Dieneces escreveu: Com sua devida permissão , Srta. Koslova..."com o fim da guerra fria , e a consequente redução dos gastos militares (leia-se meios aeronáuticos) entre as nações européias , a força aérea italiana só modernizará 38% dos seus caças AMX... ". Agora sim , uma manchete neutra.
Ola Dieneces.
Acho que você levantou um ponto fundamental, que é a redução das forças na Europa com o fim da guerra fria, mas me parece que neste caso da aposentadoria dos AMX da AMI existe um outro componente que é mais decisivo ainda.
Que componente seria este?
A AMI tem que perseguir uma visão moderna de força aérea, equilibrada em cima de vetores multifuncionais que se distingue em especificidades em sistemas, armamentos e treinamentos.
A AMI é guardando as devidas proporções a FAB européia.
Sua situação ao final dos anos de 1990 era de uma força desbalanceada. Ao mesmo tempo que exibia uma grande quantidade de bons vetores de ataque, com o Tornado como vetor de interdição de longo alcance e o AMX, na sua real função, ou seja, vetor de apoio aéreo aproximado, a AMI tinha como elementos de superioridade aérea, ridículos F-104 armados com mísseis Aspide.
Isto para o cenário europeu era aceitável dentro do contexto da OTAN, afinal de contas a AMI só poderia operar “ancorada” em outra força aérea que realiza-se missões de superioridade aérea, e ela de interdição tática e estratégica em proveito de uma coalizão.
Apesar de que a idéia de uma força aérea européia sempre opere em coalizão, o equilíbrio das forças áreas nunca deixou de existir.
A Espanha, tinha, e ainda tem uma força aérea muito equilibrada se comparada a Itália.
Grécia, Turquia, (inimigos históricos) também as tem, e vamos parar a comparação com a Espanha mesmo, porque se compararmos com França, Alemanha e Inglaterra, ai as coisas seriam mais vergonhosas para os italianos.
O EF-2000 era o aglutinador desta nova visão italiana, e tal qual todos vocês sabem, o seu atraso, obrigou a AMI a buscar uma solução tampão na forma dos F-16.
Com o EF-2000 agora já uma realidade, a AMI começa a buscar suas ações em nome da sua visão moderna de força aérea.
Dificilmente haverá espaço para operar caças caros como o EF-2000 e Tornado e ainda um caça barato em teoria como o AMX. A;guem teria que "sobrar".
O que representa esta decisão da AMI de aposentar quase na proporção de 2 para 1 os seus AMX?
Representa uma aceleração da sua visão de força que esta sendo perseguida a mais de uma década.
Também representa que os custos residuais de operação do AMX por mais 11 anos, vão ser muito reduzidos, porque com um elevado numero de peças de reposição na prateleira a AMI vai precisar muito pouco investimento para manutenção poucos AMX residuais.
Esta troca de valores entre a frota aposentada e a frota em serviço é o que explica porque todos não foram aposentados.
Com esta decisão de compromisso o AMX vai ficar muito mais barato de ser operado por mais uma década, formando uma defesa de segunda linha até que os números de EF-2000 estejam adequados e a AMI finalmente tenha sua visão e força completamente construída.
E no caso brasileiro?
No caso brasileiro, primeiro não existe uma visão de força mais ou menos definida.
Depois existem atrasos brutais nos programas de aquisição e modernização.
O FX esta uns 5 anos atrasado
O F-5BR esta 10 anos atrasado
O A1-M também esta cerca de 10 anos atrasado.
Quando 2/3 dos AMX da AMI estiverem aposentados, nenhum A-1M estará em serviço ainda.
A modernização do A-1, a compra de 12 caças para substituir os F-103, bem como a modernização do F-5 era uma visão de força de 10 anos atrás, ao qual somente a modernização de menos de 50% da frota de F-5 foi, 10 anos depois implementada.
Como lidar com o atraso?
Corrigindo os fatores causadores do atraso, como a assimetria dos gastos da FA’s entre custeio, pessoal e investimento.
Se envolvendo na batalha política por mais recursos e pelo cumprimento do orçamento, o que é natural em qualquer democracia.
Mas existe uma coisa que depende só da FAB, e não do executivo e legislativo e não esta sendo feita.
Que coisa seria esta?
Criar uma nova visão de força, para nortear o planejamento dentro de um horizonte factível, digamos 2020.
Se a visão de força para 2020 for ter algo próximo a 60 ou 70 aeronaves de quarta geração, padronizando a frota, e efetivamente a FAB tenha real interesse em perseguir esta visão, o que a AMI esta fazendo é bastante inspirador para a FAB.
Se a partida para esta nova visão de força, for a aquisição de 12 caças multifuncionais como a FAB tem trabalhado novamente neste caminho de 2 anos para cá, podemos se inspirar na AMI e paralelo a este processo de aquisição de novos caças, aposentar o primeiro lote de A-1, isto reduziria o custo de vida operativa dos lotes 2 e 3 até 2020.
Também poderíamos cancelar a modernização destes caças, com os cerca de US$400mi alocados a aquisição de mais células do FX.
Também poderia-se considerar que programas como o C-212 ou Mi-171 não sejam prioritários, o que daria junto com o cancelamento da modernização dos A-1 volume de dinheiro para saltar de 12 para quase 30 células a primeira encomenda do FX.
E a meta deveria ser muito clara.
Ancorar a FAB em cima dos 43 F5BR e de cerca de 37AMX de 2010 até 2020 até que os FX saiam de uma encomenda inicial de 24 a 30 unidades para algo próximo a 60 em 2020.
Isto obviamente é uma visão de força. Que não necessariamente é absoluta ou a melhor, é apenas a que eu pessoalmente considero adequada.
O que é muito perigoso e não ter visão alguma sobre qual força aérea vamos ter no futuro, porque a cada ano de atraso o buraco futuro na substituição dos caças vai estar aumentando, hoje ele já é maior do que era a 10 anos atrás e na virada da década vai ter crescido mais, e com um detalhe, o crescimento não é linear, é quase exponencial.
Modernizar o A-1 era um paradigma de 10 anos atrás, hoje a situação esta tão pior, que se não começarmos a tomar medidas mais ousadas e consistentes o buraco em 2015 vai engolir a FAB.