SEGUNDA GUERRA MUNDIAL
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- Ogun K-9
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Re: SEGUNDA GUERRA MUNDIAL
Link para o documentario Patton 360º do histoty channel....detalhe não possui legendas..mas é um excelente documentário,como todos do HC.
EP.1 - Blood & Guts (North Africa, November - December 1942)
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EP.2 - Rommel's Last Stand (North Africa, February - May 1943)
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EP.3 - Baptism of Blood
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EP.4 -
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NÃO DISPONÍVEL
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EP.5 - American Blitzkrieg
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EP.6 - Leading the Charge
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EP.7 - On Hitlers Doorstep
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EP.8 - Siege Warfare
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EP.9 - Battle of the Bulge
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EP.10 - Crushing the Third Reich
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http://d01.megashares.com/?d01=54af0a7
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EP.4 -
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NÃO DISPONÍVEL
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EP.10 - Crushing the Third Reich
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Nascido de alma caudilha- nem por isso menos franca -Deus te deu essa cor branca que até de noite rebrilha.Lua do herói na coxilha,por onde eu for, onde eu ande e sem que ninguém me mande eu te canto, troféu mudo que é puro neste Rio Grande!
- Ogun K-9
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Re: SEGUNDA GUERRA MUNDIAL
Bir Hakeim
Um brasileiro na Legião Estrangeira narra a luta
Deslocamo-nos de Beirute embarcados em caminhões que seguiram em comboio com destino à Líbia, passando pelo Cairo e por Alexandria. Prosseguimos a viagem por uma estrada asfaltada denominada Via Balbia, construída pelos italianos, e que percorria toda a extensão das costas da Cirenaica e da Líbia, numa distância de 935 milhas até o Egito. Ao cruzar a fronteira egípcia, começamos a encontrar os destroços dos combates que ali se travaram. Eram caminhões e carros de combate destruídos, campos minados, trincheiras, e cercas de arame farpado.
Tínhamos percorrido alguns quilômetros quando fomos atacados por uma formação aérea alemã. Após circular sobre nós uma vez, abriu fogo e nos metralhou. Recebemos ordens para pular dos caminhões e abrigar-nos.
Corremos para os lados da estrada, deitamos no saibro, protegidos por arbustos de meio metro de altura – único abrigo possível. Os aviões que nos atacavam eram Stukas e não perderam tempo. Dando a volta, vieram pela frente do comboio cuspindo fogo e, desta vez, acertaram dois caminhões que explodiram e se incendiaram. Mais uma vez deram a volta e vieram por trás. Para nossa surpresa, porém, apenas sobrevoaram o comboio em vôo rasante e foram embora. Possivelmente estavam sem munição.
Passado o susto, levantamos e corremos a verificar se algum companheiro tinha sido ferido. Felizmente, não. Os dois caminhões queimavam intensamente e as munições e granadas que carregavam explodiam sem cessar, impedindo que alguém se aproximasse para tentar salvar a carga. Afastado o perigo, limpamos a estrada e prosseguimos a viagem. Estávamos chegando à frente de combate e, nesse momento, diante do ataque que acabáramos de sofrer, sentíamos uma grande sensação de impotência – não pudéramos fazer nada para nos defender.
Quando ocupamos a área que nos coubera na costa, a linha de frente – se era possível assim chamá-la – denominada Linha Gazala, continuava em poder das forças aliadas. Tobruk estava agora ocupada por forças sul-africanas. Sidi rezegh, Belamed, El Aden e Gambut, por forças aliadas e Bir Hakeim, pelos franceses livres. Todas essas localidades eram cercadas por grandes áreas de campos minados, que formavam, no lado dos aliados, a linha de frente.
(...)
A Linha Gazala estendia-se da costa, através do deserto, até Bir Hakeim, resguardada por uma extensa e profunda barreira de minas espalhadas em várias áreas, que protegia uma cadeia de redutos providos de alambrados de arame farpado, trincheiras e casamata. Era defendida por infantaria e blindados das forças britânicas. No reduto de Bir Hakeim, eram responsáveis pela defesa as Forças Francesas Livres, comandadas pelo General Koenig. A 2ª Divisão sul-africanan e a 5ª hindu ocupavam Tobruk. Na retaguarda, o General Ritchie concentrou o grosso de suas forças blindadas, integradas pelas 1ª e 7ª divisões blindadas.
(...)
O reduto de Bir Hakeim era defendido pela 13ª Meia Brigada da França Livre, comandada pelo General Koenig, que estava assim constituída: dois batalhões da Legião Estrangeira, sob o comando do Tenente-Coronel Amilakvari – um dos batalhões sob o comando do Capitão Babonneau e o outro, do chefe de Batalhão Puchoi; um batalhão de fuzileiros de Marinha, comandado pelo Capítão-de-Corveta Amyot D’Inville; o 1º Regimento de Artilharia do Comandante Laurent Champrosay; um corpo de Engenharia, comandado pelo Capitão Desmaisons; um grupo antitanque, comandado pelo Capitão Jacqoin, a Meia Brigada Colonial, comandada pelo Tenente-Coronel de Roux; o 1º de Infantaria de Marinha, do Comandante Savey; a 22º Companhia norte-africana, comandada pelo Capitão Lequesne – 3.600 homens vindos de todos os horizontes.
Além de Bir Hakeim, o patrulhamento era feito pela 3ª Brigada Motorizada indiana. Ainda além, comandos perambulavam pelo deserto. Parte da brigada indiana, num encontro com forças italianas, depois de combater bravamente, fora aprisionada. Em seguida, seus homens foram libertados e abandonados à própria sorte no deserto, sem equipamentos e sem água. Alguns não resistiram ao sofrimento e morreram. Outros, conseguiram alcançar o reduto onde estavam os franceses livres e juraram se vingar cortando o nariz dos italianos que encontrassem.
Os combates travados pelos franceses livres na defesa do reduto de Bir Hakeim e as batalhas em toda a extensão da Linha Gazala foram violentos, cruéis, destruidores.
A ofensiva de Rommel começou ao amanhecer do dia 26 de maio, com ataques aéreos aos aeródromos britânicos de Gambut e El Arid. À tarde, o Gruppe Cruewell iniciou sua ruidosa demonstração contra a frente da linha Gazala, auxiliado por elementos da principal força de ataque, visando a desorientar os britânicos quanto à direção do próximo ataque. A dissimulação teve sucesso apenas parcial, pois as patrulhas da 7ª Brigada Motorizada britânica já haviam informado a concentração de blindados alemães em torno da Rotonda Segnali. Às 20h30 min, o código “Venezia” foi transmitido aos aparelhos receptores alemães e o Panzerarmee Afrika avançou dentro da noite.
Em Bir Hakeim, o dia 26 de maio começara como todos os outros. O General de Larminat, comandante das Forças Francesas Livres no Deserto Ocidental, visitara a guarnição no dia anterior. Uma coluna comandada pelo Major Amiel operava bem à frente, sob as ordens da 7ª Brigada Motorizada. No começo da noite, Amiel comunicou o maciço movimento de blindados em torno da Rotonda Segnali. Ao anoitecer, uma avalanche de mensagens pelo rádio confirmava a informação de Amiel. Quando os Panzer se aproximaram, o destacamento francês recuou. (...)
Às 4h de 27 de maio, elementos da patrulha de Amiel recuaram para o interior do perímetro defensivo, trazendo a notícia de que forças leves alemães estavam próximas do extremo sul do campo minado. Pouco depois, as linhas terrestres de ligação com a 7ª Divisão Blindada e com o escalão de retaguarda francês ficaram mudas. O pessoal de comunicações que saiu para examinar os fios foi alvo de disparos. Às 7h30min, Koenig recebeu uma mensagem radiofônica da 7ª Divisão Blindada britânica, anunciando que a batalha começara e que a 4ª Brigada Blindada estava prestes a contra-atacar.
(...)
A brigada [britânica] foi vencida por volta das 6h30 min, após luta feroz mas tristemente desigual. (...)
As forças francesas livres, a postos desde o clarear do dia, aguardavam o ataque. Por volta das 8h, numerosos veículos apareceram ao sul da posição De início pensou-se que se tratava da 4a Brigada Blindada britânica, mas logo o engano se desfez, pois os veículos se desviaram e avançaram em formação de ataque. Eram os tanques M13/40 italianos da divisão Aríete. A primeira leva, integrada por cerca de 50 tanques, atacou a defesa sul às 9h. O ataque italiano foi desfechado com louvável ostentação, e embora as minas e os canhões antitanques tenham cobrado pesado tributo, seis tanques conseguiram entrar na posição e atracaram um posto de comando da legião. O Capitão Otte continuou dando ordens pelo telefone até que um tanque, colocando-se a uns 15 metros de distância, disparou uma granada contra o topo do seu abrigo. Otte queimou o galhardete de sua companhia para evitar que caísse em poder do inimigo. Preocupação prematura, pois alguns tanques inimigos foram liquidados pelos 75 mm, que atiravam a pequena distância; os fuzileiros da marinha também entraram na refrega com os seus Bofors. Os valentes legionários eliminaram os restantes, subindo com decisão por sobre eles e disparando através das fendas de observação dos carros.
Um segundo ataque, desta vez feito por 30 tanques, teve ainda menos êxito. Pouco depois das 10h os italianos se retiraram, tendo perdido 30 tanques, sete deles destruídos por um 75 guarnecido por legionários. Mais de sessenta homens foram aprisionados, entre os quais o coronel-comandante do 132º Regimento Blindado italiano. Esse oficial, embora ferido, mudara de tanque três vezes em virtude da destruição dos anteriormente ocupados por ele. Entre os franceses, somente um ficou ferido. Alguns suprimentos muito úteis foram retirados dos veículos italianos que, a julgar pelo que fora apanhando, eram bem abastecidos; traziam cobertores, presunto, conservas e água-de-colônia.
O ataque da Divisão Aríete, embora desfechado com determinação, fora firmemente repelido; Bir Hakeim não tornou a ser atacado naquele dia. À tarde, a chegada de uma mensagem provocou certa hilaridade. Nela, o coronel britânico que devia ter supervisionado os exercícios dos fuzileiros da marinha com os canhões Bofors lamentava que, devido à situação tática, não poderia realizar o planejado exame.
Houve várias pequenas ações, com patrulhas, na noite de 27 para 28 de maio, mais alguns italianos foram aprisionados. Na manhã do dia 28 houve muita atividade ao sul, onde os aviões da RAF mergulhavam seguidamente sobre as colunas alemãs. Por volta das 10h, o destacamento do Capitão Lamaze, da Legião, que cobria o campo minado norte, deu combate a vários carros blindados italianos a noroeste. Dois desses veículos foram atingidos pelo 75 mm e quatro penetraram no campo minado, onde logo explodiram.
À tarde, a Luftwaffe fez a primeira das suas freqüentes aparições. O Batalhão do Pacífico sofreu seriamente com os bombardeios, mas os fuzileiros da Marinha mostraram sua habilidade com Bofors, derrubando um dos aviões atacantes em meio a espessa cortina de fumaça. Um comboio de abastecimento chegou durante a noite, trazendo 40 toneladas de munição para os 75 mm. Aconteceram outras escaramuças durante a noite de 28 para 29 de maio, e mais italianos foram aprisionados pelos franceses. Durante todo o dia seguinte, o troar insistente das peças de artilharia foi ouvido ao norte, onde ocorria violenta batalha de blindados em torno de Knightsbridge. Rommel continou avançando para o norte durante todo o dia 28.
(...)
Para não perecer, o Afrika Korps precisava sair do anel de ferro em que se achava. Portanto, Rommel se concentrou no golpe contra a 150ª Brigada [inglesa], deixando um anteparo de canhões antitanque, bem temperado com morteiros 88 mm, para deter o restante do VIII Exército Britânico.
Enquanto os blindados alemães se agrupavam no “caldeirão”, as coisas corriam relativamente tranqüilas em Bir Hakein. Os comboios que passavam ao alcance da posição eram sempre atacados e patrulhas saíam à noite para desorganizar o sistema de abastecimento do Eixo.
Houve alguma infiltração inimiga pelo campo minado, ao norte; o destacamento do Capitão Lamaze foi bombardeado fortemente e recuou, temporariamente, para o principal perímetro defensivo.
Em 29 de maio, avolumando-se o número de prisioneiros de guerra, foi improvisada uma cerca para conte-los, e Koenig, elegantemente, desculpou-se com os oficiais capturados por não lhes poder oferecer acomodações mais confortáveis.
No dia seguinte, as patrulhas informaram que em torno de Bir Hakeim a área se encontrava livre de inimigos. Entretanto, eram visíveis os veículos agrupando-se a noroeste, esperando para atravessar o campo minado a fim de reabastecer os blindados de Rommel no “caldeirão”. Koenig intensificou o trabalho de patrulha, mandando também uma bateria de 75 mm juntar-se ao destacamento de Lamaze, para melhor cobrir o campo minado do norte.
No domingo, 31 de maio, não houve sinal de atividade do Eixo em torno de Bir Hakeim. O quartel-general do comando britânico, que repetidamente salientava a Koenig a importância de cobrir o campo minado, apesar de se mostrar satisfeito com o resultado da luta até então, preocupava-se com as brechas ainda existentes. Os tenentes-coronéis Amilakvari e Roux conduziam colunas motorizadas da Legião para hostilizar as forças inimigas através dessas brechas. A patrulha do primeiro obteve êxito considerável, destruindo vários tanques, mas sofreu violento contra-ataque, que causou baixas entre os legionários.
Um grande comboio de abastecimento chegou na noite de 31 de maio para 1º de junho. Com ele, veio o General Laminat, que se congratulou com Koenig e suas tropas, referindo-se elogiosamente ao moral da guarnição. O comboio partiu mais tarde, naquela mesma noite, levando 600 indianos, 170 prisioneiros e vários feridos franceses e do Eixo. Foi, entretanto, atacado no caminho. Granadas de 88 mm caíram alarmantemente perto dos caminhões que transportavam os prisioneiros.
Mensagens de rádio do comando britânico avisavam a Koenig que estivesse preparado para avançar. Assim, o escalão de retaguarda foi concentrado em Bir bu Maafes e a brigada preparou-se para sair.
Em 1º de junho, de junho, de manhã cedo, Koenig recebeu ordem de avançar. Os detalhes do movimento foram incluídos na Ordem de Operações nº 11 de Koenig. O Batalhão do Pacífico lideraria a brigada no avanço, e a coluna do Tenente-Coronel Broche, acompanhada por destacamentos de artilharia antiaérea e antitanque, partiu de Bir Hakeim às 9 h. O restante da brigada preparava-se para acompanhá-la quando chegou uma ordem do comando britânico cancelando qualquer avanço adicional.
A coluna de Broche prosseguiu para oeste e, após destruir um tanque e derrubar quatro aviões, chegou a El Telim ao anoitecer. Durante todo o dia, tanto o batalhão em avanço como a posição principal de defesa em Bir Hakeim foram submetidos a freqüentes ataques aéreos. Doze veículos, inclusive um caminhão de água, um caminhão-tanque de combustível e um caminhão de combate antiaéreo foram destruídos.
Os Stukas, terríveis bombardeiros de mergulho, atiravam-se assustadoramente ao ataque, lançando bombas que levantavam no ar espessa cortina de areia. Apesar de tudo, os fuzileiros da Marinha guarneciam seus Bofors com determinação, e derrubaram quatro Stukas nesse dia. O consumo de munição dos Bofors era qualquer coisa de extravagante. Mil cartuchos haviam chegado com a coluna de abastecimento na noite de 1º de junho, com a promessa de mais. Koenig decidira não descarregar os suprimentos. Um avanço ainda parecia provável, de modo que manteve os veículos à mão, mandando-os acampar mais ao norte, a fim de diminuir o perigo de ataque aéreo.
Na manhã de 2 de junho, Koenig pensou em ir ao quartel-general da 7ª Divisão Blindada a fim de obter informações sobre a batalha. Mas, reconsiderando a decisão, decidiu permanecer em Bir Hakeim, enviando o capitão Tomkins em seu lugar. A decisão de Koenig fora sensata. Tomkins encontrou uma patrulha alemã e foi capturado. Eram muito vagas as notícias sobre o progresso da coluna de Broche, pois o rádio do coronel funcionava mal, embora as demais ligações funcionassem perfeitamente. As mensagens de Broche eram desesperadamente truncadas e só com dificuldade a coluna era contatada.
Pouco depois do amanhecer, o Capitão Lamaze comunicou a presença de numerosos veículos ao norte. Koenig perguntou se ele estava certo de que os veículos eram hostís. Depois de alguma hesitação, seguida do comentário de que havia 50 tanques e 100 outros veículos à vista, ele respondeu que o seu destacamento já estava sendo alvo do ataque dos carros avistados.
