mediadores americanos, franceses e russos fracassaram - o presidente brasileiro pode honestamente pensar que conseguirá fazer história.
Ambições nucleares secretas. Lula está sendo cordial com o Irã porque o Brasil quer desenvolver armas nucleares, ou ao menos deixar essa opção em aberto após a vizinha Venezuela ter assinado vários acordos de cooperação nuclear com o Irã.
Com isso em mente, o Brasil pode querer que um outro país - neste caso o Irã - alargue os limites dos acordos nucleares mundiais existentes e crie um precedente.
Política doméstica. Lula está tentando apaziguar seus apoiadores esquerdistas do Partido dos Trabalhadores, a maioria dos quais é ferozmente antiamericana, projetando-se como um estadista vigorosamente independente, enquanto persegue suas políticas favoráveis à economia empresarial.
Minha opinião: é uma combinação da primeira teoria, presunção, com a segunda, devaneio diplomático. Mas não posso deixar de me perguntar se a presunção não conduzirá, mais cedo ou mais tarde, a mais ambições nucleares. Por enquanto, as aberturas do governo brasileiro a Ahmadinejad estão sabotando esforços internacionais para pressionar o Irã a cumprir acordos da ONU e encorajando um regime repressivo nesse país.
*Andrés Oppenheimer é analista político e colunista
Re: A Instituição que foi outrora a casa do Barão do Rio Branco
Enviado: Seg Mar 01, 2010 10:26 am
por Marino
Como o barão enfrentará a turba?
Alexandre Barros
O governo Lula ensaiou criar um poder paralelo ao Itamaraty na política externa. Nomeou um
"quadro partidário" para a Assessoria Especial da Presidência da República para Relações
Internacionais. O PT gostou da experiência e vai propor um Conselho Nacional de Política Externa,
oficial, para pressionar e fiscalizar a política externa.
Burocracias são regidas pela inércia: difíceis de pôr em movimento, de parar e de mudar de
rumo. Os mais marcantes mastodontes burocráticos na administração pública brasileira são os militares e
os diplomatas.
Os militares entraram em movimento em 1922 e não pararam até 1964. Davam-se o direito de
aprovar ou mudar os governos. Em 64 tomaram o poder e de lá só saíram em 1985. Desde então
tentamos resolver os problemas da supremacia civil no Brasil. Não tem sido fácil. Não ajudou nem a
sequência de ministros da Defesa desprestigiados, até o que acha que a melhor maneira de controlar os
militares é se fantasiar de milico.
O Itamaraty nunca dominou o Brasil - mas é o Ministério que tem maior capilaridade no governo,
mantendo diplomatas em todos os Ministérios e outros órgãos acessórios. Porém sempre fez o possível,
sem tanques nem canhões, para manter sua autonomia e fazer mais ou menos o que bem entendia,
independentemente do governo da hora.
De vez em quando era preciso dar os anéis para não perder os dedos. Deu os anéis durante o
regime militar, mas conseguiu não ter nenhum coronel "lá dentro", nem na Divisão de Segurança e
Informações. Preferiu sacrificar diplomatas para fazerem as coisas de que ninguém gostava a deixar
entrar um militar. Expulsou Vinicius de Moraes e cortou a carreira de um estudante aprovado no
concurso do Instituto Rio Branco antes mesmo de ele começar o curso.
Presidentes podiam nomear o ministro que quisessem, diplomata ou não, mas se era "de fora" a
burocracia "da casa" sempre tratava de lhe impor limites com punhos de renda. Quando o ministro não
era "da carreira", sapecavam-lhe um secretário-geral cuja principal tarefa era não deixar que "saísse da
linha". Os oficiais de gabinete que cercavam o ministro cuidavam de tornar sua estada agradável,
prazerosa e quase sempre inócua. Quando o ministro era "da casa", não era necessário gente forte nos
cargos de baixo. Linhagens familiares perpetuavam-se no Itamaraty: filhos, netos, bisnetos.
O governo Lula trouxe uma mudança curiosa: a combinação de um ministro da casa que gostava
de fazer as mesmas coisas que o presidente, dando a impressão de que havia uma grande discrepância
entre a política do Ministério e a do governo. Não havia. A maioria dos diplomatas apoiava a política
porque em burocracias fechadas (a única porta de entrada é o concurso de admissão, sem entrada
lateral) a primeira regra que os novos aprendem é que manda quem pode e obedece quem tem juízo.
O PT gostou dessa festa da coincidência entre os gostos do ministro e os desejos do presidente
e resolveu tentar institucionalizar esse esquema, criando um Conselho Nacional de Política Externa
(oficial, repita-se) para assessorar e pressionar o Itamaraty.
Se você gosta da política externa, pode tirar o cavalo da chuva. Se esse conselho for criado, ela
vai piorar muito. Se você não gosta, aí, então, nem se fala.
Política externa, mal ou bem, tem de ter alguma continuidade e alguma previsibilidade. No
momento em que se coloca a possibilidade da turba mandando em política externa, estamos em maus
lençóis. Pode ser que agora apareça uma coisa que eu pensei que tivesse desaparecido durante o
governo Lula: a militância externa.
Achei que Lula tinha acabado com a máquina petista, mas não. Ela estava só dormente porque
não conseguia competir com o carisma e a liderança pessoal de Lula. No momento em que Lula não
mais poderá continuar, sentado que está na cadeira terminal de presidente em segundo mandato, a
máquina partidária começa suas tentativas de se apoderar do poder - e o tal conselho é um caminho
perigoso para isso.
