Entrevista do presidente do Conselho de Administração da Helibras, Jorge Viana, após audiência com o governador Aécio Neves
Assuntos: Planta da Helibras em Itajubá, Eleições 2008, PT/PSDB e reforma política
Até pouco tempo era muito elevado o índice de peças importadas na montagem de helicópteros aqui na unidade em Itajubá. Isso melhorou hoje? Qual é o percentual?
O percentual hoje é próximo de 40%.
De peças estrangeiras?
Não. De nacionalização. O problema é que avião e helicópteros são produzidos numa escala muito pequena e isso é um assunto delicado. O mais importante de tudo é você assegurar o compromisso de transferência de tecnologia que pode vir de outras formas, você pode ter centro de treinamento, de capacitação, centros de reposição. Então, eu vim tratar hoje com o governador Aécio sobre a idéia que a Helibras, que seus acionistas estão tendo, dialogando com o governo federal, de uma segunda nova etapa. A Helibras vai completar 30 anos agora em junho, é um patrimônio do Brasil, é privada, o Governo de Minas é sócio, então uma parte é pública, mas é um patrimônio e o Brasil se firmou hoje como um pólo aeronáutico, que é a Embraer. A Embraer é hoje o número um no mundo no seu segmento e a Helibras, nós entendemos, está na hora de dar um passo bom, produzindo um novo modelo de helicóptero.
Como seria essa nova fase?
A nova fase é essa que está se discutindo. A Helibras poder produzir um Super Cougar, que é um helicóptero de médio porte.
Por enquanto é só o esquilo?
É o esquilo. Com o compromisso de produzir esse helicóptero e avançar na transferência de tecnologia. Então essa nova fábrica que a Helibras está discutindo, quero dizer que é um projeto que ainda está sendo discutido, há muito tempo, os dirigentes da Helibras estão pensando nisso, estão trabalhando nisso, a EADS que é uma das sócias, o senhor Edmond Safdié que é um dos donos também, um investidor, e o próprio Governo de Minas, têm agora a possibilidade de se ter um novo projeto, que produz um helicóptero de médio a grande porte para o mercado interno e para exportação. Seria uma boa maneira de comemorar os 30 anos da Helibras.
Seria um investimento de quanto?
Investimento é uma coisa delicada neste momento. A idéia é discutir com o governo brasileiro, como a França fez com a Airbus, como os americanos fizeram com a Boeing, como o Brasil fez com a Embraer, era o Brasil, que hoje comprou muitos helicópteros da Helibras, ter um compromisso de ao longo de dez anos, adquirir 50 desses aparelhos. O Brasil recentemente estava interessado, tinha uma licitação, para comprar mais de 20 aparelhos de médio e grande porte para transporte. Se o Brasil precisa de mais de 20 para repor a sua frota, assumir de ter a possibilidade de adquirir 50 ao longo de dez anos, já seria suficiente para viabilizar os investimentos e a implantação dessa fábrica. Só queria afirmar que a idéia é definitiva, que a fábrica de Itajubá dobraria ou multiplicaria o seu tamanho. A fábrica seria em Minas. Boa parte dos componentes seriam produzidos em Minas e envolvendo ainda para a produção de alguns componentes o Estado do o Estado do Rio e São Paulo.
Por exemplo, há uma perspectiva, esse processo dando certo aqui em Minas Gerais, de uma grande indústria multinacional montar a fábrica de turbinas no Rio de Janeiro. O Brasil e a América Latina não têm fábrica de turbinas. Todas as turbinas dos aviões e dos helicópteros são importadas. Então, se o Brasil, se a Helibras conseguir ter sucesso nesse projeto, ela vai fazer com que tenha investimentos, por exemplo, em uma fábrica de turbinas.
Seria uma nova planta ou expansão?
É uma expansão. Isso está sendo discutido, qual a maneira. Mas o certo é que Itajubá ganharia uma nova fase.
O governo, há pouco tempo, disse que poderia vender essas ações da Helibras. Isso foi discutido aqui?
