Guerras dos EUA já mataram 225 mil e podem custar até o triplo da dívida pública
WASHINGTON – Os custos para os Estados Unidos das guerras no Iraque, no Afeganistão e no Paquistão poderão alcançar até US$ 4,4 trilhões, valor bem superior ao US$ 1, 3 trilhão anunciado pela Casa Branca e pelo Congresso americano. O cálculo foi feito por mais de 20 especialistas para o Watson Institute for International Studies, da Brown University – uma das mais tradicionais dos EUA, fundada em 1764. Segundo as novas estatísticas, os conflitos, consequências da guerra ao terror deflagrada pós-atentados de 11 de setembro de 2001, provocaram cerca de 225 mil vítimas entre militares e civis.
O estudo foi divulgado no mesmo dia em que o presidente Barack Obama defendeu numa entrevista coletiva a estratégia de guerra no Afeganistão, a ação americana na Líbia e também os esforços de cortes no orçamento do Pentágono. Nesta quarta, o governo anunciou ainda sua nova doutrina nacional contra o terrorismo.
Em plena batalha política com o Congresso sobre a redução de gastos do governo e do valor da dívida pública – que atingiu o teto de US$ 1,4 trilhão -, Obama disse que há “muito barulho político” nas críticas à participação dos EUA na luta contra o líbio Muamar Kadafi, e justificou a presença militar em Cabul e Islamabad.
- A missão na Líbia é limitada em tempo e em objetivo.
As operações americanas no Afeganistão e no Paquistão conseguiram comprometer gravemente a capacidade da al-Qaeda. Continuaremos mantendo a pressão sobre eles – alegou, ao elogiar a redução de US$ 400 bilhões no orçamento do Pentágono.
Nas estimativas do projeto “Custos de Guerra”, da Brown University, foram considerados os gastos de longo prazo decorrentes dos conflitos, como pagamento a militares inválidos e pensões a veteranos de guerra até 2020.
Nesse cômputo, o tamanho da conta é calculado entre US$ 3,7 trilhões e US$ 4,4 trilhões. Se as guerras perdurarem até 2020, o Pentágono necessitará de um acréscimo de ao menos US$ 450 bilhões em seu orçamento, estima o estudo.
- Há muitos custos e consequências da guerra que não podem ser quantificados, e consequências de guerras que não terminam com o fim dos combates – disse Neta Crawford, cientista política da Boston University e codiretora da pesquisa.
Gasto com veteranos deve chegar a US$ 1 trilhão
Até dezembro de 2010, os EUA destinaram mais de US$ 32 bilhões a tratamentos médicos e seguros de invalidez para mais de um milhão de veteranos, um custo que atingirá seu ápice em 30 a 40 anos, totalizando até US$ 1 trilhão, dizem os especialistas. O custo humano dos três conflitos é calculado entre 224 mil e 258 mil mortes diretas, sendo 137 mil vítimas civis no Iraque e no Afeganistão. O número de pessoas deslocadas e de refugiados é estimado em torno de 7,8 milhões.
Além de exigir mais transparência nas informações oficiais, os especialistas questionam a eficácia de uma ação militar de grande porte na luta contra o terrorismo. “As alternativas para perseguir e prender os acusados pelos atentados de 11 de Setembro, e para prevenir futuros ataques, não foram sequer consideradas: uma invasão militar no Afeganistão começou em 7 de outubro de 2001.
Esses métodos, entretanto, poderiam ter permitido aos EUA melhor prevenir e enfrentar ataques terroristas, com um custo muito menor de vidas e para o Tesouro”, defendem. Segundo um estudo da organização RAND Corporation sobre estratégias usadas contra 268 grupos terroristas entre 1968 e 2006, em apenas 7% dos casos se alcançou a vitória via uso de força militar.
A nova estratégia nacional de combate ao terrorismo em parte concorda com essas conclusões. O governo não irá mais considerar como a melhor forma de ataque o deslocamento de grandes exércitos no exterior, mas sim “agir com pressões precisas e cirúrgicas sobre grupos que ameacem os EUA”, disse o assessor de Segurança Interna da Casa Branca, John Brennan. A inteligência americana apontou o Irã e a Síria como dois principais pontos de apoio ao terrorismo hoje no mundo.
ESPECIALISTA: ‘A intervenção militar não é a melhor solução’
WASHINGTON – Catherine Lutz, diretora do Departamento de Antropologia da Brown University e codiretora do projeto “Custos de Guerra”, critica a falta de transparência do governo nas informações sobre os conflitos em Iraque, Afeganistão e Paquistão, e também questiona a eficácia da estratégia militar contra o terrorismo.
Qual o significado dos números divulgados por esse estudo?
CATHERINE LUTZ: Uma das coisas que nos surpreendeu foi o fato de ninguém ter feito isso antes. Ter, por exemplo, reunido as estatísticas de vítimas civis e militares nos três países, o que resulta num número bastante chocante, de 225 mil a 258 mil mortes. Outra coisa surpreendente é o governo americano insistir em apontar o valor de US$ 1 trilhão, que é somente uma parte do custo total das guerras. Se olharmos o quanto aumentou o orçamento do Pentágono, e as despesas com tratamento médico e invalidez, o custo da guerra no Departamento de Estado e em outras agências do governo supera rapidamente esse valor oficial.
Como explicar essa diferença?
LUTZ: Politicamente é mais fácil comandar uma guerra se os custos parecem menos elevados para o público. Politicamente é importante apresentar um valor inferior. Há também o fato de que se buscam recursos para travar uma guerra no momento, e não se pensa nos custos que virão no futuro, gastos com saúde e invalidez, por exemplo, estimados entre US$ 600 bilhões e US$ 1 trilhão. Cerca de 2,2 milhões de americanos estiveram em zonas de guerra, e o número de feridos é particularmente elevado em comparação com conflitos passados. Deveria se saber, baseado na História, que isso ocorreria – vide os veteranos da Guerra do Vietnã.
E a falta de transparência?
LUTZ: Transparência é bom para a democracia, mas nem tanto para as pessoas que comandam a guerra. Mas o público necessita dessas informações. As pessoas devem saber o que ocorreu em termos de perdas de vidas, de feridos, dos fluxos de refugiados e de violações de direitos humanos.
Os resultados obtidos justificam os custos de guerra?
LUTZ: A RAND Corporation fez um estudo sobre o uso da guerra contra o extremismo violento. O resultado é que a intervenção militar não é a melhor solução para o problema.
FONTE: O Globo
EUA
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Re: EUA : Ascensão e queda de uma grande potência
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Re: EUA : Ascensão e queda de uma grande potência
Enlouquecendo de vez
Obama ofereceu, para ampliar o limite do endividamento na negociação no Congresso, termos que estão muito à direita daquilo que prefere o eleitor americano médio
16 de julho de 2011 | 0h 00
Paul Krugman, The New York Times - O Estado de S.Paulo
Não há muitos aspectos positivos na crescente possibilidade de uma moratória na dívida americana. Mas sou obrigado a reconhecer que há um elemento de alívio cômico - no sentido do humor negro - no espetáculo proporcionado pelas pessoas que insistiram na negação e agora despertam para se deparar com tanta loucura.
Alguns comentaristas parecem chocados diante da posição extremamente irracional dos republicanos. "Será que o Partido Republicano enlouqueceu de vez?", perguntam eles.
Ora, é isso mesmo: os republicanos enlouqueceram. Mas não estamos falando de algo que ocorreu subitamente e sim no resultado de um processo que se desenvolve há décadas. Qualquer um que se veja surpreendido pelo extremismo e pela irresponsabilidade demonstrados agora não deve ter prestado atenção nos últimos anos, ou então preferiu ignorar deliberadamente essa tendência.
E sou obrigado a fazer o seguinte comentário àqueles que subitamente começam a se preocupar com a saúde mental de um dos dois grandes partidos americanos: pessoas como vocês são parcialmente responsáveis pelo estado atual desse partido.
Vamos dar uma olhada naquilo que os republicanos estão rejeitando.
O presidente Barack Obama deixou absolutamente clara sua disposição em assinar um acordo para a redução do déficit que consista, principalmente, em cortes nos gastos, incluindo cortes draconianos para alguns dos programas sociais mais importantes, chegando até a um aumento na idade mínima para usufruir do Medicare. Trata-se de concessões extraordinárias. Como destaca Nate Silver, do New York Times, o presidente ofereceu termos que estão muito à direita daquilo que prefere o eleitor americano médio - na verdade, poderíamos dizer que a posição do presidente parece estar um pouco à direita até mesmo das preferências do eleitor republicano médio! Ainda assim, os republicanos estão rejeitando a proposta. Na verdade, estão ameaçando obrigar os EUA a declarar moratória, criando uma crise econômica, a não ser que lhes seja oferecido um acordo que os beneficie unilateralmente. E esta situação era completamente previsível.
Em primeiro lugar, o Partido Republicano moderno rejeita fundamentalmente a legitimidade de uma presidência democrata - de todas as presidências democratas. Como resultado, os republicanos se opõem automaticamente a tudo aquilo que o presidente deseje, mesmo que o partido tenha apoiado propostas semelhantes no passado. Os planos de Mitt Romney para o atendimento de saúde se tornaram um tirânico ataque contra a liberdade dos EUA quando foram implementados pelo homem na Casa Branca. E a mesma lógica se aplica aos acordos propostos para a questão da dívida.
Coloquemos a questão nos seguintes termos: se um presidente republicano tivesse obtido o tipo de concessão em relação ao Medicare e à Previdência Social que Obama está oferecendo, estaríamos falando num triunfo conservador.
Mas quando as mesmas concessões vêm atreladas a ganhos mínimos na arrecadação e, principalmente, quando são feitas por um presidente democrata, as propostas se tornam planos inaceitáveis para exaurir o vigor da economia americana por meio da cobrança de impostos.
Além disso, o vodu econômico parece ter enfeitiçado o Partido Republicano.