Numa democracia liberal (e ainda estamos nela) é perfeitamente legítimo os governantes
presumirem que, se alguém não expressa o seu interesse, esse alguém não tem interesse. E um dos
fatos mais marcantes da política externa brasileira foi que o quase-monopólio que o Itamaraty manobrou
com muita competência (às vezes maior, às vezes menor) conseguiu impedir a criação de grupos fortes
interessados em política externa. Era muito difícil influenciar o Itamaraty no sentido de defender
interesses particulares, mesmo quando estes coincidiam com os interesses do País.
Em outras palavras: o empresariado brasileiro acomodou-se, indo sempre a reboque da política
do Itamaraty. Nunca tentou seriamente criar mecanismos de influenciação para que uma parte da política
externa pudesse ser feita profissionalmente e outra pudesse ser feita a partir de interesses legítimos de
grupos que exportam, investem e atuam internacionalmente.
Nunca tivemos no Brasil uma instituição como o Council on Foreign Relations, que expressa,
com toda a cortesia que se espera, é claro, os interesses da elite norte-americana em matéria de política
externa.
Ainda não é tarde demais. O conselho do PT ainda não foi criado, mas ou quem tem interesses
faz alguma coisa ou esta rodada será perdida, e com grandes prejuízos.
Será que o barão vai ter de enfrentar a turba sozinho?
P. S.: Se você quiser se aprofundar mais sobre o assunto, pode ler o meu artigo Política exterior
brasileña y el mito del barón, na revista Foro Internacional, 93 (vol. XXIV, número 1, Julio-Septiembre
1983, pp. 1-20): México, DF, México.
Alexandre Barros, cientista político (Ph.D. University of Chicago), é diretor-gerente da Early
Warning: Risco Político e Políticas Públicas
Re: A Instituição que foi outrora a casa do Barão do Rio Branco
Enviado: Seg Mar 01, 2010 10:36 am
por Marino
Jornal da Câmara:
Vale a pena abrir mão de valores inegociáveis?
Raul Jungmann
Morreu, nos porões da ditadura cubana, um pedreiro, negro, pobre, ativista dos direitos humanos,
Miguel Orlando Zapata, 44 anos, preso desde 2003 nos cárceres de Cuba. Esse fato precisa ser
lamentado duplamente porque, praticamente no instante em que morria nos porões de Cuba esse
militante dos direitos humanos, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva iniciava missão oficial àquele país.
Dias antes, ficamos sabendo, pela imprensa, que o presidente recebera uma carta que lhe pedia
que intercedesse em favor dos presos políticos. Refletindo hoje o que é consenso - qual seja a posição
internacional desfrutada pelo presidente do Brasil e as suas relações históricas e de amizade com os
líderes e com o regime cubano -, pediu-se que ele intercedesse em prol dos direitos humanos, em favor
da melhoria das condições carcerárias, em favor dos direitos e da justiça dos prisioneiros de consciência,
como bem diz a ONU, que hoje se encontram nos cárceres cubanos.
O presidente teve duas reações: disse que desconhecia essa carta e invocou uma vez mais,
como o nosso Itamaraty, a não intervenção para não se imiscuir nas questões internas referentes ao
regime cubano.
Isso já forma uma série histórica. É a mesma resposta padrão que o Brasil vem dando para o que
ocorreu no Sri Lanka, quando os Tigres Tamis foram literalmente dizimados - eles próprios também
agressores dos direitos humanos. E o Brasil? Em lugar de aprovar resolução proposta no Conselho de
Direitos Humanos das Nações Unidas, preferiu evitar a condenação tanto de um lado quanto do outro, o
que foi pública e internacionalmente denunciado pelas entidades e associações de direitos humanos.
A mesma postura vem tendo o Brasil com relação ao genocídio e ao massacre de Darfur,
promovido pelo governo do Sudão, em que milhares de pessoas vivem o drama de serem arrancadas de
suas casas, mortas, dizimadas, literalmente incapacitadas de exercer uma vida digna e humana. A
mesma situação vivemos agora, para nosso vexame, no que diz respeito ao Irã, fato recente e da maior
gravidade.
O que estará por trás dessas atitudes, que se confrontam com a tradição do Brasil de defesa dos
direitos humanos? Essa tradição não é de hoje. Afinal, na nossa Carta Constitucional, no artigo 4º,
encontra-se a defesa dos direitos humanos como valor fundamental, como cláusula pétrea.
Nós, que somos signatários de todos os tratados internacionais que visam proteger os direitos
humanos, por que adotamos essa posição? Cabe aqui especular. Em primeiro lugar, estamos diante de
um projeto que aponta para trás, para um conceito de Brasil potência, que tem muitas similaridades com
o que representou, no regime militar, o governo Geisel. Em segundo lugar, estamos numa busca
desenfreada e a qualquer preço por um assento no Conselho de Segurança da ONU.
Será que vale a pena abrir mão dos nossos princípios e valores? Será que vale a pena flexibilizar
a nossa política externa? Será que vale a pena esquecer que ainda próximos estamos de um regime
ditatorial? Será que vale a pena ignorar que brasileiros foram mortos, torturados, sequestrados e
exilados? Será que vale a pena ignorar toda a luta, toda a conquista para superar esta situação que
vivemos? Será que vale a pena, em nome da projeção de um Brasil potência? Vale a pena ocupar um
assento manchado de sangue das vítimas dos sequestros, das torturas, dos desaparecimentos? Vale a
pena assentar no Conselho da ONU, abrindo mão de valores históricos, de valores inegociáveis,
associados a tiranias? Não faz nenhum sentido.
