Portugueses candidatos às autárquicas francesas pela extrema direita
Mais de duas dezenas de portugueses mononacionais são candidatos às municipais pela Frente Nacional de Marine le Pen que, curiosamente, é contra o direito de voto dos estrangeiros em França.
"A partir do momento em que a lei o permite, não vejo razão para não dar a possibilidade a um certo número de pessoas que sejam candidatas nas nossas listas... Penso que essa possibilidade será suprimida quando a União Europeia deixar de existir."
É nestes termos que Marine le Pen, presidente da Frente Nacional (FN), comenta a presença nas suas listas de portugueses mononacionais e também de outros cidadãos europeus residentes em França, como belgas, espanhóis e, pelo menos, até um romeno e um búlgaro.
Além dos portugueses com nacionalidade única, a FN, bem como o movimento mais alargado Rassemblement Bleu Marine (Ajuntamento Azul Marine, RBM), apresentam igualmente dezenas de candidatos franceses de origem portuguesa ou portugueses com dupla nacionalidade.
Em algumas localidades, onde é grande a concentração de portugueses, como acontece em certas cidades dos subúrbios de Paris onde o seu voto pesará no resultado final, as listas destes dois movimentos políticos, ambos liderados por Marine le Pen, chegam a apresentar três ou quatro candidatos portugueses.
A Frente Nacional é contra o direito de voto dos cidadãos comunitários nas eleições francesas, mas a contradição com a presença destes últimos nas listas dos seus candidatos não preocupa nem os seus dirigentes nem os próprios candidatos europeus. Com efeito, os residentes europeus em França perderiam a possibilidade de se candidatar, e mesmo de votar, se as teses da FN vencessem em França.
Referendo sobre saída da França da União Europeia
O partido de extrema direita propõe a realização de um referendo sobre a saída da França da União Europeia e de um outro, semelhante ao que foi aprovado recentemente na Suíça, sobre o controlo da emigração e das fronteiras francesas.
Além disso, Marine le Pen defende igualmente a "prioridade nacional" no acesso ao emprego em França. "Com competência igual, a prioridade do emprego deverá ser sempre dada aos franceses", explica.
Quanto ao direito de voto nas eleições francesas, a orientação da FN e do RBM é clara. "O princípio é o de que nacionalidade e cidadania devem estar sempre associados... a primeira brecha a este princípio, a do Tratado de Maastricht, que dá o direito de voto aos residentes comunitários nas eleições municipais e europeias, não é aceitável", escreveu em setembro de 2012 Florian Philippot, vice-presidente da Frente Nacikonal.
Este partido sempre manteve uma ligação algo especial aos portugueses residentes em França, considerados por Marine le Pen, numa entrevista ao Expresso, como "trabalhadores, cumpridores das leis e respeitadores, pessoas que não criam problemas em França"
Na altura desta entrevista, Marine prometeu que se um dia vencer as eleições presidenciais em França irá comemorar a vitória no "Chez Tonton" , um restaurante português, simples e popular, de Nanterre, nos arredores de Paris, onde vai regularmente e que já era frequentado pelo seu pai, Jean-Marie le Pen, fundador da FN.
Portugueses próximos da Frente Nacional
A presença de portugueses e de seus descendentes nas listas nacionalistas confirma que muitos portugueses também apreciam a FN.
As eleições autárquicas são tradicionalmente pouco favoráveis aos populistas franceses, por estes terem uma fraca implantação local e devido ao sistema eleitoral maioritário a duas voltas. Mas a Frente Nacional vai ser árbitro em algumas centenas de localidades no escrutínio decisivo da segunda volta, que se realiza a 30 deste mês.
A primeira volta das municipais decorre no próximo domingo. Algumas sondagens atribuem o primeiro lugar à FN nas próximas eleições europeias (em maio) e que se realizam, tal como em Portugal, sob as regras da lei eleitoral proporcional.
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