Fragatas Perry:
Almirante acusa ex primeiro ministro de travar a aquisição
«O progama de substituição das velhas fragatas da classe João Belo pelas norte-americanas Perry, está a ser desenvolvido agora, já com algum atraso, apenas porque o último Governo de António Guterres invabilizou propostas da Marinha naquele sentido»,
disse ao DN o almirante Vieira Matias, que chefiou o ramo entre 1997 e 2002.
Vieira Matias, quebrando o silêncio que durante anos manteve em torno deste dossier, destacou o «mérito da decisão do actual ministro de Defesa», e revelou que os antecessores de Paulo Portas naquela pasta, no último Governo chefiado por António Guterres, informados sobre a possibilidade de cedência de fragatas Perry pelos EUA, manifestaram «sempre» oposição ao projecto, «alegando razões de ordem financeira».
«Inscreveram na Lei de Programação Militar de 2001 apenas cerca de seis milhões de contos (trinta milhôes de euros) para modernizações nas fragatas Vasco da Gama e João Belo ao longo de um período de seis anos, e chegaram mesmo a colocar em alternativa os programas os de substituição destes últimos navios e o de construção de submarinos»
Aquele antigo chefe da Marinha sustentou ter tido sempre consciência da «prioridade do programa de renovação da capacidade submarina e da impossibilidade do País adquirir navios novos para substituir os da classe João Belo».
E desenvolveu, antes do final do seu mandato, contactos com o comando da Marinha norte-americana «prevendo a hipótese do novo Governo português assumir, como aconteceu, uma opção política favorável às fragatas Perry».
«Tinha uma boa relação pessoal com o meu colega da Marinha dos Estados Unidos, falei-lhe no assunto e ele disse-me que pensariam em nós quando tivessem fragatas Perry disponíveis», revelou também o almirante Vieira Matias.
As fragatas da classe João Belo, que fazem ainda parte do sistema de forças da Marinha portuguesa têm já cerca de quarenta anos. Foram construídas durante a Guerra Colonial, sofreram múltiplas modificações, e são hoje consideradas já como praticamente inoperacionais.
As Perry, que substituirão aqueles três velhos navios João Belo, vão ser modernizadas por forma a dotar a Marinha com capacidade de defesa anti-aérea de uma zona alargada.
Poderão, nomeadamente, apoiar a defesa de forças anfíbias expedicionárias de reacção rápida, grupos de navios no mar, ou zonas ribeirinhas incluindo cidades.
As duas fragatas que os Estados Unidos se preparam para ceder a Portugal têm actualmente os nomes de USS Sides e USS George Philip, e pertencem a uma série de cinquenta e dois navios que entraram ao serviço da Marinha norte-americana entre 1977 e 1989.
Os Estados Unidos estão a desactivar a classe Perry porque a Marinha norte-americana optou por incluir no seu sistema de forças mais navios de menores dimensões.
Algumas daquelas fragatas foram já cedidas à Turquia, Polónia, Egipto e Bahrein.
O desinteresse manifestado por Portugal até, pelo menos, meados de 2002, levou a Administração norte-americana a ceder a outros países a quase totalidade dos navios disponíveis.
A mudança de posição em Lisboa motivou negociações prolongadas entre o ministro Paulo Portas (ainda no Governo chefiado por Durão Barroso) e o seu homólogo norte-americano, Donald Rumsfeld, estando até agora assegurada a cedência a Portugal de apenas duas fragatas.