Hoje o que o mundo está efetivamente a requerer, além de um urgente redesenho da
institucionalidade de governança, é a transnacionalização de determinados temas que deveriam ficar
acima das nações e das preocupações particularistas, a exemplo de democracia, meio ambiente e
direitos humanos.
É triste ver uma democracia arduamente conquistada associada a tiranias, a torturas e a
sequestros, associada a desumanos não direitos, porque é disso que se trata. Não quero, não desejo,
não merecemos, nem nós nem o povo brasileiro, uma cadeira no conselho de segurança associada a
tiranos, tiranias e manchada de sangue. Isso representaria a falência deste País enquanto conjunto de
valores e princípios.
Raul Jungmann é deputado federal pelo PPS de Pernambuco
Re: A Instituição que foi outrora a casa do Barão do Rio Branco
Enviado: Seg Mar 01, 2010 10:37 am
por Marino
Jornal da Câmara:
A convivência entre os países exige postura de respeito
Fernando Ferro
Durante toda a quinta-feira (25), ouvi diversas manifestações relativas à visita do presidente Luiz
Inácio Lula da Silva a Cuba e as consequências do lamentável acontecimento envolvendo um prisioneiro
(Orlando Zapata Tamayo) que faleceu após greve de fome naquele país.
Para muitos deputados da oposição, existe um procedimento seletivo para cobrar nossa
diplomacia e posicionamento em relação a fatos, como esse que aconteceu.
Quero deixar muito claro que somos intransigentes defensores dos direitos humanos.
Produzimos o Plano Nacional de Direitos Humanos, resultante de um debate da sociedade brasileira,
contra o qual várias vozes se levantaram.
Poucos aqui vieram defender aquele plano, desses que agora criticam a ausência de política de
direitos humanos no Brasil. É uma incoerência que, na verdade, revela exatamente a vocação eleitoral
de certas manifestações.
O Brasil tem, sim, uma política de direitos humanos, de reconhecimento da autodeterminação
dos povos, de condenar a violação dos direitos humanos. O Brasil tem uma política de atendimento, mais
do que isso, de discurso, quando exerce a sua ação no Haiti, quando vai ao encontro das pessoas
necessitadas, quando se manifesta de maneira soberana e altaneira em relação a outros países.
Temos, sim, uma postura diplomática de nação que se faz respeitar. Condenamos o desrespeito
aos direitos humanos, mas temos a capacidade de compreender que a convivência entre os países
exige, em determinadas situações, posturas de respeito.
Queria a oposição que o presidente Lula fosse a Cuba provocar um incidente diplomático, criar
uma atitude de rebelião contra o acontecido. Lamentamos. Não concordamos com essa postura de
prisão política de opinião. Não somos adeptos do modelo político de Cuba. Respeitamos o povo cubano
e sabemos que ele viveu processo histórico totalmente diferente do nosso. Não se aplica ao nosso País.
Temos de criar e avançar para construir um sistema democrático com cidadania num processo
civilizatório da política. Não aceitamos esse posicionamento, esse alinhamento que alguns querem do
governo brasileiro, de determinadas posturas que são subalternas, submetidas a interesses do império
do dinheiro do mundo.
Estamos, diferentemente disso, construindo outro caminhar. Temos hoje, sem sombra de dúvida,
respeito na comunidade internacional, porque criamos essa atitude e esse comportamento. Queriam que
nos alinhássemos às condenações a todos os países como se isso fosse uma questão de arroubo. Há
questões diplomáticas, de relações entre as nações, em que é preciso medir as palavras, sim.
O presidente Lula tem tido um comportamento que é exatamente de se fazer respeitar, de se
fazer ouvir, para poder dialogar, inclusive com aqueles que, em determinadas situações, descumprem
direitos elementares de respeito à pessoa humana.
Somos respeitados, por exemplo, pelo governo de Israel, pelos palestinos e pelo Irã, porque
mantemos a capacidade de conversar com todos eles. Não podemos nos envolver no conflito entre
esses países sem observar a necessidade de termos certa neutralidade nessas ações, para oferecer
alternativas de diplomacia, de diálogo e negociação.
O presidente Lula interage ao cobrar do presidente do Irã uma postura de reconhecimento aos
direitos do povo de Israel. Negar o Holocausto é inaceitável, pelo que conhecemos da história. Só pode
fazer isso quem tem autoridade para se fazer respeitar com esse dirigente político. É isso que nos
garante a autonomia e nos dá esse respeito no plano internacional.
Por essa razão, rejeitamos a discussão e o debate de nos querer enquadrar com um discurso
fácil, de que estamos submetidos ou escondendo a violação de direitos humanos.
Fernando Ferro é deputado federal pelo PT de Pernambuco e líder do partido na Câmara
Re: A Instituição que foi outrora a casa do Barão do Rio Branco
Enviado: Seg Mar 01, 2010 1:06 pm
por PRick
Marino escreveu:Como o barão enfrentará a turba?
Alexandre Barros
O governo Lula ensaiou criar um poder paralelo ao Itamaraty na política externa. Nomeou um
"quadro partidário" para a Assessoria Especial da Presidência da República para Relações
Internacionais. O PT gostou da experiência e vai propor um Conselho Nacional de Política Externa,
oficial, para pressionar e fiscalizar a política externa.
