FCarvalho escreveu:quanto complexa se tornou essa aquisição sobre a AAe das ffaa's.
Depois eu comento os ROBs e as mudanças, mas primeiro, alguns pontos no assunto:
FCarvalho escreveu:Primeiro, é: porque nossos padrões de sistemas militares tem de ser obrigatoriamente ligados a um que nos é estranho, e mais, exógeno a nossa realidade político-estratégica e militar? No caso, OTAN/STANAG?
Eu entendo perfeitamente a preferência pelo padrão STANAG, é melhor ter algum padrão do que não ter padrão nenhum, mas, não somos membros da OTAN, não precisamos nos limitar por esse padrão, se não der, ou, se a opção STANAG se mostrar limitada podemos optar por outra, alias, nem os americanos se limitam ao padrão STANAG, por exemplo:
O F-22 usa um datalink diferente do Link16 "padrão", o motivo é que o Link16 se mostrou inadequado a operação do F-22 e eles preferiram isso a ficar sem caça stealth.
Já no caso da França, eles preferiram manter o Link16, algo que foi muito martelado no tópico do FX pelo Link16 ser inferior ao do Gripen, mas não é uma questão da França ser incapaz de criar um datalink melhor (ou mesmo que eles não conseguissem usar um datalink diferente para clientes externos), apenas que, para aquela aeronave, eles não viram vantagem suficiente para dificultar a cooperação com outros aliados.
No caso do Brasil, ninguém se importou com o Link16, qualquer um que fosse escolhido teria que ser Link-BR2.
FCarvalho escreveu:Terceiro, sabemos que os interesses - e os conceitos - sobre AAe das três ffaa's são divergentes, e as vezes, não raro, até mesmo antagônicos. Então quem teve a ideia de juntar em um ROC só toda essa diversidade, ou não conhece a sistemática de organização da nossa AAe, ou o fez de muita má fé, ou simplesmente por interesse particular sem considerar sua peculiaridades. Vindo dos políticos não é de se surpreender. Mas dos militares já se torna questionável.
Primeiro, duvido que isso tenha vindo de políticos, inclusive a mudança de ROB que comentarei depois.
Segundo, AAe é AAe, se os conceitos são tão diferentes assim então temos um problema grave dentro das FAs, se todas falassem a mesma lingua os conceitos deveriam ser bem próximos, então, juntar tudo em um ROB só eu não vejo como um problema, mas como uma ação lógica de um estrategista militar, o ideal é que todas usassem os mesmos sistema, apenas adaptado as peculiaridades quando houver (e há, por exemplo, o EB precisa de um sistema AAe para proteger forças em movimento, quer dizer, algo capaz de atacar em algo do tamanho de um caminhão em movimento), isso é um objetivo em qualquer lugar do mundo.
FCarvalho escreveu:Quarto, o conceito e organização do SISDABRA deve ser revisto antes mesmo de alguém por aqui pensar em adquirir qualquer sistema AAe, já que a doutrina AAe no Brasil é, a meu ver, totalmente obsoleta e muito longe da realidade atual. Mas isso é algo como que mexer com um vespeiro, pois aparentemente nenhuma das forças abre um milímetro sequer das suas posições. Exemplo: a FAB não admite que o EB opere AAe acima dos 3 mil metros de altura sem estar sobre o controle dela mesma.
![Shocked :shock:](./images/smilies/icon_eek.gif)
E a desculpa é evitar fraticidio. Bem, será que alguém no comando da FAB já ouviu falar em IFF? Para não falar em outros sistemas de NCW que colaboram para evitar, também, este tipo de coisa? Não me consta que outros países em que seus exércitos utilizem sistemas AAe's de longa distância o façam sob controle de suas forças aéreas, mas se muito, em coordenação. Como aqui cada força só sabe pensar o mundo e a sua missão dentro do seu quadrado, algo como o conceito de NCW dificilmente vingará tão cedo no país, porque o mais provável de acontecer é que cada força queira fazer o seu próprio sistema, e que as demais que se virem para adaptarem-se. Isto é típico de forças armadas muito mais preocupadas com 'burrocracia' do que com operacionalidade.
Bem, pelo que parece a ideia de como evitar fracticídios é não prover armas anti-tanque para a FAB e nem para a MB de forma que essas não possam destruir carros de combate do EB, não prover mísseis anti-aéreos ao EB e a MB de forma que essas não possam destruir caças da FAB e não prover mísseis anti-navio à FAB e ao EB de forma que essas não possam destruir os navios da MB. Pena que também não consigam destruir equipamento inimigo...