Não. Toda a parte societária não foi discutida. Deve ter uma reunião mais para frente, mais a fundo, inclusive, o governador quer uma reunião mais técnica. Hoje eu estou trazendo informações porque semana passada tive uma audiência com o presidente Lula apresentando, pela segunda vez, essa idéia. O Governo federal está interessado. Quem cuida, pelo Governo federal, desse projeto estratégico, da relação com a França, é o ministro Jobim e o ministro Miguel Jorge. Eles estão trabalhando isso junto com os comandantes pelo lado do governo e é um projeto que não está pronto, está sendo construído, um projeto nacional, de interesse nacional e está andando tudo muito bem, todo mundo concorda e acho que Minas vai ganhar muito, se der certo esse projeto porque a Helibras vai poder comemorar 30 anos, consolidando o que a gente está chamando de segundo pólo aeronáutico do Brasil.
O Brasil tem hoje uma coisa fantástica, que é mão-de-obra qualificada. No eixo Minas, São Paulo e Rio criou-se esse centro de formação de engenheiros, que hoje chama a atenção do mundo. Eu acho que isso vai dar muito certo. Estou apostando tudo. Estou trabalhando como presidente do Conselho. Os executivos da ADS e da Helibras, o senhor Jean, que trabalha o dia a dia desse projeto. Eu sou apenas o presidente do Conselho de Administração. Mas estou ajudando como colaborador.
Aproveitando essa mão-de-obra qualificada, existe a possibilidade da criação e construção de outros modelos em Minas ou, por enquanto, só se fala no Super Cougar?
Não. O que tem é uma perspectiva neste momento muito boa para a Helibras porque a frota de helicópteros brasileiros está antiga. A Helibras vai completar 30 anos e está na hora de fazer uma renovação. O orçamento de Defesa do Brasil hoje está sendo levado a sério. O presidente Lula está priorizando essa área, o ministro Jobim está começando um trabalho muito importante nessa área. Você pode ter então, mesmo sem o Super Cougar, ainda um crescimento. Eu estou na Helibras de setembro para cá, assumi no dia 5 de setembro, e estou muito animado com os resultados que a Helibras está tendo. São resultados graças ao empenho dos funcionários, dos executivos dela, a ponto dela estar pronta para poder pensar, e o que está sendo feito agora, em um projeto ousado de produzir o Super Cougar no Brasil.
Dá para pensar em prazo para o início dessa expansão de Itajubá?
As conversas estão acontecendo agora, detalhamento de projetos, mas a idéia apresentada ao presidente Lula é que em junho, se tudo der certo, se todos colaborarem e eu acredito que vai dar certo, quando a Helibras faz 30 anos, a idéia é que o presidente Lula, o governador Aécio, os governadores do Rio ou São Paulo estarem em Itajubá lançando esse projeto do Super Cougar porque, sendo aprovado esse projeto, o helicóptero pode estar sendo entregue em dois anos e meio no máximo.
O que o senhor conversou com o governador?
Vim fazer uma visita. O Aécio é um amigo. Sempre militei, fui governador do PT e ele do PSDB e a gente tem afinidades muito grandes. Tenho uma admiração grande por ele. Mas, neste momento, vim tratar como presidente do Conselho de Administração da Helibras. Fazer uma visita para tratarmos do que a gente já tem tratado por telefone, que é um projeto que representa, de certa forma, uma nova etapa da vida da Helibras que tem sede em Itajubá. Porque estamos pensando que a Helibras pode produzir agora Super Cougar, um helicóptero de grande porte, tanto para o mercado interno, por exemplo, eu não falo do governo brasileiro, mas só a Petrobras e outras empresas privadas precisam desse modelo. Mas a idéia para a exportação. Sempre focado na diminuição da dependência externa, mas para avião e para helicópteros tem limitação nisso por conta da escala. A Helibras, no ano passado, produziu um pouco menos do que 30 helicópteros. Então, tem algumas limitações, mas há uma decisão de ter um grande centro de manutenção dentro desse projeto, ter um centro de reciclagem de pilotos, com simulador de vôos. Ele vem acompanhado de uma série de coisas e o presidente Lula cobrou muito e todos nós cobramos, compromisso concreto de transferência de tecnologias para que a gente possa, como a Embraer conseguiu, ter também na parte de helicópteros.
O senhor é filiado ao PT?
Sou.
O que o senhor está achando dessa possibilidade de aliança PSDB/PT aqui em Belo Horizonte?
Não posso falar de possibilidade dessa aliança PSDB/PT aqui porque não conheço a fundo. Eu estaria atropelando meus colegas dirigentes do PT aqui. Eu tenho um carinho muito grande pelo Pimentel, pelo Patrus, são lideranças importantes, junto com outras, aqui em Minas e eu confio neles. O que eles estiverem fazendo, eu concordo. O que eu entendo é que esse confronto permanente de PT e PSDB têm prejudicado o país e muito.