Burocracias são regidas pela inércia: difíceis de pôr em movimento, de parar e de mudar de
rumo. Os mais marcantes mastodontes burocráticos na administração pública brasileira são os militares e
os diplomatas.
Os militares entraram em movimento em 1922 e não pararam até 1964. Davam-se o direito de
aprovar ou mudar os governos. Em 64 tomaram o poder e de lá só saíram em 1985. Desde então
tentamos resolver os problemas da supremacia civil no Brasil. Não tem sido fácil. Não ajudou nem a
sequência de ministros da Defesa desprestigiados, até o que acha que a melhor maneira de controlar os
militares é se fantasiar de milico.
O Itamaraty nunca dominou o Brasil - mas é o Ministério que tem maior capilaridade no governo,
mantendo diplomatas em todos os Ministérios e outros órgãos acessórios. Porém sempre fez o possível,
sem tanques nem canhões, para manter sua autonomia e fazer mais ou menos o que bem entendia,
independentemente do governo da hora.
De vez em quando era preciso dar os anéis para não perder os dedos. Deu os anéis durante o
regime militar, mas conseguiu não ter nenhum coronel "lá dentro", nem na Divisão de Segurança e
Informações. Preferiu sacrificar diplomatas para fazerem as coisas de que ninguém gostava a deixar
entrar um militar. Expulsou Vinicius de Moraes e cortou a carreira de um estudante aprovado no
concurso do Instituto Rio Branco antes mesmo de ele começar o curso.
Presidentes podiam nomear o ministro que quisessem, diplomata ou não, mas se era "de fora" a
burocracia "da casa" sempre tratava de lhe impor limites com punhos de renda. Quando o ministro não
era "da carreira", sapecavam-lhe um secretário-geral cuja principal tarefa era não deixar que "saísse da
linha". Os oficiais de gabinete que cercavam o ministro cuidavam de tornar sua estada agradável,
prazerosa e quase sempre inócua. Quando o ministro era "da casa", não era necessário gente forte nos
cargos de baixo. Linhagens familiares perpetuavam-se no Itamaraty: filhos, netos, bisnetos.
O governo Lula trouxe uma mudança curiosa: a combinação de um ministro da casa que gostava
de fazer as mesmas coisas que o presidente, dando a impressão de que havia uma grande discrepância
entre a política do Ministério e a do governo. Não havia. A maioria dos diplomatas apoiava a política
porque em burocracias fechadas (a única porta de entrada é o concurso de admissão, sem entrada
lateral) a primeira regra que os novos aprendem é que manda quem pode e obedece quem tem juízo.
O PT gostou dessa festa da coincidência entre os gostos do ministro e os desejos do presidente
e resolveu tentar institucionalizar esse esquema, criando um Conselho Nacional de Política Externa
(oficial, repita-se) para assessorar e pressionar o Itamaraty.
Se você gosta da política externa, pode tirar o cavalo da chuva. Se esse conselho for criado, ela
vai piorar muito. Se você não gosta, aí, então, nem se fala.
Política externa, mal ou bem, tem de ter alguma continuidade e alguma previsibilidade. No
momento em que se coloca a possibilidade da turba mandando em política externa, estamos em maus
lençóis. Pode ser que agora apareça uma coisa que eu pensei que tivesse desaparecido durante o
governo Lula: a militância externa.
Achei que Lula tinha acabado com a máquina petista, mas não. Ela estava só dormente porque
não conseguia competir com o carisma e a liderança pessoal de Lula. No momento em que Lula não
mais poderá continuar, sentado que está na cadeira terminal de presidente em segundo mandato, a
máquina partidária começa suas tentativas de se apoderar do poder - e o tal conselho é um caminho
perigoso para isso.
Numa democracia liberal (e ainda estamos nela) é perfeitamente legítimo os governantes
presumirem que, se alguém não expressa o seu interesse, esse alguém não tem interesse. E um dos
fatos mais marcantes da política externa brasileira foi que o quase-monopólio que o Itamaraty manobrou
com muita competência (às vezes maior, às vezes menor) conseguiu impedir a criação de grupos fortes
interessados em política externa. Era muito difícil influenciar o Itamaraty no sentido de defender
interesses particulares, mesmo quando estes coincidiam com os interesses do País.
Em outras palavras: o empresariado brasileiro acomodou-se, indo sempre a reboque da política
do Itamaraty. Nunca tentou seriamente criar mecanismos de influenciação para que uma parte da política
externa pudesse ser feita profissionalmente e outra pudesse ser feita a partir de interesses legítimos de
grupos que exportam, investem e atuam internacionalmente.
Nunca tivemos no Brasil uma instituição como o Council on Foreign Relations, que expressa,
com toda a cortesia que se espera, é claro, os interesses da elite norte-americana em matéria de política
externa.
Ainda não é tarde demais. O conselho do PT ainda não foi criado, mas ou quem tem interesses
faz alguma coisa ou esta rodada será perdida, e com grandes prejuízos.
Será que o barão vai ter de enfrentar a turba sozinho?
P. S.: Se você quiser se aprofundar mais sobre o assunto, pode ler o meu artigo Política exterior
brasileña y el mito del barón, na revista Foro Internacional, 93 (vol. XXIV, número 1, Julio-Septiembre
1983, pp. 1-20): México, DF, México.