Uma mensagem frenética foi enviada ao comboio, acampado fora do perímetro, e os caminhões se dispersaram, perseguidos por explosões de granadas. Nessa época, era normal que a posição, de manhã cedo, fosse envolvida por denso nevoeiro, e o dia 2 de junho não foi exceção. Protegidos por esse nevoeiro, um destacamento de infantaria da Marinha, comandado pelo Capitão Laborde, juntamente com a 22ª Companhia norte-africana, e uma bateria de canhões de 75 mm tomaram o setor desocupado pelo Batalhão do Pacífico. O esperado ataque não se concretizou. Em vez disso, dois oficiais italianos apresentaram-se aos postos avançados da Legião, trazendo uma bandeira branca. O Capitão de Sairgnè conduziu os italianos, de olhos vendados, ao posto de comando de Koenig. Os dois oficiais o cumprimentaram e o mais graduado começou a falar em italiano. Como nem Koenig nem o Tenente-Coronel Masson, chefe de seu estado-maior, entendiam este idioma, tudo quanto lhes foi dito pelo general italiano ficou no ar. Não obstante, pelo que puderam perceber, parecia que o comando do Eixo os aconselhava a render-se para evitar derramamento de sangue.
- Senhores! – respondeu Koenig. Levem a seus superiores nosso reconhecimento pela atitude tomada, mas digam-lhes que não haverá rendição.
Os italianos esforçaram-se, inutilmente, para convencer Koenig a mudar de idéia. Foram conduzidos para fora do perímetro e retornaram às suas linhas. Após a saída dos emissários italianos, Koenig enviou uma mensagem pelo rádio ao Batalhão do Pacífico para que retornasse, mandando também Lamaze “voltar imediatamente, há trabalho para você aqui”. Outra mensagem foi enviada ao esquadrão de retaguarda da brigada em Bir bu Maafes, proibindo-o de avançar. O General Koenig comunicou a seus comandantes de unidade que um ataque era iminente, e disse: “O General Rommel pediu que nos rendêssemos e nos ameaçou de extermínio. Recusei. No caso de uma penetração de tanques e de infantaria em nossas posições, permaneçam em seus postos e combatam o inimigo”.
Durante toda a tarde, quantidade crescente de granadas começou a cair sobre Bir Hakeim, embora os canhões de 75 mm do 1º de Artilharia respondessem dentro de suas possibilidades. O duelo da artilharia foi interrompido por uma repentina tempestade de areia e, com o anoitecer, os disparos foram diminuindo. No começo da manhã seguinte, o Batalhão do Pacífico, tendo sofrido algumas perdas na viagem, retornou a Bir Hakeim e reocupou o seu antigo setor no perímetro.
Quando o sol despontou, anunciando o nascimento de mais um dia sangrento, explosões dos canhões de campanha alemães de 105 mm deram aos franceses a certeza de que a batalha entrara em nova e mais séria fase. A guarnição de Bir Hakeim não fazia idéia da magnitude do conflito que se desenrolava no deserto, ao norte dali.
(...)
O contra-ataque [inglês] de Ritchie, feito depois de prolongada gestação, resultara em fracasso. Tendo eliminado a ameaça ao “caldeirão”, Rommel preparou-se tranqüilamente para cuidar da maior dificuldade de seu flanco – Bir Hakeim.
Enquanto as esperanças britânicas desapareciam na poeira e na fumaça do “caldeirão”, a guarnição de Bir Hakeim era submetida a ataques aéreos cada vez mais pesados. Fontes alemães afirmam que 1.300 surtidas foram feitas contra Bir Hakeim, entre 2 e 9 de junho. Parte do poder de ataque da Luftwaffe fora eliminada pelos aviões da Força Aérea do Deserto, que conseguiram interceptar vários ataques alemães, sobretudo no dia 2 de junho, particularmente feliz para os pilotos aliados.
Um brasileiro na Legião Estrangeira narra a luta
Deslocamo-nos de Beirute embarcados em caminhões que seguiram em comboio com destino à Líbia, passando pelo Cairo e por Alexandria. Prosseguimos a viagem por uma estrada asfaltada denominada Via Balbia, construída pelos italianos, e que percorria toda a extensão das costas da Cirenaica e da Líbia, numa distância de 935 milhas até o Egito. Ao cruzar a fronteira egípcia, começamos a encontrar os destroços dos combates que ali se travaram. Eram caminhões e carros de combate destruídos, campos minados, trincheiras, e cercas de arame farpado.
Tínhamos percorrido alguns quilômetros quando fomos atacados por uma formação aérea alemã. Após circular sobre nós uma vez, abriu fogo e nos metralhou. Recebemos ordens para pular dos caminhões e abrigar-nos.
Corremos para os lados da estrada, deitamos no saibro, protegidos por arbustos de meio metro de altura – único abrigo possível. Os aviões que nos atacavam eram Stukas e não perderam tempo. Dando a volta, vieram pela frente do comboio cuspindo fogo e, desta vez, acertaram dois caminhões que explodiram e se incendiaram. Mais uma vez deram a volta e vieram por trás. Para nossa surpresa, porém, apenas sobrevoaram o comboio em vôo rasante e foram embora. Possivelmente estavam sem munição.
Passado o susto, levantamos e corremos a verificar se algum companheiro tinha sido ferido. Felizmente, não. Os dois caminhões queimavam intensamente e as munições e granadas que carregavam explodiam sem cessar, impedindo que alguém se aproximasse para tentar salvar a carga. Afastado o perigo, limpamos a estrada e prosseguimos a viagem. Estávamos chegando à frente de combate e, nesse momento, diante do ataque que acabáramos de sofrer, sentíamos uma grande sensação de impotência – não pudéramos fazer nada para nos defender.
Quando ocupamos a área que nos coubera na costa, a linha de frente – se era possível assim chamá-la – denominada Linha Gazala, continuava em poder das forças aliadas. Tobruk estava agora ocupada por forças sul-africanas. Sidi rezegh, Belamed, El Aden e Gambut, por forças aliadas e Bir Hakeim, pelos franceses livres. Todas essas localidades eram cercadas por grandes áreas de campos minados, que formavam, no lado dos aliados, a linha de frente.
(...)
A Linha Gazala estendia-se da costa, através do deserto, até Bir Hakeim, resguardada por uma extensa e profunda barreira de minas espalhadas em várias áreas, que protegia uma cadeia de redutos providos de alambrados de arame farpado, trincheiras e casamata. Era defendida por infantaria e blindados das forças britânicas. No reduto de Bir Hakeim, eram responsáveis pela defesa as Forças Francesas Livres, comandadas pelo General Koenig. A 2ª Divisão sul-africanan e a 5ª hindu ocupavam Tobruk. Na retaguarda, o General Ritchie concentrou o grosso de suas forças blindadas, integradas pelas 1ª e 7ª divisões blindadas.
(...)
O reduto de Bir Hakeim era defendido pela 13ª Meia Brigada da França Livre, comandada pelo General Koenig, que estava assim constituída: dois batalhões da Legião Estrangeira, sob o comando do Tenente-Coronel Amilakvari – um dos batalhões sob o comando do Capitão Babonneau e o outro, do chefe de Batalhão Puchoi; um batalhão de fuzileiros de Marinha, comandado pelo Capítão-de-Corveta Amyot D’Inville; o 1º Regimento de Artilharia do Comandante Laurent Champrosay; um corpo de Engenharia, comandado pelo Capitão Desmaisons; um grupo antitanque, comandado pelo Capitão Jacqoin, a Meia Brigada Colonial, comandada pelo Tenente-Coronel de Roux; o 1º de Infantaria de Marinha, do Comandante Savey; a 22º Companhia norte-africana, comandada pelo Capitão Lequesne – 3.600 homens vindos de todos os horizontes.
Além de Bir Hakeim, o patrulhamento era feito pela 3ª Brigada Motorizada indiana. Ainda além, comandos perambulavam pelo deserto. Parte da brigada indiana, num encontro com forças italianas, depois de combater bravamente, fora aprisionada. Em seguida, seus homens foram libertados e abandonados à própria sorte no deserto, sem equipamentos e sem água. Alguns não resistiram ao sofrimento e morreram. Outros, conseguiram alcançar o reduto onde estavam os franceses livres e juraram se vingar cortando o nariz dos italianos que encontrassem.
Os combates travados pelos franceses livres na defesa do reduto de Bir Hakeim e as batalhas em toda a extensão da Linha Gazala foram violentos, cruéis, destruidores.
A ofensiva de Rommel começou ao amanhecer do dia 26 de maio, com ataques aéreos aos aeródromos britânicos de Gambut e El Arid. À tarde, o Gruppe Cruewell iniciou sua ruidosa demonstração contra a frente da linha Gazala, auxiliado por elementos da principal força de ataque, visando a desorientar os britânicos quanto à direção do próximo ataque. A dissimulação teve sucesso apenas parcial, pois as patrulhas da 7ª Brigada Motorizada britânica já haviam informado a concentração de blindados alemães em torno da Rotonda Segnali. Às 20h30 min, o código “Venezia” foi transmitido aos aparelhos receptores alemães e o Panzerarmee Afrika avançou dentro da noite.
Em Bir Hakeim, o dia 26 de maio começara como todos os outros. O General de Larminat, comandante das Forças Francesas Livres no Deserto Ocidental, visitara a guarnição no dia anterior. Uma coluna comandada pelo Major Amiel operava bem à frente, sob as ordens da 7ª Brigada Motorizada. No começo da noite, Amiel comunicou o maciço movimento de blindados em torno da Rotonda Segnali. Ao anoitecer, uma avalanche de mensagens pelo rádio confirmava a informação de Amiel. Quando os Panzer se aproximaram, o destacamento francês recuou. (...)
Às 4h de 27 de maio, elementos da patrulha de Amiel recuaram para o interior do perímetro defensivo, trazendo a notícia de que forças leves alemães estavam próximas do extremo sul do campo minado. Pouco depois, as linhas terrestres de ligação com a 7ª Divisão Blindada e com o escalão de retaguarda francês ficaram mudas. O pessoal de comunicações que saiu para examinar os fios foi alvo de disparos. Às 7h30min, Koenig recebeu uma mensagem radiofônica da 7ª Divisão Blindada britânica, anunciando que a batalha começara e que a 4ª Brigada Blindada estava prestes a contra-atacar.
(...)
A brigada [britânica] foi vencida por volta das 6h30 min, após luta feroz mas tristemente desigual. (...)
As forças francesas livres, a postos desde o clarear do dia, aguardavam o ataque. Por volta das 8h, numerosos veículos apareceram ao sul da posição De início pensou-se que se tratava da 4a Brigada Blindada britânica, mas logo o engano se desfez, pois os veículos se desviaram e avançaram em formação de ataque. Eram os tanques M13/40 italianos da divisão Aríete. A primeira leva, integrada por cerca de 50 tanques, atacou a defesa sul às 9h. O ataque italiano foi desfechado com louvável ostentação, e embora as minas e os canhões antitanques tenham cobrado pesado tributo, seis tanques conseguiram entrar na posição e atracaram um posto de comando da legião. O Capitão Otte continuou dando ordens pelo telefone até que um tanque, colocando-se a uns 15 metros de distância, disparou uma granada contra o topo do seu abrigo. Otte queimou o galhardete de sua companhia para evitar que caísse em poder do inimigo. Preocupação prematura, pois alguns tanques inimigos foram liquidados pelos 75 mm, que atiravam a pequena distância; os fuzileiros da marinha também entraram na refrega com os seus Bofors. Os valentes legionários eliminaram os restantes, subindo com decisão por sobre eles e disparando através das fendas de observação dos carros.
Um segundo ataque, desta vez feito por 30 tanques, teve ainda menos êxito. Pouco depois das 10h os italianos se retiraram, tendo perdido 30 tanques, sete deles destruídos por um 75 guarnecido por legionários. Mais de sessenta homens foram aprisionados, entre os quais o coronel-comandante do 132º Regimento Blindado italiano. Esse oficial, embora ferido, mudara de tanque três vezes em virtude da destruição dos anteriormente ocupados por ele. Entre os franceses, somente um ficou ferido. Alguns suprimentos muito úteis foram retirados dos veículos italianos que, a julgar pelo que fora apanhando, eram bem abastecidos; traziam cobertores, presunto, conservas e água-de-colônia.
O ataque da Divisão Aríete, embora desfechado com determinação, fora firmemente repelido; Bir Hakeim não tornou a ser atacado naquele dia. À tarde, a chegada de uma mensagem provocou certa hilaridade. Nela, o coronel britânico que devia ter supervisionado os exercícios dos fuzileiros da marinha com os canhões Bofors lamentava que, devido à situação tática, não poderia realizar o planejado exame.
Houve várias pequenas ações, com patrulhas, na noite de 27 para 28 de maio, mais alguns italianos foram aprisionados. Na manhã do dia 28 houve muita atividade ao sul, onde os aviões da RAF mergulhavam seguidamente sobre as colunas alemãs. Por volta das 10h, o destacamento do Capitão Lamaze, da Legião, que cobria o campo minado norte, deu combate a vários carros blindados italianos a noroeste. Dois desses veículos foram atingidos pelo 75 mm e quatro penetraram no campo minado, onde logo explodiram.
À tarde, a Luftwaffe fez a primeira das suas freqüentes aparições. O Batalhão do Pacífico sofreu seriamente com os bombardeios, mas os fuzileiros da Marinha mostraram sua habilidade com Bofors, derrubando um dos aviões atacantes em meio a espessa cortina de fumaça. Um comboio de abastecimento chegou durante a noite, trazendo 40 toneladas de munição para os 75 mm. Aconteceram outras escaramuças durante a noite de 28 para 29 de maio, e mais italianos foram aprisionados pelos franceses. Durante todo o dia seguinte, o troar insistente das peças de artilharia foi ouvido ao norte, onde ocorria violenta batalha de blindados em torno de Knightsbridge. Rommel continou avançando para o norte durante todo o dia 28.
(...)
Para não perecer, o Afrika Korps precisava sair do anel de ferro em que se achava. Portanto, Rommel se concentrou no golpe contra a 150ª Brigada [inglesa], deixando um anteparo de canhões antitanque, bem temperado com morteiros 88 mm, para deter o restante do VIII Exército Britânico.
Enquanto os blindados alemães se agrupavam no “caldeirão”, as coisas corriam relativamente tranqüilas em Bir Hakein. Os comboios que passavam ao alcance da posição eram sempre atacados e patrulhas saíam à noite para desorganizar o sistema de abastecimento do Eixo.
Houve alguma infiltração inimiga pelo campo minado, ao norte; o destacamento do Capitão Lamaze foi bombardeado fortemente e recuou, temporariamente, para o principal perímetro defensivo.
Em 29 de maio, avolumando-se o número de prisioneiros de guerra, foi improvisada uma cerca para conte-los, e Koenig, elegantemente, desculpou-se com os oficiais capturados por não lhes poder oferecer acomodações mais confortáveis.
No dia seguinte, as patrulhas informaram que em torno de Bir Hakeim a área se encontrava livre de inimigos. Entretanto, eram visíveis os veículos agrupando-se a noroeste, esperando para atravessar o campo minado a fim de reabastecer os blindados de Rommel no “caldeirão”. Koenig intensificou o trabalho de patrulha, mandando também uma bateria de 75 mm juntar-se ao destacamento de Lamaze, para melhor cobrir o campo minado do norte.
No domingo, 31 de maio, não houve sinal de atividade do Eixo em torno de Bir Hakeim. O quartel-general do comando britânico, que repetidamente salientava a Koenig a importância de cobrir o campo minado, apesar de se mostrar satisfeito com o resultado da luta até então, preocupava-se com as brechas ainda existentes. Os tenentes-coronéis Amilakvari e Roux conduziam colunas motorizadas da Legião para hostilizar as forças inimigas através dessas brechas. A patrulha do primeiro obteve êxito considerável, destruindo vários tanques, mas sofreu violento contra-ataque, que causou baixas entre os legionários.
Um grande comboio de abastecimento chegou na noite de 31 de maio para 1º de junho. Com ele, veio o General Laminat, que se congratulou com Koenig e suas tropas, referindo-se elogiosamente ao moral da guarnição. O comboio partiu mais tarde, naquela mesma noite, levando 600 indianos, 170 prisioneiros e vários feridos franceses e do Eixo. Foi, entretanto, atacado no caminho. Granadas de 88 mm caíram alarmantemente perto dos caminhões que transportavam os prisioneiros.
Mensagens de rádio do comando britânico avisavam a Koenig que estivesse preparado para avançar. Assim, o escalão de retaguarda foi concentrado em Bir bu Maafes e a brigada preparou-se para sair.
Em 1º de junho, de junho, de manhã cedo, Koenig recebeu ordem de avançar. Os detalhes do movimento foram incluídos na Ordem de Operações nº 11 de Koenig. O Batalhão do Pacífico lideraria a brigada no avanço, e a coluna do Tenente-Coronel Broche, acompanhada por destacamentos de artilharia antiaérea e antitanque, partiu de Bir Hakeim às 9 h. O restante da brigada preparava-se para acompanhá-la quando chegou uma ordem do comando britânico cancelando qualquer avanço adicional.
A coluna de Broche prosseguiu para oeste e, após destruir um tanque e derrubar quatro aviões, chegou a El Telim ao anoitecer. Durante todo o dia, tanto o batalhão em avanço como a posição principal de defesa em Bir Hakeim foram submetidos a freqüentes ataques aéreos. Doze veículos, inclusive um caminhão de água, um caminhão-tanque de combustível e um caminhão de combate antiaéreo foram destruídos.