O vodu da oferta - segundo o qual os cortes nos impostos pagam o próprio custo e/ou todo aumento nos impostos leva ao colapso econômico - tem sido uma força poderosa dentro do Partido Republicano desde que Ronald Reagan adotou o conceito da curva de Laffer. Mas esse vodu costumava ser mais contido. O próprio Reagan aprovou significativos aumentos nos impostos, compensando consideravelmente os cortes iniciais.
E até o governo do ex-presidente George W. Bush evitou fazer afirmações extravagantes a respeito da magia do corte dos impostos, parcialmente por causa do medo de que fazer tais afirmações levaria a um questionamento da seriedade daquele governo.
Mas, recentemente, toda a contenção desapareceu - na verdade, a moderação foi expulsa do partido. No ano passado, o líder da minoria no Senado, Mitch McConnell, afirmou que os cortes nos impostos aprovados por Bush na verdade aumentavam a arrecadação fiscal - afirmação que contradizia completamente os fatos comprovados - e declarou também que esta era "a opinião de praticamente todos os republicanos em relação a esse tema". É verdade: até Romney, amplamente considerado o mais razoável dos postulantes à candidatura presidencial nas eleições de 2012, defendeu a opinião de que os cortes nos impostos podem de fato reduzir o déficit.
O que nos leva à responsabilidade que cabe àqueles que só agora encaram de frente a loucura do Partido Republicano.
A questão é: os membros do Partido Republicano que tinham dúvidas em relação ao fanatismo pelo corte dos impostos poderiam ter se expressado com mais veemência se deixassem claro que tal fanatismo teria um preço, e se aqueles de fora do partido estivessem mais dispostos a condenar publicamente os políticos que defendiam posições irresponsáveis.
Mas esse preço nunca foi cobrado. Bush desperdiçou o superávit dos últimos anos do governo Clinton, mas renomados especialistas insistem que os dois partidos são igualmente culpados pelo nosso problema de endividamento. O republicano Paul Ryan, presidente da Comissão Orçamentária da Câmara, propôs um suposto plano de redução do endividamento que incluía imensos cortes nos impostos para as empresas e a parcela mais rica da população, e então foi premiado como defensor da responsabilidade fiscal.
Assim, não houve nenhum tipo de pressão sobre o Partido Republicano para que seus membros agissem de maneira responsável, ou mesmo racional - e, como seria de se esperar, o partido enlouqueceu de vez. Aqueles que agora se surpreendem com isso são parcialmente responsáveis pelo problema. /TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL
Obama ofereceu, para ampliar o limite do endividamento na negociação no Congresso, termos que estão muito à direita daquilo que prefere o eleitor americano médio
16 de julho de 2011 | 0h 00
Paul Krugman, The New York Times - O Estado de S.Paulo
Não há muitos aspectos positivos na crescente possibilidade de uma moratória na dívida americana. Mas sou obrigado a reconhecer que há um elemento de alívio cômico - no sentido do humor negro - no espetáculo proporcionado pelas pessoas que insistiram na negação e agora despertam para se deparar com tanta loucura.
Alguns comentaristas parecem chocados diante da posição extremamente irracional dos republicanos. "Será que o Partido Republicano enlouqueceu de vez?", perguntam eles.
Ora, é isso mesmo: os republicanos enlouqueceram. Mas não estamos falando de algo que ocorreu subitamente e sim no resultado de um processo que se desenvolve há décadas. Qualquer um que se veja surpreendido pelo extremismo e pela irresponsabilidade demonstrados agora não deve ter prestado atenção nos últimos anos, ou então preferiu ignorar deliberadamente essa tendência.
E sou obrigado a fazer o seguinte comentário àqueles que subitamente começam a se preocupar com a saúde mental de um dos dois grandes partidos americanos: pessoas como vocês são parcialmente responsáveis pelo estado atual desse partido.
Vamos dar uma olhada naquilo que os republicanos estão rejeitando.
O presidente Barack Obama deixou absolutamente clara sua disposição em assinar um acordo para a redução do déficit que consista, principalmente, em cortes nos gastos, incluindo cortes draconianos para alguns dos programas sociais mais importantes, chegando até a um aumento na idade mínima para usufruir do Medicare. Trata-se de concessões extraordinárias. Como destaca Nate Silver, do New York Times, o presidente ofereceu termos que estão muito à direita daquilo que prefere o eleitor americano médio - na verdade, poderíamos dizer que a posição do presidente parece estar um pouco à direita até mesmo das preferências do eleitor republicano médio! Ainda assim, os republicanos estão rejeitando a proposta. Na verdade, estão ameaçando obrigar os EUA a declarar moratória, criando uma crise econômica, a não ser que lhes seja oferecido um acordo que os beneficie unilateralmente. E esta situação era completamente previsível.
Em primeiro lugar, o Partido Republicano moderno rejeita fundamentalmente a legitimidade de uma presidência democrata - de todas as presidências democratas. Como resultado, os republicanos se opõem automaticamente a tudo aquilo que o presidente deseje, mesmo que o partido tenha apoiado propostas semelhantes no passado. Os planos de Mitt Romney para o atendimento de saúde se tornaram um tirânico ataque contra a liberdade dos EUA quando foram implementados pelo homem na Casa Branca. E a mesma lógica se aplica aos acordos propostos para a questão da dívida.
Coloquemos a questão nos seguintes termos: se um presidente republicano tivesse obtido o tipo de concessão em relação ao Medicare e à Previdência Social que Obama está oferecendo, estaríamos falando num triunfo conservador.
Mas quando as mesmas concessões vêm atreladas a ganhos mínimos na arrecadação e, principalmente, quando são feitas por um presidente democrata, as propostas se tornam planos inaceitáveis para exaurir o vigor da economia americana por meio da cobrança de impostos.
Além disso, o vodu econômico parece ter enfeitiçado o Partido Republicano.
O vodu da oferta - segundo o qual os cortes nos impostos pagam o próprio custo e/ou todo aumento nos impostos leva ao colapso econômico - tem sido uma força poderosa dentro do Partido Republicano desde que Ronald Reagan adotou o conceito da curva de Laffer. Mas esse vodu costumava ser mais contido. O próprio Reagan aprovou significativos aumentos nos impostos, compensando consideravelmente os cortes iniciais.
E até o governo do ex-presidente George W. Bush evitou fazer afirmações extravagantes a respeito da magia do corte dos impostos, parcialmente por causa do medo de que fazer tais afirmações levaria a um questionamento da seriedade daquele governo.
Mas, recentemente, toda a contenção desapareceu - na verdade, a moderação foi expulsa do partido. No ano passado, o líder da minoria no Senado, Mitch McConnell, afirmou que os cortes nos impostos aprovados por Bush na verdade aumentavam a arrecadação fiscal - afirmação que contradizia completamente os fatos comprovados - e declarou também que esta era "a opinião de praticamente todos os republicanos em relação a esse tema". É verdade: até Romney, amplamente considerado o mais razoável dos postulantes à candidatura presidencial nas eleições de 2012, defendeu a opinião de que os cortes nos impostos podem de fato reduzir o déficit.
O que nos leva à responsabilidade que cabe àqueles que só agora encaram de frente a loucura do Partido Republicano.
A questão é: os membros do Partido Republicano que tinham dúvidas em relação ao fanatismo pelo corte dos impostos poderiam ter se expressado com mais veemência se deixassem claro que tal fanatismo teria um preço, e se aqueles de fora do partido estivessem mais dispostos a condenar publicamente os políticos que defendiam posições irresponsáveis.
Mas esse preço nunca foi cobrado. Bush desperdiçou o superávit dos últimos anos do governo Clinton, mas renomados especialistas insistem que os dois partidos são igualmente culpados pelo nosso problema de endividamento. O republicano Paul Ryan, presidente da Comissão Orçamentária da Câmara, propôs um suposto plano de redução do endividamento que incluía imensos cortes nos impostos para as empresas e a parcela mais rica da população, e então foi premiado como defensor da responsabilidade fiscal.
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Sempre e inevitavelmente, cada um de nós subestima o número de indivíduos estúpidos que circulam pelo mundo.
Carlo M. Cipolla
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Re: EUA : Ascensão e queda de uma grande potência
E o Brasil vai ficar cheio de títulos podres dos EUA era só o que faltava.
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Re: EUA : Ascensão e queda de uma grande potência
Já falei trocentas vezes: COMPREM A GE ENQUANTO A CHINA NÃO NOS TOMA A FRENTE E COMPRA!!!
“Look at these people. Wandering around with absolutely no idea what's about to happen.”
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Re: EUA : Ascensão e queda de uma grande potência
Se fizeram um escândalo porque a InBev ia comprar a Budweiser, imagino a tragédia grega que iria sair se fossemos comprar a GE.
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Re: EUA : Ascensão e queda de uma grande potência
Antes NÓS que A CHINA. E nos tempos da Bud eles ainda achavam que tinham salvação...
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Re: EUA : Ascensão e queda de uma grande potência
Ah, mas dá para comprar com esse dinheiro a Northrop Grumman, a Boeing, a General Dynamics, a Lockheed Martin e sobra grana para a Dilma ir jogando do avião aos mendigos
Mas aí teríamos que assistir 4 tragédias gregas.
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Re: EUA : Ascensão e queda de uma grande potência
Os Republicanos vão perder a réstia de credibilidade que tinham, não é bom os democratas ficarem sem uma oposição crível, eles enlouqueceram mesmo.
"O que se percebe hoje é que os idiotas perderam a modéstia. E nós temos de ter tolerância e compreensão também com os idiotas, que são exatamente aqueles que escrevem para o esquecimento"
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- soultrain
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Re: EUA : Ascensão e queda de uma grande potência
Idaho Governor Selling His State to the Chinese?
Written by Joe Wolverton, II
Thursday, 09 June 2011 10:52
In a letter proudly publicized on a state-sponsored website, Idaho Governor Butch Otter (left, a Republican) describes a program designed to “grow Idaho's Gross Domestic Product” by creating “quality jobs for all Idahoans by fostering systemic growth, recruiting new companies to Idaho, and selling Idaho's trade and investment opportunities to the world.” The following is from Governor Otter’s announcement of the plan known as Project 60.