Alexandre Barros, cientista político (Ph.D. University of Chicago), é diretor-gerente da Early
Warning: Risco Político e Políticas Públicas
Mais um não brasileiro, dos que gostam do bafo no cangote, esses caras são antes de tudo covardes, eles tem medo de largar a saia da mamãe do norte, afinal, foi lá que ele foi domesticado! Aí nosso mídia com sede em Miami chama esses capachos para falar besteiras, a política externa é competência da Presidência da Repúblico, o Itamaraty é operador dela, meio, e não fim ou deliniador dela.
Por sinal, esse debate e muito necessário para o Brasil hoje, afinal, estamos deixando de ser o País secundário e subordinado, e uma das coisas que temos urgência é discutir nossas posições sobre os problemas planetários.
Essa mania petista chama-se, partido organizado que está no poder por eleição, e que uma de suas tarefas é a condução das diretrizes da política externo, porque, afinal, é o Presidente o principal responsável pela política externa.
É claro nosso mídia está preocupada, porque os Governo está dando de frente com seus patrões, e isso é um problemão para a Rede Globo, o Estadão, A VEJA e a FSP.
[]´s
Re: A Instituição que foi outrora a casa do Barão do Rio Branco
Enviado: Ter Mar 09, 2010 11:55 am
por Marino
Política externa coletiva
Pedro Leitão da Cunha
A recém-divulgada ideia do PT de que um conselho deveria ser criado para orientar o Itamaraty na política externa brasileira deixou a maioria dos observadores atônitos. Primeiro, quanto ao objetivo de tal iniciativa; segundo, quanto aos aspectos práticos decorrentes desta original ideia.
Como hipótese inicial, presumimos que tal providência retiraria do presidente da República sua prerrogativa na determinação da política externa brasileira.
Não sendo esta a intenção, o proposto conselho supervisionaria a execução da política externa brasileira, a real função do Itamaraty.
A ser verdadeira a primeira opção, nada impede que o presidente se aconselhe com quem bem entender, e no momento, senão um conselho, Luiz Inácio Lula da Silva se aconselha com Marco Aurélio Garcia. Ainda que mal (vide Chávez, o incontrolável; vide Zelaya o descartável).
Optando-se pela segunda hipótese, resta saber qual a composição de tal conselho, e qual a relação hierárquica deste em relação ao ministro das Relações Exteriores. Se criado, presume-se que seria formado por pessoas de substancial conhecimento, mas em que áreas? Em geopolítica, em comércio internacional, em assuntos militares, em estratégia, em história, em direito internacional, em economia? Ou teremos sindicalistas, próceres políticos, teólogos socialistas, cabos eleitorais, “coronéis” regionalistas e ex-guerrilheiros? Solucionadas tais questões, prudente tornar-se-ia a análise de nossa política externa, tanto quanto sua eficiência quanto a respeito de sua eficácia, para que fique clara a necessidade de criar-se tal órgão.
Tanto num quesito quanto no outro, o Ministério das Relações Exteriores brasileiro tem se destacado ao longo das décadas de sua existência.
A eficiência da máquina ministerial tem sido objeto de admiração internacional, ainda que recentes alterações, tanto no currículo dos novos diplomatas como na expansão exagerada de novas contratações e representações no exterior, tenham minado a tradicional qualidade de seu quadro. Mesmo assim, comparando-se com os quadros de países desenvolvidos, o diplomata brasileiro exibe, por norma, admirável atuação. Sua eficácia se revela no domínio das complexidades que envolvem as relações entre os mais diversos países, que garantem à nação uma cobertura internacional, bem como uma infraestrutura interna de suporte.
Quanto à eficácia da política externa, esta depende, em grande parte, dos objetivos determinados pela Presidência e seus assessores, com sua execução a cargo do chanceler. Sem dúvida tais objetivos oscilam de acordo com as preferências do presidente em exercício, as quais tornarão possível ou impossível a consecução dos objetivos estabelecidos. Por exemplo, a busca do assento do Conselho de Segurança impõe uma convergência mais acentuada, indesejada pelo presidente, com a política externa americana.
Sem voto americano não há espaço para o Brasil no Conselho de Segurança. Existe, pois, uma contradição de objetivos, imposta de cima para baixo, que não seria remediada pela existência do propalado conselho.
Observa-se, sob exame destas realidades, que para o sucesso da diplomacia brasileira é necessária uma cristalina cadeia de comando, onde o presidente, assessorado pelos conselheiros que possa convocar, desenvolva a política externa, concedendo ao chanceler a missão de executá-la sem interferência espúria. A intromissão de outras instâncias de poder e influência entre o chefe do Executivo e o Itamaraty apenas servirá para diluir a clareza dos objetivos e a eficácia de sua implementação.
Re: A Instituição que foi outrora a casa do Barão do Rio Branco
Enviado: Ter Mar 09, 2010 12:14 pm
por Marino
J.R. Guzzo
Opção preferencial por ditaduras
"A política externa brasileira pode ser um primor de independência, mas seu resultado prático mais visível foi tornar o Brasil, ao longo do governo Lula, o grande amigo do que existe de pior no mundo"
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva não teria ido longe na vida se tivesse tentado fazer no Irã, o mais recente dos grandes amigos de seu governo, a carreira de sindicalista e militante de oposição que fez aqui no Brasil; provavelmente teria sido condenado à morte e mandado para a forca, solução que o regime iraniano adota, como procedimento regular, para lidar com líderes sindicais, adversários políticos e criadores de problema em geral. O Irã é hoje, depois da China, o país que mais aplica a pena de morte; só nos oito primeiros meses do ano passado, último período do qual existem estatísticas, executou 320 pessoas, metade delas nos cinquenta dias que se seguiram às eleições de junho, denunciadas como uma maciça operação de fraude. Nos processos por crimes políticos, os réus não têm direito a advogado. Também não podem reclamar de violências sofridas na prisão; o Irã se recusa, simplesmente, a aprovar qualquer lei proibindo a tortura. A polícia dissolve atos de protesto investindo com motos contra os manifestantes. Oposicionistas são punidos com expulsão da universidade, cassação de direitos trabalhistas e, no caso de dissidentes religiosos, com a destruição de seus templos.
