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Mensagem
por Reginaldo Bacchi » Sex Set 23, 2011 12:14 pm
Eu estou entrando neste assunto para dar dois depoimentos pessoais sobre a ENGESA e sobre o Osório.
Calote do Iraque – desde aproximadamente uns 5 anos atrás apareceu uma novidade daquelas pessoas que sabem TUUUUUUUUDO sobre o Osório e sobre a ENGESA: um dos motivos da falência da ENGESA foi um calote dado pelo Iraque!!!.
Muito bem, durante os anos que trabalhei na ENGESA (Setembro 1977 a Abril 1990) jamais, repito, jamais ouvi falar sobre algum calote do Iraque em relação a ENGESA.
Quando entrei na ENGESA, após 3 meses na Engenharia de Produtos, fui trabalhar como assessor do Diretor de Vendas, e meu primeiro trabalho foi o preparo de contratos para aquisição de componentes importados para atender ao grande contrato de vendas de Cascaveis e Urutus ao exercito iraquiano.
Os carros foram entregues, e nunca ouvi nenhuma reclamação de não pagamento.
O que mais se aproximou de um calote iraquiano nos foi narrado pelo engenheiro Verdi (Presidente e dono da AVIBRAS) durante a Exposição Militar Iraquiana em 1989.
O mesmo informou que durante a guerra Iran-Iraque foi contatado pelo pessoal do Ministério de Defesa Iraquiano para produzir mais munição para o sistema Astro. Disse que sim, e pediu para ser feito um contrato. Os iraquianos disseram que não precisava, bastava a palavra deles.
A AVIBRAS produziu o material, o qual ficou pronto logo após o fim da guerra. Ao contatar o Ministério de Defesa do Iraque para a entrega e pagamento do material, recebeu do mesmo a resposta de que não tinham nenhum contrato de compra pendente, e que não tinham nada a ver com o fato de a AVIBRAS ter produzido a munição.
Verdi estava na exposição com a finalidade de convencer aos iraquianos a receber o material, e efetuar o pagamento.
Não o conseguiu, mas a invasão do Kuwait pelo Iraque, fez com que a Arábia Saudita, que tinha também o sistema Astro adquirisse esta munição a mais.
Para a AVIBRAS foi um final feliz.
Uso do canhão alemão de 120 mm no Osório – este é um dos grandes mitos que existem: a ENGESA foi forçada a usar o canhão francês devido ao embargo do governo alemão.
Inclusive isto aparece no meu artigo da Tenologia & Defesa sobre o Osório.
Não sei se eu escrevi isto, ou se foi copy desk do editor. Infelizmente ao longo dos anos perdi a minha cópia original datilografada do artigo.
Se eu escrevi isto, foi devido a um ataque de imbecilidade (como aquele do Cockerill Mk 4).
A verdade, é que por motivos técnicos, não era possível usar o canhão Rheinmetall 120 mm no Osório.
Eis a explicação do porque:
“...A decisão da alta direção da ENGESA de oferecer o carro com canhão de 120 mm, esbarrou com a força de recuo dos canhões deste tipo disponíveis na época. Já se sabia por experiências realizadas pelos vários fabricantes de carros de combate, que a força de recuo não devia superar a força de recuo do canhão de 105 mm modelo L7/M68 para um carro de 42 ton. Este canhão tinha uma força de recuo de 400 kN (41 ton.) para um curso de recuo de 400 mm.
Com efeito: o 120 mm modelo L11 da ROF (montado no Chieftain/Challenger) tinha uma força de recuo de 610 kN (62 ton.), com um curso de recuo de 370 mm; e o 120 mm da Rheinmetall instalado no Leopard 2 tinha uma força de recuo de 600 kN (61 ton.), associado à um curso de recuo de 340 à 370 mm.
Paralelamente à estes a GIAT tinha desenvolvido o canhão modelo F1 de 120 mm/52 calibres, projetado para utilizar a mesma munição do 120 mm da Rheinmetall, e que seria montado no futuro carro de combate francês destinado a substituir o AMX-30. Este canhão tinha força de recuo de 550 kN (56 ton.), com curso de recuo de 400 mm, valores bastante próximos dos canhões britânico e alemão.
Portanto, todos estes canhões de 120 mm não seriam aceitáveis para o novo carro de combate da ENGESA com suas 42 toneladas.
Felizmente a GIAT tinha desenvolvido em 1983 uma versão do AMX-30 - o AMX-40 - equipada com canhão de 120 mm. Para este veiculo de 43 toneladas se aplicava a mesma restrição de força de recuo, vista em relação ao futuro carro da ENGESA. A GIAT resolveu este problema desenvolvendo uma versão do F1 com menor força de recuo, designada como G1. Aumentando o curso de recuo do canhão - passaram de 400 mm para 485 mm - conseguiram reduzir a força de recuo para 365 kN (37 ton.).
Com isto a GIAT resolveu não só seu problema, como o da ENGESA. Inclusive ficou a firma brasileira com um canhão mais possante do que o alemão. Com efeito, tendo o canhão G1 um tubo de 52 calibres de comprimento, e o canhão alemão um tubo de 44 calibres, tinha o canhão francês uma vantagem de aproximadamente 10% à mais de velocidade de boca, para a mesma munição. ...”.
Bacchi