Os Stukas, terríveis bombardeiros de mergulho, atiravam-se assustadoramente ao ataque, lançando bombas que levantavam no ar espessa cortina de areia. Apesar de tudo, os fuzileiros da Marinha guarneciam seus Bofors com determinação, e derrubaram quatro Stukas nesse dia. O consumo de munição dos Bofors era qualquer coisa de extravagante. Mil cartuchos haviam chegado com a coluna de abastecimento na noite de 1º de junho, com a promessa de mais. Koenig decidira não descarregar os suprimentos. Um avanço ainda parecia provável, de modo que manteve os veículos à mão, mandando-os acampar mais ao norte, a fim de diminuir o perigo de ataque aéreo.
Na manhã de 2 de junho, Koenig pensou em ir ao quartel-general da 7ª Divisão Blindada a fim de obter informações sobre a batalha. Mas, reconsiderando a decisão, decidiu permanecer em Bir Hakeim, enviando o capitão Tomkins em seu lugar. A decisão de Koenig fora sensata. Tomkins encontrou uma patrulha alemã e foi capturado. Eram muito vagas as notícias sobre o progresso da coluna de Broche, pois o rádio do coronel funcionava mal, embora as demais ligações funcionassem perfeitamente. As mensagens de Broche eram desesperadamente truncadas e só com dificuldade a coluna era contatada.
Pouco depois do amanhecer, o Capitão Lamaze comunicou a presença de numerosos veículos ao norte. Koenig perguntou se ele estava certo de que os veículos eram hostís. Depois de alguma hesitação, seguida do comentário de que havia 50 tanques e 100 outros veículos à vista, ele respondeu que o seu destacamento já estava sendo alvo do ataque dos carros avistados.
Uma mensagem frenética foi enviada ao comboio, acampado fora do perímetro, e os caminhões se dispersaram, perseguidos por explosões de granadas. Nessa época, era normal que a posição, de manhã cedo, fosse envolvida por denso nevoeiro, e o dia 2 de junho não foi exceção. Protegidos por esse nevoeiro, um destacamento de infantaria da Marinha, comandado pelo Capitão Laborde, juntamente com a 22ª Companhia norte-africana, e uma bateria de canhões de 75 mm tomaram o setor desocupado pelo Batalhão do Pacífico. O esperado ataque não se concretizou. Em vez disso, dois oficiais italianos apresentaram-se aos postos avançados da Legião, trazendo uma bandeira branca. O Capitão de Sairgnè conduziu os italianos, de olhos vendados, ao posto de comando de Koenig. Os dois oficiais o cumprimentaram e o mais graduado começou a falar em italiano. Como nem Koenig nem o Tenente-Coronel Masson, chefe de seu estado-maior, entendiam este idioma, tudo quanto lhes foi dito pelo general italiano ficou no ar. Não obstante, pelo que puderam perceber, parecia que o comando do Eixo os aconselhava a render-se para evitar derramamento de sangue.
- Senhores! – respondeu Koenig. Levem a seus superiores nosso reconhecimento pela atitude tomada, mas digam-lhes que não haverá rendição.
Os italianos esforçaram-se, inutilmente, para convencer Koenig a mudar de idéia. Foram conduzidos para fora do perímetro e retornaram às suas linhas. Após a saída dos emissários italianos, Koenig enviou uma mensagem pelo rádio ao Batalhão do Pacífico para que retornasse, mandando também Lamaze “voltar imediatamente, há trabalho para você aqui”. Outra mensagem foi enviada ao esquadrão de retaguarda da brigada em Bir bu Maafes, proibindo-o de avançar. O General Koenig comunicou a seus comandantes de unidade que um ataque era iminente, e disse: “O General Rommel pediu que nos rendêssemos e nos ameaçou de extermínio. Recusei. No caso de uma penetração de tanques e de infantaria em nossas posições, permaneçam em seus postos e combatam o inimigo”.
Durante toda a tarde, quantidade crescente de granadas começou a cair sobre Bir Hakeim, embora os canhões de 75 mm do 1º de Artilharia respondessem dentro de suas possibilidades. O duelo da artilharia foi interrompido por uma repentina tempestade de areia e, com o anoitecer, os disparos foram diminuindo. No começo da manhã seguinte, o Batalhão do Pacífico, tendo sofrido algumas perdas na viagem, retornou a Bir Hakeim e reocupou o seu antigo setor no perímetro.
Quando o sol despontou, anunciando o nascimento de mais um dia sangrento, explosões dos canhões de campanha alemães de 105 mm deram aos franceses a certeza de que a batalha entrara em nova e mais séria fase. A guarnição de Bir Hakeim não fazia idéia da magnitude do conflito que se desenrolava no deserto, ao norte dali.
(...)
O contra-ataque [inglês] de Ritchie, feito depois de prolongada gestação, resultara em fracasso. Tendo eliminado a ameaça ao “caldeirão”, Rommel preparou-se tranqüilamente para cuidar da maior dificuldade de seu flanco – Bir Hakeim.
Enquanto as esperanças britânicas desapareciam na poeira e na fumaça do “caldeirão”, a guarnição de Bir Hakeim era submetida a ataques aéreos cada vez mais pesados. Fontes alemães afirmam que 1.300 surtidas foram feitas contra Bir Hakeim, entre 2 e 9 de junho. Parte do poder de ataque da Luftwaffe fora eliminada pelos aviões da Força Aérea do Deserto, que conseguiram interceptar vários ataques alemães, sobretudo no dia 2 de junho, particularmente feliz para os pilotos aliados.
Nascido de alma caudilha- nem por isso menos franca -Deus te deu essa cor branca que até de noite rebrilha.Lua do herói na coxilha,por onde eu for, onde eu ande e sem que ninguém me mande eu te canto, troféu mudo que é puro neste Rio Grande!
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Re: SEGUNDA GUERRA MUNDIAL
Desde o amanhecer de 3 de junho, porém, o ataque a Bir Hakeim tomara impulso. O duelo de artilharia começou ao clarear o dia, mas, para tristeza dos artilheiros franceses, seus canhões de 75 mm foram incapazes de alcançar os 105 alemães que martelavam a posição. Pela manhã, dois ingleses apareceram do lado de fora do perímetro. Um deles era o motorista do infeliz Capitão Tomkins, capturado no dia anterior. Trazia uma mensagem de Rommel, rabiscada na folha de um bloco de comunicações alemão. Dizia:
Às tropas de Bir Hakeim
Qualquer resistência ulterior só lhes servirá para aumentar o inútil derramamento de sangue. Vocês sofrerão o mesmo destino das duas brigadas britânicas que há dois dias foram exterminadas em Got el Ualeb. Cessaremos fogo se hastearem a bandeira branca e vierem até nós desarmados.
Assinado: Rommel. General Oberst.
Koenig não respondeu ao ultimato de Rommel. Em vez disso, transmitiu a seus comandantes de unidade uma ordem em que avaliava e dava suas instruções.
1. Devemos esperar um ataque em grande escala, para breve, em que o inimigo virá certamente com aviões, carros-de-combate, artilharia e infantaria.
2. Cumpram o dever sem vacilação, qualquer que seja a situação em que estiverem, junto aos companheiros ou deles isolados.
3. Defendam o terreno a qualquer preço, até que nossa vitória seja completa.
4. Esta ordem tem de ser transmitida claramente a todas as fileiras.
5. A todos, boa sorte.
Na tentativa de quebrar o moral da guarnição, Rommel chamou os Stukas. Entre 11h30 min e 13h30 min, registraram-se quatro ataques, todos desfechados por grande número de aviões. A escassez de munição de 40 mm para os canhões Bofors limitou a resposta dos franceses aos atacantes. O apoio da RAF foi extremamente eficaz. Um grupo de 12 Stukas apareceu sobre a posição no mesmo instante em que chegava uma patrulha de Hurricanes. Sete bombardeiros de mergulho foram derrubados e os aviões britânicos foram embora acompanhados de entusiásticos vivas das tropas em terra.
Embora o ritmo dos bombardeios não diminuísse, não houve ataque sério por terra durante os primeiros dias de junho. Elementos da 90ª Ligeira e da Trieste, embora posicionados em torno de Bir Hakeim, não puderam movimentar-se devido à feroz atividade de patrulhamento dos britânicos. Embora o Alto Comando britânico fosse hostilizado, não abandonou o apoio terrestre aos franceses. Crédito particular cabe à 7a Brigada Motorizada, do Brigadeiro Renton, cujas colunas atacaram a retaguarda alemã.
Os homens que dirigiam os comboios de abastecimento, noite após noite, também merecem menção especial. Tinham de aguardar em território fervilhante de patrulhas alemães e, quando a oportunidade, encontrar o caminho para o interior de Bir Hakeim através dos campos minados que o circundavam. Sem seus esforços, Bir Hakeim poderia ter tido, a despeito da bravura de seus defensores, o mesmo destino da casamata de Sidi Muftah, cuja resistência fora prejudicada pela carência de água e munição.
Na quinta-feira, 4 de junho, o bombardeio de artilharia e aéreo prosseguiu. Como os canhões de 75 mm haviam disparado 2.500 cartuchos no dia anterior e só lhes restavam 500, fizeram apenas disparos ocasionais contra a artilharia inimiga. Uma mensagem de rádio do VIII Exército prometeu que mais munição seria enviada assim que possível e informou a Koenig que uma contra-ofensiva britânica ao “caldeirão” – a malfadada “Operação Aberdeen” – seria desfechada no dia seguinte.
Às 4h30 min de 5 de junho, os alemães fizeram outra tentativa de persuadir os defensores a depor as armas. Um oficial germânico, num caminhão, chegou até as posições ocupadas pela 5a Companhia do 2o Batalhão da Legião e solicitou uma negociação. A sentinela da Legião, por coincidência um alemão, disse ao oficial, claramente, que Koenig proibira qualquer negociação. O oficial foi-se embora muito irritado, mas se afastara apenas alguns metros quando seu veículo atingiu uma mina e parou, em meio a uma nuvem de fumaça. Oficial e motorista saltaram e continuaram a pé.
Durante a noite, a guarnição foi reabastecida de água e munição. Cada homem poderia contar, por três dias, com dois litros de água, e suprimentos para mais três dias de reserva. Seis mil projéteis para os 75 mm também chegaram e a artilharia pode reiniciar seus disparos de contra-bateria. Infelizmente, os alemães estavam usando canhões de 155 mm, que ultrapassavam em muito o alcance dos 75 mm. A artilharia francesa fez um grande esforço para atingir aquelas peças, movendo-se para fora do perímetro, conseguiu apenas impedir que as baterias inimigas se aproximassem mais. Mais tarde, naquele mesmo dia, a infantaria alemã tentou fazer algumas infiltrações, mas foi detida a 1.500 m. de distância pelo 75 mm e morteiros. As baixas alemães foram grandes; o grupo de combate do Coronel Wolz, constituído de unidades leves apoiadas pelos Panzergrenadieren da 90ª Ligeira, foi seriamente atingido.
Em 6 de junho, dia em que Rommel saiu do “caldeiraõ”, o inferno em Bir Hakeim ficou mais quente. Dois poderosos ataques foram desfechados contra o Batalhão do Pacífico, que repeliu ambos, a custa de numerosas baixas. Do oeste, cerca de vinte carros-de-combate chegaram às proximidades do campo minado e dispararam contra a posição. A artilharia respondeu vigorosamente, mas a escassa quantidade de munição limitou os canhões a um disparo por minuto; mais tarde, apenas um canhão em cada bateria pode disparar.
Domingo, 7 de junho, foi um dia relativamente calmo. O bombardeio diminuiu um pouco e registrou-se apenas uma incursão de Stukas. O grupo de vigilância da posição norte, fortemente atacado, viu-se obrigado a recuar para dentro do perímetro principal. Depois do anoitecer, chegou um ansiosamente esperado comboio de munição; 15 veículos, incluindo 2 caminhões com 2.000 litros d’água penetraram as linhas francesas.
O dia 8 de julho amanheceu com denso nevoeiro que encobria tudo e cegava os nossos postos de observação. Atrás da cortina de névoa, podíamos ouvir o chocalhar das lagartas dos carros-de-combate e o vozerio dos soldados de infantaria deslocando-se para o ataque.
Rommel finalmente decidira eliminar Bir Hakeim e, com esse objetivo, mandara poderoso destacamento da 15ª Panzer para ajudar a 90ª Ligeira e a Triestre. Quando o nevoeiro se dissipou, a artilharia alemã abriu fogo com grande violência, concentrando-se sobre um batalhão da Legião. Stukas uivavam sobre as defesas e caças varriam o deserto, metralhando postos de observação e de bateria.
Às 10h55 min, os Pazergrandieren da 15ª Panzer, bem apoiados por carros-de-combate e blindados leves, avançaram contra o setor noroeste. A infantaria alemã deslocava-se com entusiasmo; a cota 186, um trecho importante de terreno relativamente alto, parecia ser o objetivo. O batalhão da Legião saía-se bem, mas foi obrigado a recuar, perdendo muitos homens. Sua 6ª Companhia foi dizimada e teve de ser reforçada pela 22ª Companhia africana. Os transportes Bren da Legião estavam a postos para levar homens ao setor ameaçado da penetração. Sessenta Stukas desfecharam um ataque no começo da tarde, infligindo mais danos à guarnição em apuros, e a infantaria alemã tornou a avançar, antes mesmo que tivesse assentado a poeira levantada pelas bombas lançadas dos terríveis aviões.
O posto de observação de artilharia da Cota 186 silenciara desde antes do meio-dia, prejudicando os disparos dos 75 mm. Outra leva de infantaria inimiga avançou, dessa vez contra o setor da Legião. Toda a frente norte estava sendo violentamente atacada. As linhas do posto de comando de Koenig foram cortadas pelo fogo de artilharia; poeira e fumaça obscureciam a visão geral da batalha. A situação se agravava; muitos canhões antitanque já se encontravam fora de combate; um 75 mm recebeu tiro certeiro e foi reduzido a destroços, bem como sua guarnição. Uma granada alemã atingiu um dos depósitos de munição que, ao explodir, produziu enorme clarão e fragor intenso.
Koenig enviara repetidas ordens a seus comandantes de unidade, salientando que a infantaria deveria manter-se firme, ainda que ultrapassada por blindados. Insistia para que eles deixassem passar os carros-de-combate, mas contivessem a infantaria alemã que viria atrás deles. Todas as peças de artilharia deveriam concentrar-se em deter os blindados. Finalmente, ordenou que, se fosse inevitável a queda da praça que defendiam, todos os documentos secretos deveriam ser queimados.
Ao anoitecer, o círculo de defensores permanecia intacto, embora seriamente forçado. O Batalhão de Marcha, a noroeste, perdera muito terreno; a 6a Companhia do Batalhão foi retirada para a reserva da brigada, indo ocupar o lugar deixado por ela na linha defensiva a 22ª Companhia norte-africana.
Os dispositivos médicos estavam à beira do colapso, mas a equipe da brigada se multiplicava em esforços para dar atendimento aos feridos, cada vez mais numerosos. A escassez de água não permitia a lavagem dos ferimentos. As substâncias para assepsia dos locais atingidos eram escassas, assim como anestésicos, plasma, sulfa etc. A RAF conseguira lançar de pára-quedas alguns suprimentos médicos, mas o pára-quedas não abriu. Caindo vertiginosamente contra o solo, espatifara-se o material ansiosamente esperado.
Apesar da extrema gravidade da situação, o moral dos defensores da praça permanecia elevado. Compreendiam todos que estava em jogo não apenas o destino de uma encruzilhada de trilhas do deserto, mas muito mais que isso. A verdade é que se Bir Hakeim caísse, Rommel poderia voltar-se contra o resto do VIII Exército, ainda aturdido após a derrota no “caldeirão”, criando complicação muito mais séria. Falhassem os homens das Forças Francesas Livres no cumprimento da ingente tarefa que tinham pela frente e o dobre de finados teria soado para o Exército francês pela segunda vez em dois anos. Evidentemente, após vários dias de luta feroz e a possibilidade de muitos mais, os defensores de Bir Hakeim não romantizavam seu papel. Sede, fome, ferimentos e morte era o que tinham pela frente. Koenig enviou a seguinte mensagem para o comando britânico: “Estamos cercados. Nossos pensamentos estão voltados para vocês. Estamos confiantes. Viva a França Livre!” Na intimidade das páginas de seu diário, de Gaulle confidenciaria: “Bir Hakeim – lágrimas de júbilo, lágrimas de orgulho!”
Terça-feira, 9 de junho, foi outro dia de sol causticante no deserto. A guarnição, já então muito cansada, tinha os raros momentos de sono constantemente interrompidos por alarmes noturnos e por foguetes luminosos alemães que banhavam de luz fantasmagórica toda a área. Quase sem água, ração e munição, vivíamos na expectativa de mais um ataque, com decidida determinação, ainda que fisicamente extenuados pela defesa titânica. À guisa de prelúdio, os canhões e aviões alemães saturavam a posição com bombas de alto poder explosivo. Os fios telefônicos foram cortados novamente – e não havia mais fio para substituí-los.