Project 60 is just a name. But it stands for a goal, and a way of getting there.
It means more than some abstract concept for increasing our gross domestic product. It means jobs and opportunity, hope and independence for the people of Idaho. That’s what I want you to think about when you hear about Project 60. This is an initiative in which we all need to be involved, to build Idaho’s economy together in a way that strengthens our businesses, people and communities.
No state or local agency, no government of any kind can successfully tackle this kind of goal alone. Project 60 belongs to all of us and it needs all of us to be champions of this effort. Today, I invite you to be a Project 60 Partner. This Web site is built for you to participate in the process.
Consider this “home base” for Project 60. This is where you will have the chance to offer “Top-to-Top” help in our efforts to recruit new and expanding businesses to Idaho, the chance to tell us about networking opportunities with your vendors and customers in other states, and the chance to become an ambassador for Idaho’s future. I want you to tell us about your own success stories and offer us tips and advice about what it takes to thrive in business here.
That brief introduction should be memorized by students trying to learn the craft of political speechifying. There is in Governor Otter’s letter nothing of substance, plenty of weasel words, and an extraordinary display of misdirection all designed to lull the citizens of the sovereign state of Idaho into a stupor while their state is sold to the Chinese.
A recent article described the goal of Project 60 in slightly less rosy terms. “Idaho, under the stewardship of Governor Butch Otter, has opened the door for a Chinese invasion....”
The details of the scheme seem to support that analysis. In very unclear terms, one of the principal planks of the Project 60 platform is known as “Inward Foreign Direct Investment.” As laid out on the Project 60 website, this portion of the plan will increase Idaho’s role “in global business” by providing foreign industry with “a strong impetus to economic development.”
The “impetus” is a two-pronged attack on Idaho’s domestic workforce (read: the middle class). First, through Project 60, foreign business interest are encouraged to take advantage of favorable national immigration laws.
Specifically, “The U.S. Citizenship and Immigration Service administers an immigrant investor visa program called EB-5. The program grants foreigners permanent U.S. residency in exchange for helping create U.S. jobs.” This prong will facilitate the immigration of Chinese nationals into the United States for the purpose of establishing a Chinese industrial beachhead in Idaho, under the guise of creating U.S. jobs.
The second phase involves the granting of tax breaks to the foreign companies. In exchange for an investment of between $500,000 and $1 million (depending on whether the target zone is rural or urban, respectively), the foreign investor receives tax incentives.
A story published recently on cnsnews.com explains how Idaho’s plan dovetails perfectly into the overall scope of China’s economic policy vis a vis its holdings in the United States. As reported by cnsnews.com:
China has dropped 97 percent of its holdings in U.S. Treasury bills, decreasing its ownership of the short-term U.S. government securities from a peak of $210.4 billion in May 2009 to $5.69 billion in March 2011, the most recent month reported by the U.S. Treasury.
And:
Until October, the Chinese were generally making up for their decreasing holdings in Treasury bills by increasing their holdings of longer-term U.S. Treasury securities. Thus, until October, China’s overall holdings of U.S. debt continued to increase.
Since October, however, China has also started to divest from longer-term U.S. Treasury securities. Thus, as reported by the Treasury Department, China’s ownership of the U.S. national debt has decreased in each of the last five months on record, including November, December, January, February and March.
The Chinese, by wisely divesting itself of American treasury securities, can take advantage of our federal system (the co-existence of two equal sovereignties) and keep its fingers in American pies by establishing powerful outposts in the 50 states, thus by-passing the chokehold held over the national economy by the bust/boom cycle perpetuated by the Federal Reserve.
Put simply, Idaho (and reportedly other states, as well) are offering the Chinese a way to dump their useless treasury bonds without sacrificing the strength of their clamp on the economic pipeline of American industry.
The specifics of the wheeling and dealing between Idaho’s state government and their Chinese counterparts are unclear with a few exceptions. What is known is that “top Idaho officials have been traveling to China and entertaining the Chinese here, in order to help facilitate this.”
The result of these junkets? American Falls, Idaho will soon be home to a Chinese-owned fertilizer plant. A significant swathe of land south of Boise (about thirty thousand acres) was bought by China, a purchase Idaho’s governor promises will “reinvigorate our American industrial base.”
Idaho may be leading the race to court China, but according to The New American’s own Bill Jasper, Idaho’s southern neighbor is running full speed toward that same goal. From Jasper’s article published last month:
Utah’s Governor Gary Herbert, who led an April 2011 trade delegation to Beijing and Shanghai, said he was amazed by the scale of Chinese development and construction and impressed by the business community’s “embracement of free market principles.” Utah will host Governors from China’s provinces at the U.S. National Governors Association in Salt Lake City this July.
Governor Herbert got considerable help with China connections from former Utah Governor Jon Huntsman, who has served for the past couple of years as the Obama administration’s ambassador to China. Huntsman, the millionaire scion of the famous Huntsman chemical empire, is leaving the diplomatic corps to throw his hat in the GOP 2012 presidential sweepstakes. His ambassadorial slot is being filled by U.S. Commerce Secretary — and former Washington State Governor — Gary Locke, also an enthusiastic China booster.??When confronted directly by constituents with questions about the ethical, practical, and national security implications of questionable business deals with the communist-controlled “People’s Republic,” the usual response from the China boosters is a flippant remark along the lines of: “Heh, heh, don’t you know, China is Communist in name only; they’re more capitalist than we are.”
Constitutionalists of all states must voice their opposition to the wide avenues being paved for China into our state economies. These agreements may soon leave us without the the check on "all encroachments of the national government" our Founders intended the states to be.
http://www.thenewamerican.com/usnews/po ... chinese%22
Written by Joe Wolverton, II
Thursday, 09 June 2011 10:52
In a letter proudly publicized on a state-sponsored website, Idaho Governor Butch Otter (left, a Republican) describes a program designed to “grow Idaho's Gross Domestic Product” by creating “quality jobs for all Idahoans by fostering systemic growth, recruiting new companies to Idaho, and selling Idaho's trade and investment opportunities to the world.” The following is from Governor Otter’s announcement of the plan known as Project 60.
Project 60 is just a name. But it stands for a goal, and a way of getting there.
It means more than some abstract concept for increasing our gross domestic product. It means jobs and opportunity, hope and independence for the people of Idaho. That’s what I want you to think about when you hear about Project 60. This is an initiative in which we all need to be involved, to build Idaho’s economy together in a way that strengthens our businesses, people and communities.
No state or local agency, no government of any kind can successfully tackle this kind of goal alone. Project 60 belongs to all of us and it needs all of us to be champions of this effort. Today, I invite you to be a Project 60 Partner. This Web site is built for you to participate in the process.
Consider this “home base” for Project 60. This is where you will have the chance to offer “Top-to-Top” help in our efforts to recruit new and expanding businesses to Idaho, the chance to tell us about networking opportunities with your vendors and customers in other states, and the chance to become an ambassador for Idaho’s future. I want you to tell us about your own success stories and offer us tips and advice about what it takes to thrive in business here.
That brief introduction should be memorized by students trying to learn the craft of political speechifying. There is in Governor Otter’s letter nothing of substance, plenty of weasel words, and an extraordinary display of misdirection all designed to lull the citizens of the sovereign state of Idaho into a stupor while their state is sold to the Chinese.
A recent article described the goal of Project 60 in slightly less rosy terms. “Idaho, under the stewardship of Governor Butch Otter, has opened the door for a Chinese invasion....”
The details of the scheme seem to support that analysis. In very unclear terms, one of the principal planks of the Project 60 platform is known as “Inward Foreign Direct Investment.” As laid out on the Project 60 website, this portion of the plan will increase Idaho’s role “in global business” by providing foreign industry with “a strong impetus to economic development.”
The “impetus” is a two-pronged attack on Idaho’s domestic workforce (read: the middle class). First, through Project 60, foreign business interest are encouraged to take advantage of favorable national immigration laws.
Specifically, “The U.S. Citizenship and Immigration Service administers an immigrant investor visa program called EB-5. The program grants foreigners permanent U.S. residency in exchange for helping create U.S. jobs.” This prong will facilitate the immigration of Chinese nationals into the United States for the purpose of establishing a Chinese industrial beachhead in Idaho, under the guise of creating U.S. jobs.
The second phase involves the granting of tax breaks to the foreign companies. In exchange for an investment of between $500,000 and $1 million (depending on whether the target zone is rural or urban, respectively), the foreign investor receives tax incentives.
A story published recently on cnsnews.com explains how Idaho’s plan dovetails perfectly into the overall scope of China’s economic policy vis a vis its holdings in the United States. As reported by cnsnews.com:
China has dropped 97 percent of its holdings in U.S. Treasury bills, decreasing its ownership of the short-term U.S. government securities from a peak of $210.4 billion in May 2009 to $5.69 billion in March 2011, the most recent month reported by the U.S. Treasury.
And:
Until October, the Chinese were generally making up for their decreasing holdings in Treasury bills by increasing their holdings of longer-term U.S. Treasury securities. Thus, until October, China’s overall holdings of U.S. debt continued to increase.
Since October, however, China has also started to divest from longer-term U.S. Treasury securities. Thus, as reported by the Treasury Department, China’s ownership of the U.S. national debt has decreased in each of the last five months on record, including November, December, January, February and March.
The Chinese, by wisely divesting itself of American treasury securities, can take advantage of our federal system (the co-existence of two equal sovereignties) and keep its fingers in American pies by establishing powerful outposts in the 50 states, thus by-passing the chokehold held over the national economy by the bust/boom cycle perpetuated by the Federal Reserve.
Put simply, Idaho (and reportedly other states, as well) are offering the Chinese a way to dump their useless treasury bonds without sacrificing the strength of their clamp on the economic pipeline of American industry.
The specifics of the wheeling and dealing between Idaho’s state government and their Chinese counterparts are unclear with a few exceptions. What is known is that “top Idaho officials have been traveling to China and entertaining the Chinese here, in order to help facilitate this.”
