Thor escreveu:Pessoal, após alguns meses participando do Forum, confesso que aprendi muito com todos aqui. É uma comunidade legal em que vários assuntos são abordados, a pesquisa de opensource é mais rápida, são várias experiências diferentes que temos por aqui.
É muito legal quando vemos uns posts do Carlos comentando sobre produtos russos, do Marino quando fala sobre a experiência que tem na Marinha, do Piffer quando se fala de helis, da experiência do Orestes, do Ciclone galdério, do knight, do ALC como Piloto Comercial, do Prick quando se trata do Rafale, do Santiago, do CB e de tantos outros que vão me perdoar se não consegui lembrar ou não soube escrever o nick. Isso é muito legal e o DB cresce com isso.
Porém, de um tempo pra cá esse tópico que deveria ser de
debates, onde cada um coloca opnião, experiência, textos, achismos, acabou virando de
embates ou
combates. Acho que o nome
forum não deve ser comparado a um forum de tribunal, onde um promotor ou advogado tem como objetivo desqualificar um réu, prova, testemunha, ato, processo. Isso tá chato e acaba afastando quem gostaria de complementar com algum fato, mas cada vez que cita algo vem logo uma crítica tentando desqualificar o autor, usando partes do texto, mudando o sentido da idéia, só para tentar que sua opinião que determinado equipamento é o melhor e que de nada vale o que foi dito. Tem uma meia dúzia de cinco aqui neste tópico que se trancou num mundo de apego a determinada idéia que qualquer comentário que não seja alinhado com isso será logo rechaçado. O que isso tem trazido de engrandecimento para o tópico? Acho que bem menos se comparado ao que seria se nossa postura fosse outra.
Mas isso foi só um desabafo, e pelo jeito não deve ser de comum acordo com o pensamento de alguns, sem problemas.
Quando eu escrevo alguma coisa, procuro colocar fatos ou experiências coletadas ao longo da vida, não é com intuito simplesmente de desmerecer X ou Y. Todos os equipamentos tem prós e contras. Cabe a cada julgar e formar uma opnião, o que nem sempre será a verdade pura.
Mas, para não ficar muito offtopic, vou tentar passar alguma coisa sobre como a FAB buscou avaliar o F/X.
Para começar essa é a incumbência que foi dada desde o início: processo de avaliação e seleção. E, embora alguns tenham dito recentemente que se o GF já decidiu que é o Rafale, a FAB deveria abraçar isso e fim de papo, esquecendo dos demais (essa foi minha impressão). Mas será que isso foi dito para a FAB oficialmente? Eu me lembro do NJ falando para todos os ventos que não tem nada definido e que o processo de análise e seleção das propostas ainda estava aberto. Por isso acho que se o GF, ou Lula, afirmasse que a parceria com a França é consolidada e deve ser o caminho, simplesmente o trabalho da FAB seria muito mais simplificado, o de apenas passar o relatório do desempenho do Rafale com a minuta do contrato, buscando extrair o máximo de offset possível com essa negociação. Mas, acredito eu que isso não foi dito pelo GF oficialmente.
Agora como a FAB fez seu dever de casa, estipulado pelo GF?
Para análise dos caças montou uma equipe com os melhores especialistas em contratos (COPAC), em GE (CEAGA/COMGAR/CTA), em logística (ILA/DIRMAB) e para a avaliação técnica, que é o principal, pilotos e engenheiros de ensaio.
Não precisa falar que a maioria é qualificada, alguns com mestrado, PhD e bastante experiência no que faz.
Só para exemplificar, vou comentar sobre os pilotos escolhidos, que são todos meus amigos/colegas pessoais.
Para voarem os aviões, foram indicados 3 pilotos com experiência da área operacional e mais 6 pilotos de ensaio. Os pilotos da área operacional, um foi comandante do GDA durante a implantação dos F-2000, realizou curso de piloto operacional da aeronave na França, voando nos esquadrões de lá, além de curso de simulador de combate lá também. Antes teve experiência com dois mandatos na função de oficial de operações, que na FAB é o cargo mais importante e operacional para um piloto. Esse mesmo também participou de intercâmbios no Chile, participou de avaliação do Chetah e fez outros cursos operacionais no Brasil e exterior, atualmente trabalhando na Defesa Aeroespacial. O outro piloto é considerado o típico esteriótipo de piloto de caça exemplar, foi oficial de doutrina de alguns esquadrões de caça da FAB, oficial de operações do 1º Grupo de Caça, piloto mais eficiente em quase todas as UAE que passou, comandante do 1º/14º GAV quando seu Esquadrão foi à Red Flag e quando foram os agressores na Cruzex 2008, os quais a Direx teve que pedir para maneirar pois a coalizão não estava tendo sucesso contra seu Esquadrão. Um líder nato, talvez até vindo do sangue de seu pai que foi comandante de uma outra Unidade de Caça e faleceu numa missão de intercâmbio no Chile junto com o comandante do Esquadrão de Strikemaster daquele país. O outro piloto foi comandante de um Esquadrão de A-1 do terceiro lote, piloto exemplar, com mestrado nos EUA na área operacional, tendo também sido oficial de operações, participado de uma Red Flag e feito cursos outros na França.