Às 13h o ataque se desenvolveu contra o Batalhão do Pacífico e o Batalhão da Legião. A infantaria alemã que avançava era auxiliada por carros-de-combate e canhões de 50 mm que se moviam em estreito apoio e destruíram mais outros de 75 mm. Os alemães abriam caminho lutando obstinadamente e conseguiram enfiar uma cunha entre duas companhias do Batalhão de Marcha. Houve um feroz corpo-a-corpo: um soldado alemão foi abatido a poucos metros de um canhão de 75 mm. Por instantes, parecia que os soldados africanos cederiam à tremenda pressão. Quando o colapso parecia inevitável, ouviu-se um troar vindo da retaguarda: uma das seções de transportes Bren da Legião apareceu apressada. Os legionários estavam relativamente descansados e fecharam a brecha, obrigando a infantaria inimiga a recuar.
Também no sul a guarnição estava sob violento ataque. Parte da 90ª Ligeira alemã, cuja artilharia estivera apoiando o ataque no norte, desviou-se e atacou o Batalhão do Pacífico. Os alemães sofreram seriamente – 250 corpos foram contados na frente das posições do batalhão -, mas, ao amanhecer, eles se haviam estabelecido a pouco mais de 200m do forte. Esses ataques foram acompanhados de tentativas mais sutis para provocar a queda de Bir Hakeim.
Uma mensagem de rádio, supostamente da 7ª Divisão Blindada britânica, chegou ao posto de comando de Koenig. “Estamos sendo atacados”, anunciava desanimadamente, “e não podemos ajudá-los”. Diga ao seu chefe que se renda para evitar mais derramamento de sangue”. A mensagem fora transmitida em inglês incorreto, com traços de sotaque alemão, e não enganou a ninguém. Às 20h, um ataque maciço de Stukas martelou a posição cercada. Uma bomba caiu numa enfermaria, matando 19 feridos. Vários caminhões e grande parte da ração que estava sendo distribuída foram destruídos. O Batalhão do Pacífico sofreu rude golpe – o Tenente-Coronel Broche e seu ajudante, Capitão de Bricourt, foram mortos quando uma granada atingiu o posto de comando do batalhão.
Os atacantes também sofreram pesadas baixas. O grupo de combate do Coronel Hecker, comandante dos sapadores do Panzer, vinha sendo a ponta-de-lança do ataque desde a noite de 8 de junho, e perdera 10 dos seus 11 carros-de-combate e grande parte da infantaria. Hecker fora reforçado pelo Grupo Baade, dois batalhões do 115º Regimento de Panzergrenadieren da 15ª Divisão. Os homens de Baade também foram seriamente maltratados, sobretudo na luta feroz em torno do velho forte situado na extremidade sul da posição.
Ao anoitecer do dia 9, Koenig viu claramente que Bir Hakeim não poderia ser defendida por muito mais tempo. A Cota 186 fora perdida, o que permitia aos alemães dominar o setor do Batalhão da Legião. A situação no sul, em torno do forte, também era crítica. As perdas, em homens e equipamento, haviam sido elevadas e a permanente escassez de munição era fonte constante de preocupação. Koenig viu-se diante de difícil decisão: permanecer em Bir Hakeim e correr o risco de aniquilamento total, em futuro próximo, ou tentar escapar. Ritchie sempre exortara Koenig a resistir, mas, ainda na tarde de 9 de junho, a 7ª Divisão Blindada britânica perguntou-lhe, pelo rádio, se ele considerava aconselhável sair dali. Koenig manifestou-se favorável a retirada, desde que houvesse transporte suficiente para todos os feridos. Como a 7ª Blindada não dispunha de veículos suficientes na noite de 9 para 10 de junho, decidiu-se que a tentativa seria feita na noite seguinte.
Em 10 de junho, o grupo de combate do Coronel Baade fez, ao norte, considerável progresso, penetrando na principal linha de defesa. A seção de carretas transportadoras de Bren do Tenente Dewey, da Legião, lançou-se ao contra-ataque, seguindo-se luta violenta. O próprio Rommel se encontrava na companhia do Grupo Baade, naquele momento, e referindo-se à ferocidade do combate, disse: “Os franceses defendiam desesperadamente cada ninho de resistência e, com isso, sofriam baixas terríveis”.
Num esforço supremo, os legionários de Dewey conseguiram conter a penetração. No meio da manhã, 110 aviões submeteram a posição a terrível castigo. Nada menos que 130 toneladas de bombas caíram sobre Bir Hakeim durante aquele dia.
À noite, Rommel informou ao Alto Comando, na Alemanha, que Bir Hakeim cairia no dia seguinte. Sem dúvida isso chegava bem a tempo para Kesselring, pois ele via as perdas da Luftwaffe naquele setor com crescente desalento. Já insistira junto a Rommel para que vencesse os franceses com os carros, de modo a poupar a arma aérea; Rommel acertadamente, calculara que um ataque maciço de carros-de-combate a Bir Hakeim só poderia resultar em grandes perdas de blindados nos campos minados. Por isso estava convencido de que mais um esforço levaria os franceses ao colapso, o que era bem provável.
Durante o dia 10, os morteiros da guarnição haviam disparado a última munição; para os canhões restavam apenas uns poucos cartuchos. Enquanto os alemães se preparavam para o ataque decisivo, Koenig cuidava da retirada.
A retirada é das situações mais difíceis numa guerra, quase sempre realizada com o moral da tropa muito baixo – diga-se, a bem da verdade, que não era o caso dos franceses livres. Requer planejamento meticuloso e um cronograma cuidadosamente calculado. Um pequeno erro pode causar não apenas ligeiro revés tático, mas grande desastre. A noite é o momento para realizá-la, embora a escuridão aumente bastante os problemas de controle e navegação.
Os riscos que os franceses teriam que enfrentar na retirada de Bir Hakeim eram numerosos. Seria preciso conduzir uma grande força, com transporte e equipamento, através de campos minados e à frente do inimigo – sempre vigilante – para fora de Bir Hakeim. O melhor caminho de saída era em direção leste, pelas posições da Legião. Koenig, no entanto, decidiu não usá-lo, pois os alemães sabiam ser esta a mais provável linha de retirada. Assim, deu ordens para abrir uma passagem de 150 metros de largura no campo minado ocidental, logo ao norte do velho forte. A 7ª Brigada Motorizada forneceria caminhões e ambulâncias, que aguardariam por Koenig no deserto, oito quilômetros a sudeste de Bir Hakeim. Uma ordem de operações detalhada delineava todo o plano. As unidades que se encontravam em contato como inimigo ficariam para trás até o último momento; duas companhias permaneceriam com o grupo de despistamento. O equipamento que não pudesse ser retirado seria destruído. Os documentos secretos foram colocados na viatura de Keonig, à exceção de uns poucos, mais importantes, que ficaram na pasta do Tenente-Coronel Masson.
Entretanto, como acontece em tantas operações militares, as coisas não saíram de acordo com os planos. O carregamento dos veículos demorou mais do que o esperado, a comunicação entre Keonig e seus comandantes de unidade e destes com suas subunidades era difícil. Às 20h30 min, os primeiros elementos – o comboio médico – iniciaram a retirada. Seguiram-se o Batalhão do Pacífico e um Batalhão da Legião. Os fuzileiros da Marinha encontraram problemas com a orientação noturna, um dos canhões que levavam e seu veículo de reboque caíram num grande buraco e tiveram de ser deixados para trás. A artilharia alemã contribuía para o caos, abrindo fogo e incendiando vários veículos, as chamas iluminavam tudo. Foi um pesadelo.
Granadas explodiam nas defesas abandonadas e foguetes luminosos lançados de pára-quedas, voejavam sobre a paisagem árida. De ambos os flancos, o fogo de metralhadoras era incessante. Grupos de infantaria empenhavam-se numa luta confusa. O aspirante Bellec, responsável pela orientação da coluna do quartel-general, entrou num campo minado. Fez algumas tentativas para passar, mas houve explosões. Koenig mandou que o grupo se desviasse para o sul, a fim de evitar as minas. Por volta das 3h, alcançou o corpo principal da brigada, que fora retardado por vigorosa oposição dos alemães. Keonig incumbiu o Capitão Lamaze de abrir caminho para a coluna, houve um combate penoso, no qual pereceram o capitão e o arrojado Tenente Dewey. Vários veículos se incendiaram, mas a brigada conseguiu reiniciar o deslocamento, embora tivesse perdido a coesão e fosse totalmente impossível reagrupar. Não obstante, a maior parte da guarnição, de um modo ou de outro, conseguiu chegar ao lcoal de encontro com a 7ª Brigada Motorizada.
De início parecia que as baixas tinham sido muito grandes. Às 7h do dia 11, Koenig e Amilakvari estavam desaparecidos e menos de 1.500 soldados haviam chegado às linhas britânicas. Com o passar das horas, o quadro foi melhorando. Às 8h, a 7ª Brigada Motorizada comunicou que dois mil soldados franceses tinham chegado a salvo.
A defesa de Bir Hakeim teve a grande vantagem de dar tempo ao VIII Exército. Rommel só ficou pronto para iniciar suas operações na tarde de 11 de junho. (...)
O rompimento do cerco de Bir Hakeim, naquela noite negra, perde-se num misto indefinido de recordações. Um sem-número de batalhas em toda a extensão da linha confunde-se com as aventuras individuais e com atos de inexcedível heroísm
Às tropas de Bir Hakeim
Qualquer resistência ulterior só lhes servirá para aumentar o inútil derramamento de sangue. Vocês sofrerão o mesmo destino das duas brigadas britânicas que há dois dias foram exterminadas em Got el Ualeb. Cessaremos fogo se hastearem a bandeira branca e vierem até nós desarmados.
Assinado: Rommel. General Oberst.
Koenig não respondeu ao ultimato de Rommel. Em vez disso, transmitiu a seus comandantes de unidade uma ordem em que avaliava e dava suas instruções.
1. Devemos esperar um ataque em grande escala, para breve, em que o inimigo virá certamente com aviões, carros-de-combate, artilharia e infantaria.
2. Cumpram o dever sem vacilação, qualquer que seja a situação em que estiverem, junto aos companheiros ou deles isolados.
3. Defendam o terreno a qualquer preço, até que nossa vitória seja completa.
4. Esta ordem tem de ser transmitida claramente a todas as fileiras.
5. A todos, boa sorte.
Na tentativa de quebrar o moral da guarnição, Rommel chamou os Stukas. Entre 11h30 min e 13h30 min, registraram-se quatro ataques, todos desfechados por grande número de aviões. A escassez de munição de 40 mm para os canhões Bofors limitou a resposta dos franceses aos atacantes. O apoio da RAF foi extremamente eficaz. Um grupo de 12 Stukas apareceu sobre a posição no mesmo instante em que chegava uma patrulha de Hurricanes. Sete bombardeiros de mergulho foram derrubados e os aviões britânicos foram embora acompanhados de entusiásticos vivas das tropas em terra.
Embora o ritmo dos bombardeios não diminuísse, não houve ataque sério por terra durante os primeiros dias de junho. Elementos da 90ª Ligeira e da Trieste, embora posicionados em torno de Bir Hakeim, não puderam movimentar-se devido à feroz atividade de patrulhamento dos britânicos. Embora o Alto Comando britânico fosse hostilizado, não abandonou o apoio terrestre aos franceses. Crédito particular cabe à 7a Brigada Motorizada, do Brigadeiro Renton, cujas colunas atacaram a retaguarda alemã.
Os homens que dirigiam os comboios de abastecimento, noite após noite, também merecem menção especial. Tinham de aguardar em território fervilhante de patrulhas alemães e, quando a oportunidade, encontrar o caminho para o interior de Bir Hakeim através dos campos minados que o circundavam. Sem seus esforços, Bir Hakeim poderia ter tido, a despeito da bravura de seus defensores, o mesmo destino da casamata de Sidi Muftah, cuja resistência fora prejudicada pela carência de água e munição.
Na quinta-feira, 4 de junho, o bombardeio de artilharia e aéreo prosseguiu. Como os canhões de 75 mm haviam disparado 2.500 cartuchos no dia anterior e só lhes restavam 500, fizeram apenas disparos ocasionais contra a artilharia inimiga. Uma mensagem de rádio do VIII Exército prometeu que mais munição seria enviada assim que possível e informou a Koenig que uma contra-ofensiva britânica ao “caldeirão” – a malfadada “Operação Aberdeen” – seria desfechada no dia seguinte.
Às 4h30 min de 5 de junho, os alemães fizeram outra tentativa de persuadir os defensores a depor as armas. Um oficial germânico, num caminhão, chegou até as posições ocupadas pela 5a Companhia do 2o Batalhão da Legião e solicitou uma negociação. A sentinela da Legião, por coincidência um alemão, disse ao oficial, claramente, que Koenig proibira qualquer negociação. O oficial foi-se embora muito irritado, mas se afastara apenas alguns metros quando seu veículo atingiu uma mina e parou, em meio a uma nuvem de fumaça. Oficial e motorista saltaram e continuaram a pé.
Durante a noite, a guarnição foi reabastecida de água e munição. Cada homem poderia contar, por três dias, com dois litros de água, e suprimentos para mais três dias de reserva. Seis mil projéteis para os 75 mm também chegaram e a artilharia pode reiniciar seus disparos de contra-bateria. Infelizmente, os alemães estavam usando canhões de 155 mm, que ultrapassavam em muito o alcance dos 75 mm. A artilharia francesa fez um grande esforço para atingir aquelas peças, movendo-se para fora do perímetro, conseguiu apenas impedir que as baterias inimigas se aproximassem mais. Mais tarde, naquele mesmo dia, a infantaria alemã tentou fazer algumas infiltrações, mas foi detida a 1.500 m. de distância pelo 75 mm e morteiros. As baixas alemães foram grandes; o grupo de combate do Coronel Wolz, constituído de unidades leves apoiadas pelos Panzergrenadieren da 90ª Ligeira, foi seriamente atingido.
Em 6 de junho, dia em que Rommel saiu do “caldeiraõ”, o inferno em Bir Hakeim ficou mais quente. Dois poderosos ataques foram desfechados contra o Batalhão do Pacífico, que repeliu ambos, a custa de numerosas baixas. Do oeste, cerca de vinte carros-de-combate chegaram às proximidades do campo minado e dispararam contra a posição. A artilharia respondeu vigorosamente, mas a escassa quantidade de munição limitou os canhões a um disparo por minuto; mais tarde, apenas um canhão em cada bateria pode disparar.
Domingo, 7 de junho, foi um dia relativamente calmo. O bombardeio diminuiu um pouco e registrou-se apenas uma incursão de Stukas. O grupo de vigilância da posição norte, fortemente atacado, viu-se obrigado a recuar para dentro do perímetro principal. Depois do anoitecer, chegou um ansiosamente esperado comboio de munição; 15 veículos, incluindo 2 caminhões com 2.000 litros d’água penetraram as linhas francesas.
O dia 8 de julho amanheceu com denso nevoeiro que encobria tudo e cegava os nossos postos de observação. Atrás da cortina de névoa, podíamos ouvir o chocalhar das lagartas dos carros-de-combate e o vozerio dos soldados de infantaria deslocando-se para o ataque.
Rommel finalmente decidira eliminar Bir Hakeim e, com esse objetivo, mandara poderoso destacamento da 15ª Panzer para ajudar a 90ª Ligeira e a Triestre. Quando o nevoeiro se dissipou, a artilharia alemã abriu fogo com grande violência, concentrando-se sobre um batalhão da Legião. Stukas uivavam sobre as defesas e caças varriam o deserto, metralhando postos de observação e de bateria.
Às 10h55 min, os Pazergrandieren da 15ª Panzer, bem apoiados por carros-de-combate e blindados leves, avançaram contra o setor noroeste. A infantaria alemã deslocava-se com entusiasmo; a cota 186, um trecho importante de terreno relativamente alto, parecia ser o objetivo. O batalhão da Legião saía-se bem, mas foi obrigado a recuar, perdendo muitos homens. Sua 6ª Companhia foi dizimada e teve de ser reforçada pela 22ª Companhia africana. Os transportes Bren da Legião estavam a postos para levar homens ao setor ameaçado da penetração. Sessenta Stukas desfecharam um ataque no começo da tarde, infligindo mais danos à guarnição em apuros, e a infantaria alemã tornou a avançar, antes mesmo que tivesse assentado a poeira levantada pelas bombas lançadas dos terríveis aviões.
O posto de observação de artilharia da Cota 186 silenciara desde antes do meio-dia, prejudicando os disparos dos 75 mm. Outra leva de infantaria inimiga avançou, dessa vez contra o setor da Legião. Toda a frente norte estava sendo violentamente atacada. As linhas do posto de comando de Koenig foram cortadas pelo fogo de artilharia; poeira e fumaça obscureciam a visão geral da batalha. A situação se agravava; muitos canhões antitanque já se encontravam fora de combate; um 75 mm recebeu tiro certeiro e foi reduzido a destroços, bem como sua guarnição. Uma granada alemã atingiu um dos depósitos de munição que, ao explodir, produziu enorme clarão e fragor intenso.