The result of these junkets? American Falls, Idaho will soon be home to a Chinese-owned fertilizer plant. A significant swathe of land south of Boise (about thirty thousand acres) was bought by China, a purchase Idaho’s governor promises will “reinvigorate our American industrial base.”
Idaho may be leading the race to court China, but according to The New American’s own Bill Jasper, Idaho’s southern neighbor is running full speed toward that same goal. From Jasper’s article published last month:
Utah’s Governor Gary Herbert, who led an April 2011 trade delegation to Beijing and Shanghai, said he was amazed by the scale of Chinese development and construction and impressed by the business community’s “embracement of free market principles.” Utah will host Governors from China’s provinces at the U.S. National Governors Association in Salt Lake City this July.
Governor Herbert got considerable help with China connections from former Utah Governor Jon Huntsman, who has served for the past couple of years as the Obama administration’s ambassador to China. Huntsman, the millionaire scion of the famous Huntsman chemical empire, is leaving the diplomatic corps to throw his hat in the GOP 2012 presidential sweepstakes. His ambassadorial slot is being filled by U.S. Commerce Secretary — and former Washington State Governor — Gary Locke, also an enthusiastic China booster.??When confronted directly by constituents with questions about the ethical, practical, and national security implications of questionable business deals with the communist-controlled “People’s Republic,” the usual response from the China boosters is a flippant remark along the lines of: “Heh, heh, don’t you know, China is Communist in name only; they’re more capitalist than we are.”
Constitutionalists of all states must voice their opposition to the wide avenues being paved for China into our state economies. These agreements may soon leave us without the the check on "all encroachments of the national government" our Founders intended the states to be.
http://www.thenewamerican.com/usnews/po ... chinese%22
"O que se percebe hoje é que os idiotas perderam a modéstia. E nós temos de ter tolerância e compreensão também com os idiotas, que são exatamente aqueles que escrevem para o esquecimento"
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Re: EUA : Ascensão e queda de uma grande potência
O efeito dominó desta e de mais umas quantas do tipo ainda vai levar os USA a uma guerra civil. São cada vez maiores e públicos os atritos entre os governos estaduais e o governo federal e existem vários jogadores (não só os chineses) a manobrar nas sombras (ou mesmo às claras)
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Re: EUA : Ascensão e queda de uma grande potência
15/07/2011 - 19h40
EUA e China procuram acordar estratégia militar
MICHAEL WINES
DO "NEW YORK TIMES", EM PEQUIM
Durante três dias na China esta semana, o mais alto oficial militar dos EUA, o almirante Mike Mullen, trocou promessas calorosas com seu colega chinês no intuito de melhorar o relacionamento entre as duas forças, marcado por atritos constantes. Ele assistiu a caças Su-27 chineses fazerem manobras em uma base aérea, viu um exercício de contraterrorismo chinês em um bunker sufocante no subsolo de um posto do exército e entrou num submarino chinês numa base naval.
Quando Mullen, o chefe do Estado-Maior Conjunto, partiu, na manhã de quinta-feira, seria difícil desconfiar que cada lado baseia suas estratégias militares na perspectiva de que o outro possa vir a tornar-se o inimigo.
Mas é isso o que acontece, e essa realidade ficou suspensa como uma nuvem escura sobre a visita, o primeiro encontro desse tipo promovido em quatro anos aqui em Pequim. Esse fato está dificultando tremendamente uma aproximação entre a maior potência militar do mundo e aquela que está crescendo mais rapidamente -- ao mesmo tempo em que os presidentes de ambos os países dizem que buscam alcançar justamente isso.
No momento em que as forças armadas americanas contemplam o futuro, e, em especial, uma Ásia que recentemente vem se tornando mais poderosa, seu relacionamento cada vez mais crucial com a China está sendo puxado em direções opostas. A razão principal disso é a modernização a toque de caixa promovida pela China de sua máquina militar superada.
Recentemente as forças armadas chinesas confirmaram o lançamento próximo de seu primeiro porta-aviões, e há outros por vir. O país promoveu o voo inaugural de seu primeiro caça "stealth" (que não é detectado por radares) e anunciou outro caça que poderá decolar de porta-aviões. Os estaleiros chineses estão construindo uma classe nova e ainda secreta de submarinos avançados. E o país admitiu que está desenvolvendo um míssil marítimo que, de acordo com alguns especialistas, poderá atingir navios que se encontrem a até 1.650 quilômetros de distância.
Com a exceção dos submarinos, cada uma dessas novidades surgiu este ano. E foram lançadas após um ano em que os militares chineses colocaram em órbita sete satélites de coleta de informações.
Por um lado, dizem analistas, as ambições militares chinesas são compreensíveis. A pegada comercial global do país e sua dependência de combustíveis e matérias-primas importados justificam a formação de uma força militar sofisticada e de longo alcance, para proteger seus interesses nacionais, como os EUA fizeram. Na medida em que a China se expande para áreas hoje dominadas pelas forças armadas americanas, dizem os analistas, a cooperação ampla é crucial para evitar rivalidades perigosas e erros de cálculo potencialmente desastrosos. É possível que algo de bom ainda resulte desta aliança improvável.
Por outro lado, porém, muitos analistas americanos veem a reforma militar da China como estando ao cerne de um esforço para frear o poderio militar americano no Pacífico ocidental. De acordo com essa visão, o míssil antinavios, o porta-aviões e muitos dos outros equipamentos sofisticados que a China está desenvolvendo visam contrabalançar a 7ª Frota da Marinha americana, que domina as águas do Pacífico há meio século ou mais.
"Não é que precisemos de outro inimigo como a União Soviética", disse em entrevista Bonnie S. Glaser, especialista sênior em política de segurança chinesa no Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais, em Washington. "Estamos respondendo a medidas que a China vem tomando e à relutância da China em sentar-se conosco e nos dizer o que vem fazendo e quais missões essas novas plataformas e armas visam cumprir."
Do ponto de vista dos Estados Unidos, os chineses vêm sendo ambíguos em relação a suas motivações. Em janeiro, logo depois de uma cúpula com o presidente Barack Obama em Washington, o presidente Hu Jintao deixou claro que o Exército de Libertação Popular, que comanda todas as forças chinesas, precisa construir confiança com o Pentágono.
Mas o exército chinês -- sem falar em facções grandes da burocracia da China, de sua liderança e do todo-poderoso Partido Comunista -- consideram que os EUA estão determinados a frustrar a emergência justa da China como potência global.
Eles observam que os EUA deslocaram a maioria de seus porta-aviões do Atlântico para o Pacífico, que recentemente fortaleceram os acordos militares que têm com Cingapura e a Austrália, que estão cortejando a Índia, rival da China, e que buscaram intervir diplomaticamente no mar do Sul da China, onde a China e a maioria de seus vizinhos vêm travando disputas territoriais acirradas.
Eles observam também que os EUA rejeitaram exigências de que reduza sua coleta de informações feita por ar e mar na fronteira oriental da China com o Pacífico. Os EUA tampouco concordam em rever um mandato definido há muito tempo pelo Congresso para vender armas a Taiwan, visto pela China como uma província sua. A China praticamente definiu a resolução dessas duas questões como condição prévia para a confiança genuína entre as duas forças armadas.
Assim, os chineses estão construindo o que descrevem como uma força inteiramente defensiva, embora ela inclua armas que existem em primeiro lugar para poder atingir alvos militares americanos.
"Posso entender que as pessoas no Pentágono e no Exército de Libertação Popular estejam fazendo planejamento para cenários do pior caso possível; todas as forças armadas fazem isso", disse Dennis J. Blasko, acadêmico independente que trabalhou para a inteligência militar como especialista na China. "Essa é a função dos militares -- traçar esses planos."
Em sua visita à China, Mike Mullen disse repetidas vezes que as ações dos EUA no Pacífico são apenas parte de décadas de envolvimento na região, não representando uma ameaça à China. Em discurso proferido na Universidade Nacional de Defesa, em Washington, em maio, o general Chen Bingde, comandante das forças chinesas, disse que o upgrade militar de seu país não tem chances de equiparar as forças chinesas ao poderio tecnológico americano e que a China "não pretende nunca desafiar os Estados Unidos".
Mas, em ambos os lados do Pacífico, as desconfianças aparecem inevitavelmente a cada vez que um dos lados lança uma arma nova ou consolida uma aliança antiga.
Alguns analistas americanos dizem que as medidas e contramedidas dos dois países podem fadar ao fracasso qualquer chance de uma verdadeira convivência militar e diplomática. Outros afirmam que os EUA podem ser forçados a entrar em outra corrida armamentista -- só que, desta vez, diferentemente do que foi o caso na Guerra Fria, seria a China que teria bilhões para gastar com armamentos novos, e os EUA que poderiam ser obrigados a optar entre armas ou alimentos.
Charles W. Freeman Jr., ex-diplomata que Obama nomeou, sem êxito, para liderar o Conselho Nacional de Inteligência, apresentou esse argumento de modo contundente em discurso recente perante o Instituto de Estudos Marítimos da China, sediado em Rhode Island.
"Hoje os EUA estão fiscalmente ocos", disse Freeman, observando que orçamento militar americano inteiro é essencialmente financiado com dinheiro emprestado. "Apesar disso, estamos ingressando numa rivalidade militar de longo prazo com a China em termos que são facilmente suportáveis pela China, mas fiscalmente desastrosos para nós. Essa rivalidade é ainda mais desvantajosa pelo fato de a China estar competindo de maneiras baseadas em uma relação custo-benefício muito positiva, e nós, não."
Alguns analistas discordam de sua avaliação. Mas a maioria concordaria que custa muito menos construir um míssil capaz de afundar um porta-aviões americano do que construir tanto o porta-aviões quanto um sistema sofisticado de defesa antimísseis.
A China talvez possa arcar com o míssil, e os EUA talvez possam construir o navio e o sistema de defesa. Mas a necessidade das duas coisas talvez seja inteiramente outra questão. Para um analista americano, "estamos nos preparando para uma briga que não sei se nenhum de nós precise ou queira travar".
