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Re: Imprensa vendida
Enviado: Qui Out 08, 2009 1:01 am
por Vinicius Pimenta
Demartino escreveu:Vinicius Pimenta escreveu:Sobre o texto, Gustavo, discordo. Não é muito bom, é péssimo. Utiliza os mesmos argumentos, que se assumem como verdade. É uma defesa passional do governo, uma demonstração clara de que pode ser tudo, menos isento.
O maior mal das forças políticas que atualmente governam o país, é a insitência de jogar tudo no mesmo barco. "A mídia", "a imprensa". Toda generalização é burra. Essa generalização paradoxal é tão antiga quanto verdadeira.
Caro Vinícius Pimenta,apesar de agora ter que me indispor com um dos moderadores vou fazê-lo.
O fato de você concordar ou discordar de alguma coisa não te dá o direito de dizer que uma determinada opinião é péssima, pois podemos assim fazê-lo com relação à sua!!
É de uma arrogância e prepotência sem tamanho, além de não contra argumentar você o desqualifica sem nenhum argumento válido,mostrando claramente de que lado você, apesar de lamentar eu tenho que respeitar a sua opinião.
Quero deixar aqui claro a minha indignação, pois você como um moderador deveria ser mais ponderado quando emitir algum comentário sobre a opinião alheia!!
Saudações!!!
Caro, Demartino.
Jamais, em momento algum neste fórum, você terá qualquer tipo de problema ao demonstrar sua opinião, ainda que ela seja diferente da opinião de um moderador. Não me parece haver qualquer item no Regulamento que diga que você não possa discordar do Vinicius Pimenta, do Túlio Ricardo ou de qualquer outro membro do Conselho de Moderação. A divergência e o debate de ideias é a razão de ser deste e de qualquer outro fórum. Portanto, desde que suas mensagens se enquadrem dentre os limites do bom senso e da educação, serei o primeiro a defender o seu direito de expressá-las. Eu apenas lamento que você não saiba diferenciar a pessoa do cargo. Quando expresso minha opinião, o faço como qualquer usuário. Quando o Administrador estiver falando, você verá em verde.
Dito isto, acredito que seja necessário esclarecer o que eu falei, pois parece que você não entendeu. Em primeiro lugar, devo sugerir urgentemente que você abandone qualquer pré-disposição de defender a todo custo seu viés ideológico, de forma que impeça você de ler e interpretar corretamente uma mensagem que porventura seja contrária a esse seu pensamento. Convido-o fortemente a reler minha mensagem e tentar observar onde foi que eu expressei qualquer coisa em relação à opinião do Sr. Emir Sader. Minha crítica, observe, está claramente focada no texto e nos argumentos que ele utilizou para emití-la. De maneira a facilitar seu trabalho, me permita repetir e grifar minha primeira frase: "Sobre o texto, Gustavo, discordo."
Se você concorda com o texto, é pleno direito seu. O que não é possível é você querer, aí sim, impô-lo como verdade e utilizar o expediente já batido do "os que não estão comigo, estão contra mim" e querer imputar em mim qualquer tentativa de fazer com que minha visão seja predominante. Eu acredito que você não tenha lido a mensagem anterior a essa quando eu digo que não tinha tempo o suficiente naquele momento para participar da discussão e que, portanto, subentendia-se que minha mensagem seria curta, como de fato foi.
Sua censura precipitada contra minha mensagem, além de colocar minha opinião pura e simples como arrogante e prepotente, só corrobora com o entendimento de uma pré-disposição em colocar rótulos - os ultrapassados chavões - em quem ouse pensar diferente do discurso que vem sendo imposto como verdade já há alguns anos. Me perdoe, pois, além de ficar clara sua parcialidade no tema, o coloca como a única pessoa que demonstrou qualquer tipo de agressividade, prepotência e arrogância.
São os mesmos discursos, as mesmas generalizações, os mesmos ataques. Se você é o Emir Sader em pessoa, me desculpe, eu realmente não gostei do seu texto. É um direito que me cabe. Critiquei, mantenho a crítica e criticaria quantas vezes fossem necessárias, sem, no entanto, tecer qualquer tipo de comentário em relação à pessoa do Sr. Emir Sader, que eu não conheço, ou criticar a opinião ou ideologia.
Quando me referi ao texto como não sendo isento, estava dizendo ao Gustavo, autor do tópico, que não considerava aquele texto exemplo do tipo de mídia que ele estava propondo. Isto é, aquele texto é tudo, menos isento. Perceba que em momento algum disse que está errado. Eu disse apenas que discordo dele, o que é bem diferente. Quando eu digo "discordo", automaticamente estou expressando tão somente a minha própria opinião e não impondo-a como verdade.
Da próxima vez, peço encarecidamente que, na dúvida quanto a uma mensagem postada por mim, pergunte antes de tecer algum comentário que contenha julgamentos precipitados. Essa é a melhor maneira de se debater corretamente em um fórum de debates. O uso antecipado de agressividade exacerbada em uma mensagem, em geral, acaba trazendo prejuízos ao debate de ideias que deve ser o ponto central de qualquer tópico.
Um abraço!
Re: Imprensa vendida
Enviado: Qui Out 08, 2009 9:01 am
por GustavoB
Gustavo, qual a origem de seus textos?
Ah, perdão, este veio de
http://www.centralblogs.com.br/post.php ... ST=2102041.
Os demais creio que estão devidamente creditados, não?
Re: Imprensa vendida
Enviado: Qua Out 14, 2009 9:37 am
por GustavoB
A grande imprensa e o profissionalismo. Profissionalismo?
A pauta para investigar a grande imprensa hoje pode ser a seguinte: até onde os coleguinhas - fala-se daqueles mais velhos - acreditam no que escrevem? E por que mesmo que a todo o momento exigem a chancela patronal para exporem seus pontos de vista? Onde é mesmo que a palavra "profissionalismo" entra nesta história?
Enio Squeff (Carta Maior)
Das críticas que se faz à grande imprensa, há sempre uma constante: a mídia teria abdicado de toda e qualquer imparcialidade, para cumprir o mandamento patronal de jamais conceder ao governo; ou à imagem que ela própria construiu do governo. Fala-se pouco ou quase nada de um problema cada vez mais crônico - a absoluta, a quase inacreditável falta de profissionalismo na composição do que cada dia se caracteriza mais em mais, como tão somente, armações jornalísticas. Ao que parece, aquele aforismo de Voltaire :"Menti, menti, algo restará" seria ainda aplicável num mundo informatizado e, bem pior, num país em que a cada ataque ao presidente Lula, mais e mais a sua popularidade aumenta.
Franklin Martins, quando ainda não era ministro, disse sobre a revista "Veja" (de quem ele ganhou um processo por injúria e difamação), que a "Veja era a maior inimiga da Veja". Seria de se lembrar a recente capa da revista em que à evidência de que o Itamaraty iria vencer a parada em Honduras, era insistiu em que a condução do "affair" pelo Ministério de Relações Exteriores do Brasil, era um rotundo fracasso? Será que algum jornalista ou editor da revista acha mesmo que sem o apoio expresso dos Estados Unidos, os golpistas de Honduras conseguirão se impor?
Nenhuma destas perguntas são respondíveis. Fica só a evidência de que não apenas a Veja mas os jornais e revistas do País, em sua esmagadora maioria, são mesmo inimigos de si próprios. O fato intriga. Para qualquer sujeito de meia idade que cumpriu boa parte de seus anos de jornalismo nos jornalões e revistonas brasileiras, nunca era evidente, que o que se queria seria, realmente, a verdade. Talvez seja especioso discutir se grande parte da população brasileira era a favor da ditadura militar; no entanto, era razoável que se admitisse o fato. Só que não eram poucos os jornalistas mais velhos, os decanos das redações, que, mesmo não sendo favoráveis à milicada e ao seu regime, insistiam na tese de que o povão bem que o tolerava. Vivia-se o pleno emprego: que diferença fazia que, além dos presos comuns de sempre, jovens militantes e velhos homens de esquerda, estivessem sendo massacrados nos presídios? Para quem trabalhou na mídia da época, era decepcionante, mas era isso mesmo. Não havia como escamotear o fato, a inventar uma revolta que o povo não sentia.
Digamos, então, que a pauta para investigar a grande imprensa hoje deva ser a seguinte: até onde os coleguinhas - fala-se daqueles mais velhos - acreditam no que escrevem? E por que mesmo que a todo o momento exigem a chancela patronal para exporem seus pontos de vista? A isso soma-se um fato ainda mais constrangedor: onde é mesmo que a palavra profissionalismo entra nesta história, se a dimensão da farsa é muito maior que as evidências que inventam o contrário?