Koenig enviara repetidas ordens a seus comandantes de unidade, salientando que a infantaria deveria manter-se firme, ainda que ultrapassada por blindados. Insistia para que eles deixassem passar os carros-de-combate, mas contivessem a infantaria alemã que viria atrás deles. Todas as peças de artilharia deveriam concentrar-se em deter os blindados. Finalmente, ordenou que, se fosse inevitável a queda da praça que defendiam, todos os documentos secretos deveriam ser queimados.
Ao anoitecer, o círculo de defensores permanecia intacto, embora seriamente forçado. O Batalhão de Marcha, a noroeste, perdera muito terreno; a 6a Companhia do Batalhão foi retirada para a reserva da brigada, indo ocupar o lugar deixado por ela na linha defensiva a 22ª Companhia norte-africana.
Os dispositivos médicos estavam à beira do colapso, mas a equipe da brigada se multiplicava em esforços para dar atendimento aos feridos, cada vez mais numerosos. A escassez de água não permitia a lavagem dos ferimentos. As substâncias para assepsia dos locais atingidos eram escassas, assim como anestésicos, plasma, sulfa etc. A RAF conseguira lançar de pára-quedas alguns suprimentos médicos, mas o pára-quedas não abriu. Caindo vertiginosamente contra o solo, espatifara-se o material ansiosamente esperado.
Apesar da extrema gravidade da situação, o moral dos defensores da praça permanecia elevado. Compreendiam todos que estava em jogo não apenas o destino de uma encruzilhada de trilhas do deserto, mas muito mais que isso. A verdade é que se Bir Hakeim caísse, Rommel poderia voltar-se contra o resto do VIII Exército, ainda aturdido após a derrota no “caldeirão”, criando complicação muito mais séria. Falhassem os homens das Forças Francesas Livres no cumprimento da ingente tarefa que tinham pela frente e o dobre de finados teria soado para o Exército francês pela segunda vez em dois anos. Evidentemente, após vários dias de luta feroz e a possibilidade de muitos mais, os defensores de Bir Hakeim não romantizavam seu papel. Sede, fome, ferimentos e morte era o que tinham pela frente. Koenig enviou a seguinte mensagem para o comando britânico: “Estamos cercados. Nossos pensamentos estão voltados para vocês. Estamos confiantes. Viva a França Livre!” Na intimidade das páginas de seu diário, de Gaulle confidenciaria: “Bir Hakeim – lágrimas de júbilo, lágrimas de orgulho!”
Terça-feira, 9 de junho, foi outro dia de sol causticante no deserto. A guarnição, já então muito cansada, tinha os raros momentos de sono constantemente interrompidos por alarmes noturnos e por foguetes luminosos alemães que banhavam de luz fantasmagórica toda a área. Quase sem água, ração e munição, vivíamos na expectativa de mais um ataque, com decidida determinação, ainda que fisicamente extenuados pela defesa titânica. À guisa de prelúdio, os canhões e aviões alemães saturavam a posição com bombas de alto poder explosivo. Os fios telefônicos foram cortados novamente – e não havia mais fio para substituí-los.
Às 13h o ataque se desenvolveu contra o Batalhão do Pacífico e o Batalhão da Legião. A infantaria alemã que avançava era auxiliada por carros-de-combate e canhões de 50 mm que se moviam em estreito apoio e destruíram mais outros de 75 mm. Os alemães abriam caminho lutando obstinadamente e conseguiram enfiar uma cunha entre duas companhias do Batalhão de Marcha. Houve um feroz corpo-a-corpo: um soldado alemão foi abatido a poucos metros de um canhão de 75 mm. Por instantes, parecia que os soldados africanos cederiam à tremenda pressão. Quando o colapso parecia inevitável, ouviu-se um troar vindo da retaguarda: uma das seções de transportes Bren da Legião apareceu apressada. Os legionários estavam relativamente descansados e fecharam a brecha, obrigando a infantaria inimiga a recuar.
Também no sul a guarnição estava sob violento ataque. Parte da 90ª Ligeira alemã, cuja artilharia estivera apoiando o ataque no norte, desviou-se e atacou o Batalhão do Pacífico. Os alemães sofreram seriamente – 250 corpos foram contados na frente das posições do batalhão -, mas, ao amanhecer, eles se haviam estabelecido a pouco mais de 200m do forte. Esses ataques foram acompanhados de tentativas mais sutis para provocar a queda de Bir Hakeim.
Uma mensagem de rádio, supostamente da 7ª Divisão Blindada britânica, chegou ao posto de comando de Koenig. “Estamos sendo atacados”, anunciava desanimadamente, “e não podemos ajudá-los”. Diga ao seu chefe que se renda para evitar mais derramamento de sangue”. A mensagem fora transmitida em inglês incorreto, com traços de sotaque alemão, e não enganou a ninguém. Às 20h, um ataque maciço de Stukas martelou a posição cercada. Uma bomba caiu numa enfermaria, matando 19 feridos. Vários caminhões e grande parte da ração que estava sendo distribuída foram destruídos. O Batalhão do Pacífico sofreu rude golpe – o Tenente-Coronel Broche e seu ajudante, Capitão de Bricourt, foram mortos quando uma granada atingiu o posto de comando do batalhão.
Os atacantes também sofreram pesadas baixas. O grupo de combate do Coronel Hecker, comandante dos sapadores do Panzer, vinha sendo a ponta-de-lança do ataque desde a noite de 8 de junho, e perdera 10 dos seus 11 carros-de-combate e grande parte da infantaria. Hecker fora reforçado pelo Grupo Baade, dois batalhões do 115º Regimento de Panzergrenadieren da 15ª Divisão. Os homens de Baade também foram seriamente maltratados, sobretudo na luta feroz em torno do velho forte situado na extremidade sul da posição.
Ao anoitecer do dia 9, Koenig viu claramente que Bir Hakeim não poderia ser defendida por muito mais tempo. A Cota 186 fora perdida, o que permitia aos alemães dominar o setor do Batalhão da Legião. A situação no sul, em torno do forte, também era crítica. As perdas, em homens e equipamento, haviam sido elevadas e a permanente escassez de munição era fonte constante de preocupação. Koenig viu-se diante de difícil decisão: permanecer em Bir Hakeim e correr o risco de aniquilamento total, em futuro próximo, ou tentar escapar. Ritchie sempre exortara Koenig a resistir, mas, ainda na tarde de 9 de junho, a 7ª Divisão Blindada britânica perguntou-lhe, pelo rádio, se ele considerava aconselhável sair dali. Koenig manifestou-se favorável a retirada, desde que houvesse transporte suficiente para todos os feridos. Como a 7ª Blindada não dispunha de veículos suficientes na noite de 9 para 10 de junho, decidiu-se que a tentativa seria feita na noite seguinte.
Em 10 de junho, o grupo de combate do Coronel Baade fez, ao norte, considerável progresso, penetrando na principal linha de defesa. A seção de carretas transportadoras de Bren do Tenente Dewey, da Legião, lançou-se ao contra-ataque, seguindo-se luta violenta. O próprio Rommel se encontrava na companhia do Grupo Baade, naquele momento, e referindo-se à ferocidade do combate, disse: “Os franceses defendiam desesperadamente cada ninho de resistência e, com isso, sofriam baixas terríveis”.
Num esforço supremo, os legionários de Dewey conseguiram conter a penetração. No meio da manhã, 110 aviões submeteram a posição a terrível castigo. Nada menos que 130 toneladas de bombas caíram sobre Bir Hakeim durante aquele dia.
À noite, Rommel informou ao Alto Comando, na Alemanha, que Bir Hakeim cairia no dia seguinte. Sem dúvida isso chegava bem a tempo para Kesselring, pois ele via as perdas da Luftwaffe naquele setor com crescente desalento. Já insistira junto a Rommel para que vencesse os franceses com os carros, de modo a poupar a arma aérea; Rommel acertadamente, calculara que um ataque maciço de carros-de-combate a Bir Hakeim só poderia resultar em grandes perdas de blindados nos campos minados. Por isso estava convencido de que mais um esforço levaria os franceses ao colapso, o que era bem provável.
Durante o dia 10, os morteiros da guarnição haviam disparado a última munição; para os canhões restavam apenas uns poucos cartuchos. Enquanto os alemães se preparavam para o ataque decisivo, Koenig cuidava da retirada.
A retirada é das situações mais difíceis numa guerra, quase sempre realizada com o moral da tropa muito baixo – diga-se, a bem da verdade, que não era o caso dos franceses livres. Requer planejamento meticuloso e um cronograma cuidadosamente calculado. Um pequeno erro pode causar não apenas ligeiro revés tático, mas grande desastre. A noite é o momento para realizá-la, embora a escuridão aumente bastante os problemas de controle e navegação.
Os riscos que os franceses teriam que enfrentar na retirada de Bir Hakeim eram numerosos. Seria preciso conduzir uma grande força, com transporte e equipamento, através de campos minados e à frente do inimigo – sempre vigilante – para fora de Bir Hakeim. O melhor caminho de saída era em direção leste, pelas posições da Legião. Koenig, no entanto, decidiu não usá-lo, pois os alemães sabiam ser esta a mais provável linha de retirada. Assim, deu ordens para abrir uma passagem de 150 metros de largura no campo minado ocidental, logo ao norte do velho forte. A 7ª Brigada Motorizada forneceria caminhões e ambulâncias, que aguardariam por Koenig no deserto, oito quilômetros a sudeste de Bir Hakeim. Uma ordem de operações detalhada delineava todo o plano. As unidades que se encontravam em contato como inimigo ficariam para trás até o último momento; duas companhias permaneceriam com o grupo de despistamento. O equipamento que não pudesse ser retirado seria destruído. Os documentos secretos foram colocados na viatura de Keonig, à exceção de uns poucos, mais importantes, que ficaram na pasta do Tenente-Coronel Masson.
Entretanto, como acontece em tantas operações militares, as coisas não saíram de acordo com os planos. O carregamento dos veículos demorou mais do que o esperado, a comunicação entre Keonig e seus comandantes de unidade e destes com suas subunidades era difícil. Às 20h30 min, os primeiros elementos – o comboio médico – iniciaram a retirada. Seguiram-se o Batalhão do Pacífico e um Batalhão da Legião. Os fuzileiros da Marinha encontraram problemas com a orientação noturna, um dos canhões que levavam e seu veículo de reboque caíram num grande buraco e tiveram de ser deixados para trás. A artilharia alemã contribuía para o caos, abrindo fogo e incendiando vários veículos, as chamas iluminavam tudo. Foi um pesadelo.
Granadas explodiam nas defesas abandonadas e foguetes luminosos lançados de pára-quedas, voejavam sobre a paisagem árida. De ambos os flancos, o fogo de metralhadoras era incessante. Grupos de infantaria empenhavam-se numa luta confusa. O aspirante Bellec, responsável pela orientação da coluna do quartel-general, entrou num campo minado. Fez algumas tentativas para passar, mas houve explosões. Koenig mandou que o grupo se desviasse para o sul, a fim de evitar as minas. Por volta das 3h, alcançou o corpo principal da brigada, que fora retardado por vigorosa oposição dos alemães. Keonig incumbiu o Capitão Lamaze de abrir caminho para a coluna, houve um combate penoso, no qual pereceram o capitão e o arrojado Tenente Dewey. Vários veículos se incendiaram, mas a brigada conseguiu reiniciar o deslocamento, embora tivesse perdido a coesão e fosse totalmente impossível reagrupar. Não obstante, a maior parte da guarnição, de um modo ou de outro, conseguiu chegar ao lcoal de encontro com a 7ª Brigada Motorizada.
De início parecia que as baixas tinham sido muito grandes. Às 7h do dia 11, Koenig e Amilakvari estavam desaparecidos e menos de 1.500 soldados haviam chegado às linhas britânicas. Com o passar das horas, o quadro foi melhorando. Às 8h, a 7ª Brigada Motorizada comunicou que dois mil soldados franceses tinham chegado a salvo.
A defesa de Bir Hakeim teve a grande vantagem de dar tempo ao VIII Exército. Rommel só ficou pronto para iniciar suas operações na tarde de 11 de junho. (...)
O rompimento do cerco de Bir Hakeim, naquela noite negra, perde-se num misto indefinido de recordações. Um sem-número de batalhas em toda a extensão da linha confunde-se com as aventuras individuais e com atos de inexcedível heroísm
Nascido de alma caudilha- nem por isso menos franca -Deus te deu essa cor branca que até de noite rebrilha.Lua do herói na coxilha,por onde eu for, onde eu ande e sem que ninguém me mande eu te canto, troféu mudo que é puro neste Rio Grande!
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Re: SEGUNDA GUERRA MUNDIAL
A descrição detalhada dos acontecimentos, embora longa, faz-se necessária para uma visão abrangente do que foram os terríveis combates na frente da Linha de Gazala e a defesa do reduto de Bir Hakeim.
A guarnição movimentava-se em direção a oeste, contornando as linhas inimigas, para alcançar o ponto de encontro fixado pela 7ª Brigada britânica. Alguns elementos conseguiram passar sem luta, outros foram obrigados a combater e só chegaram ao ponto de encontro aos poucos, às vezes um a um. O General Koenig partira, conduzido por sua motorista Susan Traveys, que lá continuava desobedecendo friamente à ordem de abandonar Bir Hakeim dada às auxiliares inglesas que serviam na 1ª Brigada dos Franceses Livres. Koenig chegou ao local do reagrupamento após ter estado, por várias vezes, à beira do cativeiro e da morte. O mesmo aconteceu ao Tenente-Coronel Amilakvari e ao Capitão Messmer, outros grandes heróis dessa epopéia. Anos depois Messmer seria Ministro da Guerra do General de Gaulle e, posteriormente, Primeiro-Ministro da França, no governo do Presidente Georges Pompidou.
A luz dos foguetes, dos projéteis luminosos e traçadores e das explosões das minas projetava-se, no deserto, como fogos de artifício a se prolongarem pela noite. A despeito da algazarra, Rommel não acreditou em uma retirada geral e, ao romper da aurora, bombardeou Bir Hakeim, onde só restava um punhado de homens, em sua maioria feridos. Dois terços da 1ª Brigada dos Franceses Livres conseguiram arrancar-se da situação difícil. Foi após a luta desesperada de Bir Hakeim que a França reencontrou sua alma e que o movimento de resistência tomou impulso.
No dia 11 de junho, pela manhã, minha unidade recebeu ordens para retornar, patrulhando, até as proximidades de Gambut e juntar-se a uma coluna semi-blindada britânica, que vinha na direção de Sidi Rezegh. Preparamo-nos para cumprir a missão e partimos às 14h. Além do armamento normal, levávamos, cada um, mais quatro granadas presas na cintura.
Ao escurecer, observamos ao longe foguetes coloridos, assinalando a presença da coluna que procurávamos. Ou melhor, assim pensamos, mas, quando nos aproximamos, noite fechada, fomos cercados por uma coluna alemã que também patrulhava a área. Os soldados nos cercaram e um oficial gritou em francês: “larguem as armas! Saltem todos dos caminhões!”
Caíramos numa armadilha e, horrorizados, víamo-nos aprisionados pelo inimigo. Alguns legionários pularam dos caminhões, inclusive os do meu pelotão, mas não nos conformávamos com o que estava acontecendo. De repente, na escuridão da noite, um legionário do 2º pelotão, abissínio, ao saltar do caminhão, conseguiu tirar o pino de uma granada e atirá-la na direção dos alemães. Os alemães se espalharam atirando e nós também. No tumulto, ouvi nosso tenente gritar: “Salvem-se como puderem! Corram para os caminhões!”
Em debandada, corremos para os caminhões que já estavam em movimento, tentando fugir. A fuzilaria era intensa. As balas passavam zunindo por todos os lados. Parei um instante, joguei uma granada na direção dos que atiravam contra nós e disparei para pegar o caminhão, onde já se encontravam alguns companheiros do meu pelotão gritando por mim. Corri como um louco e consegui agarrar-me a tampa traseira da carroceria, mas não tive força para subir e deixei-me arrastar, gritando por ajuda. Agarrando com força e gritando, fui sendo levado pelo caminhão em disparada, ouvindo o zumbido das balas que passavam. Foi um horror!...
Quase perdendo as forças, finalmente consegui passar a mão direita por dentro da folga da corrente que prendia a tampa traseira na carroceria e senti mais firmeza. Deixei-me arrastar continuando a gritar por ajuda. Nisso ouvi forte explosão do lado direito. O caminhão que corria próximo ao nosso fora atingido por um tiro de canhão e explodira em chamas. Outra explosão, bem perto, também não nos atingiu. Quando já nos distanciáramos e a situação parecia mais calma, meu amigo Marcheval veio ao meu socorro puxando-me para dentro do caminhão pela camisa, que ficou completamente rasgada. Caí no chão da carroceria completamente esgotado, sentindo uma dor muito forte no pulso da mão direita, que prendera na corrente da tampa traseira.
O caminhão, aos solavancos, continuava em, alta velocidade Dez minutos depois, bateu com violência na borda de um enorme buraco, jogando-nos uns contra os outros numa confusão dos diabos. Não mais andou; com a forte batia, a suspensão dianteira ficara danifica e tivemos que abandoná-lo.
