Andrew Bernard Coronel da Força Aérea dos EUA na reforma, investigador do grupo de reflexão Atlantic Council
Todos os ramos das Forças Armadas portuguesas necessitam de investimentos significativos em equipamento, mas a situação é especialmente grave para a Força Aérea Portuguesa
As recentes declarações do ministro da Defesa Nacional, Nuno Melo, que lançaram dúvidas sobre o compromisso de Portugal com o F-35 como potencial substituto do F-16 falham no alvo da questão mais importante do problema: o que é melhor para a Força Aérea Portuguesa (FAP)? Uma análise racional mostrará o F-35 é a única escolha lógica para equipar a FAP nas próximas décadas, dada a realidade da guerra no futuro.
O campo de batalha do amanhã está a evoluir a um ritmo em que os sistemas de armas modernos que consideramos relevantes hoje estão rapidamente a tornar-se obsoletos e irrelevantes para a luta de amanhã.
As aeronaves de quarta geração, independentemente de serem produzidas na Europa ou nos Estados Unidos, não têm as características furtivas nem a fusão de sensores inerentes ao F-35 de quinta geração, necessários para operar, sobreviver e vencer numa batalha enfrentando os sistemas de defesa aérea mais avançados do mundo. O Eurofighter, o Rafale e o Gripen – embora sejam todos excelentes aviões de caça – são todos caças de quarta geração, tal como o F-16 português e o caça que voei durante a minha carreira, o F-15E.
Outras forças aéreas europeias apercebem-se deste dilema.
É por isso que três dos quatro países (Reino Unido, Itália, Alemanha) envolvidos no consórcio Eurofighter também adquiriram o F-35, enquanto todos os quatro (incluindo Espanha) estão ativamente envolvidos nos vários programas de sexta geração em curso.
As aeronaves de sexta geração não entrarão ao serviço antes da década de 2040, bem depois da vida útil efetiva dos F-16 portugueses. Para que a frota de caças da Força Aérea Portuguesa se mantenha relevante, a FAP precisa de se juntar à comunidade de quinta geração o mais rapidamente possível.
O F-35 é de longe a melhor aeronave para cumprir os compromissos de capacidade da NATO de Portugal no início da década de 2030, ao mesmo tempo que oferece benefícios incomparáveis às suas responsabilidades soberanas de defesa aérea. O alcance, a resistência e o conjunto de sensores do F-35 fazem dele o caça ideal para defender os flancos sul e atlântico da Europa e para apoiar o flanco leste da NATO quando necessário. Não há melhor aeronave para operar no espaço aéreo entre a Península Ibérica e os arquipélagos para dissuadir a atividade russa.
Outra aeronave de quarta geração, seja europeia ou americana, seria, na melhor das hipóteses, um investimento horizontal e seria um investimento incapaz de dissuadir qualquer nação na década de 2030 ou posteriormente.
A comunidade F-35 na Europa não é simplesmente uma agregação de várias nações que por acaso voam a mesma aeronave. Em vez disso, é uma rede robusta de catorze forças aéreas membros da NATO com ideias semelhantes (mais a Suíça) que colaboram, sincronizam e melhoram ativa e regularmente as operações e a manutenção do F-35.
Os chefes da Força Aérea de todos os utilizadores europeus do F-35 reúnem-se várias vezes por ano para harmonizar a comunidade do F-35 com as necessidades da NATO e nacionais. Pilotos e técnicos de todos os países utilizadores do F-35 colaboram em múltiplos e permanentes grupos de trabalho para refinar as tácticas e melhorar a interoperabilidade num ambiente de segurança em rápida mudança.
Não há paralelo neste nível de colaboração entre forças aéreas aliadas e isto está a acontecer entre nações com as aeronaves mais avançadas nos seus arsenais. A Força Aérea Portuguesa precisa e merece ter um lugar nesta mesa, dada a sua longa história de emprego do poder aéreo, a sua competência e as suas perspetivas únicas como uma nação atlântica e uma nação com um olhar atento ao flanco sul da Europa.
A perspetiva de se juntar a um grupo de elite de Forças Aéreas com ideias semelhantes deve soar familiar para aqueles que seguem as Forças Armadas Portuguesas, porque Portugal tem sido um membro-chave do programa de elite das Forças Aéreas Europeias Participantes (EPAF) F-16, um grupo fortemente unido que incluía Noruega, Holanda, Dinamarca e Bélgica, que fez parceria com os Estados Unidos para criar a comunidade F-16 mais letal do planeta na sua época. Desde então, os outros países da EPAF deram o salto para caças de quinta geração, e chegou a hora de Portugal fazer o mesmo.
A colaboração de 35 anos de Portugal com os Estados Unidos no programa F-16 deverá ser evidência suficiente para o ministério da Defesa Nacional português mostrar que os Estados Unidos são um parceiro previsível e fiável para sistemas de armas de ponta. Os Estados Unidos têm sido um fornecedor leal de manutenção, logística, software e armamento para o F-16 para Portugal desde o início do programa, permitindo mesmo às OGMA conduzir atualizações do F-16 e converter F-16 para a Roménia.
A mesma filosofia colaborativa aplica-se a todos os aliados e parceiros americanos que adquiram o F-35. Na verdade, o programa F-35 é ainda mais interdependente do que o F-16 ou outros caças produzidos nos EUA, uma vez que várias nações da NATO e parceiras constroem e fornecem peças essenciais para a aeronave. Embora esta interdependência seja complexa, ela é a força do programa, encorajando todos os participantes a cumprir os seus compromissos para que todo o empreendimento F-35 tenha sucesso.
A colaboração industrial, no entanto, deve ser apenas um factor periférico quando se decide um investimento geracional como a substituição do F-16.
O foco deve estar no desempenho e na capacidade de combate. Todos os ramos das Forças Armadas portuguesas necessitam de investimentos significativos em equipamento, mas a situação é especialmente grave para a Força Aérea Portuguesa.
O recente compromisso da Europa em aumentar o investimento na defesa é louvável, tanto a nível nacional como com iniciativas como os programas de investimento na defesa da Comissão Europeia.
Mas investir noutro caça de quarta geração, onde quer que seja feito, seria um desserviço à Força Aérea Portuguesa e aos pilotos que voam estas aeronaves em operações de combate.
Será uma decisão soberana portuguesa, mas a minha esperança é que o próximo Governo português selecione um substituto para o F-16 que tenha em conta as realidades do campo de batalha de amanhã ao fazer essa escolha.
https://expresso.pt/opiniao/2025-03-20- ... e-0041573b