São tantos os fatos, que é até fastidioso lembrá-los: não haveria memória para tanto. Pode-se, contudo, tomar qualquer caso ao acaso. Até quando se os rememora, alguns são simplesmente estarrecedores. Na época em que os jornais e revistonas estamparam em letras garrafais a famosa compra do dossiê, em que o hoje governador Serra teria sido investigado, tudo circulou em torno do montante do dinheiro mobilizado. Teoricamente, o pagamento adviria de uma estatal ou de qualquer fonte nunca esclarecida. Até aí, porém, é de se perguntar se essa seria toda a questão.
Pois o inacreditável, em todo o caso, foi o fato certamente inédito na história do jornalismo mundial: eis que a compra do dossiê seria muito mais importante que o dossiê em si. Que jornalismo pode se explicar como tal, ao não se preocupar com as possíveis revelações contidas no tal dossiê, se isso sequer entrou em cogitação? Tudo bem: como disse o presidente Lula -o único que disse alguma coisa, aliás - não havia nada no tal dossiê que realmente pudesse interessar a quem quer que fosse. Mas afora a consideração presidencial, o interesse jornalístico impositivo pelo que o dossiê pudesse conter - esse não foi mencionado ou sugerido uma vez sequer. Era mentira, era irrelevante em princípio, ponto final.
As coisas extrapolam o mínimo. No factóide que foi a denúncia da ex-secretária da Receita Federal que teria se encontrado com com a ministra Dilma Roussef , ocasião em que esta lhe teria pedido "pressa" na apuração de supostos crimes cometidos por José Sarney, a ninguém foi dado saber do princípio jurídico que o "ônus da prova" estaria com a acusadora e não com a acusada. E que quando o Planalto, enfim, encerrou a questão - justamente pela razão que a Justiça lhe dava - não faltaram professores a impingir à ministra a suspeita das irregularidades. Um professor da USP abandonou qualquer bom senso ao insistir, numa entrevista na rádio Cultura, que cabia à Ministra "dirimir as suspeitas".
Pois eram "evidentes", pela prova nenhuma, que a ex-secretária tinha apresentado, que a ministra era suspeita, em princípio. Uma comentarista da CBN, ao admitir que a tal ex-secretária não tinha conseguido convencer ninguém na CPI, nem por isso hesitou um só instante de reiterar, mesmo assim, que a ministra teria "de se explicar". Não é o caso de se exigir um mínimo de proficiência profissional - mas, convenhamos, o despudor tem limites.
Falar em despudor talvez seja de se supor que ele exista. E que a partícula de negação - des - só se aplicasse ao caso, excepcionalmente. Pois haveria ainda que rememorar a interpretação do famoso "top-top" do assessor especial do presidente, o professor Marco Aurélio Garcia, que teria sido flagrado a dirigir os gestos obscenos "às vítimas do avião da TAM" (sic). Nenhum jornalista minimamente probo assacaria que os gestos do assessor da presidência, feito na privacidade de seu gabinete, deveria ser lido como tendo sido endereçado aos passageiros mortos no desastre aéreo. As imagens diziam o que as televisões e as rádios quiseram ver, não o que era mais que evidente: que o sr. Marco Aurélio Garcia xingava justamente as interpretações da grande imprensa; que só faltou dizer que quem tinha derrubado o avião teria sido o presidente Lula. No entanto, propalada a versão mentirosa, tudo ficou ao vento. E aí sim, em conformidade com a máxima voltariana, de que a mentira, repetida muitas vezes, pode alçar vôos mais altos, principalmente para os incautos que gostam de se iludir.
Talvez se possa inferir que tudo da grande imprensa seja mentira -e então nada do que é veiculado pela mídia seria verdadeiro. É um evidente exagero - mas não parece um evidente exagero arriscar que a divulgação do conteúdo da prova do Enem, veio muito bem a calhar. obrigado. Eis que uma empresa jornalística que comanda a gráfica de onde foram surrupiadas as provas, não tem nada a ver com o fato, embora seja, como quase toda a mídia, "de oposição". O que até pode ser verdadeiro, ou seja, que o gráfica não tem nada a ver com o fato. Mas imaginar que alguém possa supor, tranqüilamente, que os autores do crime pensassem em tirar dinheiro do "Estadão"- para o qual foi revelado o conteúdo do Enem- e não de gente que, realmente, pudesse e tivesse interesse em comprá-lo, vai uma distância que só o delegado que presidiu o inquérito não quis ver. Mas que, de qualquer forma, adiou a questão da solução dos vestibulares para um futuro, que talvez contemple o governo Lula com "mais essa": ele não avançou em nada na questão dos vestibulares. E a rapidez com que algumas universidades descartaram se vincularem ao Enem, pode ser lida, sim, como o motivo para não dar ao governo federal qualquer mérito por mexer com o candente problema do vestibular. Ou seja, nada de inquirições para o caso - tão somente a aceitação dos fatos. Não é coisa de profissionais de jornalismo certamente : mas não o será de uma imprensa que a todo o momento se mostra inegavelmente golpista?
Quem tem cerca de 60 anos, já viu esse filme algumas vezes. E como se dizia antigamente, não passa de um tremendo abacaxi.
P.S. Talvez fosse o caso de se ressaltar que a grande imprensa tem o poder de ainda influir sobre a cultura do Brasil. E que os artistas são os primeiros a perderem com isso. Dói, mas é isso mesmo. Daí, entretanto, tantos intelectuais se jogarem à execração do futuro (não é preciso mencioná-los, eles estão nos jornalões a vociferarem contra o governo Lula) só se explica por não acreditarem em si mesmos. O que só confirma Beethoven na sua crítica aos poetas (que vale para todos os que trocam tudo por um espaço na mídia brasileira): eles amam em demasia as lantejoulas da corte para serem levados a sério. A começar pelo futuro.
Enio Squeff é artista plástico e jornalista
Re: Imprensa vendida
Enviado: Sex Out 16, 2009 5:51 am
por soultrain
Para começarem a perceber como funciona a grande imprensa:
14 Outubro 2009 - 12h17
Recebia 6.400 euros por semana
Mussolini foi espião dos serviços secretos ingleses
O ditador italiano Benito Mussolini trabalhou para os serviços secretos ingleses antes de ter fundado o regime fascista, revelou esta quarta-feira o diário britânico ‘Guardian’.
Peter Martland, um historiador de Cambridge, descobriu nos arquivos britânicos documentos que provam que em 1917 Mussolini foi pago pelo MI5, os serviços secretos de Londres, para escrever artigos a favor da continuação da Itália na I Guerra Mundial ao lado dos aliados e atacar manifestantes pacifistas.
Mussolini editava o jornal ‘Il Popolo d’ Italia’ e controlava grupos de antigos veteranos do exército, que atacavam manifestações contra a presença italiana na guerra em Milão.
“Mussolini recebeu uma soma de cem libras por semana a partir do Outono de 1917 durante pelo menos um ano para manter a campanha pró-guerra – uma verba equivalente a seis mil libras hoje (cerca de 6.400 euros)”, disse o historiador ao diário britânico.
Em 1954 o caso já tinha sido mencionado por Sir Samuel Hoare, o agente do MI5 que recrutou Mussolini, mas esta é a primeira vez que são encontradas provas documentais.
Re: Imprensa vendida
Enviado: Sex Out 16, 2009 5:56 am
por soultrain
How Television Sold the Panama Invasion
The media go to war
By Jeff Cohen and Mark Cook
Two weeks after the Panama invasion, CBS News sponsored a public opinion poll in Panama that found the residents in rapture over what had happened. Even 80 percent of those whose homes had been blown up or their relatives killed by U.S. forces said it was worth it. Their enthusiasm did not stop with the ousting of Gen. Manuel Noriega, however. A less heavily advertised result of the poll was that 82 percent of the sampled Panamanian patriots did not want Panamanian control of the Canal, preferring either partial or exclusive control by the U.S. ("Panamanians Strongly Back U.S. Move," New York Times, 1/6/90).
A "public opinion poll" in a country under martial law, conducted by an agency obviously sanctioned by the invading forces, can be expected to come up with such results. Most reporters, traveling as they did with the U.S. military, found little to contradict this picture. Less than 40 hours after the invasion began, Sam Donaldson and Judd Rose transported us to Panama via ABC's Prime Time Live (12/21/90). "There were people who applauded us as we went by in a military convoy," said Rose. "The military have been very good to us [in escorting reporters beyond the Canal Zone]," added Donaldson.
