Estas afirmações “O Chile compra de prateira e os brasileiros não”, “O Brasil tem indústria de defesa e o Chile não”, “O modelo chileno é totalmente dependente do exterior e o brasileiro parcialmente” são recorrentes nestes fóruns de discussão.
Antes de tudo, temos que analisar dois números. O PIB chileno é de US$ 244 bi (2009) algo pouco abaixo ao do estado de Minas Gerais em 2009 que foi de US$ US$ 287 bi. O PIB chileno é 7,73% do Brasileiro (novamente, dados de 2009).
Vamos nos ater na comparação absolutas de PIB´s (nas comparação proporcionais o Brasil perderia) e deixar claro uma coisa. A ECONOMIA CHILENA E A BRASILEIRA ESTÃO EM ORDENS DE GRANDEZA DISTINTAS.
E mesmo assim teimosamente gostamos de denegrir as FA´s e industria de defesa chilena. Só vejo uma explicação que não certa pontinha de inveja do ótimo trabalho que este país faz no campo de defesa.
Primeiro mito. O Chile não tem indústria de defesa.
Vou me ater somente a área de guerra eletrônica (onde o Brasil é extremamente carente).
http://www.dts.cl/defensa/mandoycontrol.htm
http://www.linktronic.com/
Existe ai uma lista razoável de itens de Radares, sistemas ELINT, MAGE, RWR, sistemas C3I. Uma razoável parte deles sem similar brasileiro.
Em UAV o Chile na pior das hipóteses esta no mesmo estagio que o Brasil, ambos tem uma série de projetos de UAV menos complexos e importam UAV de maior porte.
Em itens menos sofisticados como munições, armas pessoais, itens de consumo freqüente, ambos os países tem indústrias nacionais que suprem perfeitamente as necessidades domésticas.
Resumo: A indústria de defesa brasileira é maior que a chilena, porem a indústria chilena não pode ser desprezada como é o senso comum por aqui.
Segundo mito. O Chile compra de prateira.
O programa P-3BR é uma compra puramente de prateira, o programa P-3CH incorpora itens locais como o sistema de combate, MAGE, e Data link nacionais. Se a comparação for P-3BR x P-3CH o programa de prateira é o brasileiro.
Comparando outros programas similares. O F-5BR e o F-5 Tiger III. Ambos os programas incorporam tecnologias chaves de contratante estrangeiras (Elbit + Fiar no Brasil e ELTA no Chile). Os trabalhos de revitalização das células foram feitos em solo nacional. O que talvez dê uma “roupagem” de programa com participação nacional do F-5BR é que a AEL foi comprada pela ELBIT e a contratante foi a Embraer, mas na sua essência ambos os caças são a mesma coisa. Um caça americano atualizado com tecnologia israelense.
Mas e analise de “aeroeslaticidade que o CTA realizou?” Sem duvida um belo trabalho, porem que garantia existe de que o mesmo trabalho não possa ser realizado no Chile ou Argentina que alem do Brasil são os únicos países que tem formação de engenheiros aeronáuticos no continente?
Na verdade tanto Brasil quando os Chile realizam o grosso de suas compras de itens de prateleira. No Brasil a tendência de compras tem sido a “transferência de tecnologia”, alguns enxergam nela uma possível vantagem técnica e operacional, outros enxergam um simples superfaturamento.
Terceiro mito. A indústria militar brasileira a torna mais independente de fornecedores externos que a chilena.
Vamos pegar o produto aeronáutico de emprego militar mais sofisticado que produzimos. O R-99A e R-99B e o A-29.
Vamos comparar com seus equivalentes na FACH, que são o CONDOR e a versão chilena do Super Tucano.
Os AEW de ambos os países são equipados com radares importados (Israel e Suécia), são equipados com turbinas importadas (EUA e Reino Unido), voam com aviônica americana e por ai vai.
Sobre o critério de dependência externa o Condor e o R-99 são igualmente vulnerável, mesmo que a célula do R-99 seja brasileira.
Mesmo que o Super Tucano seja fabricado pela Embraer ele voa com motor americano, aviônica israelense, assento britânico e por ai vai. No caso de interrupção de fornecimento de sobressalentes em um conflito a FAB e FACH na pratica teriam as mesmas dificuldades de manter seus aviões voando.
Embora no futuro o domínio de engenharia permita por exemplo a FAB trocar uma turbina americana por uma russa e manter seus A-29 voando em um eventual boicote, países sem domínio de engenharia do produto também pode fazerem a mesma coisa, ta ai o Irã com seus F-14, F-4 e F-5 para ilustrar que modificar produtos não é privilegio apenas de quem os projeta.
Outro tipo de comentário preconceituoso sobre a indústria chilena tem sido em relação a empresas como ENAER ter mantido parte de seu faturamento em contratos de manutenção de aviões da FACH e não em vendas de aviões novos. Na industria naval chilena também há cenários parecidos.
Embora não seja tão glamoroso realizar um “cheque D” de um P-3 do que produzir um KC-390, a aproximação da indústria com aspectos de manutenção da frota, nacionalização de itens de consumo freqüentes e pequenas modificações de projetos estrangeiros é tão o mais importante SOB O ASPECTO OPERACIONAL E DE REDUÇÃO DA DEPENDÊNCIA externa do que a fabricação de células.
É um modelo que se adapta a realidade local muitíssimo bem, em Israel, empresas como IAI e ELBIT também faturam de forma expressiva com manutenção e aluguel de aeronaves para a IAF.
Eu não quero com isto defender o Chile, tão pouco dizer que eles são melhores que o Brasil em defesa, quero apenas equilibrar as coisas. Para um país cuja economia é 13 vezes menor do que a Brasileira eles fazem muito bem o seu trabalho, muito melhor do que o Brasil em termos proporcionais.
Para o pessoal do “Brasil potencia” aquela turminha que sonha com o A-12 e o AF-1 “projetando poder sobre a áfrica”, que sonha com o Rafale e um caça nacional fabricado pela EMBRAER com a “transferência de tecnologia” francesa.
Sugiro o seguinte, segue abaixo o ranking das 12 maiores economias do mundo, dá qual o Brasil é a sexta.
Comparem as FA´s brasileiras com a destes países. A FAB com a RAF, a MB com a Marinha da Espanha, o EB com o exercito Frances, o programa espacial da Índia com o do Brasil.
Ai tirem suas conclusões sobre nossa “industria de defesa”, “nossa prontidão operacional”, “nossa independência tecnológica”.
Deixe o Chile e a sua economia menor do que a de Minas Gerais em paz.
1 Estados Unidos 15 094 025
2 China 7 298 147
3 Japão 5 869 471
4 Alemanha 3 577 031
5 França 2 776 324
6 Brasil 2 492 908
7 Reino Unido 2 417 570
8 Itália 2 198 730
9 Rússia 1 850 401
10 Canadá 1 736 869
11 Índia 1 676 143
12 Espanha 1 493 513
Meus sinceros parabéns pelo profissionalismo das FA´s chilenas.