FAB prende por 15 dias líder dos controladores de vôo do motim de março de 2007
Publicada em 12/05/2008 às 22h47m
Alan Gripp - O Globo
BRASÍLIA - Foi preso nesta segunda-feira, em Brasília, o controlador de vôo Moisés Almeida, de 41 anos, acusado pela Força Aérea Brasileira (FAB) de ser um dos líderes da "
insurgência" dos controladores durante o período do apagão aéreo. Ele cumprirá 15 dias de pena administrativa.
Moisés é um dos 14 controladores que participaram do inédito motim que, em março do ano passado, desafiou o comando da Aeronáutica. Mas oficialmente está sendo punido por ter publicado em sua página no site de relacionamento Orkut dois textos, que, segundo o comando da FAB, incitavam os demais controladores a se insubordinarem.
O controlador, que é vice-presidente da Federação Brasileira das Associações de Controle de Tráfego Aéreo (Febracta), já foi preso, em junho de 2007, quando deu uma entrevista à radio CBN relatando problemas no controle aéreo que contestavam declarações do comandantes da Aeronáutica, Juniti Saito.
Horas antes de começar a cumprir pena administrativa de 15 dias, Moisés denunciou, em entrevista ao 'Globo', que as falhas do controle aéreo mantêm os riscos de acidentes em níveis alarmantes.
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Respeito a decisão do comando, eles podem fazer o que quiserem, mas nunca vamos nos calar diante da verdade. O sistema tem muitos problemas e os índices de acidentes e incidentes, como as quase colisões, são absurdos - disse Almeida, por telefone.
Almeida disse que ele e seus colegas não se calarão diante das punições, que, acreditam, virão em série. Domingo à tarde, o controlador reuniu a mulher e os filhos, de 9 e 15 anos, para contar à família que seria preso - punição que lhe foi comunicada na última quarta-feira. Nas próximas duas semanas, ficará confinado em um quarto de alojamento na unidade militar, equipado com uma cama, um ventilador e uma TV, e vigiado 24 horas por dois soldados:
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Disse a eles que eu seria preso, mas pedi aos meus filhos que tivessem orgulho do pai, porque é pelo motivo correto.
O advogado da Federação Brasileira dos Controladores, Roberto Sobral, acusa o comando da FAB de tentar expurgar o grupo que questionou a alta cúpula da Força Aérea e enterrar, de vez, o movimento pela desmilitarização da carreira. Ele pedirá nesta semana a abertura de uma ação no Supremo Tribunal Federal (STF) contra a FAB, na qual promete anexar registros de pelo menos 20 incidentes graves registrados recentemente nos céus do país.
De acordo com controladores ouvidos pelo 'Globo', os problemas detectados na crise aérea continuam. Uma das falhas relatadas seria na comunicação entre aeronaves e no controle aéreo sobre partes do Nordeste e da Amazônia, as chamadas zonas mudas. Na Amazônia, dizem eles, persistem ainda as zonas cegas - pontos em que as imagens não são recebidas pelos radares de Brasília. Um desses pontos seria o mesmo em que o Boeing da Gol se chocou com o jatinho Legacy e caiu em Mato Grosso, matando 154 pessoas, em setembro de 2006. A falta de controladores com experiência também é apontada como um problema.
Fonte: http://oglobo.globo.com/pais/mat/2008/0 ... 351797.asp