While this kind of "Canal Zone journalism" dominated television, a few independent print journalists struck out on their own. Peter Eisner of Newsday's Latin America bureau, for example, reported (12/28/89) that Panamanians were cursing U.S. soldiers under their breath as troops searched the home of a neighbor--a civilian--for weapons. One Panamanian pointed out a man speaking to U.S. soldiers as a "sapo" (a toad--slang for "dirty informer") and suggested that denouncing people to the U.S. forces was a way of settling old scores. A doctor living on the street said that "liberals will be laying low for a while, and they're probably justified" because of what would happen to those who speak out. All of Eisner's sources feared having their names printed.
The same day's Miami Herald ran articles about Panamanian citizen reactions, including concern over the hundreds of dead civilians: "Neighbors saw six U.S. truck loads bringing dozens of bodies" to a mass grave. As a mother watched the body of her soldier son lowered into a grave, her "voice rose over the crowd's silence: 'Damn the Americans.'"
Obviously there was a mix of opinion inside Panama, but it was virtually unreported on television, the dominant medium shaping U.S. attitudes about the invasion. Panamanian opposition to the U.S. was dismissed as nothing more than "DigBat [Dignity Battalion] thugs" who'd been given jobs by Noriega. And it was hardly acknowledged that the high-visibility demonstration outside the Vatican Embassy the day of Noriega's surrender had been actively "encouraged" by the U.S. occupying forces (Newsday, 1/5/90).
Few TV reporters seemed to notice that the jubilant Panamanians parading before their cameras day after day to endorse the invasion spoke near-perfect English and were overwhelmingly light-skinned and well-dressed. This in a Spanish-speaking country with a largely mestizo and black population where poverty is widespread. ABC's Beth Nissen (12/27/89) was one of the few TV reporters to take a close look at the civilian deaths caused by US bombs that pulverized El Chorillo, the poor neighborhood which ambulance drivers now call "Little Hiroshima." The people of El Chorillo don't speak perfect English, and they were less than jubilant about the invasion.
"Our Boys" vs. Unseen Civilians
In the first days of the invasion, TV journalists had one overriding obsession: How many American soldiers have died? The question, repeated with drumbeat regularity, tended to drown out the other issues: Panamanian casualties, international law, foreign reaction. On the morning of the invasion, CBS anchor Kathleen Sullivan's voice cracked with emotion for the U.S. soldiers: "Nine killed, more than 50 wounded. How long can this fighting go on?" Unknown and unknowable to CBS viewers, hundreds of Panamanians had already been killed by then, many buried in their homes.
Judging from the calls and requests for interviews that poured into the FAIR office, European and Latin American journalists based in the U.S. were stunned by the implied racism and national chauvinism in the media display. The Toronto Globe and Mail, often referred to as the New York Times of Canada, ran a front-page article (12/22/89) critiquing the United States and its media for "the peculiar jingoism of U.S. society so evident to foreigners but almost invisible for most Americans."
TV's continuous focus on the well-being of the invaders, and not the invadees, meant that the screen was dominated by red, white and blue-draped coffins and ceremonies, honor rolls of the U.S. dead, drum rolls, remarks by Dan Rather (12/21/89) about "our fallen heroes"...but no Panamanian funerals. This despite the fact that the invasion claimed perhaps 50 Panamanian lives for every U.S. citizen killed.
When Pentagon pool correspondent Fred Francis was asked on day one about civilian casualties on ABC's Nightline (12/20/89), he said he did not know, because he and other journalists were traveling around with the U.S. army. Curiosity didn't increase in ensuing days. FAIR called the TV networks daily to demand they address the issue of civilian deaths, but journalists said they had no way of verifying the numbers.
No such qualms existed with regards to Rumania, where over the Christmas weekend CNN and other U.S. outlets were freely dishing out fantastic reports of 80,000 people killed in days of violence, a figure--greater than the immediate Hiroshima death toll-- which any editor should have dismissed out of hand. Tom Brokaw's selective interest in civilians was evident when he devoted the first half of NBC Nightly News (12/20/89) to Panama without mentioning non-combatant casualties, then turned to Rumania and immediately referred to reports of thousands of civilian deaths.
Not until the sixth day of the Panama invasion did the U.S. Army augment its estimated dead (23 American troops, 297 alleged enemy soldiers) to include a figure for civilians: 254. The number was challenged as representing only a fraction of the true death toll by the few reporters who sought out independent sources: Panamanian human rights monitors, hospital workers, ambulance drivers, funeral home directors. These sources also spoke of thousands of civilian injuries and 10,000 left homeless. Many journalists, especially on television, were too busy cheerleading "the successful military action" to notice the Panamanians who didn't fair so successfully.
TV correspondents, so incurious about civilian casualties, could not be expected to go beyond U.S. military assurances about who was being arrested and why. As the Boston Globe noted (1/1/90), U.S. forces were arresting anyone on a blacklist compiled by the newly installed government. Newsday's Peter Eisner reported (1/7/90): "Hundreds of intellectuals, university students, teachers and professional people say they have been harassed and detained by U.S. forces in the guise of searching for hidden weapons."
The "Objective" Reporter's Lexicon: We, Us, Our
In covering the invasion of Panama, many TV journalists abandoned even the pretense of operating in a neutral, independent mode. Television anchors used pronouns like "we" and "us" in describing the mission into Panama, as if they themselves were members of the invasion force, or at least helpful advisers.
NBC's Tom Brokaw exclaimed, on day one (12/20/89): "We haven't got [Manuel Noriega] yet." CNN anchor Mary Anne Loughlin asked a former CIA official (12/21/89): "Noriega has stayed one step ahead of us. Do you think we'll be able to find him?" After eagerly quizzing a panel of U.S. military experts on the MacNeil/Lehrer NewsHour (12/21/89) about whether "we" had wiped out the Panamanian Defense Forces (PDF), Judy Woodruff concluded, "So not only have we done away with the PDF, we've also done away with the police force." So much for separation of press and state.
Nightline's Ted Koppel and other TV journalists had a field day mocking Noriega's Orwellianly titled "Dignity Battalions," but none were heard ridiculing the invasion's code name: "Operation Just Cause." The day after the invasion began (12/21/89), NBC Nightly News offered its own case study in Orwellian newspeak: While one correspondent referred to the U.S. military occupiers as engaged in "peacekeeping chores," another correspondent on the same show referred to Latin American diplomats condemning the U.S. at the Organization of American States as a "lynch mob." After the Soviet Union criticized the invasion as "gunboat diplomacy" (as had many other countries), Dan Rather (CBS Evening News, 12/20/89) dismissed it as "old-line, hard-line talk from Moscow."
Journalism gave way to state propaganda when a CNN correspondent dutifully reported on the first day of the invasion (12/20/89), "U.S. troops have taken detainees, but we are not calling them 'prisoners of war' because the U.S. has not declared war." (That kind of obedient reporter probably still refers to the Vietnam "conflict.") Similarly, on day one, many network correspondents couldn't bring themselves to call the invasion an invasion until they got the green light from Washington; instead, it was referred to variously as a military action, intervention, operation, expedition, affair or insertion.
Where Did Our Love Go?
Many reporters uncritically promoted White House explanations for its break-up with Noriega. Clifford Krauss reported (NY Times, 1/21/90) that Noriega "began as a CIA asset but fell afoul of Washington over his involvement in drug and arms trafficking." ABC's Peter Jennings told viewers on the day of the invasion, "Let's remember that the United States was very close to Mr. Noriega before the whole question of drugs came up."
Actually, Noriega's drug links were asserted by U.S. intelligence as early as 1972. In 1976, after U.S. espionage officials proposed that Noriega be dumped because of drugs and double-dealing, then-CIA director George Bush made sure the relationship continued (S.F. Examiner 1/5/90; New Yorker, 1/8/90). U.S. intelligence overlooked the drug issue year after year as long as Noriega was an eager ally in U.S. espionage and covert operations, especially those targeted against Nicaragua.
Peter Jennings' claim that the U.S. broke with Noriega after the "question of drugs came up" turns reality upside down. Noriega's involvement in drug trafficking was purportedly heaviest in the early 1980s when his relationship with the U.S. was especially close. By 1986, when the Noriega/U.S. relationship began to fray, experts agree that Noriega had already drastically curtailed his drug links. The two drug-related indictments against Noriega in Florida cover activities from 1981 through March 1986 ("Analysts Challenge View of Noriega as Drug Lord," Washington Post, 1/7/90).
When, as vice president, Bush met with Noriega in Panama in December 1983, besides discussing Nicaragua, Bush allegedly raised questions about drug-money laundering. According to author Kevin Buckley, Noriega told top aide Jose Blandon that he'd picked up the following message from the Bush meeting: "The United States wanted help for the Contras so badly that if he even promised it, the U.S. government would turn a blind eye to money-laundering and setbacks to democracy in Panama."