Só a claridade das estrelas nos iluminava. Antes de pularmos do caminhão, percebemos que os alemães ainda nos perseguiam. Para nós, legionários, era humilhante não enfrentá-los, mas não havia alternativa senão a de escapar daquela situação e nos juntarmos ao restante da brigada. A prioridade era voltar ao combate. Se resolvêssemos parar e lutar, nosso sacrifício seria em vão. Apressados, pegamos nossas armas e tudo que nos foi possível encontrar naquela balbúrdia e no escuro. Pulamos do caminhão e disparamos a correr pelo deserto.
A princípio, ficamos desorientados. Não identificávamos bem nossa posição, mas o tenente decidiu seguir em direção ao norte, rumo ao litoral. Quando amanheceu, fizemos um balanço da situação e do que tínhamos conseguido trazer do caminhão. Contando com o tenente, éramos nove. Marcheval, Louzada, Shielguemilch, Guerin e eu éramos do mesmo pelotão. Os outros três eram do 2º pelotão. Um deles eu conhecia, chamava-se Martinez, de nacionalidade colombiana. Cada um de nós trazia sua arma e vários pentes de bala. Contávamos ainda com um fuzil FM, 13 granadas de mão ofensivas, 5 punhais de comandos, 4 cantis cheios de água, 3 tabletes de chocolate, 6 latas de ração, algum medicamento e 1 tubo de sulfa em pó. O tenente estava ferido. Uma bala de fuzil atravessara seu ombro esquerdo, fraturando-lhe a clavícula. Resultado final do balanço: o tenente ferido, comida e água em quantidade que mal dava para um dia, e nenhuma idéia de quanto tempo teríamos que caminhar pelo deserto até encontrarmos nossa gente. Depois de tratarmos do ferimento do tenente e de imobilizarmos seu braço, a ordem foi continuar a caminhada rumo ao litoral, bem distanciados uns dos outros, para não sermos localizados pelos aviões ou eventuais patrulhas inimigas.
Quando atingimos o topo da crista, avistamos ao longe um trecho da Via Balbia, o que nos permitiu saber onde nos encontrávamos. Tudo parecia calmo. Sem perigo a vista, o tenente nos reuniu para novas instruções. Ficou decidido que seguiríamos no rumo sul até encontrarmos a trilha para o Forte Capuzzo. Daí prosseguiríamos andando, enquanto fosse possível. Já passava das 16h quando localizamos a trilha: caminhamos até as 20h e fizemos uma parada. Até então nada havíamos comido ou bebido. Sede e fome começavam a nos torturar. O sol e o calor nos haviam maltratado durante todo o dia, e sentíamos enorme cansaço. Bebemos dois goles de água e dividimos duas latas de ração, nada mais. Continuamos a caminhada até um pouco depois da meia-noite. Considerando que já nos afastáramos alguma coisa da área crítica, o tenente autorizou que descansássemos até o amanhecer, revezando-nos na vigilância. A noite foi muito fria. Tremendo, pois não conseguira outra camisa, quase não dormi.
A madrugada do dia 13 de junho chegou trazendo muita ventania. Quando amanheceu, sufocados, cobertos de pó, maldizendo o tempo, nem nos dávamos conta que a tempestade de areia que amaldiçoávamos era nossa mais forte aliada naquele momento. O inimigo também seria obrigado a uma incômoda parada para se proteger. Seus aviões ficariam retidos nas pistas de pouso.
A tempestade tudo obscurecia e encobria o sol. Por volta das 13h, houve ligeira melhora no tempo. Aproveitamos para sair em busca de um abrigo mais seguro. Caminhamos por mais duas horas, mas, novamente, ficamos impossibilitados de prosseguir porque a tempestade voltou com mais violência, quase caímos num desfiladeiro. Tivemos que nos abrigar precariamente.
Por mais dois dias o vento soprou com violência. Finalmente, na madrugada do terceiro dia, de repente, tudo se acalmou e voltamos a enxergar o céu estrelado. Ouvia-se ao longe o troar dos canhões da artilharia alemã bombardeando Tobruk.
Já estávamos em 16 de junho. Nossa ração de água e comida era quase nenhuma. O tenente amanheceu febril. O ferimento parecia infeccionado e pouco podíamos fazer para ajudar. Limpamos a ferida e borrifamos com pó se sulfa. Em seguida, prosseguimos caminhando por mais dois dias, com relativa segurança. Ficávamos escondidos entre os arbustos ao avistar aviões ou patrulhas inimigas ao longe. Por sorte, não nos viam, porque mantínhamos distância uns dos outros. O sol implacável nos maltratava. Era como se toda a energia tivesse abandonado nosso corpo. A vontade era deitar e esperar que o amaldiçoado astro desaparecesse. Entretanto, não podíamos parar. As horas se arrastavam, até que o sol se pôs. Andamos mais um pouco e o tenente nos permitiu parar para um pequeno descanso. Nossas bocas e gargantas estavam completamente ressecadas. A sede era insuportável. A água que restava no quarto e último cantil foi dividida igualmente, o que coube a cada um foi insuficiente para aliviar nosso tormento. A comida já acabara. Cansadíssimos pernoitamos ali mesmo.
Na manhã do dia seguinte, o moral era baixo. Constatou-se que o Martinez na véspera, largara seu fuzil pelo caminho. Quando o tenente ficou sabendo, mandou que ele voltasse para buscá-lo, dizendo-lhe: “Um verdadeiro legionário jamais abandona sua arma. Volte!”.
Martinez olhou para nós como a pedir ajuda, mas ninguém disse nada. Também sem dizer nada, virou-se e partiu para apanhar o fuzil que abandonara. Nunca mais voltou. Meses mais tarde, soubemos que caíra prisioneiro de uma patrulha italiana e que estava internado num campo de prisioneiros de guerra na Itália.
De novo caminhávamos sob o sol. Aquele dia parecia o mais quente de todos. Já não suportávamos o tormento da sede, muito maior que a fome a corroer nossos estômagos. Como quase sempre acontecia, Marcheval e eu caminhávamos separados, mas bem à frente dos outros. Andando com dificuldade, com os pés inchados e doloridos, sentia minha resistência diminuir a cada passo que dava. Parecia que o fim havia chegado. Já estava perdendo as esperanças quando vi que Marcheval, como que por instinto, caíra deitado no chão e começara a rastejar. Fiz o mesmo e fiquei quieto, depois de sinalizar para que os outros companheiros também o fizessem. Teríamos alcançado a linha de frente britânica? Aproximei-me de Marcheval e, rastejando, subimos uma pequena inclinação no terreno. Ouvimos vozes e ficamos imóveis, tentando identificar o idioma que falavam. Pareceu-nos árabe ou indiano. Resolvemos arriscar. Levantamos e gritamos. No mesmo instante, o horizonte encheu-se de soldados e pudemos ouvir os estalos dos ferrolhos de suas armas. Identificamo-nos e mandaram que nos aproximássemos. Graças a Deus, eram de fato nossos aliados. Estávamos salvos!
Os nossos “anfitriões” eram de uma unidade britânica de soldados hindus; estavam colocando minas em áreas estratégicas, ao longo da linha de defesa na fronteira do Egito com a Líbia. Acolheram-nos com respeito e preocupação, quando viram o estado em que nos encontrávamos. Bebemos água em pequenos goles e, em seguida, uma caneca de chá com leite. Quando, finalmente olhamos um para o outro, começamos a rir de nervoso, gritando, pulando e nos abraçando, para surpresa dos soldados que nos rodeavam sem entender nada. Estávamos irreconhecíveis. Tínhamos uma aparência horripilante, parecíamos múmias ou zumbis saídos do fundo da cova, cobertos de poeira dos pés à cabeça. A cena era trágica e cômica ao mesmo tempo. Por fim, caímos deitados no chão e dormimos profundamente.
Pela manhã, depois de nos lavarmos e de melhorarmos a aparência, fomos conduzidos ao serviço médico, examinados e tratados na enfermaria da unidade. Um soldado me presenteou com uma camisa. O bravo tenente que nos comandava, devido à gravidade do seu estado de saúde, fora medicado logo ao chegar e transferido para um hospital de campanha britânico, possivelmente para ser operado. Após a refeição que nos serviram, um oficial inglês chegou com instruções para nos transportar até Mersa Matruh. Embarcamos em seguida.
Durante a viagem, soubemos que Rommel havia recomeçado a ofensiva logo depois da conquista de Tobruk, onde fizera mais de 33 mil prisioneiros sul-africanos. Avançava, agora, em direção ao Egito. O General Ritchie tentava reorganizar o VIII Exército na fronteira, para conter o avanço do Afrika Korps. Este era o quadro quando nos juntamos ao batalhão em Mersa Matruh, no dia 21 de junho de 1942.
Em 23 de junho, a vanguarda das forças do Africa Korps alcançou a fronteira egípcia. Prosseguindo no avanço, Rommel combatia e dispersava as forças britânicas que o enfrentavam, chegando às proximidades da linha de defesa em Mersa Matruh no dia 25. Suas colunas avançadas já tomavam posição de ataque próximo ao local onde estávamos, quando fomos substituídos por tropas britânicas e enviados a construir outra linha de defesa em Fouka, nas cercanias de El Daba. Passamos o dia a cavar trincheiras.
Todo o VIII Exército britânico estava cansado, disperso, confuso e em condições desesperadoras. Igualmente, era esse o nosso estado de espírito. Eu, particularmente, sentia-me esgotado e desmotivado para cavar novas trincheiras. Além disso, já era quase noite; cavei apenas um buraco para abrigar-me. Com o passar das horas, como tudo parecia tranqüilo e fazia frio, resolvi abrigar-me melhor debaixo do nosso caminhão, estacionado ali perto. Pela madrugada, quase ao raiar do dia 26, o companheiro que se abrigava a meu lado acordou-me dizendo que aviões inimigos sobrevoavam nossas posições. Não demorou, começaram a lançar foguetes luminosos presos em pára-quedas. Toda a área clareou como se já fosse dia.
Repentinamente, ouvimos o som característico dos aviões de mergulho e o assobio das bombas caindo. O inferno desabara sobre nós. As bombas explodiam por todos os lados. Uma explosão mais próxima nos deixou surdos. Um calor insuportável começou a nos incomodar terrivelmente. Era o nosso caminhão pegando fogo, já quase a nos queimar também. Tinha sido seriamente atingido por estilhaços da bomba. Sequer fiquei sabendo quem me arrastou até uma trincheira onde fiquei deitado, sangrando e completamente atordoado, ainda sem poder movimentar a perna esquerda. O bombardeio continuou intenso, cessando algum tempo depois.
O ataque aéreo ocasionara a morte de dois legionários, ferimentos em quatro, inclusive eu, e a destruição de dois caminhões. Com os outros feridos, fui levado para a enfermaria do batalhão. Ao examinar meus ferimentos, o tenente médico, Richard Martin, constatou que não tinha recursos para extrair os estilhaços, deu-me uma injeção de morfina para a aliviar as dores e removeu-me para o hospital de campanha britânico montado à retaguarda, juntamente com outro legionário, ferido gravemente no ventre e nas pernas.
Duas horas depois, chegando ao hospital, fomos deixados numa grande barraca de lona, onde já se encontravam outros feridos aguardando a vez para serem operados. Nesse momento, ao ver os feridos sendo medicado ou aguardando o cirurgião para operá-los, ouvindo seus gemidos de dor, é que comecei a acordar para o lado negro e cruel da guerra. Deitado bem perto de mim, um ferido gemia: a explosão de uma mina tinha-lhe dilacerado as duas pernas, mas adiante, um outro sangrava, com o ventre aberto, ao meu lado esquerdo, podia ver alguém sem um dos braços, mais para o fundo da barraca, outro gritava de dor, todo mutilado.
Diante deste quadro, tomava consciência da violência, da brutalidade, da dor, do sofrimento e do grande sacrifício a que estavam sendo submetidos os bravos soldados que lutavam nessa maldita guerra. A ambição e a ideologia de homens que queriam dominar o mundo os haviam jogado nesse cataclisma. Testemunhando tanta desgraça, sentia, mais do que nunca, o acerto de minha decisão de lutar ao lado dos que defendiam a liberdade e a civilização cristã.
Fui levado para outra barraca e examinado pelos cirurgiões, ouvi quando um deles disse: “Podem levá-lo. Tirem a radiografia e o preparem que eu mesmo vou operá-lo e extrair os estilhaços da bomba”.
Acordando da anestesia, senti que a perda esquerda tinha sido engessada do pé até a virilha. Os pequenos estilhaços que tinham penetrado em outras partes do meu corpo, embora sem gravidade, também tinham sido extraídos. Novamente fui levado para outra barraca e informado que seria embarcado numa ambulância e transferido para um hospital em Alexandria, onde ficaria internado. O tratamento que recebi no hospital de campanha foi excelente. Soube, mais tarde, que tinha sido operado por um grande cirurgião inglês, brigadeiro da RAF.
Quando estava sendo colocado na ambulância, soou o alarme de ataque aéreo. Ouvi o ronco inconfundível dos motores dos aviões alemães que nos sobrevoavam, mas não atacaram. Ouvi também o troar dos canhões atirando não muito longe de onde estávamos, e soube, pelos padioleiros, que já estavam tomando providências no sentido de deslocar o hospital de campanha para além de El-Alamein.
A ambulância ia aos solavancos, rodando em comboio por trilhas no deserto, pois a estrada asfaltada era utilizada no trânsito das tropas e dos carros-de-combate que iam reforçar os que lutavam na linha de frente. Os solavancos incomodavam muito. A dor na perna aumentava ainda mais. Por cima da minha maca tinha sido colocada outra com um soldado inglês bastante ferido e que não parava de gemer. Já tínhamos rodado algum tempo, quando comecei a sentir algo pingando no meu peito, vi que era sangue, caindo da maca de cima. Fiquei apavorado. O ferido deveria estar sofrendo forte hemorragia. Preso na maca, não podia me mover. Angustiado, tentei chamar o motorista ou o padioleiro. Gritei o mais alto que pude, mas não fui ouvido. Continuei gritando sem parar. Passado algum tempo, a ambulância parou. Eu continuava a gritar tão alto quanto podia, já rouco. Quando o padioleiro abriu a porta para saber a razão dos meus gritos, era tarde. O ferido havia falecido, esvaindo-se em sangue. Esse fato, um dos horrores da guerra, ficou indelevelmente registrado em minha memória.
Pouco tempo depois ficamos hospitalizados em Alexandria. No início do mês de julho, os soldados franceses feridos foram transferidos para um outro hospital em Beirute, no Líbano. Antes da partida, soube que o General Auchinleck decidira assumir pessoalmente o comando na frente de batalha e que partira de avião do Cairo no dia 25 de junho para substituir o general Ritchie. Mas, nem mesmo ele conseguiu reagrupar os sobreviventes do VIII Exército antes de retornarem às posições de El-Alamein, onde, finalmente, o avanço de Rommel foi sustado.
O autor servia no 3º pelotão da 3ª Companhia do 1º Batalhão da Legião estrangeira, ligado à 13ª Meia-Brigada da Legião, com honras de combate de Camerone, 1863; Bergevik-Narvik, 1940; Kerem-Massaoua, 1941 e o batalhão sendo comandado pelo Capitão Paris de Bolladière.
Fonte deste artigo: Raul Soares da Silveira, Tempos de Inquietude e de Sonho.
A guarnição movimentava-se em direção a oeste, contornando as linhas inimigas, para alcançar o ponto de encontro fixado pela 7ª Brigada britânica. Alguns elementos conseguiram passar sem luta, outros foram obrigados a combater e só chegaram ao ponto de encontro aos poucos, às vezes um a um. O General Koenig partira, conduzido por sua motorista Susan Traveys, que lá continuava desobedecendo friamente à ordem de abandonar Bir Hakeim dada às auxiliares inglesas que serviam na 1ª Brigada dos Franceses Livres. Koenig chegou ao local do reagrupamento após ter estado, por várias vezes, à beira do cativeiro e da morte. O mesmo aconteceu ao Tenente-Coronel Amilakvari e ao Capitão Messmer, outros grandes heróis dessa epopéia. Anos depois Messmer seria Ministro da Guerra do General de Gaulle e, posteriormente, Primeiro-Ministro da França, no governo do Presidente Georges Pompidou.
A luz dos foguetes, dos projéteis luminosos e traçadores e das explosões das minas projetava-se, no deserto, como fogos de artifício a se prolongarem pela noite. A despeito da algazarra, Rommel não acreditou em uma retirada geral e, ao romper da aurora, bombardeou Bir Hakeim, onde só restava um punhado de homens, em sua maioria feridos. Dois terços da 1ª Brigada dos Franceses Livres conseguiram arrancar-se da situação difícil. Foi após a luta desesperada de Bir Hakeim que a França reencontrou sua alma e que o movimento de resistência tomou impulso.
No dia 11 de junho, pela manhã, minha unidade recebeu ordens para retornar, patrulhando, até as proximidades de Gambut e juntar-se a uma coluna semi-blindada britânica, que vinha na direção de Sidi Rezegh. Preparamo-nos para cumprir a missão e partimos às 14h. Além do armamento normal, levávamos, cada um, mais quatro granadas presas na cintura.