Tradução de Clara Allain
EUA e China procuram acordar estratégia militar
MICHAEL WINES
DO "NEW YORK TIMES", EM PEQUIM
Durante três dias na China esta semana, o mais alto oficial militar dos EUA, o almirante Mike Mullen, trocou promessas calorosas com seu colega chinês no intuito de melhorar o relacionamento entre as duas forças, marcado por atritos constantes. Ele assistiu a caças Su-27 chineses fazerem manobras em uma base aérea, viu um exercício de contraterrorismo chinês em um bunker sufocante no subsolo de um posto do exército e entrou num submarino chinês numa base naval.
Quando Mullen, o chefe do Estado-Maior Conjunto, partiu, na manhã de quinta-feira, seria difícil desconfiar que cada lado baseia suas estratégias militares na perspectiva de que o outro possa vir a tornar-se o inimigo.
Mas é isso o que acontece, e essa realidade ficou suspensa como uma nuvem escura sobre a visita, o primeiro encontro desse tipo promovido em quatro anos aqui em Pequim. Esse fato está dificultando tremendamente uma aproximação entre a maior potência militar do mundo e aquela que está crescendo mais rapidamente -- ao mesmo tempo em que os presidentes de ambos os países dizem que buscam alcançar justamente isso.
No momento em que as forças armadas americanas contemplam o futuro, e, em especial, uma Ásia que recentemente vem se tornando mais poderosa, seu relacionamento cada vez mais crucial com a China está sendo puxado em direções opostas. A razão principal disso é a modernização a toque de caixa promovida pela China de sua máquina militar superada.
Recentemente as forças armadas chinesas confirmaram o lançamento próximo de seu primeiro porta-aviões, e há outros por vir. O país promoveu o voo inaugural de seu primeiro caça "stealth" (que não é detectado por radares) e anunciou outro caça que poderá decolar de porta-aviões. Os estaleiros chineses estão construindo uma classe nova e ainda secreta de submarinos avançados. E o país admitiu que está desenvolvendo um míssil marítimo que, de acordo com alguns especialistas, poderá atingir navios que se encontrem a até 1.650 quilômetros de distância.
Com a exceção dos submarinos, cada uma dessas novidades surgiu este ano. E foram lançadas após um ano em que os militares chineses colocaram em órbita sete satélites de coleta de informações.
Por um lado, dizem analistas, as ambições militares chinesas são compreensíveis. A pegada comercial global do país e sua dependência de combustíveis e matérias-primas importados justificam a formação de uma força militar sofisticada e de longo alcance, para proteger seus interesses nacionais, como os EUA fizeram. Na medida em que a China se expande para áreas hoje dominadas pelas forças armadas americanas, dizem os analistas, a cooperação ampla é crucial para evitar rivalidades perigosas e erros de cálculo potencialmente desastrosos. É possível que algo de bom ainda resulte desta aliança improvável.
Por outro lado, porém, muitos analistas americanos veem a reforma militar da China como estando ao cerne de um esforço para frear o poderio militar americano no Pacífico ocidental. De acordo com essa visão, o míssil antinavios, o porta-aviões e muitos dos outros equipamentos sofisticados que a China está desenvolvendo visam contrabalançar a 7ª Frota da Marinha americana, que domina as águas do Pacífico há meio século ou mais.
"Não é que precisemos de outro inimigo como a União Soviética", disse em entrevista Bonnie S. Glaser, especialista sênior em política de segurança chinesa no Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais, em Washington. "Estamos respondendo a medidas que a China vem tomando e à relutância da China em sentar-se conosco e nos dizer o que vem fazendo e quais missões essas novas plataformas e armas visam cumprir."
Do ponto de vista dos Estados Unidos, os chineses vêm sendo ambíguos em relação a suas motivações. Em janeiro, logo depois de uma cúpula com o presidente Barack Obama em Washington, o presidente Hu Jintao deixou claro que o Exército de Libertação Popular, que comanda todas as forças chinesas, precisa construir confiança com o Pentágono.
Mas o exército chinês -- sem falar em facções grandes da burocracia da China, de sua liderança e do todo-poderoso Partido Comunista -- consideram que os EUA estão determinados a frustrar a emergência justa da China como potência global.
Eles observam que os EUA deslocaram a maioria de seus porta-aviões do Atlântico para o Pacífico, que recentemente fortaleceram os acordos militares que têm com Cingapura e a Austrália, que estão cortejando a Índia, rival da China, e que buscaram intervir diplomaticamente no mar do Sul da China, onde a China e a maioria de seus vizinhos vêm travando disputas territoriais acirradas.
Eles observam também que os EUA rejeitaram exigências de que reduza sua coleta de informações feita por ar e mar na fronteira oriental da China com o Pacífico. Os EUA tampouco concordam em rever um mandato definido há muito tempo pelo Congresso para vender armas a Taiwan, visto pela China como uma província sua. A China praticamente definiu a resolução dessas duas questões como condição prévia para a confiança genuína entre as duas forças armadas.
Assim, os chineses estão construindo o que descrevem como uma força inteiramente defensiva, embora ela inclua armas que existem em primeiro lugar para poder atingir alvos militares americanos.
"Posso entender que as pessoas no Pentágono e no Exército de Libertação Popular estejam fazendo planejamento para cenários do pior caso possível; todas as forças armadas fazem isso", disse Dennis J. Blasko, acadêmico independente que trabalhou para a inteligência militar como especialista na China. "Essa é a função dos militares -- traçar esses planos."
Em sua visita à China, Mike Mullen disse repetidas vezes que as ações dos EUA no Pacífico são apenas parte de décadas de envolvimento na região, não representando uma ameaça à China. Em discurso proferido na Universidade Nacional de Defesa, em Washington, em maio, o general Chen Bingde, comandante das forças chinesas, disse que o upgrade militar de seu país não tem chances de equiparar as forças chinesas ao poderio tecnológico americano e que a China "não pretende nunca desafiar os Estados Unidos".
Mas, em ambos os lados do Pacífico, as desconfianças aparecem inevitavelmente a cada vez que um dos lados lança uma arma nova ou consolida uma aliança antiga.
Alguns analistas americanos dizem que as medidas e contramedidas dos dois países podem fadar ao fracasso qualquer chance de uma verdadeira convivência militar e diplomática. Outros afirmam que os EUA podem ser forçados a entrar em outra corrida armamentista -- só que, desta vez, diferentemente do que foi o caso na Guerra Fria, seria a China que teria bilhões para gastar com armamentos novos, e os EUA que poderiam ser obrigados a optar entre armas ou alimentos.
Charles W. Freeman Jr., ex-diplomata que Obama nomeou, sem êxito, para liderar o Conselho Nacional de Inteligência, apresentou esse argumento de modo contundente em discurso recente perante o Instituto de Estudos Marítimos da China, sediado em Rhode Island.
"Hoje os EUA estão fiscalmente ocos", disse Freeman, observando que orçamento militar americano inteiro é essencialmente financiado com dinheiro emprestado. "Apesar disso, estamos ingressando numa rivalidade militar de longo prazo com a China em termos que são facilmente suportáveis pela China, mas fiscalmente desastrosos para nós. Essa rivalidade é ainda mais desvantajosa pelo fato de a China estar competindo de maneiras baseadas em uma relação custo-benefício muito positiva, e nós, não."
Alguns analistas discordam de sua avaliação. Mas a maioria concordaria que custa muito menos construir um míssil capaz de afundar um porta-aviões americano do que construir tanto o porta-aviões quanto um sistema sofisticado de defesa antimísseis.
A China talvez possa arcar com o míssil, e os EUA talvez possam construir o navio e o sistema de defesa. Mas a necessidade das duas coisas talvez seja inteiramente outra questão. Para um analista americano, "estamos nos preparando para uma briga que não sei se nenhum de nós precise ou queira travar".
Tradução de Clara Allain
Sempre e inevitavelmente, cada um de nós subestima o número de indivíduos estúpidos que circulam pelo mundo.
Carlo M. Cipolla
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Re: EUA : Ascensão e queda de uma grande potência
15/07/2011 - 22h19
A crise da dívida dos EUA
RICHARD McGREGOR
DO "FINANCIAL TIMES"
Perto do fim de sua reunião com parlamentares na quarta-feira, Barack Obama falou em tom áspero com Eric Cantor, o líder da maioria na Câmara que vem encabeçando a posição republicana de linha dura contrária a quaisquer aumentos de receita nas discussões sobre a dívida nacional.
"Cheguei ao meu limite", disse o presidente, antes de levantar-se abruptamente e deixar a reunião, segundo relato feito pelo gabinete de Cantor. "Isto pode derrubar minha Presidência, mas não vou ceder nesta questão."
O presidente ganhou seu apelido de "no-drama Obama" (Obama sem drama) graças a sua campanha brutal para conquistar a Presidência, em 2008, e ao fato de vir administrando crises no cargo desde então. Mas sua calma foi esticada ao limite nas extremamente tensas negociações sobre o orçamento.
Uma elevação do teto de empréstimos do país é vital para pagar os juros das dívidas e manter o governo federal em operação. Se as negociações fracassarem, os EUA podem dar um calote -- um evento sísmico que prejudicaria ainda mais a recuperação trôpega do país e semearia o medo em uma economia global já assustada com os problemas de dívida da Europa. Se democratas e republicanos não conseguirem chegar a um acordo, isso também será um símbolo inconfundível de como um sistema político doméstico cada vez mais disfuncional não consegue mais administrar as divergências partidárias.
Para um mundo que ainda espera liderança econômica, política e diplomática dos Estados Unidos, seria um momento muito grave. "Perguntar com que cara poderia ficar a economia americana após um possível calote do Tesouro dos EUA é como perguntar 'o que você vai fazer depois de cometer suicídio?'", diz Steven Wieting, um analista do Citigroup.
Operadores influentes nos mercados financeiros já definiram os limites do que pode ser suportado; a agência de classificações Moody's ameaçou rebaixar a classificação de crédito dos EUA em função do impasse sobre o orçamento. Um calote, avisou Ben Bernanke, presidente do Federal Reserve, seria uma "calamidade financeira".