In 1985 and '86, Noriega met several times with Oliver North to discuss the assistance Noriega was providing to the Contras, such as training Contras at Panamanian Defense Force bases ("Noriega Could Give Some Interesting Answers," Kevin Buckley, St. Petersburg Times, 1/3/90). Noriega didn't fall from grace until he stopped being a "team player" in the U.S. war against Nicaragua.
Democracy had as little to do with the break-up as drugs. If Noriega believed Bush had given his strongarm rule a green light in 1983, confirmation came the next year when Noriega's troops seized ballot boxes and blatantly rigged Panama's presidential election. Noriega's candidate, Nicolas Ardito Barletta, was also "our" candidate--an economist who had been a student and assistant to former University of Chicago professor George Shultz. Though loudly protested by Panamanians, the fraud that put Ardito Barletta in power was cheered by the U.S. embassy. Secretary of State Shultz attended his inauguration. (See "The Press on Panama," Extra!, 3-4/88; Richard Reeves, San Francisco Chronicle, 12/25/89.)
As the Noriega case progresses toward trial, the media's treatment of key witnesses against the general may offer a case study in bias. Several of the witnesses have already testified on these matters in a very public forum--hearings before Sen. John Kerry's Foreign Affairs Subcommittee on Narcotics. At that time, February 1988, they fingered Nicaraguan contras as cocaine cohorts of Noriega operating under the umbrella of the CIA and Oilie North.
The hearings were ignored or distorted by national media outlets, with Reagan/Bush officials and CIA dismissing the witnesses as drug trafficking felons (Extra!, 3-4/88; Warren Hinckle, S.F. Examiner, 1/11/90). In a predictable turnaround, as soon as Noriega was apprehended, TV news brought forth experts to explain that "when one prosecutes someone like Noriega for drug dealing, witnesses will of necessity be drug dealers."
Provocations or Pretexts?
The U.S. media showed little curiosity about the December 16 confrontation that led to the death of a U.S. Marine officer and the injury of another when they tried to run a roadblock in front of the PDF headquarters. The officers were supposedly "lost." In view of what is now known about the intense pre-invasion preparations then underway (New York Times, 12/24/89), is it possible the Marines were actually trying to track Noriega's whereabouts?
The Panamanian version of the event was that the U.S. soldiers, upon being discovered, opened fire--injuring three civilians, including a child--and then tried to run the roadblock. This version was largely ignored by U.S. journalists even after the shooting two days later of a Panamanian corporal who "signaled a U.S. serviceman to stop," according to the administration. "The U.S. serviceman felt threatened," the administration claimed, after admitting that its earlier story that the Panamanian had pulled his gun was false (New York Times, 12/19/89).
As for the claim that a U.S. officer had been roughly interrogated and his wife sexually threatened, the administration provided no supporting evidence (New York Times, 12/19/89; Newsday, 12/18/89). Since the Marine's death and the interrogation were repeatedly invoked to justify the invasion, the lack of press scrutiny of these claims is stunning.
For months, U.S. forces had been trying to provoke confrontations as a pretext for an attack. In response to an August 11 incident, Panamanian Foreign Minister Jorge Ritter asked that a U.N. peacekeeping force be dispatched to Panama to prevent such encounters. The U.S. press largely ignored his call (El Diario/La Prensa, New York's Spanish-language daily, 8/13/89).
The "Declaration of War" That Never Was
"When during the past few days [Noriega] declared war on the United States and some of his followers then killed a U.S. Marine, roughed up another American serviceman, also threatening that man's wife, strong public support for a reprisal was all but guaranteed," Ted Koppel told his Nightine audience December 20.
Noriega never "declared war on the United States." The original Reuters dispatches, published on the inside pages of the New York Times (12/17-18/89), buried the supposed "declaration" in articles dealing with other matters. In the December 17 article headlined "Opposition Leader in Panama Rejects a Peace Offer from Noriega," Reuters quoted the general as saying that he would judiciously use new powers granted him by the Panamanian parliament and that "the North American scheme, through constant psychological and military harassment, has created a state of war in Panama." This statement of fact aroused little excitement at the White House, which called the parliament's move "a hollow step."
The day after the invasion, Los Angeles Times Pentagon correspondent Melissa Healey told a call-in talk show audience on C-SPAN that Noriega had "declared war" on the United States. When a caller asked why that hadn't been front-page news, Healey explained that the declaration of war was one of a series of "incremental escalations." When another caller pointed out that Panama had only made a rhetorical statement that U.S. economic and other measures had created a state of war, the Pentagon correspondent confessed ignorance of what had actually been said, and suggested that it was certainly worth investigating.
The incident symbolizes media performance on the invasion--dispense official information as gospel first, worry about the truth of that information later. It's just what the White House was counting on from the media. The Bush team set out to control television and front-page news in the first days, knowing that exposes of official deception (such as Noriega's 110 pounds of "cocaine" that turned out to be tamales) would not appear until weeks later, buried on inside pages of newspapers. Rulers do not require the total suppression of news. As Napoleon Bonaparte once said: It's sufficient to delay the news until it no longer matters.
Besides uncritically dispensing huge quantities of official news and views, the TV networks had another passion during the first days of the invasion: polling their public. It was an insular process, with predictable results. A Toronto Globe and Mail news story summarized it (12/22/89):
Hardly a voice of objection is being heard within the United States about the Panama invasion, at least from those deemed as official sources and thus likely to be seen on television or read in the papers. Not surprisingly, given the media coverage, a television poll taken yesterday by one network (CNN) indicated that nine of 10 viewers approved of the invasion.
Re: Imprensa vendida
Enviado: Sex Out 16, 2009 10:20 am
por GustavoB
How Television Sold the Panama Invasion
The media go to war
By Jeff Cohen and Mark Cook
Two weeks after the Panama invasion, CBS News sponsored a public opinion poll in Panama that found the residents in rapture over what had happened. Even 80 percent of those whose homes had been...
Grandes operações militares precisam sempre de costas quentes. Quer melhor exemplo que o Iraqui Freedom?
Re: Imprensa vendida
Enviado: Sex Out 16, 2009 10:22 am
por GustavoB
Abril tenta sufocar Luis Nassif
Abril consegue primeira condenação contra jornalista que foi condenado a pagamento de 100 salários mínimos pelo juiz Vitor Frederico Kümpel, da 27ª Vara Cível, em processo movido por Mário Sabino e pela revista Veja. No primeiro processo, de Eurípedes Alcântara, Nassif foi absolvido. Pode haver apelação nas duas sentenças. "Abril lançou contra mim os ataques mais sórdidos que uma empresa de mídia organizada já endereçou contra qualquer pessoa", diz Nassif.
Do blog de Luis Nassif (via Carta Maior)
Ainda não tenho os dados à mão. Mas, pelo que sou informado, fui condenado a pagamento de 100 salários mínimos pelo juiz Vitor Frederico Kümpel, da 27ª Vara Cível, em processo movido por Mário Sabino e pela revista Veja. No primeiro processo – de Eurípedes Alcântara – fui absolvido.
Pode haver apelação nas duas sentenças.
Ao longo dessa longa noite dos celerados, a Abril lançou contra mim os ataques mais sórdidos que uma empresa de mídia organizada já endereçou contra qualquer pessoa. Escalou dois parajornalistas para ataques sistemáticos, que superaram qualquer nível de razoabilidade. Atacaram a mim, à minha família, ataques à minha vida profissional, à minha vida pessoal, em um nível só comparável ao das mais obscenas comunidades do Orkut.
Não me intimidaram.
Apelaram então para a indústria das ações judiciais – a mesma que a mídia vive criticando como ameaça à liberdade de imprensa. Cinco ações – quatro em nome de jornalistas da Veja, uma em nome da Abril – todas bancadas pela Abril e tocadas pelos mesmos advogados, sob silêncio total da mídia.
Não vou entrar no mérito da sentença do juiz, nem no valor estipulado.
Mas no final do ano fui procurado por um emissário pessoal de Roberto Civita propondo um acordo: retirariam as ações em troca de eu cessar as críticas e retirar as ações e o pedido de direito de resposta. A proposta foi feita em nome da “liberdade de imprensa”. Não aceitei. Em nome da liberdade de imprensa.
Podem vencer na Justiça graças ao poder financeiro que lhes permite abrir várias ações simultaneamente. Quatro ações que percam não os afetará. Uma que eu perca me afetará financeiramente, além dos custos de defesa contra as outras quatro.
Mas no campo jornalístico, perderam para um Blog e para a extraordinária solidariedade que recebi de blogueiros que sequer conhecia, de vocês, de tantos amigos jornalistas que me procuraram pessoalmente, sabendo que qualquer demonstração pública de solidariedade colocaria em risco seus empregos. Melhor que isso, só a solidariedade que uniu minhas filhas em defesa do pai.
