Valeu, Leandro
Mas vamos aos motivos determinantes:
O Irã de fato comprou uma tecnologia de foguetes balísticos de combustível líquido de origem russa (mas pelo que se sabe não foi da Rússia e sim da Coréia do Norte e o preço não deve ter sido tão caro assim). Mas o Japão também começou o desenvolvimento de seus foguetes de combustível líquido comprando o tecnologia americana, e os indianos comprando russa e francesa. Os próprios americanos e russos partiram de tecnologia alemã capturada após a 2GM, portanto partir de tecnologia estrangeira não é nenhum demérito.
Eu não questiono a tecnologia do combustível líquido, ainda estamos adquirindo, mas as outras, você sabe mais que eu, que a Coreia e o Iran não têm, túnel supersônico, laboratórios de teste de grande porte, nem tecnologia de inerciais, sensores e telemetria.
O programa deles continuou com o desenvolvimento local de foguetes cada vez mais potentes e maiores, e chegou agora ao ponto deste pequeno lançador de satélites, que é bem maior e mais potente que o VS-30 (que tem diâmetro de apenas 0,55m, comprimento de 7,43m e peso de lançamento de 1460.), ou mesmo que o VS-40 (diâmetro de 1m, comprimento de 7,39 m e 6.737 Kg de peso). O lançador iraniano mede 22 metros de comprimento, tem um diâmetro de 1,25 metros na base e pesa 26 toneladas no lançamento. O primeiro estágio sozinho pesa quase 13 toneladas, sendo significativamente maior que o motor S-40 do VLS (pouco mais de 8 ton).
Citei o VS30 por ser um foguete homologado e testado exaustivamente porem poderia ser comparado com o Sonda IV de dois estágios e teleguiado e lançado em 1984.
Na verdade, se os iranianos montarem vários destes este motores com a mesma configuração "cluster" usada no VLS o foguete deles poderia ser bem mais "ambicioso" que o brasileiro. Ou poderiam construir um foguete convencional mas utilizando vários destes motores em uma única montagem (algo que não é possível com os motores de combustível sólido do VLS), e fariam algo bem maior que qualquer coisa que tenhamos sequer proposto até agora. Só que eles são pé-no-chão e dão um passo de cada vez, lançando primeiro o foguete mais simples para depois (se acharem necessário) tentar fazer algo maior. Já nós partimos direto para a maior e mais complexa configuração possível, com os resultados conhecidos.
Ok, é verdade mas hoje, pra ser bem sucedido em motores espaciais se faz necessário dominar as duas tecnologias e estamos próximo disso.
Dê uma olhada no link abaixo para conhecer melhor o Safir, o lançador de satélites iraniano.
http://www.b14643.de/Spacerockets_1/Div ... /Safir.htm
Outro detalhe, até o momento os satélites da série CERBS são 66% chineses, nossa participação é minoritária, e nem em sonho podem ser lançados pelo nosso VLS. Eles vão ao espaço em foguetes chineses Longa-Marcha 4.
Aqui sem comentários, poderíamos compara-los com os SCDs ou outros que estamos em processo de fabricação.
Você acha que em breve, coisa de cinco anos, estes Safir-2.......poderiam lançar um CBERS de 1,5 toneladas?
Um abraço,
Mauri[/quote]
Irã diz ter colocado em órbita seu primeiro satélite Omid
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Re: Irã diz ter colocado em órbita seu primeiro satélite Omid
Caro Mauri,
Na verdade, se você observar com senso crítico as imagens do foguete Safir no site que eu coloquei perceberá que, fora o fato de utilizar combustível líquido, ele não parece incluir absolutamente nenhum avanço tecnológico sobre os foguetes brasileiros, do Sonda IV em diante incluindo o VLS. E estes nossos foguetes utilizam combustível sólido porque este era o objetivo do projeto desde o início, dominar esta tecnologia para uso em mísseis militares (para lançamento de satélites ela é totalmente dispensável).