É esse o regime em favor do qual o Brasil tanto vem brigando ultimamente, como teve a oportunidade de deixar claro mais uma vez, na semana passada, durante a visita ao país da secretária Hillary Clinton, a chefe do serviço diplomático dos Estados Unidos. Lula, que em novembro recebeu em Brasília o presidente do Irã e se prepara para ir visitá-lo em maio, já avisou ao mundo que viaja para onde quiser e que não tem de submeter seus planos de voo à aprovação prévia dos Estados Unidos. É mais uma dessas coisas que não se entendem direito, porque não há ninguém dizendo o contrário, nem lá nem aqui. O que os americanos acham, como muitos outros países, é que o Irã representa algo pior que um regime delinquente, apenas; é um regime delinquente a caminho de ter uma bomba atômica e que se recusa a abrir seu programa nuclear a qualquer inspeção internacional séria. Deveria, portanto, receber as sanções legais previstas para esse tipo de conduta. É um ponto de vista.
O Brasil tem o direito de ter um ponto de vista diferente. Tem o direito, também, de manter boas relações com todos os países, e não apenas com os que são considerados virtuosos. Mas o que realmente importa, no caso, não é a divergência de posições com os Estados Unidos e outros países, ou mesmo o debate para saber se o Irã está ou não construindo a bomba e se vai jogá-la em cima de alguém. O que chama atenção é o fato, cada vez mais claro, de que a política externa brasileira pode ser um primor de independência, mas seu resultado prático mais visível foi tornar o Brasil, ao longo do governo Lula, o grande amigo do que existe de pior no mundo em matéria de regimes celerados. É como se o Brasil, nas suas relações com os demais países, fizesse uma pergunta-base: é ditadura ou não? Se for, tem a nossa preferência.
As declarações mais recentes dos pensadores da nossa política externa a respeito do assunto não são de animar. O diplomata Samuel Pinheiro Guimarães Neto, hoje à frente da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, já advertiu que é preciso tomar cuidado com o que chamou de "direitos humanos ocidentais"; trata-se dos mesmos direitos que todo mundo conhece há mais de 200 anos, mas que, em sua opinião, são impostos pelas "grandes potências" para defender seus próprios interesses. Outro mau momento foi a recente visita do presidente Lula a Cuba, que coincidiu com a morte, após uma longa greve de fome, do operário Orlando Zapata, condenado a 25 anos de cadeia por fazer oposição ao governo. Para o Brasil, tudo bem. "Há problemas de direitos humanos no mundo inteiro", comentou o assessor presidencial para política externa, Marco Aurélio Garcia. Lula, por sua vez, não foi capaz, com toda a sua influência junto ao governo cubano, de dizer uma única palavra em favor do companheiro Zapata; embora houvesse uma carta aberta pedindo sua intervenção, reclamou, irritado, que ninguém lhe escreveu nada a respeito. O que ele queria? Os presos em Cuba não têm acesso a e-mail, carta registrada ou serviço de entrega rápida dos correios. Lula achou o episódio "lamentável". Mas deu a impressão de que estava aborrecido, mais do que tudo, com o próprio Zapata – por ter feito a greve de fome e por não ter tido a consideração de esperar, antes de morrer, que a visita acabasse.
Re: A Instituição que foi outrora a casa do Barão do Rio Branco
Enviado: Seg Mar 15, 2010 9:07 am
por Marino
Começou a encrenca:
Incidente diplomático na chegada
TEL AVIV. Nem bem desembarcou em Israel e o presidente brasileiro já se deparou com um mal-estar diplomático com os israelenses. Lula riscou do cronograma da visita de 36 horas ao país a realização de uma cerimônia em homenagem a Theodor Herzl, o jornalista austro-húngaro fundador do movimento sionista, que levou à criação do Estado de Israel. No evento, marcado para terça-feira, Lula depositaria uma coroa de flores no túmulo de Herzl.
Segundo a rádio israelense Arutz 7, o organizador do evento, Hagai Merom, chamou a decisão de Lula de "insulto" e afirmou que a visita ao local faz parte das "regras de cerimônia e amizade entre países".
A embaixadora Dorit Shavit, diretora-geral para América Latina do Ministério das Relações Exteriores, tentou diminuir a intensidade do incidente. Ela afirmou acreditar que Lula recusou visitar o túmulo porque não sabe quem é Herzl e não porque tenha algo contra o sionismo.
- Na minha avaliação, ele decidiu não ir porque não sabe a importância de Herzl para nós. Ainda temos esperança que ele mude idéia.
Shavit contou que a Chancelaria pediu explicações ao embaixador Pedro Motta Pinto Coelho, que tentou acalmar os israelenses. Fontes do Itamaraty informaram que a decisão foi tomada apenas porque a agenda estava lotada. Nesse mesmo dia, Lula vai ao Museu do Holocausto, almoçará com autoridades e viajará à Cisjordânia, para se reunir com o presidente palestino, Mahmoud Abbas.
