#3360
Mensagem
por FCarvalho » Dom Fev 27, 2022 11:56 am
Em se falando de mísseis made in Brasil, o conflito ucraniano parece estar deixando escancarado o erro de abortar os poucos projetos que se tem/teve no pais em relação a armamento inteligente.
Atualmente não temos na prática domínio sobre quase nada dos raros sistemas missilísticos que operamos nas três forças. Mais de 90% do que temos ou é importado e/ou não se faz manutenção/desenvolvimento no país.
Resumidamente, o EB só conhece mísseis na figura dos Igla-S e do RBS-70NG, recém adquirido, e dos Eryx que chegaram a ser operados mas dos quais não se soube mais nada. Em termos práticos, o EB pouco ou nada sabe sobre operar mísseis operacionalmente. A introdução dos Spike LR pode ser uma luz no fim do túnel, mas ainda está longe de trazer as mudanças radicais que se precisa ver na força neste tema.
A FAB idem, já que os poucos sistemas modernos que possui vierem há pouco tempo na forma dos Derby/I-Derby e dos Phython III/IV e paramos por aí. Armamento ar-superfície nossos paiós são praticamente inócuos e o MAR-1 que poderia ter derivado uma família de mísseis foi simplesmente cancelado sem mais explicações. O MICLA é uma promessa para o futuro, e é só. Os mísseis ar-ar recém comprados são em poucas quantidades e todos importados, quase com certeza uma caixa preta da qual não conseguiremos tirar nenhu proveito tecnológico. Restam alguns poucos projetos de kit de guiagem para bombas que estão aí querendo sair do papel.
A MB que é a força mais antiga a operar mísseis, está pautada em sistemas franceses e italianos já ultrapassados e com pouca vida útil pela frente, como seus vetores de lançamento. Os sistema Mistral da FFE ao que parece foram aposentados, assim como os BILL suecos. Não restou muita coisa a não ser o projeto do Mansup, que pode vir a derivar uma família de mísseis de uso naval. Espera-se que a introdução de mísseis nos modernizados Super Linx possa trazer melhorias pontuais, já que os Sea Skua estão fora de operação há tempos. A disputa continua entre Spike e Sea Venom.
O MSS 1.2 morreu e ninguém sabe onde enterram o corpo. O A-Darter tem futuro incerto. O MAR-1 foi defenestrado. MICLA, MCT, MANSUP são os únicos sistemas que ainda tem alguma coisa sendo feita em matéria de desenvolvimento nacional, com um ou dois sistemas de kit de bombas inteligentes sendo apresentados em feita este ano mas sem qualquer perspectiva real de virem a ser adotados ou mesmo ser dada continuidade em seu desenvolvimento. Enfim, abrimos mão de muitas coisas nas últimas décadas em relação a PDI em Defesa, seja por motivos financeiros, quase sempre, seja por questões de prioridade de investimentos. Mas é fato que se olharmos a Ucrânia hoje e os muitos problemas que eles estão tendo com relação à logística, suprimentos, estoques, reposição e manutenção de seus sistemas bélicos, apesar de terem recebido, e ainda estar recebendo, muito apoio material de USA e OTAN/UE, mesmo assim no médio e longo prazo as perspectivas deles virem a vencer esta guerra são praticamente inviáveis. Com ou sem ajuda externa.
E se olharmos para os nossos estoques, logística e indústria de defesa hoje, veremos que a situação pode ser muito pior do que a da Ucrânia, já que não temos, supostamente, nem metade do que eles tem em matéria de capacidade industrial de defesa, além dos nada desprezíveis números de material ex-soviético disponíveis e em operação, modernizados ou não. Enfim, dá para ver que uma guerra não se vence apenas com sansões econômicas, boa fé, palavras de apoio e pressão política. Como o presidente Zelensky afirmou ao seu colega norte americano, "precisamos de munição, não de uma carona".
Tomara essa frase faça as cabeças pensantes por aqui refletirem um pouco sobre nossas estratégicas de defesa.
Carpe Diem