Veja alguns pontos mais fáceis de perceber:
- A câmara de combustão do motor tem desenho esférico, uma solução de engenharia que parecia lógica quando a V-2 estava sendo desenvolvida, mas que foi abandonada desde a década de 50.
- O controle de atitude é por defletores de fluxo, novamente uma herança direta da V-2 que foi utilizada nos primeiros foguetes estratégicos mas que também já é considerada ultrapassada desde a década de 50.
- O acabamento de algumas partes como a coifa de proteção do satélite e a carenagem da seção do motor é péssimo, parece ter sido feito a mão em uma oficina de fundo de quintal. Os iranianos não devem ter uma infra-estrutura industrial pronta para este tipo de aplicação, e partes do foguete são construídas de forma artesanal.
Por este tipo de coisa pode-se dizer quase sem chances de errar que pelo menos com relação à parte mecânica o Safir representa uma aplicação no século XXI de tecnologia da década de 50 do século passado. A parte eletrônica deve ser bem melhor, provavelmente os iranianos possuem sim tecnologia de plataformas inerciais, sensores e sistemas de telemetria, e mesmo que não esteja entre as mais avançadas do mundo não há motivos para dizer que seja inferior à nossa.
Mas aí é que está o ponto: Mesmo com este nível relativamente atrasado de tecnologia eles conseguiram colocar um satélite em órbita após somente uma tentativa fracassada (pelo que se sabe), e nós ainda não, mesmo após a perda de 22 vidas. Porquê?
O que acontece é que a equipe de pesquisadores do Irã tinha um objetivo claro a atingir (colocar um satélite qualquer em órbita o mais rapidamente possível), e trabalhou para alcançar este objetivo. Nada de publicar não sei quantos “papers” em periódicos internacionais, comparecer a congressos ao redor do mundo, teses de mestrado e doutorado em assuntos relacionados apenas indiretamente com foguetes, estudos teóricos básicos na Rússia por sei lá quanto tempo para depois construir motorzinhos acadêmicos com os mais diversos combustíveis possíveis, etc... . Eles não estavam estudando teorias, estavam resolvendo um problema de engenharia, e apresentaram a solução que puderam, não a mais elegante, não a mais avançada, mas uma que funciona!
Agora o Irã é uma nação espacial, e verbas com certeza estão garantidas para o programa pois aposto que a população e o governo iranianos, com todos os seus problemas, estão orgulhosos da realização de seus engenheiros. Eles não se incomodarão em gastar mais algum dinheiro nos próximos anos para tornar seus foguetes realmente úteis para os objetivos do país, não apenas práticos mas também políticos.
E nós aqui, mesmo gastando muito mais dinheiro e esforços por muito mais tempo, e já dispondo de tecnologia mais avançada do que a deles desde a década de oitenta, temos o quê para mostrar? É esta falta de objetividade que tem que ser criticada no programa espacial brasileiro. Se ele visa apenas estudos acadêmicos, então não deveriam sequer existir institutos específicos dedicados a ele, o trabalho deveria estar nas universidades. No Japão por exemplo, que não visava aplicações militares, o programa começou assim e assim foi tocado até após o lançamento do seu primeiro satélite. Depois disso decidiram acelerar o programa pois orbitar satélites realmente úteis passou a ser o objetivo, e aí simplesmente compraram a tecnologia (no caso americana). Mais tarde seus cientistas desenvolveram a partir desta uma tecnologia própria mais possante, que é o que eles utilizam hoje.
E se o objetivo é desenvolver tecnologia para aplicações militares e espaciais, onde estão os produtos desta tecnologia que já eram para estar por aí?
Um grande abraço,
Leandro G. Card
P.S.- Também não existe nenhuma previsão de foguetes brasileiros capazes de lançar satélites da série CERBS. Até o futuro previsível eles serão sempre lançados por foguetes estrangeiros.
Na verdade, se você observar com senso crítico as imagens do foguete Safir no site que eu coloquei perceberá que, fora o fato de utilizar combustível líquido, ele não parece incluir absolutamente nenhum avanço tecnológico sobre os foguetes brasileiros, do Sonda IV em diante incluindo o VLS. E estes nossos foguetes utilizam combustível sólido porque este era o objetivo do projeto desde o início, dominar esta tecnologia para uso em mísseis militares (para lançamento de satélites ela é totalmente dispensável).