Re: Imprensa vendida
Enviado: Dom Out 18, 2009 9:33 pm
por midnight
GustavoB escreveu:A grande imprensa e o profissionalismo. Profissionalismo?
A pauta para investigar a grande imprensa hoje pode ser a seguinte: até onde os coleguinhas - fala-se daqueles mais velhos - acreditam no que escrevem? E por que mesmo que a todo o momento exigem a chancela patronal para exporem seus pontos de vista? Onde é mesmo que a palavra "profissionalismo" entra nesta história?
Enio Squeff (Carta Maior)
Das críticas que se faz à grande imprensa, há sempre uma constante: a mídia teria abdicado de toda e qualquer imparcialidade, para cumprir o mandamento patronal de jamais conceder ao governo; ou à imagem que ela própria construiu do governo. Fala-se pouco ou quase nada de um problema cada vez mais crônico - a absoluta, a quase inacreditável falta de profissionalismo na composição do que cada dia se caracteriza mais em mais, como tão somente, armações jornalísticas. Ao que parece, aquele aforismo de Voltaire :"Menti, menti, algo restará" seria ainda aplicável num mundo informatizado e, bem pior, num país em que a cada ataque ao presidente Lula, mais e mais a sua popularidade aumenta.
Franklin Martins, quando ainda não era ministro, disse sobre a revista "Veja" (de quem ele ganhou um processo por injúria e difamação), que a "Veja era a maior inimiga da Veja". Seria de se lembrar a recente capa da revista em que à evidência de que o Itamaraty iria vencer a parada em Honduras, era insistiu em que a condução do "affair" pelo Ministério de Relações Exteriores do Brasil, era um rotundo fracasso? Será que algum jornalista ou editor da revista acha mesmo que sem o apoio expresso dos Estados Unidos, os golpistas de Honduras conseguirão se impor?
Nenhuma destas perguntas são respondíveis. Fica só a evidência de que não apenas a Veja mas os jornais e revistas do País, em sua esmagadora maioria, são mesmo inimigos de si próprios. O fato intriga. Para qualquer sujeito de meia idade que cumpriu boa parte de seus anos de jornalismo nos jornalões e revistonas brasileiras, nunca era evidente, que o que se queria seria, realmente, a verdade. Talvez seja especioso discutir se grande parte da população brasileira era a favor da ditadura militar; no entanto, era razoável que se admitisse o fato. Só que não eram poucos os jornalistas mais velhos, os decanos das redações, que, mesmo não sendo favoráveis à milicada e ao seu regime, insistiam na tese de que o povão bem que o tolerava. Vivia-se o pleno emprego: que diferença fazia que, além dos presos comuns de sempre, jovens militantes e velhos homens de esquerda, estivessem sendo massacrados nos presídios? Para quem trabalhou na mídia da época, era decepcionante, mas era isso mesmo. Não havia como escamotear o fato, a inventar uma revolta que o povo não sentia.
Digamos, então, que a pauta para investigar a grande imprensa hoje deva ser a seguinte: até onde os coleguinhas - fala-se daqueles mais velhos - acreditam no que escrevem? E por que mesmo que a todo o momento exigem a chancela patronal para exporem seus pontos de vista? A isso soma-se um fato ainda mais constrangedor: onde é mesmo que a palavra profissionalismo entra nesta história, se a dimensão da farsa é muito maior que as evidências que inventam o contrário?
São tantos os fatos, que é até fastidioso lembrá-los: não haveria memória para tanto. Pode-se, contudo, tomar qualquer caso ao acaso. Até quando se os rememora, alguns são simplesmente estarrecedores. Na época em que os jornais e revistonas estamparam em letras garrafais a famosa compra do dossiê, em que o hoje governador Serra teria sido investigado, tudo circulou em torno do montante do dinheiro mobilizado. Teoricamente, o pagamento adviria de uma estatal ou de qualquer fonte nunca esclarecida. Até aí, porém, é de se perguntar se essa seria toda a questão.
Pois o inacreditável, em todo o caso, foi o fato certamente inédito na história do jornalismo mundial: eis que a compra do dossiê seria muito mais importante que o dossiê em si. Que jornalismo pode se explicar como tal, ao não se preocupar com as possíveis revelações contidas no tal dossiê, se isso sequer entrou em cogitação? Tudo bem: como disse o presidente Lula -o único que disse alguma coisa, aliás - não havia nada no tal dossiê que realmente pudesse interessar a quem quer que fosse. Mas afora a consideração presidencial, o interesse jornalístico impositivo pelo que o dossiê pudesse conter - esse não foi mencionado ou sugerido uma vez sequer. Era mentira, era irrelevante em princípio, ponto final.
As coisas extrapolam o mínimo. No factóide que foi a denúncia da ex-secretária da Receita Federal que teria se encontrado com com a ministra Dilma Roussef , ocasião em que esta lhe teria pedido "pressa" na apuração de supostos crimes cometidos por José Sarney, a ninguém foi dado saber do princípio jurídico que o "ônus da prova" estaria com a acusadora e não com a acusada. E que quando o Planalto, enfim, encerrou a questão - justamente pela razão que a Justiça lhe dava - não faltaram professores a impingir à ministra a suspeita das irregularidades. Um professor da USP abandonou qualquer bom senso ao insistir, numa entrevista na rádio Cultura, que cabia à Ministra "dirimir as suspeitas".
Pois eram "evidentes", pela prova nenhuma, que a ex-secretária tinha apresentado, que a ministra era suspeita, em princípio. Uma comentarista da CBN, ao admitir que a tal ex-secretária não tinha conseguido convencer ninguém na CPI, nem por isso hesitou um só instante de reiterar, mesmo assim, que a ministra teria "de se explicar". Não é o caso de se exigir um mínimo de proficiência profissional - mas, convenhamos, o despudor tem limites.
Falar em despudor talvez seja de se supor que ele exista. E que a partícula de negação - des - só se aplicasse ao caso, excepcionalmente. Pois haveria ainda que rememorar a interpretação do famoso "top-top" do assessor especial do presidente, o professor Marco Aurélio Garcia, que teria sido flagrado a dirigir os gestos obscenos "às vítimas do avião da TAM" (sic). Nenhum jornalista minimamente probo assacaria que os gestos do assessor da presidência, feito na privacidade de seu gabinete, deveria ser lido como tendo sido endereçado aos passageiros mortos no desastre aéreo. As imagens diziam o que as televisões e as rádios quiseram ver, não o que era mais que evidente: que o sr. Marco Aurélio Garcia xingava justamente as interpretações da grande imprensa; que só faltou dizer que quem tinha derrubado o avião teria sido o presidente Lula. No entanto, propalada a versão mentirosa, tudo ficou ao vento. E aí sim, em conformidade com a máxima voltariana, de que a mentira, repetida muitas vezes, pode alçar vôos mais altos, principalmente para os incautos que gostam de se iludir.
Talvez se possa inferir que tudo da grande imprensa seja mentira -e então nada do que é veiculado pela mídia seria verdadeiro. É um evidente exagero - mas não parece um evidente exagero arriscar que a divulgação do conteúdo da prova do Enem, veio muito bem a calhar. obrigado. Eis que uma empresa jornalística que comanda a gráfica de onde foram surrupiadas as provas, não tem nada a ver com o fato, embora seja, como quase toda a mídia, "de oposição". O que até pode ser verdadeiro, ou seja, que o gráfica não tem nada a ver com o fato. Mas imaginar que alguém possa supor, tranqüilamente, que os autores do crime pensassem em tirar dinheiro do "Estadão"- para o qual foi revelado o conteúdo do Enem- e não de gente que, realmente, pudesse e tivesse interesse em comprá-lo, vai uma distância que só o delegado que presidiu o inquérito não quis ver. Mas que, de qualquer forma, adiou a questão da solução dos vestibulares para um futuro, que talvez contemple o governo Lula com "mais essa": ele não avançou em nada na questão dos vestibulares. E a rapidez com que algumas universidades descartaram se vincularem ao Enem, pode ser lida, sim, como o motivo para não dar ao governo federal qualquer mérito por mexer com o candente problema do vestibular. Ou seja, nada de inquirições para o caso - tão somente a aceitação dos fatos. Não é coisa de profissionais de jornalismo certamente : mas não o será de uma imprensa que a todo o momento se mostra inegavelmente golpista?
Quem tem cerca de 60 anos, já viu esse filme algumas vezes. E como se dizia antigamente, não passa de um tremendo abacaxi.
P.S. Talvez fosse o caso de se ressaltar que a grande imprensa tem o poder de ainda influir sobre a cultura do Brasil. E que os artistas são os primeiros a perderem com isso. Dói, mas é isso mesmo. Daí, entretanto, tantos intelectuais se jogarem à execração do futuro (não é preciso mencioná-los, eles estão nos jornalões a vociferarem contra o governo Lula) só se explica por não acreditarem em si mesmos. O que só confirma Beethoven na sua crítica aos poetas (que vale para todos os que trocam tudo por um espaço na mídia brasileira): eles amam em demasia as lantejoulas da corte para serem levados a sério. A começar pelo futuro.