- Depois do "piripaque" que ele teve em janeiro, estamos tentando dar mais tempo para ele descansar - disse um funcionário do Itamaraty.
Mas a recusa está sendo interpretada, por alguns, como sinal de que o presidente não simpatiza com o movimento que criou Israel. O sionismo é criticado principalmente por países árabes. (D.K.)
Re: A Instituição que foi outrora a casa do Barão do Rio Branco
Enviado: Seg Mar 15, 2010 9:43 am
por Marino
Não concordo com grande parte do artigo, mas posto por coerência :
O Brasil, o Irã e as armas nucleares
José Goldemberg
Atribui-se a John F. Kennedy, um dos grandes presidentes dos Estados Unidos, a declaração de que "governar é escolher entre opções com base em informações incompletas e cujas consequências são muito difíceis de prever".
O que está acontecendo com o nosso presidente da República é que ele tem envolvido o Brasil, de forma crescente, em problemas delicados da política internacional, como a proliferação nuclear, e corre o sério risco de fazer as opções erradas, comprometendo a posição do País no futuro. Especificamente no caso do Irã, o Brasil envolveu-se num jogo perigoso, que, na prática, encoraja os
iranianos a enriquecer urânio em níveis elevados, mantendo aberta a possibilidade de construir armas nucleares, o que conturbará ainda mais a já complicada situação do Oriente Médio.
O que motiva o presidente é provavelmente a ideia de que o Brasil tem também a capacidade de enriquecer urânio e, caso sanções ? ou outras ações ainda mais sérias ? venham a ser impostas ao Irã, elas poderão no futuro ser aplicadas também ao Brasil.
Essa possibilidade não tem sido levantada abertamente até agora, mas nada impede que o seja, na medida em que é questionada a opção política feita pelo presidente Collor em 1992 e depois complementada pelo governo Fernando Henrique. Essa opção foi a de "desnuclearizar" o Cone Sul da América Latina, abandonando programas semiclandestinos que poderiam levar à produção de armas nucleares no Brasil e na Argentina. A criação da Agência Brasileiro-Argentina de Contabilidade e Controle de Materiais Nucleares (Abacc), que introduziu inspeções mútuas nas instalações nucleares dos dois países, levou depois à adesão ao Tratado de Não-Proliferação Nuclear, em 1994. Com isso o Brasil (e a Argentina) saiu da lista dos "suspeitos" de alimentar sonhos de se transformar em potência nuclear.
Parte do prestígio internacional que o Brasil conquistou nas duas últimas décadas se deve a esse comportamento responsável, plenamente aberto, em relação à Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), com a fiscalização adicional da Argentina (que tem todo o interesse em que o Brasil não desenvolva a bomba atômica), além de sua tradição secular de resolver conflitos latentes ou explícitos por negociação e arbitragem.
Desperdiçar esse prestígio respaldando as atividades e intenções duvidosas do Irã nessa área é uma má opção, mas é efetivamente o que está ocorrendo, como demonstra o que aconteceu em novembro de 2009. Nessa ocasião a AIEA aprovou proposta russa de criação de um banco de combustível nuclear (urânio enriquecido para uso em reatores nucleares destinados à produção de eletricidade).
A proposta russa foi de criar, para países que tenham reatores nucleares, uma alternativa de obter o combustível de que necessitem, caso os países produtores, como os Estados Unidos, se neguem a fornecê-lo por motivos políticos. Isso, como se sabe, ocorreu com o Brasil na década de 1970, quando o governo americano se recusou a fornecer combustível para o reator de Angra-1 em razão de atritos existentes, na ocasião, com o governo brasileiro decorrentes da assinatura do acordo Brasil-Alemanha.
A criação de um banco de combustível nuclear sob o controle da AIEA, e não dos países produtores de urânio enriquecido, é uma garantia de que episódios como o que ocorreu com o Brasil no passado não se repetirão. A única condição para o fornecimento de combustível por esse banco é que o país tenha boas credenciais na área de não-proliferação nuclear.
Para o Brasil a existência de um banco de combustível não tem maior interesse, mas para países como o Irã, o Egito e até o Iêmen (!), além de vários outros que desejam instalar reatores nucleares, resolveria o problema de suprimento e tranquilizaria as nações preocupadas com a proliferação nuclear.
A proposta russa foi aprovada por 24 votos a favor e 3 abstenções (Índia, Quênia e Turquia). O Brasil votou contra, juntamente com Argentina, Cuba, Egito, Malásia, Paquistão, África do Sul e Venezuela.
O argumento usado pelos países que votaram contra foi o de que eles têm o "direito inalienável" de enriquecer urânio (e desenvolver todas as tecnologias necessárias), de acordo com o parágrafo IV do Tratado de Não-Proliferação Nuclear. Segundo eles, a criação do banco vai enfraquecer esses direitos. O uso do "direito inalienável" de enriquecer urânio acabou virando uma forma de reafirmar as tendências nacionalistas extremas que vigoram hoje no Irã.
A verdade é que há muitas formas de exercer a defesa da independência nacional, e a mais consistente é garantir à população condições de segurança e bem-estar para atingir um grau maior de desenvolvimento econômico, social e cultural. A posse de armas nucleares, ou o eufemismo de enriquecer urânio para fins pacíficos, não é a única forma de defender a independência e o orgulho nacional, como faz o Irã hoje.