A última vez em que o Congresso não chegou a um acordo sobre um pacote de resgate financeiro -- em 2008, quando ele inicialmente rejeitou o programa de resgate a ativos em dificuldades, no auge da crise dos bancos -- as bolsas caíram quase 10%.
Obama vem tendo discussões diárias com líderes do Congresso na Casa Branca, tentando alcançar um acordo. Steny Hoyer, a segunda figura mais alta na hierarquia da liderança democrata na Câmara, é um dos muitos em Washington a avisar que, se as discussões fracassarem, haverá outra crise financeira pela frente.
QUAL É O PROBLEMA?
Quando Bill Clinton deixou a Casa Branca, em 2001, ele legou a George W. Bush um superávit saudável. Mas esse superávit evaporou nos oito anos seguintes, em consequência de duas guerras caras, os cortes nos impostos cobrados dos americanos mais ricos, e a recessão.
O declínio econômico agudo após a crise financeira de 2008 devastou as receitas tributárias. Um programa de estímulo de US$ 700 bilhões que Barack Obama levou o Congresso a aprovar elevou o déficit para mais de 10% do produto econômico. Hoje os Estados Unidos emprestam cerca de 40 cents por cada dólar que gastam.
Sob muitos aspectos, contudo, o déficit cíclico não passa de uma parte pequena do problema. O problema real ainda está por vir, mais à frente na década, quando a população nacional em processo de envelhecimento provocará uma explosão dos custos em uma série de programas governamentais populares.
No mês passado o Escritório Orçamentário do Congresso, organismo não ligado a nenhum dos partidos, avisou que, em um cenário provável de escolhas de política econômica, a dívida federal vai equivaler a mais de 100% das dimensões anuais da economia já em 2021 e chegará a quase 190% até 2035.
As implicações disto são mortíferas, avisam economistas. O custo do pagamento dos juros da dívida pode levar a um salto nas taxas de juros, ao afastamento do investimento privado e a uma diminuição fundamental do poder dos EUA.
A natureza dual do problema do déficit -- um déficit agudo de curto prazo, combinado com uma deficiência enorme no longo prazo -- dificulta um acordo entre a Casa Branca e os democratas e republicanos. Existe um consenso geral segundo o qual um plano para reduzir o déficit em cerca de US$4.000 bilhões ao longo da próxima década poderia ser suficiente para estabilizar os níveis de dívida do país e colocar os EUA em posição fiscal mais sólida. Mas talvez não seja possível chegar a um acordo dessas dimensões.
Em lugar disso, os parlamentares talvez se contentem com um acordo mais limitado no valor aproximado de US$2.000 bilhões, sem tratar das questões de longo prazo, como os gastos com a saúde. Isso simplesmente adiaria uma solução, pelo menos para até depois das eleições presidencial de 2012 e congressional.
Um pacto desse tipo deixaria os dois lados insatisfeitos. Além disso, com o desemprego persistentemente alto, alguns parlamentares estão pressionando para que novas medidas de estímulo sejam incluídas no pacote. Mas, com a expectativa de que as tensões políticas se agravem ainda mais à medida que as eleições se aproximam, esta talvez seja a única oportunidade de aprovação de um apoio governamental de curto prazo para a economia.
O QUE O CONGRESSO QUER?
A maioria das negociações é formada por um processo de concessões mútuas em que nenhum dos lados consegue tudo o que ele quer. Os republicanos, porém, estão abordando as negociações sobre a dívida em espírito muito diferente.
A proposta original de Barack Obama oferecia aos republicanos um acordo que refletia a posição de superioridade que eles detêm na discussão sobre o déficit, baseada no único ponto que eles vêm martelando o ano inteiro: a necessidade preeminente de reduzir os gastos.
O plano de Obama para reduzir o déficit em US$ 4.000 bilhões ao longo de dez anos consistia em cortes da ordem de 70%-80%, com a diferença a ser composta de novas receitas. Ela era tão enviesada em direção aos cortes, incluindo uma erosão dos programas federais quase sagrados de aposentadoria e saúde dos pensionistas, que seus colegas democratas reagiram revoltados.
Nancy Pelosi, ex-presidente da Câmara dos Deputados e defensora acirrada da esquerda liberal, disse que "não pode haver cortes de benefícios do Medicare ou da Previdência Social".
Alguns integrantes da direita entenderam porque Pelosi estava preocupada. David Brooks, colunista conservador do "New York Times", descreveu a proposta de Obama como "o acordo do século".
"Se o Partido Republicano fosse um partido normal, tiraria vantagem deste momento espantoso e aproveitaria a oportunidade de impor um limite de longo prazo ao crescimento do governo", ele escreveu.
Mas o movimento Tea Party vem transformando os republicanos, que se recusaram a cogitar de quaisquer aumentos de receita. No passado poderia haver alguma flexibilidade na posição conservadora, mas o Tea Party levou ao Congresso dezenas de novos parlamentares que têm pouca lealdade ao establishment republicano.
"Eles vieram à capital para transformar Washington e então partir", escreveu Norm Ornstein, do instituto de estudos American Enterprise Institute.
A posição dos democratas também encerra riscos. Durante o ano todo eles deixaram que os republicanos assumissem a liderança na questão do déficit, recusando-se a fazer suas próprias propostas para o orçamento e apostando na possibilidade de seus adversários fracassem por tentarem algo que estaria fora de seu alcance.
Os planos dos republicanos para cortes de gastos mostraram ser impopulares, mas, mesmo assim, a direita definiu os termos do debate. Não apenas os republicanos deixaram os democratas para trás na discussão _nas últimas semanas, o próprio Obama vem ameaçando fazer o mesmo.
O QUE QUER A CASA BRANCA?
Para Barack Obama, as negociações sobre o teto da dívida representam uma oportunidade política preciosa _uma chance de o presidente livrar-se da percepção prejudicial de que é um progressista favorável ao "governo grande" (a presença grande do Estado na economia).
Como isso fez por Bill Clinton em 1995, selar um grande acordo com seus rivais políticos -- que reduziria programas como o Medicare e o Medicaid, ao mesmo tempo acordando uma reforma tributária abrangente -- reforçaria a reputação de Obama de centrista que se dispôs a desafiar seu próprio partido para solucionar o déficit.
Em entrevista coletiva à imprensa esta semana, Obama deixou subentendido que teria uma agenda ainda mais ambiciosa: alcançar um acordo de alcance suficiente para resolver a questão fiscal, abrindo caminho para ele conquistar o segundo mandato que procura e ao mesmo tempo permitindo que ele volte sua atenção a outras questões.
"Se você é um progressista que se preocupa com os investimentos em programas de crédito estudantil, pesquisas médicas e infraestrutura, saiba que não poderemos avançar nessas áreas se não tivermos colocado nossa casa fiscal em ordem", disse Obama.
Mas Jennifer Duffy, do "Cook Political Report", um informativo de Washington, diz que seria imprudência da parte de Obama pensar que poderia emular a façanha política realizada por Clinton na década de 1990. Não apenas as questões em jogo nas negociações sobre o teto da dívida são maiores do que foram as questões para Clinton quando este fechou um pacto para equilibrar o orçamento nacional, como o ambiente político de então era muito menos polarizado do que é hoje.
Os cortes e outras reformas de benefícios que estão sob discussão, incluindo um possível aumento de 65 para 67 anos da idade mínima para as pessoas terem direito ao Medicare, também correm o risco de desagradar a muitos dos partidários de Obama.
"Parecer um centrista é uma coisa, mas Obama também precisa tomar cuidado com seu flanco esquerdo. Ele está andando numa corda bamba, de modo que tudo realmente depende de como for o acordo", diz Duffy. "Em última análise, querem evitar a moratória e querem um acordo no qual possam dar a impressão de terem ganhado mais do que perderam."
Mesmo assim, Obama precisa conquistar a adesão de mais do que os democratas para conseguir alcançar um acordo. Os republicanos dizem que o grande acordo entre Obama e John Boehner, o presidente republicano da Câmara, desmoronou não em torno de divergências sobre elevar impostos, mas porque Boehner não confiava nos democratas para realizar reformas dos benefícios sociais.
O QUE ACONTECERÁ SE AS NEGOCIAÇÕES FRACASSAREM?
O secretário do Tesouro, Tim Geithner, vem há meses avisando o Congresso sobre os perigos de não ser elevado o limite permitido de endividamento dos EUA.
Mas esta semana o próprio presidente Barack Obama descreveu claramente quais seriam as consequências de um calote. Em 3 de agosto, o dia após o prazo final para ser fechado um acordo, o governo deve emitir cerca de 70 milhões de cheques, disse o presidente. "Não se tratam apenas de cheques da Previdência Social. São as pensões de veteranos de guerra, de pessoas que recebem benefícios por invalidez."
Sem um acordo, o que significará que "os cofres não estarão cheios", Obama disse que não poderá garantir que os cheques sejam enviados.
Um calote seria um pesadelo logístico, econômico e político. O governo dos EUA seria obrigado, na prática, a lançar-se em um esforço maciço de triagem para decidir quais pagamentos se disporia a fazer e quais optaria por suspender.
Os investidores internacionais em títulos de dívida, como a China, além de empresas que trabalham sob contrato com o governo e os destinatários de benefícios previdenciários, pensões e outros benefícios, todos teriam que ser postos na fila em função de algo que o Centro de Política Bipartidária, um instituto de estudos de Washington, estima que equivaleria a um corte imediato e automático de 45% nos gastos do governo.
Essa retração fiscal dramática, somada ao aumento dos custos de novos empréstimos contraídos, de uma provável queda na confiança dos consumidores e da perda da valiosa classificação de crédito AAA, poderia mergulhar os EUA em uma nova recessão. Isso teria repercussões graves para o resto do mundo.
O nível de desconfiança política está tão alto que muitos republicanos -- entre eles Michele Bachman, bem cotada potencial candidata à Casa Branca em 2012 -- afirmam que a administração está apenas usando uma tática de tentar espalhar o medo. Juntamente com outros membros direitistas do movimento Tea Party, esses republicanos afirmam que o prazo final de 2 de agosto é um mito e que o governo pode, sim, pagar os juros sobre seus empréstimos sem dar um calote.
