Re: Posts e respostas imortais dos usuários
Enviado: Dom Ago 09, 2009 10:24 pm
por Bender
Mais um post,desta vez do companheiro Orestes que retrata de forma brilhante e lúcida o momento de decisão do FX2.
Orestespf
Jacques, respeito (e muito!) suas opiniões, mas apesar de entender o que disse, convenhamos, não tem como comparar três caças (Rafale, F-18 e Gripen) tão distintos do ponto de vista do hardware, são de categorias distintas, porém cumprindo o "básico" que qualquer caça faria.
Sobre plataforma + sistemas lhe digo o seguinte: pegue um Fusca é dê uma "tunada" nele. Bem, será muito melhor do que era, mas sempre será um fusca. O que estou dizendo com isso é que o sistema é importantíssimo e "renova" em todos os sentidos o caça, mas que só há evolução de fato se a plataforma for condizente com o que se propõe. Nossos F-5M são incríveis, mas continuam sendo um F-5, não dá para colocá-lo para combater contra qualquer caça. Sobre isto, estou convencido, a plataforma do F-18 SH é mesmo uma merda (desculpe-me pelo termo de baixo calão, mas não há outro melhor) e nisto o PRick está coberto de razão, tanto que nunca o vi criticar os sistema deste caça, apenas suas limitações "estruturais".
Bem, observe que não estou aqui criticando o F-18 porque prefiro outro caça na FAB, pra mim tanto faz, minha fase de preferir algo já passou faz tempo. Assim, as críticas que faço é sobre o que aprendi e me convenceu, no caso do F-18, bem, são péssimas!!!
Existe uma coisa que evito ao extremo em comentar, mas desta vez, ousarei! O que está em jogo aqui nestes infindáveis debates no DB não passa de ideologias, só isso e nada mais. Acredito (fortemente) que não seja o seu caso, até porque já me demonstrou isso várias vezes, mas não é o que percebo em geral.
A questão ideológica faz de uma carroça a oitava maravilha do mundo!!! Assim sendo, quando leio a expressão "americanófilo", "russófilo", "francófilo", etc., sim, tenho que concordar, pois é isso que realmente significa, torcida pura e todos, absolutamente todos sem razão alguma. Não vejo aqui um "torcedor" criticar ou aceitar crítica sobre seu caça (o mesmo que o "Símbolo Ideológico"), o que vejo é uma enxurrada de textos oriundos, sempre, da parte interessada para desmentir o outro, como se isso convencesse alguém que sabe ler e que tem sua própria opinião, algo estapafúrdio e impensado (típico de torcedores, cegueira nua e crua). (Desculpem-me pela franqueza e expressões até grosseira, mas não se aplica a ninguém em especial, falo no geral sem pensar em nomes).
Agora a pouco o Marino deu um toque, mas como sempre, morreu na praia. O que está em jogo não são as especificações técnicas dos caças, ninguém compra um equipamento assim, mas não adianta os torcedores (sinônimo de cegueira???) não conseguem aceitar tal argumento e que é real e o único que deveria ser considerado aqui no fórum neste momento, visto que a fase do hardware morreu faz tempo (com a short list, que insisto em chamar de lista tríplice).
Cheguei a comentar nestes dias para se atentarem sobre as declarações sobre o FX-2 apresentadas "do nada" pelo ministro do MRE Celso Amorim. Isto é central neste momento, vital, diria. Alguém parou para pensar no por quê de um ministro de Relações Exterior opinar sobre compras de caças??? Alguém parou pra pensar sobre o por quê de se adiar o anúncio por mais um mês??? Alguém em sã consciência acredita (sinônimo de ingenuidade) que foi para analisar o hardware dos três caças???
Acontece que a diplomacia brasileira sempre seguiu o modelo (agora sem aspas, pois resolvi falar o que penso) europeu, mais especificamente pelo modelo francês. E isto não é coisa deste governo (atual), é mais antigo do que imaginamos. Este é o modelo de governo que, de um jeito ou de outro, o Presidente Lula está seguindo. Este é o modelo que parece ser o desejado para as FFAA brasileiras, mas que parece ter sido idealizado "de cima pra baixo", o que não importa neste momento, visto que nunca tivemos um. Deixo claro que seguir um modelo, francês ou outro qualquer, não implica necessariamente em ter que comprar equipamentos da França, mas o X da questão sobre se optar por tal coisa não comentarei aqui, neste post (não é nada demais, apenas não quero me alongar mais).
Já o modelo americano é simples de se perceber, tivemos uma clara demonstração nestes dias, com as visitas e cartinhas, inclusive passando a idéia que poderemos entrar em conflito brevemente com a Venezuela. Este é o jeito deles e que tem dado certíssimo, não é defeito, é um estilo e que respeito muito, no fundo, até gosto. Mas pergunto, estaria pronto o Brasil para se comportar desta forma (adotar este modelo)???