Ao escurecer, observamos ao longe foguetes coloridos, assinalando a presença da coluna que procurávamos. Ou melhor, assim pensamos, mas, quando nos aproximamos, noite fechada, fomos cercados por uma coluna alemã que também patrulhava a área. Os soldados nos cercaram e um oficial gritou em francês: “larguem as armas! Saltem todos dos caminhões!”
Caíramos numa armadilha e, horrorizados, víamo-nos aprisionados pelo inimigo. Alguns legionários pularam dos caminhões, inclusive os do meu pelotão, mas não nos conformávamos com o que estava acontecendo. De repente, na escuridão da noite, um legionário do 2º pelotão, abissínio, ao saltar do caminhão, conseguiu tirar o pino de uma granada e atirá-la na direção dos alemães. Os alemães se espalharam atirando e nós também. No tumulto, ouvi nosso tenente gritar: “Salvem-se como puderem! Corram para os caminhões!”
Em debandada, corremos para os caminhões que já estavam em movimento, tentando fugir. A fuzilaria era intensa. As balas passavam zunindo por todos os lados. Parei um instante, joguei uma granada na direção dos que atiravam contra nós e disparei para pegar o caminhão, onde já se encontravam alguns companheiros do meu pelotão gritando por mim. Corri como um louco e consegui agarrar-me a tampa traseira da carroceria, mas não tive força para subir e deixei-me arrastar, gritando por ajuda. Agarrando com força e gritando, fui sendo levado pelo caminhão em disparada, ouvindo o zumbido das balas que passavam. Foi um horror!...
Quase perdendo as forças, finalmente consegui passar a mão direita por dentro da folga da corrente que prendia a tampa traseira na carroceria e senti mais firmeza. Deixei-me arrastar continuando a gritar por ajuda. Nisso ouvi forte explosão do lado direito. O caminhão que corria próximo ao nosso fora atingido por um tiro de canhão e explodira em chamas. Outra explosão, bem perto, também não nos atingiu. Quando já nos distanciáramos e a situação parecia mais calma, meu amigo Marcheval veio ao meu socorro puxando-me para dentro do caminhão pela camisa, que ficou completamente rasgada. Caí no chão da carroceria completamente esgotado, sentindo uma dor muito forte no pulso da mão direita, que prendera na corrente da tampa traseira.
O caminhão, aos solavancos, continuava em, alta velocidade Dez minutos depois, bateu com violência na borda de um enorme buraco, jogando-nos uns contra os outros numa confusão dos diabos. Não mais andou; com a forte batia, a suspensão dianteira ficara danifica e tivemos que abandoná-lo.
Só a claridade das estrelas nos iluminava. Antes de pularmos do caminhão, percebemos que os alemães ainda nos perseguiam. Para nós, legionários, era humilhante não enfrentá-los, mas não havia alternativa senão a de escapar daquela situação e nos juntarmos ao restante da brigada. A prioridade era voltar ao combate. Se resolvêssemos parar e lutar, nosso sacrifício seria em vão. Apressados, pegamos nossas armas e tudo que nos foi possível encontrar naquela balbúrdia e no escuro. Pulamos do caminhão e disparamos a correr pelo deserto.
A princípio, ficamos desorientados. Não identificávamos bem nossa posição, mas o tenente decidiu seguir em direção ao norte, rumo ao litoral. Quando amanheceu, fizemos um balanço da situação e do que tínhamos conseguido trazer do caminhão. Contando com o tenente, éramos nove. Marcheval, Louzada, Shielguemilch, Guerin e eu éramos do mesmo pelotão. Os outros três eram do 2º pelotão. Um deles eu conhecia, chamava-se Martinez, de nacionalidade colombiana. Cada um de nós trazia sua arma e vários pentes de bala. Contávamos ainda com um fuzil FM, 13 granadas de mão ofensivas, 5 punhais de comandos, 4 cantis cheios de água, 3 tabletes de chocolate, 6 latas de ração, algum medicamento e 1 tubo de sulfa em pó. O tenente estava ferido. Uma bala de fuzil atravessara seu ombro esquerdo, fraturando-lhe a clavícula. Resultado final do balanço: o tenente ferido, comida e água em quantidade que mal dava para um dia, e nenhuma idéia de quanto tempo teríamos que caminhar pelo deserto até encontrarmos nossa gente. Depois de tratarmos do ferimento do tenente e de imobilizarmos seu braço, a ordem foi continuar a caminhada rumo ao litoral, bem distanciados uns dos outros, para não sermos localizados pelos aviões ou eventuais patrulhas inimigas.
Quando atingimos o topo da crista, avistamos ao longe um trecho da Via Balbia, o que nos permitiu saber onde nos encontrávamos. Tudo parecia calmo. Sem perigo a vista, o tenente nos reuniu para novas instruções. Ficou decidido que seguiríamos no rumo sul até encontrarmos a trilha para o Forte Capuzzo. Daí prosseguiríamos andando, enquanto fosse possível. Já passava das 16h quando localizamos a trilha: caminhamos até as 20h e fizemos uma parada. Até então nada havíamos comido ou bebido. Sede e fome começavam a nos torturar. O sol e o calor nos haviam maltratado durante todo o dia, e sentíamos enorme cansaço. Bebemos dois goles de água e dividimos duas latas de ração, nada mais. Continuamos a caminhada até um pouco depois da meia-noite. Considerando que já nos afastáramos alguma coisa da área crítica, o tenente autorizou que descansássemos até o amanhecer, revezando-nos na vigilância. A noite foi muito fria. Tremendo, pois não conseguira outra camisa, quase não dormi.
A madrugada do dia 13 de junho chegou trazendo muita ventania. Quando amanheceu, sufocados, cobertos de pó, maldizendo o tempo, nem nos dávamos conta que a tempestade de areia que amaldiçoávamos era nossa mais forte aliada naquele momento. O inimigo também seria obrigado a uma incômoda parada para se proteger. Seus aviões ficariam retidos nas pistas de pouso.
A tempestade tudo obscurecia e encobria o sol. Por volta das 13h, houve ligeira melhora no tempo. Aproveitamos para sair em busca de um abrigo mais seguro. Caminhamos por mais duas horas, mas, novamente, ficamos impossibilitados de prosseguir porque a tempestade voltou com mais violência, quase caímos num desfiladeiro. Tivemos que nos abrigar precariamente.
Por mais dois dias o vento soprou com violência. Finalmente, na madrugada do terceiro dia, de repente, tudo se acalmou e voltamos a enxergar o céu estrelado. Ouvia-se ao longe o troar dos canhões da artilharia alemã bombardeando Tobruk.
Já estávamos em 16 de junho. Nossa ração de água e comida era quase nenhuma. O tenente amanheceu febril. O ferimento parecia infeccionado e pouco podíamos fazer para ajudar. Limpamos a ferida e borrifamos com pó se sulfa. Em seguida, prosseguimos caminhando por mais dois dias, com relativa segurança. Ficávamos escondidos entre os arbustos ao avistar aviões ou patrulhas inimigas ao longe. Por sorte, não nos viam, porque mantínhamos distância uns dos outros. O sol implacável nos maltratava. Era como se toda a energia tivesse abandonado nosso corpo. A vontade era deitar e esperar que o amaldiçoado astro desaparecesse. Entretanto, não podíamos parar. As horas se arrastavam, até que o sol se pôs. Andamos mais um pouco e o tenente nos permitiu parar para um pequeno descanso. Nossas bocas e gargantas estavam completamente ressecadas. A sede era insuportável. A água que restava no quarto e último cantil foi dividida igualmente, o que coube a cada um foi insuficiente para aliviar nosso tormento. A comida já acabara. Cansadíssimos pernoitamos ali mesmo.
Na manhã do dia seguinte, o moral era baixo. Constatou-se que o Martinez na véspera, largara seu fuzil pelo caminho. Quando o tenente ficou sabendo, mandou que ele voltasse para buscá-lo, dizendo-lhe: “Um verdadeiro legionário jamais abandona sua arma. Volte!”.
Martinez olhou para nós como a pedir ajuda, mas ninguém disse nada. Também sem dizer nada, virou-se e partiu para apanhar o fuzil que abandonara. Nunca mais voltou. Meses mais tarde, soubemos que caíra prisioneiro de uma patrulha italiana e que estava internado num campo de prisioneiros de guerra na Itália.
De novo caminhávamos sob o sol. Aquele dia parecia o mais quente de todos. Já não suportávamos o tormento da sede, muito maior que a fome a corroer nossos estômagos. Como quase sempre acontecia, Marcheval e eu caminhávamos separados, mas bem à frente dos outros. Andando com dificuldade, com os pés inchados e doloridos, sentia minha resistência diminuir a cada passo que dava. Parecia que o fim havia chegado. Já estava perdendo as esperanças quando vi que Marcheval, como que por instinto, caíra deitado no chão e começara a rastejar. Fiz o mesmo e fiquei quieto, depois de sinalizar para que os outros companheiros também o fizessem. Teríamos alcançado a linha de frente britânica? Aproximei-me de Marcheval e, rastejando, subimos uma pequena inclinação no terreno. Ouvimos vozes e ficamos imóveis, tentando identificar o idioma que falavam. Pareceu-nos árabe ou indiano. Resolvemos arriscar. Levantamos e gritamos. No mesmo instante, o horizonte encheu-se de soldados e pudemos ouvir os estalos dos ferrolhos de suas armas. Identificamo-nos e mandaram que nos aproximássemos. Graças a Deus, eram de fato nossos aliados. Estávamos salvos!
Os nossos “anfitriões” eram de uma unidade britânica de soldados hindus; estavam colocando minas em áreas estratégicas, ao longo da linha de defesa na fronteira do Egito com a Líbia. Acolheram-nos com respeito e preocupação, quando viram o estado em que nos encontrávamos. Bebemos água em pequenos goles e, em seguida, uma caneca de chá com leite. Quando, finalmente olhamos um para o outro, começamos a rir de nervoso, gritando, pulando e nos abraçando, para surpresa dos soldados que nos rodeavam sem entender nada. Estávamos irreconhecíveis. Tínhamos uma aparência horripilante, parecíamos múmias ou zumbis saídos do fundo da cova, cobertos de poeira dos pés à cabeça. A cena era trágica e cômica ao mesmo tempo. Por fim, caímos deitados no chão e dormimos profundamente.
Pela manhã, depois de nos lavarmos e de melhorarmos a aparência, fomos conduzidos ao serviço médico, examinados e tratados na enfermaria da unidade. Um soldado me presenteou com uma camisa. O bravo tenente que nos comandava, devido à gravidade do seu estado de saúde, fora medicado logo ao chegar e transferido para um hospital de campanha britânico, possivelmente para ser operado. Após a refeição que nos serviram, um oficial inglês chegou com instruções para nos transportar até Mersa Matruh. Embarcamos em seguida.
Durante a viagem, soubemos que Rommel havia recomeçado a ofensiva logo depois da conquista de Tobruk, onde fizera mais de 33 mil prisioneiros sul-africanos. Avançava, agora, em direção ao Egito. O General Ritchie tentava reorganizar o VIII Exército na fronteira, para conter o avanço do Afrika Korps. Este era o quadro quando nos juntamos ao batalhão em Mersa Matruh, no dia 21 de junho de 1942.
Em 23 de junho, a vanguarda das forças do Africa Korps alcançou a fronteira egípcia. Prosseguindo no avanço, Rommel combatia e dispersava as forças britânicas que o enfrentavam, chegando às proximidades da linha de defesa em Mersa Matruh no dia 25. Suas colunas avançadas já tomavam posição de ataque próximo ao local onde estávamos, quando fomos substituídos por tropas britânicas e enviados a construir outra linha de defesa em Fouka, nas cercanias de El Daba. Passamos o dia a cavar trincheiras.
Todo o VIII Exército britânico estava cansado, disperso, confuso e em condições desesperadoras. Igualmente, era esse o nosso estado de espírito. Eu, particularmente, sentia-me esgotado e desmotivado para cavar novas trincheiras. Além disso, já era quase noite; cavei apenas um buraco para abrigar-me. Com o passar das horas, como tudo parecia tranqüilo e fazia frio, resolvi abrigar-me melhor debaixo do nosso caminhão, estacionado ali perto. Pela madrugada, quase ao raiar do dia 26, o companheiro que se abrigava a meu lado acordou-me dizendo que aviões inimigos sobrevoavam nossas posições. Não demorou, começaram a lançar foguetes luminosos presos em pára-quedas. Toda a área clareou como se já fosse dia.
Repentinamente, ouvimos o som característico dos aviões de mergulho e o assobio das bombas caindo. O inferno desabara sobre nós. As bombas explodiam por todos os lados. Uma explosão mais próxima nos deixou surdos. Um calor insuportável começou a nos incomodar terrivelmente. Era o nosso caminhão pegando fogo, já quase a nos queimar também. Tinha sido seriamente atingido por estilhaços da bomba. Sequer fiquei sabendo quem me arrastou até uma trincheira onde fiquei deitado, sangrando e completamente atordoado, ainda sem poder movimentar a perna esquerda. O bombardeio continuou intenso, cessando algum tempo depois.
O ataque aéreo ocasionara a morte de dois legionários, ferimentos em quatro, inclusive eu, e a destruição de dois caminhões. Com os outros feridos, fui levado para a enfermaria do batalhão. Ao examinar meus ferimentos, o tenente médico, Richard Martin, constatou que não tinha recursos para extrair os estilhaços, deu-me uma injeção de morfina para a aliviar as dores e removeu-me para o hospital de campanha britânico montado à retaguarda, juntamente com outro legionário, ferido gravemente no ventre e nas pernas.
Duas horas depois, chegando ao hospital, fomos deixados numa grande barraca de lona, onde já se encontravam outros feridos aguardando a vez para serem operados. Nesse momento, ao ver os feridos sendo medicado ou aguardando o cirurgião para operá-los, ouvindo seus gemidos de dor, é que comecei a acordar para o lado negro e cruel da guerra. Deitado bem perto de mim, um ferido gemia: a explosão de uma mina tinha-lhe dilacerado as duas pernas, mas adiante, um outro sangrava, com o ventre aberto, ao meu lado esquerdo, podia ver alguém sem um dos braços, mais para o fundo da barraca, outro gritava de dor, todo mutilado.
Diante deste quadro, tomava consciência da violência, da brutalidade, da dor, do sofrimento e do grande sacrifício a que estavam sendo submetidos os bravos soldados que lutavam nessa maldita guerra. A ambição e a ideologia de homens que queriam dominar o mundo os haviam jogado nesse cataclisma. Testemunhando tanta desgraça, sentia, mais do que nunca, o acerto de minha decisão de lutar ao lado dos que defendiam a liberdade e a civilização cristã.
Fui levado para outra barraca e examinado pelos cirurgiões, ouvi quando um deles disse: “Podem levá-lo. Tirem a radiografia e o preparem que eu mesmo vou operá-lo e extrair os estilhaços da bomba”.
Acordando da anestesia, senti que a perda esquerda tinha sido engessada do pé até a virilha. Os pequenos estilhaços que tinham penetrado em outras partes do meu corpo, embora sem gravidade, também tinham sido extraídos. Novamente fui levado para outra barraca e informado que seria embarcado numa ambulância e transferido para um hospital em Alexandria, onde ficaria internado. O tratamento que recebi no hospital de campanha foi excelente. Soube, mais tarde, que tinha sido operado por um grande cirurgião inglês, brigadeiro da RAF.
Quando estava sendo colocado na ambulância, soou o alarme de ataque aéreo. Ouvi o ronco inconfundível dos motores dos aviões alemães que nos sobrevoavam, mas não atacaram. Ouvi também o troar dos canhões atirando não muito longe de onde estávamos, e soube, pelos padioleiros, que já estavam tomando providências no sentido de deslocar o hospital de campanha para além de El-Alamein.
A ambulância ia aos solavancos, rodando em comboio por trilhas no deserto, pois a estrada asfaltada era utilizada no trânsito das tropas e dos carros-de-combate que iam reforçar os que lutavam na linha de frente. Os solavancos incomodavam muito. A dor na perna aumentava ainda mais. Por cima da minha maca tinha sido colocada outra com um soldado inglês bastante ferido e que não parava de gemer. Já tínhamos rodado algum tempo, quando comecei a sentir algo pingando no meu peito, vi que era sangue, caindo da maca de cima. Fiquei apavorado. O ferido deveria estar sofrendo forte hemorragia. Preso na maca, não podia me mover. Angustiado, tentei chamar o motorista ou o padioleiro. Gritei o mais alto que pude, mas não fui ouvido. Continuei gritando sem parar. Passado algum tempo, a ambulância parou. Eu continuava a gritar tão alto quanto podia, já rouco. Quando o padioleiro abriu a porta para saber a razão dos meus gritos, era tarde. O ferido havia falecido, esvaindo-se em sangue. Esse fato, um dos horrores da guerra, ficou indelevelmente registrado em minha memória.
Pouco tempo depois ficamos hospitalizados em Alexandria. No início do mês de julho, os soldados franceses feridos foram transferidos para um outro hospital em Beirute, no Líbano. Antes da partida, soube que o General Auchinleck decidira assumir pessoalmente o comando na frente de batalha e que partira de avião do Cairo no dia 25 de junho para substituir o general Ritchie. Mas, nem mesmo ele conseguiu reagrupar os sobreviventes do VIII Exército antes de retornarem às posições de El-Alamein, onde, finalmente, o avanço de Rommel foi sustado.