Enio Squeff é artista plástico e jornalista
Muito bom o texto GustavoB, e na minha opinião a imprensa deveria ter algum controle pois eles levam um cidadão ao fundo do poço com meia dúzia de palavras, e no máximo o que acontece é que podem vir a pagar alguma indenização e normalmente muitos anos depois do ocorrido.
Re: Imprensa vendida
Enviado: Ter Out 20, 2009 7:19 pm
por GustavoB
Os propagandistas
Atualizado em 20 de outubro de 2009 às 14:47 | Publicado em 20 de outubro de 2009 às 14:38
por Luiz Carlos Azenha
Lendo um bom texto do Luís Nassif sobre a relação de José Serra com a mídia partidarizada, em que ele trata do punhado de neocons brasileiros que "formula" as políticas da oposição, acrescento um comentário que ouvi do Paulo Henrique Amorim.
Os parajornalistas que "formulam" a política da oposição são isso: parajornalistas. Como diz Paulo Henrique Amorim, eles seriam incapazes de fazer uma reportagem sobre um buraco de rua na esquina. E isso não é nada desprezível, por vários motivos. O exercício cotidiano do Jornalismo requer aprendizagem de técnicas de apuração, conhecimento histórico que permita contextualização e a aplicação de espírito crítico incompatíveis com a mídia corporativa de hoje.
As empresas de mídia deixaram de viver exclusivamente das notícias que produzem. Elas hoje têm interesses políticos e econômicos muito mais diversos e complexos que num passado recente. E, em nome de defender esses interesses, incentivaram uma mudança fundamental na formação dos jornalistas. Se um dia o "espírito público" era um traço fundamental dos jornalistas, agora a ênfase é na rigidez ideológica que atenda aos interesses da corporação.
Grosseiramente, o Jornalismo foi "privatizado". Colocado a serviço do mercado. Hoje os jornalistas são "funcionalistas". Outro dia assisti estupefato a um debate sobre transporte público em que não ocorreu a nenhum dos jornalistas-debatedores questionar o próprio modelo de transporte individual que entope as cidades de automóveis, nem falar das políticas de taxação progressiva que "punem" o transporte individual nos Estados Unidos e na Europa, nem sobre as políticas públicas que incentivam empresas a contratar empregados que morem perto das firmas. Todos os debatedores pareciam reféns do "Deus mercado". Nem parecia que o caos em alguns centros urbanos é resultado de uma escolha política.
Tudo isso ao mesmo tempo é resultado e explica a "limpeza ideológica" promovida nas redações brasileiras pelos neocons e seus vassalos em tempos recentes. Explica também os "cursos de monstrinhos" -- na definição do Leandro Fortes -- desenvolvidos pela TV Globo, Folha e Abril, nos quais as empresas "treinam" estudantes de Jornalismo de acordo com seu próprio "currículo".
É preciso "formar a tropa" desde cedo. O que se requer dela, acima de tudo, é "consistência ideológica" e espinha dorsal suficientemente flexível para se adequar aos interesses dos patrões. Os bons repórteres acabam se tornando inconvenientes. O curioso é que a prática dos neocons, como sempre, acaba colocando em risco um valor que eles dizem defender: a meritocracia. Como tudo o que envolve os neocons, eles defendem a meritocracia da boca para fora. Eles sabem que não chegaram lá em cima por mérito profissional ou por fidelidade canina à verdade factual. São propagandistas, embora se apresentem como jornalistas.
Re: Imprensa vendida
Enviado: Ter Out 20, 2009 7:44 pm
por soultrain
o Luiz Carlos Azenha descreveu a FOX News
Re: Imprensa vendida
Enviado: Qui Out 22, 2009 11:09 am
por GustavoB
Jornalistas togados?
Quando cotejamos a cobertura das quatro revistas semanais de informação e as capas dos principais jornais diários nestes últimos três meses vemos que existem tiros demais, vítimas demais. E também verdade de menos, isenção de menos, muito menos.
Washington Araújo
Inúmeros são os casos em que a imprensa tem se arrogado o papel da Justiça. Assumir funções típicas da Justiça é recorrente na atividade jornalística. Há certa compreensão de que jornal é fórum, repórter é magistrado, editor é ministro de tribunal superior. E quando este é o quadro resta-nos apenas ver o desvirtuamento da informação fidedigna em atos de autoridade prepotente.
Em 1993 escrevia Joaquim Falcão em artigo publicado na imprensa carioca e que permanece tão atual quando à época de sua publicação: "Não raramente hoje, alguns jornais, ao divulgarem a denúncia alheia, acusam sem apurar, processam sem ouvir, colocam réu sem defesa na prisão da opinião pública; enfim, condenam sem julgar". E quando isto ocorre vemos justiçamento e não justiça. É imensa a distância separando um conceito do outro.
Estas percepções surgem quando cotejo a cobertura das quatro revistas semanais de informação e as capas dos principais jornais diários nestes últimos três meses. Existem tiros demais, vítimas demais. E também verdade de menos, isenção de menos, muito menos. Isso me faz lembrar afirmação do jornalista inglês Paul Johnson quando em meados dos anos de 1990 em um artigo afirmava que "a mídia é uma arma carregada quando dirigida com intenção hostil contra um indivíduo". E há muita intenção hostil no noticiário, daí que estamos sempre há bem poucos metros do pelotão de fuzilamento instituído pela mídia.
Cláudio Abramo personificava sua própria máxima ao dizer que o jornalismo era "o exercício diário da inteligência e a prática cotidiana do caráter". É que não havia distância entre intenção e gesto no caso do autor da frase. Ele sabia muito bem a regra do jogo (sem trocadilho com o famoso livro). É bem desagradável o sentimento que temos quando vemos campanha lançada por jornal defendendo ou acusando esta ou aquela ideologia, este ou aquele pensamento político, filosófico, religioso. Parece faltar inteligência ou a quem criou a campanha ou ao distinto público-alvo da mesma. E faltou coragem de dizer com todas as letras quem está por trás da tal campanha.
Para ser coerente com a definição de Abramo somente aceitando que estamos diante de qualquer coisa, mas não de jornalismo. Quando revista semanal se transforma em porta-voz de partido político algo de muito errado está acontecendo. Da mesma forma quando rede de televisão se notabiliza na defesa intransigente de ponto de vista eminentemente religioso, logo somos alcançados pelo mau odor exalado pelo preconceito e o fanatismo.
E só não há erro se o veículo de comunicação atua com transparência deixando o público saber a serviço de que agremiação se encontra. É aqui que mora o perigo: não temos tradição de nossos jornais e revistas cerrarem fileiras com esta ou aquela corrente política. É sempre por debaixo do pano que a verdade é contrabandeada – e a credibilidade do veículo de comunicação começa a decair quando seu público reconhece por si mesmo que há um marketing por trás dessa ou daquela capa, dessa ou daquela cobertura.
É o marketing do escândalo. As vítimas serão sempre aquelas que se atrevem a discordar da opinião, da crença defendida pelo canal de televisão, jornal, revista, emissora de rádio, portal na internet. O procedimento padrão aplicado é minimizar ao máximo o contraditório, garantia mínima que é para o Estado democrático, deixar passar ao longo da cobertura qualquer pluralidade de pensamento, qualquer fato novo investigado que tenha força suficiente para frustrar o resultado desejado. Procedimento que maximiza as opiniões que fortalecem a linha editorial pretendida, que lhe concede repercussão indevida como forma de atender a interesses outros que não aqueles defendidos pelos que praticam o bom jornalismo.
Penso haver tão-somente um antídoto a essa forma enviesada do fazer jornalismo no Brasil. E seria um choque de ética nas relações dos jornalistas com suas matérias, com suas fontes, com os fatos, com a idéia do contraditório, com a já esquecida prática de, antes da publicação, ter buscado, honestamente, ouvir o outro lado. Quando penso em ética não penso em consciência amordaçada. E nem penso em notícias em constante descompasso com a passagem do tempo. Penso, apenas, no direito que todos temos de ter acesso a notícia com maior qualidade, mais apurada, texto correto e preciso. Será pedir muito?
Os jornais, sejam impressos ou não, e também não importa qual a ferramenta em que está sendo disponibilizado, terminam por fazer eco uns aos outros. A mesma manchete e a mesma história repercutem como plantação de cogumelos. Já não nos identificamos com esta ou aquela linha editorial porque tudo passou a ser sinalizado pela mesmice.
