Wolfgang escreveu:
Não. Na produção de materias sensíveis, a construção, o projeto, os erros e acertos contam muito. Pergunte ao Marino porque o Brasil não compra só o projeto do Barracuda e faz aqui, em vez de construir e aprender os métodos de construção com os franceses.
Pergunte isso a um engenheiro e veja se não há um imensa diferença.
Luís, um caça mais ágil e veloz que o Raptor sendo multimissão? Os russos estão conseguindo moldar metal líquido como o vilão do Extermindor do Futuro II? Mais uma vez.... Existe um negócio que se chama projeto, que por sua vez tem linhas que o definem para determinado uso e se o u so for multimissão, o caça não poderá ser tão bom quanto o Raptor na defesa e tão bom no ataque como o F-35.. capisce?
Por que russófilo sempre acha que os russos têm algo na manga, que detém uma tecnologia inovadora que foi descoberta em 1812 e que só agora quando a Rússia não é mais um Império e suas empresas vivem no capitalismo, pode se dar concretização a essa idéia?
Eu não subestimo os russos, mas não acho que eles são bruxos de Hogwarts, que transformam 20 anos de inatividade em um projeto acabado e superior em relação a outros que gastaram 40 anos no caminho, com muitíssimo mais dinheiro e com engenheiros e cientistas tão competentes quanto os seus.
Bom Já que eu sou um engenheiro deixe-me dar mais um pitaco nesta discussão.
Uma coisa é um país, uma empresa, um instituto, etc... iniciar do zero o desenvolvimento de um produto ou sistema no qual não possui nenhuma experiência anterior. Isto exige a realização de uma série de testes práticos e a acumulação de uma grande quantidade de experiência (já que a engenharia não é uma “ciência exata”, e sim uma “arte exata”), e acaba por demandar muito tempo e dinheiro para obter resultados realmente bons, além de uma certa dose de sorte. Não é algo impossível, mas é caro e arriscado. Para minimizar estes prazos e riscos é que a MB está contratando o aprendizado junto aos franceses, e não só comprando o projeto de um casco.
Já no caso do desenvolvimento de aviões furtivos pelos russos a questão é bem diferente. Os projetistas e engenheiros russos já possuem ampla experiência em projeto de caças de alto desempenho, e inclusive com características furtivas (como o Berkut e o Mig 1.44 mencionados pelo Carlos Mathias). O fato de nenhum projeto deste tipo ter entrado em produção não significa que a tecnologia não foi aprendida e testada. Pode ser (e na verdade acho bem provável) que os americanos até estejam um pouco à frente depois de todo o tempo e esforço que gastaram para construir e principalmente operar na prática seus aviões furtivos, mas sinceramente duvido muito que a diferença seja equivalente a vinte anos de desenvolvimento tecnológico.
Outro ponto importante é que o paradigma que levou ao desenvolvimento do conceito de furtividade do F-22 não é mais completamente válido hoje, e na prática os russos provavelmente não precisam sequer obter o mesmo resultado que os americanos obtiveram com relação à redução do RCS do seu novo caça. Quando conceberam o Raptor os americanos acreditavam que a tecnologia IRST não se tornaria importante, tanto que não se preocuparam em incorporá-la nem aos seus caças mais antigos nem ao próprio Raptor. Mas hoje na Europa e na Rússia esta tecnologia já está madura e funcionando muito bem, e isto mudou o cenário para o F-22.
Para você entender este ponto, façamos o seguinte exercício: Vamos calcular com os dados abaixo qual precisaria ser o RCS do PAK-FA para permitir que ele se aproximasse do F-22 na distância de detecção do seu IRST, no mesmo momento em que o radar do Raptor conseguisse detectá-lo. Veja que estes dados são típicos do que aparece em fóruns internacionais, principalmente americanos. Os dados de alcance do APG-77 por exemplo costumam informar que ele detecta alvos a até 400 Km, mas isto para um RCS de 5,0 m2. E o alcance do IRST é hoje até maior que 70 Km, mas consideremos o Raptor voando em velocidades relativamente baixas, em torno de 850 Km/h.
-Alcance radar F-22 para alvo com RCS de 1,0 m2 = 270 Km
-Alcance de detecção de um IRST atual para alvo do porte do F-22 = 50 Km
-Degradação do alcance do radar com redução do RCS = 1-RCS^0,25
Precisaremos neste caso de uma redução de 5,4 vezes no alcance de detecção, e resolvendo para o RCS chegamos a um valor de ~0,001. Se o PAC alcançar este nível de furtividade, que é pelo menos dez vezes pior que o do Raptor e está no nível do F-35, então ele poderá lançar um míssil de longo alcance com sensor IIR (com LOAL e guiagem intermediária por link de dados) contra o Raptor pouco antes que este possa detectá-lo!
Provavelmente é possível melhorar ainda mais o alcance dos IRST com um investimento bem menor que o necessário para a redução do RCS de um avião ao nível do F-22. É portanto possível (na falta de dados oficiais não dá para fazer melhor) que o Raptor já tenha até ultrapassado o ponto em que a redução do RCS seria realmente útil para o combate aéreo, e ninguém tenha que chegar tão longe para poder enfrentá-lo, simplesmente porque outras tecnologias evoluíram desde que ele foi concebido. Quando dentro do próprio Pentágono surgem pressões para que a produção do F-22 seja encerrada, é deste tipo de coisa que dá para desconfiar.
Um grande abraço,
Leandro G. Card