DEFESANET
Com a inclinação da FAB pelo Gripen NG para reequipar sua frota de caças, Lula ganhou um belo nó para desatar em meio à crise decorrente da tentativa do governo federal de colocar militares no banco dos réus por conta de crimes ocorridos durante a ditadura.
Isso não significa que a escolha pró-Suécia tenha algo a ver com a iniciativa. A decisão é um processo de um ano inteiro. Mas o "timing" é explosivo, por colocar em rota de colisão frontal vontades civis e militares num momento de confronto.
Mas se Lula vai pagar a conta, a culpa é só dele. A sucessão de trapalhadas a partir do anúncio antecipado, sem ouvir a FAB, da vitória do Rafale durante a visita do francês Nicolas Sarkozy no 7 de Setembro passado colocou o governo numa sinuca de bico.
A cada declaração de Lula ou Nelson Jobim (Defesa) sobre a preferência pelo caro modelo da Dassault, ficava mais evidente o problema político caso a FAB decidisse optar tecnicamente pelo Gripen ou pelo F-18. Antecipando-se, Jobim pediu à FAB para evitar fazer um ranking dos aviões.
"Há preferência, não há dúvida nenhuma, e já foi manifestada pelo presidente, para o prosseguimento dos entendimentos que temos com a França"
NELSON JOBIM
ministro da Defesa, em 24 de nov. 2009
"O presidente Lula anunciou a decisão da parte brasileira de entrar em negociações com o Rafale para a aquisição de 36 aviões"
NOTA DE LULA E SARKOZY
divulgada em 7.set.09
O governo tentou convencer o público de que tal pressão favoreceria uma redução no preço do Rafale, como numa negociação sindical. Mas não se baixa o preço de um caça significativamente, até porque ele não é construído pelos governos, e sim por empresas. E nisso, o custo, a Saab sueca sempre esteve à frente com um avião menor e monomotor.
Agora, o ônus de uma opção francesa será de Lula e Jobim. A alegação está pronta: o Rafale não foi descartado, tanto que foi finalista do processo, e sua escolha respeitaria a opção estratégica do Brasil pela França como parceira militar -referendada no acordo de 2009.
Mas será difícil para os militares engolirem. E até aqui fóruns como o Congresso e o TCU não foram devidamente acionados, e o serão sobre um negócio que pode passar dos R$ 10 bilhões. O fato de um Rafale custar o dobro de um Gripen, embora sejam aeronaves com características operacionais e de produção distintas, certamente chamará atenção.
A decisão, contudo, é soberana de Lula por tratar-se de assunto de segurança nacional. Jobim chegou a levantar eventuais questionamentos jurídicos na época do anúncio precipitado, mas ele na verdade se referia à hipótese de algum concorrente querer reapresentar sua proposta após a escolha final, algo especulado por um competidor da primeira disputa dos caças, o F-X.
Na prática, a escolha é final. Politicamente, contudo, ela pode ser revista no futuro, e o governo Lula acaba neste ano.
Todo esse cenário conflituoso lembra o que antecedeu o fim, por outro motivos, do F-X -adiado em 2002 por FHC e enterrado por Lula. Como naquela ocasião, a combinação fim de governo e diversas variáveis em choque favorece uma postergação. É tudo o que temem militares e concorrentes.