Se o assunto do dia é um crime e, ainda mais, um crime hediondo, desses em que a filha de 13 anos mata o pai e a mãe enquanto dormem e, ainda, se para tal horrendo feito contou com a cumplicidade de seu coleguinha de parcos 8 ou 9 anos de idade… então, não precisamos ser muito espertos para sabermos que o assunto será divulgado até nos dar náusea por pelo menos as duas ou três semanas seguintes. Essa divulgação fará parte do que chamo de "jornalismo insano": uns repercutem os outros, uns querem a primazia da descoberta mais inesperada e temperada, preferencialmente com as cores fortes da escandalização da violência urbana.
Todo o arsenal de criatividade, estilos e formatos jornalísticos serão colocados a serviço da mais rápida difusão da notícia. Todos os assuntos serão colocados na geladeira da comodidade, aqueles temas que rendem poucos leitores serão relegados por obrigação do ofício ao arquivo redondo: descoberta de vacinas, políticas públicas que rendem mais que publicidade, iniciativas louváveis de indivíduos e de instituições para elevar a qualidade de vida da sociedade e por aí vai.
O jornalismo insano assemelha-se a uma praga de gafanhotos: ataca a mesma plantação, e no mesmo momento. Os fatos são pisoteados da mesma forma que as folhas – são destruídos quase instantaneamente. A nuvem que se forma ante os sempre desavisados receptores das notícias (leitores, ouvintes, espectadores e internautas) é espessa o suficiente para bloquear qualquer ínfima passagem de ar puro. Ocorre que não há espaço para outro assunto. Todo esforço maior é para continuar repercutindo o hediondo e o macabro. Quando não houver qualquer outro fato novo sobre a tragédia… então começam os comentários de especialistas de Direito ou de especialistas criados pela mídia, geralmente nomes de bom conceito na sociedade: juristas, pensadores, escritores, políticos, militantes de direitos humanos, educadores, sociólogos.
Algum antídoto para esse tipo de jornalismo? Sim. A prática de um jornalismo-cidadão. E aí temos amplo espaço para refletir sobre o que se encaixaria nessa categoria. Mas, com certeza, seria um jornalismo comprometido com a boa prática jornalística. E também com uma visão mais abrangente do mundo e de seus sinais: apreço por iniciativas que elevem a qualidade de vida da população; defesa das populações vulneráveis; espaço para a proteção do meio-ambiente e para o progresso científico.
A lógica do marketing do escândalo inclui, sim, a possibilidade de retificação do erro cometido, do excesso havido, mas sempre o fará de maneira frágil, envergonhada, vulnerável e inteiramente desproporcional ao impacto ou conseqüências do mal protagonizado.
Washington Araújo é jornalista e escritor. Mestre em Comunicação pela
UNB, tem livros sobre mídia, direitos humanos e ética publicados no Brasil,
Argentina, Espanha, México. Tem o blog http://www.cidadaodomundo.org
Email - wlaraujo9@gmail.com
Re: Imprensa vendida
Enviado: Qui Out 22, 2009 11:59 am
por rodrigo
Luiz Carlos Azenha
Paulo Henrique Amorim
Esses novos críticos nunca se manifestaram sobre os terríveis meandros da imprensa paga, golpista e etc quando bebiam bons vinhos no sofisticado inverno novaiorquino, patrocinados pela golpista e reacionária rede globo.
Luís Nassif
Esse luta de qualquer modo para sobreviver, outro dia vi ele na tv falando do preço do esperma de boi reprodutor, e nas horas vagas fala de política.
Mais curioso ainda é que, no mesmo molde das penas alugadas da direita, os citados acima nunca falam nada contra suas vítimas políticas, apenas assinam.
Re: Imprensa vendida
Enviado: Qui Out 22, 2009 3:12 pm
por GustavoB
Claro, são uns mentirosos...
Como disseram lá atrás, "toda generalização é burra"?
Re: Imprensa vendida
Enviado: Qui Out 22, 2009 3:18 pm
por GustavoB
A grande mídia contra Lula: o ponto de saturação
“Alojamento de Lula tem risoto, uísque e roda de viola até a madrugada.” Sob esse título auto-explicativo, a Folha [edição de 16-10] resumiu em uma retranca o espírito da cobertura oferecida aos seus leitores durante a viagem de três dias feita pelo Presidente Lula às obras de interligação de bacias do rio São Francisco, uma das mais importantes do seu governo.
Por Saul Leblon, na Carta Maior
O propósito de diminuir e tratar o assunto com escárnio e frivolidade se reafirmou em legendas de primeira página ao longo da visita. No dia 15-10, o jornal carimbava uma foto de Lula e da ministra Dilma Rousseff pescando no São Francisco, em Buritizeiro (MG), com a chamada: ‘Conversa de Pescadores’ . A associação entre a legenda e o discurso da oposição, para quem as obras são fictícias e a viagem, eleitoreira, sintetiza o engajamento de um jornalismo que já não se preocupa mais em simular isenção.
No dia 17, de novo na primeira página , o jornal estampa a foto do presidente atravessando o concreto ainda fresco sobre a legenda colegial: ‘A ponte do rio que caiu’. A imagem de Lula equilibrando-se em tábuas improvisadas inoculava no leitor a versão martelada em toda a cobertura: trata-se de uma construção improvisada, feita a toque de caixa, com objetivo apenas eleitoreiro.
É enfadonho dizê-lo, mas o próprio jornal se contradiz ao entrevistar Dom Luis Cappio, o bispo de Barra (BA), um crítico ferrenho da obra. Segundo afirmou o religioso ao jornal, “as obras avançam como um tsunami”. Sua crítica recai no que afirma ser a ‘marolinha’ das medidas – indispensáveis – de recuperação ambiental do rio. Diga-se a favor do governo que estas, naturalmente, serão de implementação mais lenta, na verdade talvez exijam um programa permanente.
Como o próprio bispo de Barra esclarece, não se trata apenas de promover o saneamento de esgotos e dejetos nas cidades ribeirinhas, como já vem sendo feito, ineditamente, talvez, na história dos rios brasileiros de abrangência interestadual. O resgate efeitvo do São Francisco passa também pela recuperação das matas ciliares, prevista nas obras, mas remete igualmente à recuperação de toda a ecologia à montante e para além dos beiradões, inclusive as veredas distantes onde estão nascentes, olhos d’água, lagoas de reprodução destruídos pela rapinagem madereira e carvoeira. Só quem acredita em milagres pode exigir, como faz Dom Cáppio, que um único governo reverta essa espiral de cinco séculos de omissão pública da parte, inclusive, daqueles que demagogicamente criticam as obras hoje como ‘uma ameaça ao velho Chico’.
O único acesso que a família Frias ofereceu aos leitores para que pudessem avaliar a verdadeira dimensão da obra ficou escondido na página interna da edição do dia 17, na belíssima foto que ilustra a página 12. Ali, um Lula solitário caminha por um gigantesco canal de concreto que rompe o horizonte até lamber o céu sertanejo. Há um simbolismo incontornável na imagem de um Presidente que se despede diluindo-se em uma obra gigantesca. Ela consagra seu retorno à terra de onde partiu como retirante e para onde voltou, presidente, levando água a quem não tem – compromissos mantidos, apesar de tudo.
A solenidade da foto contrasta com o tom de adolescência abusada da cobertura, o que impediria o jornal de utilizar a imagem na primeira página, embora do ponto de vista estético e jornalístico ela fosse muito superior à escolhida. Tanto que o editor da página 12 não se conteve e abriu cinco colunas para a fotografia.
Ataques ao governo Lula fazem parte da paisagem jornalística brasileira. Tornaram-se previsíveis como os acidentes geográficos; irremediáveis como o dia e a noite. Naturalizaram-se, a tal ponto que já se lê os jornais pulando essas ocorrências, como os olhos ignoram trechos vulgares de caminhos rotineiros.
O que mais espanta, porém – e a cobertura da viagem do São Francisco reforça esse desconcerto – não é a crítica , mas o tom desrespeitoso desse jornalismo. Nesse aspecto não houve rigorosamente qualquer evolução após seis anos em que todos os preconceitos contra Lula foram desmoralizados na prática. A retomada do crescimento com inflação baixa e maior equidade social, por exemplo, distingue seu governo positivamente da paz salazarista imposta pela ortodoxia tucana no segundo mandato de FHC. A popularidade internacional do chefe de Estado brasileiro constitui outro fato sem precedente, só suplantado, talvez, pela velocidade da recuperação da nossa economia em meio à maior crise do capitalismo desde 1930. Tudo desautoriza as previsões catastróficas das viúvas provincianas do tucano poliglota.