No interior da Casa Branca, as negociações não estão indo bem. Obama deixou o recinto abruptamente após uma discussão inflamada na sessão da quarta-feira.
De acordo com um democrata presente, o presidente encerrou a reunião observando que a natureza das negociações confirma o que muitas pessoas dizem a respeito de Washington.
"Já chega", ele teria dito aos presentes. "Verei vocês todos amanhã."
Tradução de Clara Allain
A crise da dívida dos EUA
RICHARD McGREGOR
DO "FINANCIAL TIMES"
Perto do fim de sua reunião com parlamentares na quarta-feira, Barack Obama falou em tom áspero com Eric Cantor, o líder da maioria na Câmara que vem encabeçando a posição republicana de linha dura contrária a quaisquer aumentos de receita nas discussões sobre a dívida nacional.
"Cheguei ao meu limite", disse o presidente, antes de levantar-se abruptamente e deixar a reunião, segundo relato feito pelo gabinete de Cantor. "Isto pode derrubar minha Presidência, mas não vou ceder nesta questão."
O presidente ganhou seu apelido de "no-drama Obama" (Obama sem drama) graças a sua campanha brutal para conquistar a Presidência, em 2008, e ao fato de vir administrando crises no cargo desde então. Mas sua calma foi esticada ao limite nas extremamente tensas negociações sobre o orçamento.
Uma elevação do teto de empréstimos do país é vital para pagar os juros das dívidas e manter o governo federal em operação. Se as negociações fracassarem, os EUA podem dar um calote -- um evento sísmico que prejudicaria ainda mais a recuperação trôpega do país e semearia o medo em uma economia global já assustada com os problemas de dívida da Europa. Se democratas e republicanos não conseguirem chegar a um acordo, isso também será um símbolo inconfundível de como um sistema político doméstico cada vez mais disfuncional não consegue mais administrar as divergências partidárias.
Para um mundo que ainda espera liderança econômica, política e diplomática dos Estados Unidos, seria um momento muito grave. "Perguntar com que cara poderia ficar a economia americana após um possível calote do Tesouro dos EUA é como perguntar 'o que você vai fazer depois de cometer suicídio?'", diz Steven Wieting, um analista do Citigroup.
Operadores influentes nos mercados financeiros já definiram os limites do que pode ser suportado; a agência de classificações Moody's ameaçou rebaixar a classificação de crédito dos EUA em função do impasse sobre o orçamento. Um calote, avisou Ben Bernanke, presidente do Federal Reserve, seria uma "calamidade financeira".
A última vez em que o Congresso não chegou a um acordo sobre um pacote de resgate financeiro -- em 2008, quando ele inicialmente rejeitou o programa de resgate a ativos em dificuldades, no auge da crise dos bancos -- as bolsas caíram quase 10%.
Obama vem tendo discussões diárias com líderes do Congresso na Casa Branca, tentando alcançar um acordo. Steny Hoyer, a segunda figura mais alta na hierarquia da liderança democrata na Câmara, é um dos muitos em Washington a avisar que, se as discussões fracassarem, haverá outra crise financeira pela frente.
QUAL É O PROBLEMA?
Quando Bill Clinton deixou a Casa Branca, em 2001, ele legou a George W. Bush um superávit saudável. Mas esse superávit evaporou nos oito anos seguintes, em consequência de duas guerras caras, os cortes nos impostos cobrados dos americanos mais ricos, e a recessão.
O declínio econômico agudo após a crise financeira de 2008 devastou as receitas tributárias. Um programa de estímulo de US$ 700 bilhões que Barack Obama levou o Congresso a aprovar elevou o déficit para mais de 10% do produto econômico. Hoje os Estados Unidos emprestam cerca de 40 cents por cada dólar que gastam.
Sob muitos aspectos, contudo, o déficit cíclico não passa de uma parte pequena do problema. O problema real ainda está por vir, mais à frente na década, quando a população nacional em processo de envelhecimento provocará uma explosão dos custos em uma série de programas governamentais populares.
No mês passado o Escritório Orçamentário do Congresso, organismo não ligado a nenhum dos partidos, avisou que, em um cenário provável de escolhas de política econômica, a dívida federal vai equivaler a mais de 100% das dimensões anuais da economia já em 2021 e chegará a quase 190% até 2035.
As implicações disto são mortíferas, avisam economistas. O custo do pagamento dos juros da dívida pode levar a um salto nas taxas de juros, ao afastamento do investimento privado e a uma diminuição fundamental do poder dos EUA.
A natureza dual do problema do déficit -- um déficit agudo de curto prazo, combinado com uma deficiência enorme no longo prazo -- dificulta um acordo entre a Casa Branca e os democratas e republicanos. Existe um consenso geral segundo o qual um plano para reduzir o déficit em cerca de US$4.000 bilhões ao longo da próxima década poderia ser suficiente para estabilizar os níveis de dívida do país e colocar os EUA em posição fiscal mais sólida. Mas talvez não seja possível chegar a um acordo dessas dimensões.
Em lugar disso, os parlamentares talvez se contentem com um acordo mais limitado no valor aproximado de US$2.000 bilhões, sem tratar das questões de longo prazo, como os gastos com a saúde. Isso simplesmente adiaria uma solução, pelo menos para até depois das eleições presidencial de 2012 e congressional.
Um pacto desse tipo deixaria os dois lados insatisfeitos. Além disso, com o desemprego persistentemente alto, alguns parlamentares estão pressionando para que novas medidas de estímulo sejam incluídas no pacote. Mas, com a expectativa de que as tensões políticas se agravem ainda mais à medida que as eleições se aproximam, esta talvez seja a única oportunidade de aprovação de um apoio governamental de curto prazo para a economia.
O QUE O CONGRESSO QUER?
A maioria das negociações é formada por um processo de concessões mútuas em que nenhum dos lados consegue tudo o que ele quer. Os republicanos, porém, estão abordando as negociações sobre a dívida em espírito muito diferente.
A proposta original de Barack Obama oferecia aos republicanos um acordo que refletia a posição de superioridade que eles detêm na discussão sobre o déficit, baseada no único ponto que eles vêm martelando o ano inteiro: a necessidade preeminente de reduzir os gastos.
O plano de Obama para reduzir o déficit em US$ 4.000 bilhões ao longo de dez anos consistia em cortes da ordem de 70%-80%, com a diferença a ser composta de novas receitas. Ela era tão enviesada em direção aos cortes, incluindo uma erosão dos programas federais quase sagrados de aposentadoria e saúde dos pensionistas, que seus colegas democratas reagiram revoltados.
Nancy Pelosi, ex-presidente da Câmara dos Deputados e defensora acirrada da esquerda liberal, disse que "não pode haver cortes de benefícios do Medicare ou da Previdência Social".
Alguns integrantes da direita entenderam porque Pelosi estava preocupada. David Brooks, colunista conservador do "New York Times", descreveu a proposta de Obama como "o acordo do século".
"Se o Partido Republicano fosse um partido normal, tiraria vantagem deste momento espantoso e aproveitaria a oportunidade de impor um limite de longo prazo ao crescimento do governo", ele escreveu.
Mas o movimento Tea Party vem transformando os republicanos, que se recusaram a cogitar de quaisquer aumentos de receita. No passado poderia haver alguma flexibilidade na posição conservadora, mas o Tea Party levou ao Congresso dezenas de novos parlamentares que têm pouca lealdade ao establishment republicano.
"Eles vieram à capital para transformar Washington e então partir", escreveu Norm Ornstein, do instituto de estudos American Enterprise Institute.
A posição dos democratas também encerra riscos. Durante o ano todo eles deixaram que os republicanos assumissem a liderança na questão do déficit, recusando-se a fazer suas próprias propostas para o orçamento e apostando na possibilidade de seus adversários fracassem por tentarem algo que estaria fora de seu alcance.
Os planos dos republicanos para cortes de gastos mostraram ser impopulares, mas, mesmo assim, a direita definiu os termos do debate. Não apenas os republicanos deixaram os democratas para trás na discussão _nas últimas semanas, o próprio Obama vem ameaçando fazer o mesmo.
O QUE QUER A CASA BRANCA?
Para Barack Obama, as negociações sobre o teto da dívida representam uma oportunidade política preciosa _uma chance de o presidente livrar-se da percepção prejudicial de que é um progressista favorável ao "governo grande" (a presença grande do Estado na economia).
Como isso fez por Bill Clinton em 1995, selar um grande acordo com seus rivais políticos -- que reduziria programas como o Medicare e o Medicaid, ao mesmo tempo acordando uma reforma tributária abrangente -- reforçaria a reputação de Obama de centrista que se dispôs a desafiar seu próprio partido para solucionar o déficit.
Em entrevista coletiva à imprensa esta semana, Obama deixou subentendido que teria uma agenda ainda mais ambiciosa: alcançar um acordo de alcance suficiente para resolver a questão fiscal, abrindo caminho para ele conquistar o segundo mandato que procura e ao mesmo tempo permitindo que ele volte sua atenção a outras questões.
"Se você é um progressista que se preocupa com os investimentos em programas de crédito estudantil, pesquisas médicas e infraestrutura, saiba que não poderemos avançar nessas áreas se não tivermos colocado nossa casa fiscal em ordem", disse Obama.
Mas Jennifer Duffy, do "Cook Political Report", um informativo de Washington, diz que seria imprudência da parte de Obama pensar que poderia emular a façanha política realizada por Clinton na década de 1990. Não apenas as questões em jogo nas negociações sobre o teto da dívida são maiores do que foram as questões para Clinton quando este fechou um pacto para equilibrar o orçamento nacional, como o ambiente político de então era muito menos polarizado do que é hoje.
Os cortes e outras reformas de benefícios que estão sob discussão, incluindo um possível aumento de 65 para 67 anos da idade mínima para as pessoas terem direito ao Medicare, também correm o risco de desagradar a muitos dos partidários de Obama.
