Senhores, pelo jeito existem mesmo Programas de Estado no Brasil. Eu até nem dava mais bola para o Programa Espacial por achar que era pouco mais do que uma piada de mau gosto (aliás, ainda acho), derivada de uma tentativa canhestra dos tempos da Dita Dura em encobrir seu programa de desenvolvimento de mísseis balísticos. Lembremos da série SONDA, observando o calibre e formato externo:
SONDA I - 127 mm;
SONDA II - 300 mm;
SONDA III - 1º estágio 550 mm, 2º estágio era um SONDA II;
SONDA IV (que no começo era chamado de VLS) - 1º estágio 1.005 mm, 2º estágio um SONDA III.
Lembro muito bem deles porque a propaganda do "programa espacial" era abertíssima, mesmo naqueles tempos de censura extrema. Era na tevê, no jornal, em revistas, volta e meia se tinha notícias de mais um passo inédito do Brasil na "conquista espacial". Não existiam publicações especializadas em Defesa em Português e eu, pré-adolescente, mal arranhava alguma coisa em Inglês, pois revistas do tipo estavam nas bancas, só que eu não tinha como entender o que estava escrito. Mas, morando ao lado do então 8º BIMtz (hoje 7º BIB) e doido por arma, volta e meia estava de charla com o pessoal e certa vez me mostraram uma publicação - que me disseram ser - interna do EB. Eu estava visitando o setor de RP da unidade e fiquei quase que a tarde toda lendo. Uma coisa muito interessante era uma foto de um M3 Stuart cuja torre tinha sido substituída por três rampas de lançamento para um balístico tático chamado X-40 (alcance). No texto dizia que usava quase todos os componentes do SONDA II (na verdade, um SONDA II "fardado").
Mais para o fim da década de 70 começaram a surgir publicações de Defesa (poucos anos depois eu comprava o nº 1 da revista Tecnologia e Defesa) e logo começaram a falar de um tale de ASTROS II (não sei até hoje o que era ou deveria ser o ASTROS I) e, com a publicação dos calibres e origem dos foguetes eque seriam usados, logo vi que o que viria a ser o SS-30 nada mais era do que uma modernização do SONDA I; o SS-40 era novo (pelo menos eu nunca tinha lido a respeito de outro SONDA) e o SS-60 era o X-40, ex-SONDA II, agora com aletas dobráveis (se militarizados, o motor do SONDA III iria propelir algum equivalente ao Lance ianque; o motor do SONDA IV o faria com um similar do Pershing). Também fiquei sabendo de uma baita pressão internacional porque aparentemente não só o Brasil mas também a Argentina estavam em uma espécie de "corrida nuclear", cada um tentando desenvolver uma ogiva e inicialmente pelo menos um IRBM para lançá-la, já que o alvo mais provável era o vizinho, não precisava esse alcance todo. No meio disso tudo, matérias e notícias como o interesse do País que qualquer Estudante conhecia como Formosa e que, já em tempos de internet, fiquei sabendo que tinha virado Taiwan, por uma versão militarizada do SONDA III, para usá-lo como míssil tático contra os comunistas da China Vermelha, que lhe queriam fazer maldade, e que alguns militares da FAB já se referiam ao Sonda IV como SS-1000. Como os programas ficavam cada vez com menos verba, começaram a capengar e perdi a maior parte do interesse, perdendo de vez já neste século, com aquela tragédia que matou todos ou quase todos os cérebros capacitados para desenvolverem mísseis deste tipo. Para mim era página virada, não me interessava mais.
E aí, dia desses, um Colega novato (no Fórum), o
@leofnaves, me faz uma sequência de três posts resumidíssimos e, mesmo desinteressado, Moderador tem que ler TUDO! E fiquei curioso: o que seria isso de VS-50? Fui pesquisar e acabei dando com o citado acima Brazilian Space, do qual também me tornei leitor, tendo ficado muito impressionado com os motores apresentados e, claro, com suas óbvias aplicações bélicas. Como da outra vez, "apenas interesse científico", claro, claro, agora eu sou MILLENIAL e esqueci tudo o que aconteceu antes...
E voltamos ao começo: ao contrário da lenda, Programa de Estado é
SECRETO, não tem obrigatoriamente nada a ver com o governo nem o governante da hora, gente que estava antes dele entrar e vai estar depois que ele sair é que toca o barco e só dão explicações a pessoas do mesmo tipo, que são as que resolvem as paradas com algum governante "rebelde" ou enxerido (vejam só, o Collor manda tapar o buraco no Cachimbo e logo depois cai: curioso, não?). Se preciso trocam o nome, localização, propósito, rubricas, tudo, mas a coisa segue em frente.
Se somarmos algo que eu pensava que já era até fatura liquidada (foguetes/potenciais mísseis-vetores de ogivas novamente sendo "vendidos" como inocentes meios de pesquisa e até comerciais) com o que um Físico NORDESTINO (tomem essa, Paulistas
) trouxe do MIT, o resultado é muito mais animador para Defesa do que mil Gripens e outros tantos Leopard 2A7V++.