Veja alguns pontos mais fáceis de perceber:
- A câmara de combustão do motor tem desenho esférico, uma solução de engenharia que parecia lógica quando a V-2 estava sendo desenvolvida, mas que foi abandonada desde a década de 50.
- O controle de atitude é por defletores de fluxo, novamente uma herança direta da V-2 que foi utilizada nos primeiros foguetes estratégicos mas que também já é considerada ultrapassada desde a década de 50.
- O acabamento de algumas partes como a coifa de proteção do satélite e a carenagem da seção do motor é péssimo, parece ter sido feito a mão em uma oficina de fundo de quintal. Os iranianos não devem ter uma infra-estrutura industrial pronta para este tipo de aplicação, e partes do foguete são construídas de forma artesanal.
Por este tipo de coisa pode-se dizer quase sem chances de errar que pelo menos com relação à parte mecânica o Safir representa uma aplicação no século XXI de tecnologia da década de 50 do século passado. A parte eletrônica deve ser bem melhor, provavelmente os iranianos possuem sim tecnologia de plataformas inerciais, sensores e sistemas de telemetria, e mesmo que não esteja entre as mais avançadas do mundo não há motivos para dizer que seja inferior à nossa.
Mas aí é que está o ponto: Mesmo com este nível relativamente atrasado de tecnologia eles conseguiram colocar um satélite em órbita após somente uma tentativa fracassada (pelo que se sabe), e nós ainda não, mesmo após a perda de 22 vidas. Porquê?
O que acontece é que a equipe de pesquisadores do Irã tinha um objetivo claro a atingir (colocar um satélite qualquer em órbita o mais rapidamente possível), e trabalhou para alcançar este objetivo. Nada de publicar não sei quantos “papers” em periódicos internacionais, comparecer a congressos ao redor do mundo, teses de mestrado e doutorado em assuntos relacionados apenas indiretamente com foguetes, estudos teóricos básicos na Rússia por sei lá quanto tempo para depois construir motorzinhos acadêmicos com os mais diversos combustíveis possíveis, etc... . Eles não estavam estudando teorias, estavam resolvendo um problema de engenharia, e apresentaram a solução que puderam, não a mais elegante, não a mais avançada, mas uma que funciona!
Agora o Irã é uma nação espacial, e verbas com certeza estão garantidas para o programa pois aposto que a população e o governo iranianos, com todos os seus problemas, estão orgulhosos da realização de seus engenheiros. Eles não se incomodarão em gastar mais algum dinheiro nos próximos anos para tornar seus foguetes realmente úteis para os objetivos do país, não apenas práticos mas também políticos.
E nós aqui, mesmo gastando muito mais dinheiro e esforços por muito mais tempo, e já dispondo de tecnologia mais avançada do que a deles desde a década de oitenta, temos o quê para mostrar? É esta falta de objetividade que tem que ser criticada no programa espacial brasileiro. Se ele visa apenas estudos acadêmicos, então não deveriam sequer existir institutos específicos dedicados a ele, o trabalho deveria estar nas universidades. No Japão por exemplo, que não visava aplicações militares, o programa começou assim e assim foi tocado até após o lançamento do seu primeiro satélite. Depois disso decidiram acelerar o programa pois orbitar satélites realmente úteis passou a ser o objetivo, e aí simplesmente compraram a tecnologia (no caso americana). Mais tarde seus cientistas desenvolveram a partir desta uma tecnologia própria mais possante, que é o que eles utilizam hoje.
E se o objetivo é desenvolver tecnologia para aplicações militares e espaciais, onde estão os produtos desta tecnologia que já eram para estar por aí?
Um grande abraço,
Leandro G. Card
P.S.- Também não existe nenhuma previsão de foguetes brasileiros capazes de lançar satélites da série CERBS. Até o futuro previsível eles serão sempre lançados por foguetes estrangeiros.