O Irã não tem realmente nenhuma justificativa sólida para enriquecer urânio. O país tem a segunda maior reserva de gás do mundo, de modo que, a rigor, não tem necessidade de reatores nucleares para gerar eletricidade, não tem nenhum reator nuclear em funcionamento nem grandes reservas de urânio natural. Suas atividades sugerem fortemente interesses na direção da proliferação nuclear.
Há hoje um grande esforço na direção contrária: fazer com que as armas nucleares sejam coisa do passado.
Nosso chanceler, Celso Amorim, já fez, no passado, parte de comissões internacionais que propugnavam a adoção de medidas concretas, como está fazendo agora uma comissão de alto nível organizada pela Austrália e pelo Japão.
As posições que o Brasil está tomando agora no tabuleiro internacional nessa área apontam na direção contrária, o que, a nosso ver, não consulta o interesse nacional.
José Goldemberg é professor da Universidade de São Paulo
Re: A Instituição que foi outrora a casa do Barão do Rio Branco
Enviado: Seg Mar 15, 2010 1:44 pm
por Sterrius
Lula riscou do cronograma da visita de 36 horas ao país a realização de uma cerimônia em homenagem a Theodor Herzl, o jornalista austro-húngaro fundador do movimento sionista,
Motivos obvios... ele dpois vai visitar os paises arabes como? Essa visita faria os arabes pensarem que lula tem segundas intenções e nao pensam nos arabes.
E essas visitas dele estarão cheias dessas pegadinhas. O Mundo quer que brasil escolha 1 lado, e a posição de ficar em cima do muro nem sempre é a mais facil.
Re: A Instituição que foi outrora a casa do Barão do Rio Branco
Enviado: Seg Mar 15, 2010 3:21 pm
por rodrigo
Não vejo problema do Lula cancelar a visita ao monumento, é público e notório que ele passou por uma estafa há poucas semanas, ocasionada pelos excessos.
Re: A Instituição que foi outrora a casa do Barão do Rio Branco
Enviado: Seg Mar 15, 2010 7:40 pm
por Marino
Bom, começou a merda.
Imaginem a seguinte situação: durante a crise com a Bolívia, o exército cocaleiro mata centenas de brasileiros na fronteira e o Brasil decide retaliar. De repente, saindo do nada, o Presidente das Ilhas Maldivas surge e coloca-se como interlocutor válido, propondo soluções para a disputa (que não é de séculos), pq alguns brasileiros e bolivianos vivem na praia, lado a lado, nas Maldivas.
Chega e diz: sou gente boa, sou legal, gosto de dialogar, sou moreno alto, bonito e sensual e tenho a solução para seus problemas.
Qual seria a recepção da otoridade?
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Chanceler israelense boicota visita de Lula
Jerusalém
A visita de Luiz Inácio Lula da Silva a Israel foi boicotada pelo ministro de Assuntos Exteriores do país, Avigdor Lieberman, depois que o presidente brasileiro não visitou o túmulo do fundador do sionismo, Theodor Herzl.
Lieberman não compareceu nesta segunda-feira (15) à sessão especial do Parlamento israelense (Knesset) na qual Lula fez um discurso em protesto pelo que considerou como um grave descumprimento do protocolo, informou o serviço de notícias israelense "Ynet".
O porta-voz de Lieberman, Tzachi Moshe, confirmou à Agência Efe que o ministro não compareceu ao Knesset para o discurso de Lula, mas preferiu não comentar se o chefe da diplomacia israelense estaria boicotando a visita, a primeira de um chefe de estado do Brasil ao Oriente Médio em mais de 100 anos.
Lula não só deixará de visitar o túmulo de Herzl, como depositará flores no túmulo do histórico dirigente palestino Yasser Arafat durante sua visita a Ramala na quarta-feira.
Hoje de manhã, enquanto Lula mantinha um encontro privado com o presidente israelense, Shimon Peres, o chefe de protocolo do Ministério de Assuntos Exteriores israelense, Yitzhak Eldan, perguntou mais uma vez a seu colega brasileiro, embaixador George Monteiro Prata, se o presidente tinha mudado de opinião.
Prata respondeu com um firme "não", informou o jornal "Jerusalem Post".
"Eldan ficou claramente incomodado", diz a publicação.
Ainda segundo o "Jerusalem Post", quando perguntado por um jornalista sobre por que Lula visitará o túmulo de Arafat e não o de Herzl, Prata respondeu que "terão que perguntar ao presidente".
Discurso
Em discurso no Parlamento israelense, Lula voltou a defender a criação de um Estado Palestino e pediu que os países que produzem armas nucleares sigam o exemplo do Brasil e de outros países latino-americanos e proíbam a produção nuclear para fins bélicos. Israel está entre os países produtores de armas nucleares.
“No nosso país existe uma proibição constitucional da produção de armas nucleares. Gostaríamos que o exemplo do nosso continente pudesse ser seguido em outras partes do mundo”, afirmou o presidente.
No pronunciamento conciliador, Lula defendeu o estabelecimento de um diálogo para a coexistência de um Estado israelense e outro palestino. “Na oposição [no Brasil] busquei o diálogo. Cheguei à Presidência pelo diálogo. Governei dialogando. Defendemos a existência de um Estado de Israel soberano, seguro e pacífico. Ele deverá existir junto com um Estado palestino, soberano, seguro e pacífico”, disse.