Não adianta promover o Brasil a este "patamar", é preciso medir as consequências, principalmente as regionais, aqueles países que insistem em dizer que somos imperialistas, etc. Aí fica a minha dúvida: projeta-se o Brasil no cenário internacional com a cara do modelo americano, como ficar o humor de alguns governantes na AL? Sim, partiriam para o vamos ver! Não se dá passos maior do que as pernas, clichê, mas adequado neste instante. O Brasil não conseguiria se sustentar ao se adotar modelo assim, não é nossa praia, a nossa é "em cima do muro" mesmo, aquela que a diplomacia interfere antes e "dá um jeito", como sempre deu. Para adotar um modelo diferente do que se pratica a séculos se faz necessário passar por cada etapa e deixar o tempo dizer se muda ou não de modelo.
Talvez hajam alguns que ainda não entenderam onde quero chegar, ou seja, cadê os caças nesta estória? Acontece que o caça representa, na opinião de leigos, ou ainda, na mente da população em geral (de qualquer lugar) o objeto de enorme poder, aquele que inicia as batalhas, etc. (basta ler as publicações em nossa mídia, principalmente a não-especializada). Assim sendo, o caça representa o símbolo de um dado modelo (ideologia, poder, forma de agir, etc.). Não tem como separar a compra de um caça "top" de um dado país do perfil de modelo ideológico de uma nação, o simbolismo é muito mais forte do que se imagina, e os "reis" dos simbolismos e das "suaves declarações" são os diplomatas, logo isto mais do que interessa a eles e naturalmente, ao próprio país (seja qual for).
O Brasil tem um perfil da diplomacia européia, mas nunca teve um modelo propriamente dito, este está sendo desenhado agora, daí a importância sobre tudo o que está acontecendo neste momento que alguns insistem em chamar de reaparelhamento militar (está longe de ser só isso). Muitos não compreenderam, nem mesmo os concorrentes. A ficha teve que cair, mesmo que tardiamente, daí a necessidade de "tempo extra".
Neste estágio dos acontecimentos alguém deveria se perguntar: por que os americanos começaram a dizer que o Brasil é prioritário? Por que logo agora? Alguém acha que é para ter bases militares aqui como as anunciadas na Colômbia? Claro que não... E por que se estendeu o prazo por mais um mês?? A toa? Para se analisar o hardware novamente, imaginando que restaram dúvidas??? Seria uma estupidez pensar tais coisas...
Não se trata dos americanos querem invadir o Brasil, não se trata de querer fazer do Brasil seu quintal (como no passado), não se trata de querer impedir as vendas do Rafale, e por aí vai. Não é nada disso, os americanos são tudo, menos estúpidos, são espertos e inteligentes, merecem respeito e não precisam ser tratados como tal, muito menos por nós brasileiros. Se por um lado não são santos, por outro nós estamos longe de ser um, no fundo somos muito parecidos. Mas não adianta promessas de governos (americano), a coisa só muda se eles demonstrarem de forma inconteste que sua política para o Brasil realmente mudou, logo não adianta dependermos do humor (bom ou ruim) dos governos americanos, é preciso que eles nos dê tratamento diferente (não necessariamente diferenciado) como uma política de Estado (deles) e não de governo (igualmente, deles).
E por que defendo o Rafale (visto que não era meu preferido, até o criticava exageradamente)? Por que entendo que o simbolismo do Rafale representa o modelo francês, que entendo ser o mais adequado neste momento ao Brasil e por acreditar que o modelo americano não se aplica a curto e médio prazo, inclusive tenho dúvidas sobre longo prazo. Isto não significa que estamos afrontando aos EUA, longe disso, devemos nos aproximar cada vez mais, mas agir e comportar da mesma maneira, só lá adiante.
O que está em jogo é o que o Brasil quer e vai ser, neste caso o simbolismo adotado pelo estilo da diplomacia são os caças. Exagerei? Duvido! Não dirão isso, jamais, visto que política e diplomacia é a arte de desmentir tudo o que se pratica.
Eu, como brasileiro, faço questão do melhor para o meu país, minha única torcida é para sermos o melhor no que é possível sermos no momento, meu nacionalismo se restringe ao que é possível, não o que parece ser melhor. Se estivesse convencido que o modelo americano seria o mais adequado pra nós, seria o primeiro defensor do mesmo; se me convencer que o Brasil está apto a mudar de modelo, serei o primeiro a defender tal coisa; se os americanos apresentarem argumentos contundentes de que compensa seguir seu modelo, faço questão de vir aqui e dizer tal coisa claramente, elogiando os caras e nossa escolha. Isto não é ser anti-americano, mas sim conviver com a forte sensação de que eles, americanos, nunca foram pró-brasileiros. E não adianta, repito, insistir em discursos e atitudes de governos (como o atual), é preciso muito mais do que isso, o problema é que não me convenci que um mês a mais seja suficiente para convencer-me, mas principalmente convencer quem é de direito.
Orestes, "aquele que não é francês e nem americano, mas sim BRASILEIRO acima de tudo"!!!
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Sds.