100.000 recrutas a mais

Assuntos em discussão: Exército Brasileiro e exércitos estrangeiros, armamentos, equipamentos de exércitos em geral.

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FCarvalho
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Patetico

#31 Mensagem por FCarvalho » Seg Mai 03, 2004 7:59 pm

Olá Pessoal.

Clermont, não tenho acesso as publicações, mas pior que isso, tenho alunos militares, e eles próprios acham tudo isso, no mínimo patético e surreal, mas como disse anteriormente, é a nossa realidade.
Conversando com eles, a maioria é graduado, todos tem em comum a opinião de que este governo não entende nada de "governo", muito menos das fa's; e o que é mais perigoso e triste, não possuem nenhum escrúpulo ou compromisso real com elas, ou seja, com a defesa; assunto, como eles mesmos dizem, para este governo, coisa de outro mundo e sem sentido.
É realmente uma pena constatar que nossos militares, pelo menos em seu alto comando, não tem mas aquela "vocação guerreira" de outrora, mas tão somente um espírito cordial, respeitoso e susceptível de um bom funcionario público que só pensa em agradar o chefe e cumprir com sua tarefa.

Abraços.




Carpe Diem
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Clermont
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#32 Mensagem por Clermont » Sex Mai 14, 2004 1:16 pm

FORÇAR ARMADAS OU MILÍCIAS?

Mario Cesar Flores

Referindo-se ao uso do Exército (e fuzileiros navais?) na segurança pública do Rio de Janeiro, a jornalista Dora Kramer citou em sua coluna de 30/4 ser diagnóstico do governo que ''não adianta as Forças Armadas ficarem se preparando para uma guerra externa que nunca vem, enquanto há uma guerra interna em curso''. Haveria também a intenção de incorporar um contingente adicional de recrutas, como meio de combate ao desemprego e de preparo para a vida profissional.

Seria razoável, para um país que se pretende soberano, deixar de preparar suas Forças Armadas porque não há uma guerra externa em vista? Sensatamente, não. As Forças Armadas se preparam para a missão constitucional de defesa do país, para dissuadir qualquer aventura, clássica ou irregular, que atente contra a tranqüilidade e a soberania nacionais e para abortá-la, se acontecer, mas devemos ''torcer'' para que o uso efetivo da força realmente nunca venha a ser exigido. Pagamos imposto para manter os bombeiros, preferindo que eles não sejam necessários.

Vejamos o uso do Exército na segurança pública: será esse uso seguramente eficaz? Mesmo que operacionalizado por forças de bom preparo (o que exclui recrutas), sua adequabilidade ao propósito é duvidosa. Essas forças provavelmente estão aprestadas para ''derrotar o inimigo'' - o que é diferente do aprestamento para emprego policial em área ''amiga'': o uso eficaz do Exército preparado de acordo com sua lógica natural implica risco para o povo maciçamente ''amigo'', merecedor de proteção e não dos efeitos (indesejáveis) da repressão. As Forças Armadas devem prover apoio (logístico e de inteligência) e ser usadas em situações que requeiram meios e táticas de que só elas dispõem ou onde é impraticável a ação policial - o que não abrange a segurança pública rotineira, de natureza tipicamente policial. Ademais, para as situações especiais é necessário respaldo legal adequado; o preceito constitucional sobre a garantia da lei e da ordem não protegerá os militares envolvidos em situação de que resulte perdas de vida e danos materiais, provável nas circunstâncias presumíveis e em razão da própria natureza doutrinária do preparo militar; e também provável em razão do ''politicamente correto'' que há muitos anos inibe o exercício da autoridade dentro da lei, confundindo-o com autoritarismo.

No clima político brasileiro atual a medida aventada ampliará a politização da segurança pública e exporá o governo federal e as Forças Armadas, propiciando razões para a imputar-lhes culpas por eventuais (e prováveis) episódios traumáticos ou até pelo agravamento da situação, ao amparo de nossa cultura política que costuma atribuir à União o bem e o mal nacional, reduzindo a responsabilidade do governo estadual. E uma vez admitido o escapismo no Rio de Janeiro, como negá-lo a outros Estados?

No tocante ao ''recrutamento social'', cabem duas considerações. Primeira: otimisticamente, ele atingirá umas poucas dezenas de milhares de recrutas adicionais ao recrutamento normal, tratando-se, portanto, de uma anestesia homeopática de frágil efeito estrutural, que agravará a incidência da rubrica pessoal no perfil do orçamento militar, mesmo que venha a ocorrer reforço específico, sem efeito na eficácia da razão de ser das Forças Armadas, a defesa nacional. E segunda: estar-se-á fazendo das Forças Armadas um instrumento (com apelo popular) de interveniência em área de cunho civil - um combate ao desemprego via emprego público, que já é forte carga estrutural no sufoco fiscal.

Tanto a segurança pública rotineira, que a conveniência político-eleitoral parece estar equivocadamente disseminando nas várias vertentes políticas, como o recrutamento social, aproximam as Forças Armadas da condição de milícias ou guardas nacionais e guarda-costas, aptas para as atividades parapoliciais e de apoio na esfera civil, afastando-as da missão precípua, a defesa nacional. A intenção provavelmente não é essa, mas a evolução atende as maiores potências, em particular os Estados Unidos, que não vêm razões para Forças Armadas clássicas modernas na América do Sul, onde as preocupações militares deveriam cingir-se à ordem interna e à criminalidade transnacional - uma lógica que obviamente desfuncionaliza o penoso empenho pelo preparo militar de bom nível.


Mario Cesar Flores é almirante-de-esquadra reformado.




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Vinicius Pimenta
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#33 Mensagem por Vinicius Pimenta » Sex Mai 14, 2004 2:01 pm

Concordo em 100%! Onde eu assino? hehehe




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