Em que sentido?
Tem prejudicado a toda hora porque quando o PSDB está no governo, as alianças que o PSDB faz são com partidos que estão mais distantes ideologicamente dele para poder governar. Quando o PT está no governo, o PT faz as mesmas alianças para enfrentar o PSDB e eu, particularmente, estou falando isso, estou fora da política agora, estou no setor privado, mas eu não saí da política definitivamente, em 2010 eu devo voltar a discutir. Mas eu governei em uma parceria com o PSDB no Acre e foi muito bom. Fui pioneiro nessa experiência.
O vice era do PSDB?
O vice era do PSDB, quando eu fui prefeito e quando eu fui governador e deu muito certo. Agora, é óbvio que tem uma coisa mais grave do que isso. É uma espécie de dependência que nós temos sempre do confronto de São Paulo, PT e PSDB de São Paulo. Acho que isso tem feito muito mal ao país. O país está vivendo isso há 16 anos.
O senhor acha que a hegemonia paulista prejudica a nação?
É uma hegemonia de conflitos entre PT e PSDB de São Paulo que contamina o Brasil. Eu acho isso muito ruim, tanto para São Paulo quanto para o resto do país. Eu espero que isso mude e como é que isso poder mudar? Eu lamento, por exemplo, que lideranças do PSDB não tenham ajudado o governo a aprovar a CPMF. Foi um grande equívoco. Aquilo é olho por olho. Se o PT, lá trás, adotou algumas medidas quando estava fora do governo, o PSDB não precisa adotar as mesmas medidas porque está fora do governo.
O que o senhor acha que é preciso para mudar esse balcão de negócios no Congresso Nacional?
Eu não posso endossar as palavras de balcão de negócios, mas eu lamento muito que no Congresso a gente não tenha uma agenda que possa estar mais perto daquilo que o Brasil precisa. O Brasil está precisando de algumas reformas, a principal delas é a política. Uma reforma política para que a gente saia dessa pulverização de partidos, dessa situação. Um exemplo é a Câmara de Belo Horizonte. Quantos partidos tem? Deve ter uns 30 e poucos vereadores e mais de 20 partidos. Isso é uma situação difícil para quem governa e difícil para o eleitor e o Brasil está muito atrasado numa reforma política.
Qual é o investimento da Helibras?
Isso está sendo discutido ainda. Se falou de 1 bilhão de euros. Não tem. Avião e helicópteros, você tem encomenda e vai produzir. Você compra de vários fornecedores e uma empresa dessa vai ter que ter investimentos que passam de US$ 200 milhões.
Quanto custa atualmente um Super Cougar no mercado?
Depende porque esse que a gente quer produzir, a gente quer competitivo, então o preço ainda não dá para dizer.
Ele tem quantos lugares?
Esses helicópteros vão a vinte e poucos lugares com os tripulantes. Então é um helicóptero de dez toneladas.
Seria montado inicialmente militar e não civil?
Não. Helicóptero de transporte. Se ele vai para a Marinha, Aeronáutica ou Exército, ele vai armado para defesa. Não é um helicóptero de ataque. É de transporte, inclusive militar ou civil.
O Governo de Minas participaria dos investimentos?
O Governo de Minas é dono de parte da Helibras, então, quando for discutido, o que não foi ainda, tem que ser discutido com o senhor Edmond Safdié, que é um dos sócios, com o Governo de Minas, e com a EADS, aí eu não sei.
Hoje o senhor trouxe essas primeiras informações para o governador. Qual é o próximo passo?
Eu tenho falado com ele muitas vezes por telefone. Hoje eu tive uma conversa mais pessoal, de amigo, ao mesmo tempo, por conta do estágio em que o projeto está. O presidente Lula acabou de dar um sinal verde para que a gente possa construir melhor a proposta, o ministro Miguel Jorge e o ministro Jobim estão conduzindo pela parte do Governo o processo, a Helibras, com a EADS, vai conduzir a parte técnica e, se tudo der certo, pode ser que a gente faça o lançamento do helicóptero em junho aqui em Minas.
E quantas unidades poderão ser fabricadas?
Isso é parte do detalhamento.