"Parecer um centrista é uma coisa, mas Obama também precisa tomar cuidado com seu flanco esquerdo. Ele está andando numa corda bamba, de modo que tudo realmente depende de como for o acordo", diz Duffy. "Em última análise, querem evitar a moratória e querem um acordo no qual possam dar a impressão de terem ganhado mais do que perderam."
Mesmo assim, Obama precisa conquistar a adesão de mais do que os democratas para conseguir alcançar um acordo. Os republicanos dizem que o grande acordo entre Obama e John Boehner, o presidente republicano da Câmara, desmoronou não em torno de divergências sobre elevar impostos, mas porque Boehner não confiava nos democratas para realizar reformas dos benefícios sociais.
O QUE ACONTECERÁ SE AS NEGOCIAÇÕES FRACASSAREM?
O secretário do Tesouro, Tim Geithner, vem há meses avisando o Congresso sobre os perigos de não ser elevado o limite permitido de endividamento dos EUA.
Mas esta semana o próprio presidente Barack Obama descreveu claramente quais seriam as consequências de um calote. Em 3 de agosto, o dia após o prazo final para ser fechado um acordo, o governo deve emitir cerca de 70 milhões de cheques, disse o presidente. "Não se tratam apenas de cheques da Previdência Social. São as pensões de veteranos de guerra, de pessoas que recebem benefícios por invalidez."
Sem um acordo, o que significará que "os cofres não estarão cheios", Obama disse que não poderá garantir que os cheques sejam enviados.
Um calote seria um pesadelo logístico, econômico e político. O governo dos EUA seria obrigado, na prática, a lançar-se em um esforço maciço de triagem para decidir quais pagamentos se disporia a fazer e quais optaria por suspender.
Os investidores internacionais em títulos de dívida, como a China, além de empresas que trabalham sob contrato com o governo e os destinatários de benefícios previdenciários, pensões e outros benefícios, todos teriam que ser postos na fila em função de algo que o Centro de Política Bipartidária, um instituto de estudos de Washington, estima que equivaleria a um corte imediato e automático de 45% nos gastos do governo.
Essa retração fiscal dramática, somada ao aumento dos custos de novos empréstimos contraídos, de uma provável queda na confiança dos consumidores e da perda da valiosa classificação de crédito AAA, poderia mergulhar os EUA em uma nova recessão. Isso teria repercussões graves para o resto do mundo.
O nível de desconfiança política está tão alto que muitos republicanos -- entre eles Michele Bachman, bem cotada potencial candidata à Casa Branca em 2012 -- afirmam que a administração está apenas usando uma tática de tentar espalhar o medo. Juntamente com outros membros direitistas do movimento Tea Party, esses republicanos afirmam que o prazo final de 2 de agosto é um mito e que o governo pode, sim, pagar os juros sobre seus empréstimos sem dar um calote.
No interior da Casa Branca, as negociações não estão indo bem. Obama deixou o recinto abruptamente após uma discussão inflamada na sessão da quarta-feira.
De acordo com um democrata presente, o presidente encerrou a reunião observando que a natureza das negociações confirma o que muitas pessoas dizem a respeito de Washington.
"Já chega", ele teria dito aos presentes. "Verei vocês todos amanhã."
Tradução de Clara Allain
Sempre e inevitavelmente, cada um de nós subestima o número de indivíduos estúpidos que circulam pelo mundo.
Carlo M. Cipolla
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Re: EUA : Ascensão e queda de uma grande potência
Alguns analistas americanos dizem que as medidas e contramedidas dos dois países podem fadar ao fracasso qualquer chance de uma verdadeira convivência militar e diplomática. Outros afirmam que os EUA podem ser forçados a entrar em outra corrida armamentista -- só que, desta vez, diferentemente do que foi o caso na Guerra Fria, seria a China que teria bilhões para gastar com armamentos novos, e os EUA que poderiam ser obrigados a optar entre armas ou alimentos.
Charles W. Freeman Jr., ex-diplomata que Obama nomeou, sem êxito, para liderar o Conselho Nacional de Inteligência, apresentou esse argumento de modo contundente em discurso recente perante o Instituto de Estudos Marítimos da China, sediado em Rhode Island.
"Hoje os EUA estão fiscalmente ocos", disse Freeman, observando que orçamento militar americano inteiro é essencialmente financiado com dinheiro emprestado. "Apesar disso, estamos ingressando numa rivalidade militar de longo prazo com a China em termos que são facilmente suportáveis pela China, mas fiscalmente desastrosos para nós. Essa rivalidade é ainda mais desvantajosa pelo fato de a China estar competindo de maneiras baseadas em uma relação custo-benefício muito positiva, e nós, não."
Charles W. Freeman Jr., ex-diplomata que Obama nomeou, sem êxito, para liderar o Conselho Nacional de Inteligência, apresentou esse argumento de modo contundente em discurso recente perante o Instituto de Estudos Marítimos da China, sediado em Rhode Island.
"Hoje os EUA estão fiscalmente ocos", disse Freeman, observando que orçamento militar americano inteiro é essencialmente financiado com dinheiro emprestado. "Apesar disso, estamos ingressando numa rivalidade militar de longo prazo com a China em termos que são facilmente suportáveis pela China, mas fiscalmente desastrosos para nós. Essa rivalidade é ainda mais desvantajosa pelo fato de a China estar competindo de maneiras baseadas em uma relação custo-benefício muito positiva, e nós, não."
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Re: EUA : Ascensão e queda de uma grande potência
O governo de George W. Bush deve ter sido o mais estúpido da história dos EUA... Os Neocons e sua miopia visando implantar uma "Pax Americana" no pós-Guerra Fria estão levando os EUA a serem a "Grã-Bretanha do final do século XX no XXI"...
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Re: EUA : Ascensão e queda de uma grande potência
Os EUA são o único país no mundo que não cortaram gastos militares, nem projetam, para enfrentar sua crise econômica. E ninguém precisa ser especialista em finanças públicas para observar que isso é o caminho mais curto para se ter problemas muito sérios logo adiante...soultrain escreveu:Alguns analistas americanos dizem que as medidas e contramedidas dos dois países podem fadar ao fracasso qualquer chance de uma verdadeira convivência militar e diplomática. Outros afirmam que os EUA podem ser forçados a entrar em outra corrida armamentista -- só que, desta vez, diferentemente do que foi o caso na Guerra Fria, seria a China que teria bilhões para gastar com armamentos novos, e os EUA que poderiam ser obrigados a optar entre armas ou alimentos.
Charles W. Freeman Jr., ex-diplomata que Obama nomeou, sem êxito, para liderar o Conselho Nacional de Inteligência, apresentou esse argumento de modo contundente em discurso recente perante o Instituto de Estudos Marítimos da China, sediado em Rhode Island.
"Hoje os EUA estão fiscalmente ocos", disse Freeman, observando que orçamento militar americano inteiro é essencialmente financiado com dinheiro emprestado. "Apesar disso, estamos ingressando numa rivalidade militar de longo prazo com a China em termos que são facilmente suportáveis pela China, mas fiscalmente desastrosos para nós. Essa rivalidade é ainda mais desvantajosa pelo fato de a China estar competindo de maneiras baseadas em uma relação custo-benefício muito positiva, e nós, não."
A corrida armamentista com a China, com o EUA em crise, não deixa de ser uma das grandes ironias da história no últimos tempos, pós-Guerra Fria...
A propósito, lendo o Poder Aéreo:
Nos Estados Unidos, Câmara aprova gastos de defesa de 649 bilhões de dólares para 2012
A Reuters informou que nesta sexta-feira, 8 de julho, o gasto em defesa de 649 bilhões de dólares foi aprovado com facilidade pela Câmara dos Deputados (House of Representatives) após quatro dias de debate em que os legisladores tentaram frear as operações de combate do Governo Obama, no Afeganistão e na Líbia.
Aprovado por 336 votos a favor e 87 contra, na Câmara que é dominada por republicanos, a medida vai aumentar o orçamento básico do Pentágono do ano fiscal de 2012 em 17 bilhões de dólares, comparado aos valores atuais, num contexto de intensa pressão para reduzir o déficit norte-americano de 1,4 trilhão de dólares. O ano fiscal de em 2012 começa em 1º de outubro.
Ainda assim, foram cortados 8 bilhões de dólares do pedido de orçamento geral do Governo Obama. Dos 649 bilhões de dólares aprovados, 530 bilhões estão alocados ao orçamento primário do Pentágono e outros 119 bilhões para as guerras do Afeganistão e do Iraque. A conta não inclui fundos para programs de armas nucleares ou construções militares, que acrescentam 33 bilhões ao valor dos gastos.
A medida inclui 5,9 bilhões de dólares para a compra de 32 caças furtivos F-35, 15,1 bilhões para a construção de 10 navios para a Marinha dos EUA e 3,3 bilhões para 28 caças F-18 Super Hornet e 12 EA-18 Growler, de guerra eletrônica. O Congresso ainda tem algumas semanas para a aprovação final dos gastos militares antes que Obama assine a lei.
Nos quatro dias de discussão, mais de doze emendas foram discutidas. Legisladores que desejavam uma retirada mais rápida do Afeganistão, para os quais também não agradou a decisão de Obama de intervir no conflito da Líbia, tentaram forçar, sem sucesso, medidas para mudar as políticas de guerra dos EUA. Um dos representantes afirmou que a “Líbia é uma guerra que esta casa adora odiar, mas que odeia parar”.
Esforços para cortar bilhões de dólares de diversas contas de defesa não foram aprovados. O corte mais bem-sucedido foi de 120 milhões de dólares para bandas militares. Mesmo assim, o que a Reuters chamou de deu trabalho para deixar o orçamento para 200 bandas compreendendo 4.600 músicos e pessoal de apoio em 200 milhões de dólares.
FONTE: Reuters (tradução, adaptação e edição: Poder Aéreo)
FOTOS: Marinha dos EUA (US Navy)
http://www.aereo.jor.br/page/5/
Mesmo com risco de virarem caloteiros aumentaram seus gastos militares; e, para variar, os republicanos defendem cortes de impostos e amputação nos gastos sociais. Os únicos militares q "dançaram" foram os músicos...