Vou citar apenas um piloto de ensaio que também foi avaliar um dos modelos, fez AFA como todos aviadores, curso de piloto de caça, foi de esquadrão operacional de caça, fez o curso de 5 anos de engenharia do ITA, não satisfeito fez o curso de ensaio em vôo. Há quem diga, aliás muita gente, que o curso de ensaio do GEEV é pior que o curso de engenharia do ITA, tamanha a compressão de matérias, nível, e quantidade de vôos e aeronaves que os pilotos tem que cumprir durante o curso de 1 ano. Pois pilotam desde Sukhoi, F-15, F-16, Gripen, C-130, a depender de cada curso.
Algum tempo antes de irem voar as aeronaves, eles tiveram que se debruçar sobre os manuais, gráficos (não era só para colorirem, como disseram aqui) e relatórios confidenciais de performance e operação dos equipamentos. Foram feitas sessões de simulador em vários tipos de missão. Foram desenvolvidos planos de ensaio comum a todas as avaliações, com pontos e aspectos a serem avaliados
objetivamente. Nisso os pilotos e engenheiros de ensaio são especialistas, pois sabemos que nossa escola é uma das melhores do mundo, e cabe nos dedos da mão quantos países têm o reconhecimento internacional para realizar essa atividade.
Ao final de cada vôo, os logfiles de cada missão eram exaustivamente avaliados por essa turma aí.
Vou apenas citar como foram os ensaios de um modelo X:
Foram realizadas 3 surtidas reais, com a aeronave configurada para cada tipo de missão. Logo após a Dep, a qual demonstrou uma capacidade de aceleração muito boa, foi feito revo buddy-buddy. O radar detectou alvos a distâncias surpreendentes, o qual logo passou a imagem para o HMD e com total integração com os 4 mísseis BVR e os outros IR que a aeronave transportava. Isso permitiu ao piloto identificar e engajar com alta Pk. Em outro momento, o piloto olhou para o lado escolhendo um alvo no solo, apertou um botão no manche e designou o que estava olhando para seu armamento ar-solo. O sistema optico/designador ficou travado com extrema simplicidade, pronto para usar seu armamento de precisão. O sistema de armas era fantástico, simples de usar e muito eficiente.
Isso foi só um vôo que citei, senão seria um post gigante. Não dá para tecer detalhes por motivos óbvios.
Isso foi só para tentar passar para o pessoal que o que a FAB podia fazer ela fez e procurou fazer bem feito. Eu vi muitos aqui desqualificando esse grupo, dizendo que são burros, incompetentes e por ai vai. Caso alguém aqui puder contribuir nesse trabalho e possa fazer uma análise melhor que esse pessoal aí favor me mande via MP para que eu sugira à COPAC a substituição de algum membro dessa equipe.
Eu sinceramente não sei qual aeronave que obteve melhor avaliação, isso ninguém fala nem pra própria mãe, mas eu confio na avaliação que foi feita de acordo com os requisitos que a FAB estabeleceu.
Alguns outros ficam na dúvida, e eu me incluo nessa: por que as aeronaves russas ou o Typhon foram excluídas da short list. Podem haver vários motivos, os quais foram avaliados. Pode ter sido custos exorbitantes de aquisição e operação, logística inapropriada para nosso país, Tod...sei lá.
Obrigado a todos e desculpem-me se acabei desabafando demais aqui.
Aproveitando que estou inspirado para escrever, fiquei devendo uma dúvida acho que foi para o Prick.
Os E/R-99 possuem na suite de ESM equipamentos da Raytheon e subsidiárias, posso citar alguns WJ-8689 (Watkins Johnson, por ai a escrita), EPR-233, DPP. Nas comunicações seguras ECCM e rádios SECOS R&S, alemães. No sistema radar o PSR-890, EXR (Exciter Receiver), SDP, OCC, MCA e MCB, PUA e PUB, tudo sueco, da antiga Ericsson, hoje SAAB. Radar secundário (CIT) francês. Apenas a integração do ESM foi feita nos EUA, os componentes suecos nem podiam entrar lá, em hipótese alguma. Os demais compenentes foram feitos no Brasil e Suécia.
Os R-99 possuem o OIS que é da FLIR (USA), o SAR é da MDA (Canadense) e o MSS de uma empresa americana que faliu.
Prick, admiro sua capacidade em debater. Se não for um advogado, está na profissão errada, se for passe seu meio de contato via MP porque se um dia eu precisar para me livrar a barra faria questão de te contratar.
Abraços e bom F/X para todos, que ganhe o melhor.