Mas se a realidade desmentiu o preconceito, em nenhum momento a mídia conservadora deu trégua a um indisfarçável desejo de vingança que pudesse comprovar a pertinência de uma rejeição de classe ao governo Lula . Com a aproximação das eleições de 2010, a ansiedade pelo fracasso recrudesceu. A tal ponto ela se tornou caricatural que já aparecem os primeiros sintomas de saturação.
Em artigo publicado no Estadão [19-10] o físico José Goldemberg, por exemplo, um quadro de extração tucana, saiu em defesa da construção de hidrelétricas pelo governo Lula, objeto de críticas estridentes de um jornalismo que prefere esquecer a origem do apagão em 2001/2002. Na área da saúde, o respeitado cardiologista Adib Jatene, que já foi secretário de Paulo Maluf mas supera qualquer viés político pela inegável competência científica e discernimento público, tem vindo a campo com frequência defender a necessidade de um novo imposto, capaz de mitigar o estrago causado à saúde pública pela revogação da CPF. Mais uma “obra coletiva” assinada pela mídia e a coalizão demotucana.
O economista Luiz Carlos Bresser Pereira, do staff serrista, foi outro a manifestar seu desagrado com o estado das coisas. Bresser, que já defendeu abertamente o projeto de Lula para o pré-sal, rechaçou a demonização do MST articulada pela mídia e ruralistas, por conta da derrubada de laranjeiras em terras públicas ocupadas pela Cutrale [artigo na Folha 19-10]. Pode ser apenas miragem do horário de verão, mas o que essas manifestações parecem indicar é uma rebelião da inteligência –ainda que avessa ao PT – contra a a idiotização da agenda nacional promovida pelo jornalismo demotucano.
A patogenia infelizmente não é privilégio brasileiro. Na Argentina, o cerco da grande imprensa ao governo Cristina Kirchner recorre a expedientes idênticos de mentiras, fogo e fel . Com Morales, na Bolívia, não tem sido diferente. Na Venezuela, há tempos, o aparato midiático tornou-se paradigma de um engajamento que atravessou o Rubicão do golpismo impresso para se incorporar fisicamente à quartelada que quase derrubou Chávez em 2002 . Enganam-se os que enxergam aí também a evidência de uma fragilidade congênita à democracia latinoamericana. Acima do Equador as coisas não vão melhores. O democrata Barack Obama é vítima de um cerco raivoso e racista de jornais e redes, como é o caso da Fox, do direitista Rupert Murdoch que detém também o Wall Street Journal.
A repetição e o alcance dos mesmos métodos e argumentos nas mais diferentes latitudes parece indicar que estamos diante de um fenômeno de recorte histórico mais geral. O fato é que o conservadorismo está acuado em diferentes fronteiras após o esfarelamento econômico e político do credo neoliberal. A falência dos mercados financeiros desregulados na maior crise do capitalismo desde 1930 já é reconhecida, à direita e à esquerda, como um novo divisor histórico.
Corroído em seus alicerces de legitimidade pela falência de empresas, famílias e bancos, ademais do recrudescimento do desemprego e da insegurança alimentar – inclusive nas sociedades mais ricas – o conservadorismo vê sua base social derreter. A radicalização do seu ‘braço midiático’ soa como uma tentativa derradeira de reverter o processo ainda nos marcos da democracia, desqualificando o adversário mais próximos formado por partidos e governos progressistas. A radicalização é proporcional à ausência de um projeto conservador alternativo a oferecer à sociedade.
Abre-se assim uma etapa de absoluta transparência, uma radicalização aberta; um embate bruto de forças em que a mídia dominante não tem mais espaço para esconder os interesses que representa. Tampouco parece ter pejo em descartar uma neutralidade – que, diga-se, a rigor nunca existiu – mas da qual sempre se avocou guardiã para descartar a democratização efetiva dos meios de comunicação. A isenção parece, enfim, não representar mais um valor passível sequer de ser simulado.
A diferença entre o que acontece no caso brasileiro e o resto do mundo é o grau de envolvimento do governo na reação em sentido contrário a essa ofensiva. A liberdade de informação e o contraditório aqui respiram cada vez mais por uma rede de blogs e sites de gradiente ideológico amplo, qualidade crescente e capacidade analítica incontestável. Mas ainda de alcance restrito. O protagonismo do governo e o dos partidos e sindicatos que poderiam ir além na abrangência de massa, é tíbio.
Na Venezuela não é assim. Na Bolívia – que acaba de criar um grande jornal diário de recorte progressista– não está sendo. Na Argentina onde foi votada uma lei de comunicação que desmonta a estrutura monopolista do conservadorismo midiático, caminha-se também sobre pernas da urgência. Acima da linha do Equador a contundência das respostas oficiais destoa igualmente do acanhamento brasileiro.
Na verdade, talvez a caracterização mais dura da decadência dos princípios liberais na mídia tenha partido justamente dos porta-vozes do governo Obama, Anita Dunn, Diretora de Comunicações do Presidente e David Axelrod,principal assessor de comunicação do democrata.
“A rede Fox está em guerra contra Barack Obama (…) não precisamos fingir que o modo como essa organização trabalha é jornalístico. Quando o presidente fala à Fox, já sabe que não falará à imprensa, propriamente dita. O presidente já sabe que estará debatendo com um partido da oposição”, resumiu recentemente a atilada Diretora de Comunicações da Casa Branca. Numa escalada de entrevistas e disparos cuidadosamente arquitetados, Dunn e Axelrod falaram alternadamente a diferentes segmentos midiáticos de todo o país. E o fizeram com o mesmo propósito de colocar o dedo numa ferida chamada Rupert Murdoch.
“Mr. Rupert Murdoch tem talento para fazer dinheiro, e eu entendo que sua programação é voltada a fazer dinheiro. Só o que argumentamos é que [seus veículos] não são um canal de notícias de verdade. Não só os âncoras, mas a programação toda. Não é notícia de verdade, mas é a pregação de um ponto de vista. E nós vamos tratá-los assim “, bateu Axelrod em seguida ao ataque de Anita Dunn.
O guarda-chuva dos ataques a Obama têm como alvo o projeto de reforma do sistema de saúde, que, entre outras medidas, quer colocar sob responsabilidade do Estado cerca de 50 milhões de norte-americanos hoje ao desabrigo de qualquer cobertura.
A defesa do livre mercado na saúde é só a ponta do iceberg do ataque midiático. Por trás desse biombo o que se move é uma engrenagem endogâmica em que se entrelaçam o fanatismo e o dinheiro da direita republicana, postados dentro e fora da mídia. Sua meta é clara: desconstruir e imobilizar o sucessor de George W. Bush.
Não há muita diferença entre o que se passa nos EUA e a divisão de trabalho observada no Brasil, onde as rádios chutam o governo Lula abaixo da linha da cintura; os jornalões desgastam e denunciam, enquanto a Globo faz a edição final no JN, transformando o boa noite diário da dupla Bonner & Fátima uma espécie de ‘meus pêsames, brasileiros pelo governo que escolheram; não repitam isso em 2010’.
No caso dos EUA, um país visceralmente conservador e racista, não há, a rigor, grande surpresa pelos ataques da Fox & Cia a um presidente negro e democrata. O que surpreende, de fato, é que Obama está reagindo. E o faz com um grau de contundência que, oxalá, sirva de inspiração para que um dia também possamos ouvir nos trópicos um porta-voz do presidente Lula dizer com igual limpidez e serenidade, sem raiva, mas pedagogicamente:
“A Folha está em guerra contra Lula(…) não precisamos fingir que o modo como essa organização trabalha é jornalístico. Quando o Presidente fala à Folha já sabe que não falará à imprensa, propriamente dita. O presidente já sabe que estará debatendo com um partido da oposição”.
Re: Imprensa vendida
Enviado: Sex Out 23, 2009 1:06 pm
por rodrigo
Claro, são uns mentirosos...
Não disse isso. Mostrei apenas o fato, incontestável, de que o profissional se guia pelo interesse imediato. Os jornalistas citados foram os chefes da rede globo em Nova Iorque durante anos, com altos salários e os luxos que acompanham uma função dessa. Nesse período, nunca fizeram acusações ou mesmo ironias, menores que fossem. Depois de perder a boquinha, viraram todos modelos de independência, paladinos da imprensa livre e etc... Só que, vendem seus nomes, sua credibilidade, aos donos do poder. Sejam petistas, tucanos, direita, esquerda, nazista, comunista. Não importa, tem que se manter. Tem a mesma credibilidade de um Reinaldo Azevedo ou Diogo Mainardi. O mais engraçado é que essas penas de aluguel muitas vezes tem razão, apresentam situações ou pensamentos interessantes, mas como acabam rotulados direita ou esquerda, governo ou oposição, progressista ou conservador, perdem a credibilidade.