A doutrina AAe é inexistente, é uma das muitas coisas que precisam ser revistas, e nem considero que seja a maior prioridade, mas, a aparente vontade de alguns oficiais de não mudar nada me preocupa.
FCarvalho escreveu:Isto dito, sexto e último, a defesa AAe brasileira é atualmente é divida em 3 camadas, quais sejam, a baixa, média e alta. Devemos nos questionar o seguinte:
Para começar, com base no que essa é a divisão ideal?
Se é para atualizar a defesa AAe brasileira, o primeiro passo seria revisar essa questão.
FCarvalho escreveu:1. para a baixa altura podemos utilizar Manpads comuns a todas as 3 ffaa's? Na minha visão sim, pois todas elas tem basicamente as mesmas necessidades neste campo. Neste sentido, primeiro, qual/quais sistemas existente no mercado melhor se adaptam as nossas necessidades neste aspecto, e segundo, é possível e/ou conveniente a produção sob licença ou o desenvolvimento autóctone é a melhor saída, ainda que baseado em um modelo importado? Notar que Manpads são sistemas muito barato de operar e manter, e via de regra são utilizados/comprados ao milhares. Isso deve ser levado em conta.
Engraçado, aqui é justamente onde vejo uma peculiaridade
Manpads (digo, "man" no singular, não aqueles troços que precisam de 3 homens para carregar e 1 minuto para montar) são necessários para tropas leves, e, basicamente, apenas para elas, as outras tropas conseguem se virar com sistemas menos portáveis, mas mais capazes.
FCarvalho escreveu:2. para a média altura, ou seja, o que fica entre 3 e 15 mil metros de altura na nossa doutrina atual, faze-se as mesmas perguntas para os sistemas manpads. Só que aqui com uma diferença. Cada força tem uma necessidade específica nesta seara. O EB e a FAB tem necessidade de defender estruturas civis e militares fíxas e móveis, cada uma dentro dos seus ambientes, enquanto a MB naturalmente pensa este tipo de sistema em relação exclusivamente a seus navios. Pontualmente ela também tem de investir no CFN como operador secundário deste tipo de sistema. Então, tal como vejo, aqui é o único ponto de encontro que temos em termos de pensamento da AAe nacional: precisamos de uma família de mísseis que possam cobrir esta área. Aqui não vejo outra solução mais propícia do que desenvolver em colaboração com outros países uma família de mísseis AAe que possam ser utilizados pelas 3 forças. Qual a viabilidade e os custos deveria ser o objetivo primário deste estudo, tendo em vista que tal sistema deve poder abater desde munições guiadas a aviões e Vant's, podendo ser utilizado tanto sobre veículos bldos, caminhões, navios ou postos fixos. O Pantsyr e o Unkhonto são dois exemplos do que poderia ser aproveitado neste aspecto.
Se o objetivo é abatar munições então mísseis caros como o Unkhonto já não servem.
E em relação a parcerias de desenvolvimento... Sinceramente acho que deveriam olhar para dentro de casa primeiro, tem pouca lógica a FAB fazer uma parceria, depois o EB outra, depois a MB outra, etc, a parceiria deveria começar dentro de casa, quer dizer, FAB+EB+MB para consolidar os programas de mísseis que, no momento, com ou sem parceria (e há um monte delas!) não renderam nada.
FCarvalho escreveu:3. a defesa de longo alcance é um capítulo a parte dessa história, pois jamais em tempo algum operamos tal tipo de sistema. E com o adendo que hoje a nossa organização tal como está, faria com que apenas a FAB pudesse controlar efetivamente o seu uso e operação. Daí que se EB e MB resolvessem utilizar esse tipo de míssil, teriam que subordinar-se ao controle da FAB, algo inadmissível para artilheiros e qualquer capital de navio. Então o que fazer? Bem, como disse no início deste post, antes de qualquer coisa, é preciso mudar a atual forma de organizar a defesa AAe brasileira, desde os manuais, doutrina e conceitos até os sistemas operacionais. Mas isso é um trabalho para o qual o MD dificilmente se dará o trabalho de comprar a briga.
É comum ao redor do mundo a defesa de longo alcance ficar a carga da força aérea (e da marinha, caso sobre o oceano), não vejo problema nenhum nisso, acho que a discussão fica mais em torno de sistemas de defesa voltados a abater munições, onde o controle já tende a ser descentralizado e que é um tema relativamente novo.