O autor servia no 3º pelotão da 3ª Companhia do 1º Batalhão da Legião estrangeira, ligado à 13ª Meia-Brigada da Legião, com honras de combate de Camerone, 1863; Bergevik-Narvik, 1940; Kerem-Massaoua, 1941 e o batalhão sendo comandado pelo Capitão Paris de Bolladière.
Fonte deste artigo: Raul Soares da Silveira, Tempos de Inquietude e de Sonho.
Nascido de alma caudilha- nem por isso menos franca -Deus te deu essa cor branca que até de noite rebrilha.Lua do herói na coxilha,por onde eu for, onde eu ande e sem que ninguém me mande eu te canto, troféu mudo que é puro neste Rio Grande!
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Re: SEGUNDA GUERRA MUNDIAL
Paul Stresemann
Ações de um engenheiro de combate alemão
Nasci em Berlim em 1911. Tinha uma irmã mais cinco anos mais velha e meu pai ganhava um bom dinheiro como pedreiro. Nunca tivemos falta de comida e minha mãe parecia alegre. Me lembro de Berlim como uma bela cidade, em diversas formas: havia tanto a ver e me lembro que quando garoto costumava ir ao Zoológico ver os animais que me fascinavam. Podia ir também aos parques e nadar nos grandes lagos; aprendi a nadar na escola e isso foi muito útil mais tarde.
Quando veio a Grande Guerra meu pai foi para o Exército de Reserva e nunca esteve em nenhum combate, pois foi empregado continuamente no transporte de suprimentos para a frente. Mais tarde ele nos contaria montes de histórias de coisas que tinha visto, mas naturalmente não sofreu muito como aconteceu com milhões de outros. Quando a guerra terminou as coisas estavam muito ruins e, jovens como éramos, podiamos ver que passávamos por todos os tipos de dificuldades. Mas quando se é jovem tudo passa para a memória sem nenhum tipo de trauma e comecei a aproveitar a vida como garoto na escola. Mesmo a grande depressão não me incomodou muito pois acho que estávamos acostumados a viver sem muitas coisas; ela só veio e foi e então as coisas começaram a ficar um pouco melhores.
Como um rapaz vi um monte de problemas nas ruas com homens marchando e gritando, mas nunca soube exatamente o que estava acontecendo, apesar dos meus pais falarem disso e amigos nos visitarem e discussões e brigas acontecerem.
Eventualmente ouvimos que um homem chamado Adolf Hitler era o novo líder na Alemanha e que tudo iria melhorar. Por esta época meu pai não era mais um pedreiro, mas tinha a sua própria pequena empresa de construção e me levou para ela, pois via um grande futuro naquele negócio. Eu estava interessado e queria aprender, pois gostava de ver prédios subir e tudo sendo colocado no interior. Havia muito a aprender acerca de trabalhos de construção assim como o lado empresarial deles, pois meu pai queria que eventualmente eu o sucedesse.
Minha irmã Greta trabalhava como secretária e parecia bem satisfeita com a vida, de forma que éramos uma família contente. Me lembro de uns poucos incidentes no início da década de 1930, logo depois que Hitler subiu ao poder.
Um dia eu estava no caminho para o trabalho quando vi uma coluna de nazistas camisas pardas arrombar uma loja e saquear o conteúdo; até tentaram dar algum do conteúdo aos passantes. Naturalmente era um negócio de judeus e fiquei chocado, mas segui em meu caminho para o trabalho. Por esta época, Josef Goebels era o Gauleiter [Prefeito] nazista de nossa cidade, mas nunca vimos nenhum sinal dele. O Ministério da Propaganda era muito ocupado com o mundo da imprensa e filmes.
Em outra ocasião estávamos escutando a música no rádio quando o programa foi interrompido para um anúncio especial – o Führer iria falar no rádio naquela noite sobre um assunto muito importante a respeito do futuro da Alemanha no mundo. Então escutamos e ficamos muito espantados quando ele começou a arengar e esbravejar contra este e aquele outro país que disse estarem tentando cercar a Alemanha. Falou palavras especialmente amargas contra aqueles a leste de nós na Checoslováquia, a quem ele chamou de palavrões, e também aos políticos do Ocidente. Bem, não sabíamos o que pensar daquele homem. Posso dizer-lhe que não tínhamos nenhuma ligação com a política, não ficamos muito divertidos com as façanhas dos nazistas e todas aquelas palhaçadas e paradas todo o tempo. Suponho que eles tivessem seus pontos válidos e a maior parte dos alemães achava que Hitler tinha salvo a Alemanha da ameaça bolchevista que tinha sido suficientemente real, apesar de eu mesmo não dar muita atenção a tais coisas. É preciso dizer, entretanto, que depois que eles chegaram ao poder tivemos que ficar de pé e ser reconhecidos; ou você era a favor deles ou contra eles e as coisas podiam ser um pouco difíceis a medida que por então percebemos sua força e, acima de tudo, a polícia e a Gestapo, que estavam ansiosas para recolher todos os “inimigos do Reich”, o que poderia ser um monte de pessoas. Nós não éramos uma família política; somente queríamos continuar com nossas vidas e não ter nada a ver com essa bobagem. Mas uma pessoa tinha que ser cada vez mais cuidadosa com o que dizia. Vivíamos em uma vila, mas mesmo em uma rua comum a polícia e a Gestapo tinham seus informantes; o problema era que você nunca sabia quem eles eram. Conhecíamos nossos vizinhos e sempre falávamos com eles na rua de nosso subúrbio, desejando bom dia etc, mas depois de 1934 nunca descobrimos mais quem era um espião da polícia secreta. A esse respeito as coisas mudaram muito, apesar de em outras formas a vida continuar como sempre.
Eu mesmo não tinha interesse em me juntar a nada e meus pais nunca tentaram me persuadir; sempre havia pressão de algum tipo para se inscrever nas organizações do Partido Nazista. Um homem que era um nazista fanático veio até nossa companhia, porque eles logo se infiltravam em tudo e era impossível para meu pai dizer não, não há trabalho para você aqui! Ele foi forçado, eu acho, a emprega-lo. Era como se um membro da Máfia o tivesse ameaçado com terríveis penalidades se ele não o fizesse. Assim esta era a situação. Acho que o homem trabalhava no nosso escritório, alguma coisa a ver com a contabilidade, mas uma pessoa naturalmente pensava, a partir dos comentários de meu pai,
que ele era um pau mandado do Partido, de forma que tínhamos que agir com cuidado.
Fui bem o bastante em meu trabalho, pois meu pai me fez passar pelo aprendizado completo, por assim dizer, aprendendo o lado do ofício de construtor antes de me introduzir ao lado dos negócios. Eu gostei da primeira parte, pois não queria ficar sentado em um escritório, especialmente por ter que entrar em contato com os nazistas. Mas havia algumas belas garotas lá e assim não era tão mal.
Tudo foi bem até 1935, quando a bomba do recrutamento foi lançada. Fiquei horrorizado, pois não tinha interesse em deixar minha casa e trabalho, mas depois de um tempo fui chamado para o exército, que estava aumentado de tamanho aos saltos. Então tivemos uma nova força aérea e comecei a perceber o que estava acontecendo, mas não podia fazer nada.
Me lembro muito bem do dia que me apresentei no quartel em Lichterfelde, Berlim. Era um dia frio e chuvoso e me sentia muito infeliz. Foi-nos mostrado um alojamento e um sargento-mór nos deu uma aula antes de recebermos nosso equipamento. Foi uma hora terrível e fiquei muito entristecido. O pior ainda estava por vir, pois sem demora fomos levados para fora na chuva para aprendermos ordem unida e a portar o fuzil. A comida não era ruim, mas entre meus companheiros havia alguns tipos muito rudes, que usavam palavrões tais como nunca tinha ouvido antes. Acho que isso era o mesmo em todos os lugares, mas quando você vem de uma família e lar decente, é duro, mas logo me acomodei e acostumei a tudo aquilo.
Passado muito pouco tempo deixamos o quartel e fomos para a área de treinamento. Me lembro de uma em Doberitz, onde aprendemos todos os tipos de truques de sobrevivência no mato e semelhantes e acho que de certa forma gostei daquilo, mas só tinha um pensamento em todo aquele tempo, que era voltar para minha casa e trabalho; meus pais souberam disto quando voltei para casa de licença. Tinha esperanças que em um ano mais ou menos seria liberado, mas isto não aconteceu. Meu sargento decidiu que eu tinha capacidade para ser um oficial e apesar de ter resistido fortemente, me forçou a me tornar um aspirante a oficial e a sorte foi lançada. Tentou me seduzir com todas as boas opções que teria como oficial, mas não me impressionaram, pois sabia perfeitamente bem que eram os oficiais que sofreriam as piores baixas na guerra, pelo menos se estivessem na infantaria e isso parecia ser meu destino.
Meus pais tentaram me tirar do exército, de fato, meu pai pediu ao nazista da sua firma para tentar usar seu pistolão, mas isto provou ser impossível. A firma estava funcionando bem sem mim. Logo estava acabando o treinamento básico normal e sendo enviado para uma escola para aspirantes a oficial e foi lá que tentei conseguir uma transferência para um batalhão de construção, pois achava que se tivesse que ficar no Exército, então pelo menos eu poderia tentar conseguir o melhor disso através de uma transferência para meu próprio tipo de profissão. Inicialmente não deu certo, pois tínhamos que aprender a sermos oficiais, mas depois do curso vários de nós foram enviados para treinar como grupos de especialistas e consegui ser enviado para uma escola de pioneiros. Isto era muito mais interessante, pois podia tentar colocar meu grande interesse em coisas de construção para um bom uso. Principalmente nós aprendíamos como construir pontes, mas também todos os tipos de trabalhos campais e fortificações que, apesar de serem inicialmente interessantes, logo se tornaram rotina e comecei a ficar entediado.
Por volta de 1937-38 fui forçado como todos os jovens oficiais a assistir aulas de educação política e ouvi um monte de blá-blá-blá sobre a raça Ariana de um funcionário nazista com pistolão. Não acho que ficamos muito impressionados, mas tínhamos aprendido a falar pouco, no caso de criarmos problemas. Fui para casa como um primeiro tenente e meus pais e irmã pareceram orgulhosos de mim e, quando visitei o escritório, uma das moças chamada Helene pareceu contente em sair comigo. Certamente vestir um uniforme de certa forma pode fazer maravilhas!
Mas como você sabe, em 1939 a Alemanha tinha ocupado a Áustria, que se tornou parte da Grande Pátria e então veio o assunto da Checoslováquia e ficamos pensando onde tudo terminaria. Fomos mantidos bem ocupados em manobras, mas não tomamos parte nessas operações. No ano seguinte, Hitler tinha feito uma aposta ainda maior ocupando toda a Checoslováquia usando um pretexto qualquer e quebrando o tratado assinado com os aliados. Ele então começou sua campanha de mentiras contra a Polônia, apesar de naquela época nós só sabíamos o que a imprensa controlada pelos nazistas nos dizia, de modo que não tínhamos como saber se os poloneses estavam assassinando nosso povo dentro das áreas de fronteira ou não. Não fez diferença, pois sem demora recebemos ordens para seguir para o oriente e descobrimos que éramos parte de uma força maior, colocada na fronteira com a Polônia. Fiquei muito preocupado e disse adeus aos meus pais e namorada justo antes da guerra começar.
Esta foi minha primeira experiência com o perigo e foi muito apavorante, mesmo apesar de termos uma grande superioridade em todas as forças. Os poloneses lutaram duro e atiraram contra nós com tudo o que tinham. Em nosso primeiro dia fomos parte de uma coluna de pontoneiros e avançamos logo atrás da infantaria. O ruído era terrível a medida que artilharia, panzers e Stukas entraram em ação. Nunca tinha experimentado tal barulho, mesmo em manobras. Ouvíamos todos os tipos de boatos, mas sabíamos pouco, a não ser que estávamos lentamente avançando. Então vimos o primeiro sangue, homens feridos sendo trazidos de volta e fiquei nauseado e amedrontado. Avançamos sob fogo esporádico, mas não sofrendo grande perigo até que a infantaria e os tanques foram retidos por um obstáculo fluvial. Este era o momento que temia, mas como um oficial, não tinha opção a não ser liderar nossos homens para frente, na perigosa tarefa de tentar construir uma passagem.
Corremos para frente com nossos botes de borracha e madeira com todos os tipos de fogo de artilharia vindo para nós. Era absolutamente terrível, mesmo apesar de nosso próprio pessoal estar atirando contra os poloneses que estavam ocultos em uma mata e nas ruínas de uma vila. A poeira das explosões estava caindo sobre nós a medida que corremos direto para o rio e começamos a montar os pontões de borracha e madeiras com amarrações de corda como um cruzamento temporário. Tínhamos que passar nossa infantaria e então fazer uma ponte mais resistente para os tanques. Mas logo que flutuamos em águas mais profundas ficamos sob um terrível fogo de uma metralhadora e o homem mais próximo a mim foi morto. Vi-o cair na água e flutuar para além, mas não podia fazer nada por ele. Pulamos n’água e nos agarramos aos lados dos botes de borracha que em alguns casos estavam sendo furados e ficando inúteis. Não sei quanto tempo isso durou, mas estava tão amedrontado que quase não podia falar e o barulho era tremendo.
Acho que nossos Stukas devem ter lidado com a oposição, pois o fogo inimigo se tornou muito mais fraco e finalmente fomos capazes de fazer algum progresso e montar a ponte até o outro lado. Os infantes foram magníficos e correram para a margem oposta quase tão cedo quanto colocamos a última trave no lugar. Foi então que fui capaz de olhar ao redor e descobrir que nosso comandante tinha desaparecido, junto com diversos outros homens. Estas travessias de assalto sempre foram muito duras para as unidades de engenheiros.
Voltamos para a margem oposta e caímos exaustos. Foi minha primeira batalha e uma experiência horripilante. Ainda assim, não tivemos descanso, pois logo recebemos ordens para embarcar nos caminhões e atravessar a mesma ponte improvisada que tínhamos feito, inútil para os tanques, que tinham achado outro lugar para atravessar. Tínhamos que avançar e colocar uma ponte sobre uma estrada minada; foi uma tarefa fácil depois da travessia do rio. Em seguida vi poloneses prisioneiros e feridos e eles pareciam bem ruins, ensangüentados, com ataduras e exaustos Senti muita pena deles, mas não nos deram descanso, o avanço tinha que continuar. Naquela noite tiramos um breve cochilo nas ruínas de uma vila, mas pela madrugada estávamos de novo em marcha com nossos veículos e trem de pontes, logo atrás da tropas avançadas, e tudo começou de novo. O barulho do bombardeio da artilharia, tanques e Stukas era ensurdecedor e pensei que meus nervos iriam quebrar. Tentamos comer, mas era inútil, pois toda vez que parávamos um pesado fogo polonês vinha e tínhamos que mergulhar em busca de cobertura. Os poloneses lutavam duro, mas estavam sendo continuamente desbordados e capturados em grandes números.
Mas depois de uma semana disso, podíamos ver que o exército deles estava em retirada em todos os lugares e começamos a ter esperança que tudo estivesse acabando. Mas ainda deveria haver mais duas semanas antes de ouvirmos que eles tinham se rendido e a guerra acabado. Nunca vi Varsóvia, que de qualquer forma acredito ter sido destruída; ao invés começamos a arrumar tudo e fazer nosso caminho de volta para a Alemanha. Eu pessoalmente achava que já tinha visto o suficiente da guerra, mas meu destino não estava em minhas mãos.
Houve grandes comemorações em casa e senti-me muito aliviado por ter voltado inteiro para ficar com meus pais e namorada. Recebi a Cruz de Ferro de 2ª Classe e costurei a fita vermelha, branco e preta na frente de meu dolmã, de forma, devo admitir, que me senti muito orgulhoso, mas fiz o melhor para não mostrar o quanto realmente tinha estado amedrontado. Meu pai quis saber sobre minhas experiências, mas não lhe disse tanto assim, apesar de pensar que ele imaginou o que eu tinha visto e ficou satisfeito. Como todo mundo, não podíamos ver razões para a guerra continuar e esperava que pudesse voltar para casa com um civil. Mas isso não aconteceria.
Depois daquele grande descanso em Berlim, fui enviado de volta para minha unidade na Alemanha Ocidental, onde começamos exercícios e passamos um tempo muito duro naquele forte inverno de 1939-1940. Soubemos que haveria uma grande ofensiva, mas isso era somente um boato. Fiquei muito receoso, pois não podia ver como poderia sobreviver muitas mais ações como a que tinha feito na Polônia. Eventualmente a primavera chegou e tudo ficou verde de novo e fui para casa de folga e fiquei noivo de minha namorada. Mas na volta o pior aconteceu: fomos chamados para uma grande reunião e nos informaram do ataque alemão no ocidente, que estava se preparando. Sempre vou me lembrar daquele dia.
Fiquei no fundo de uma multidão de oficiais e graduados enquanto nosso oficial comandante nos informou do plano. Meu coração caiu até minhas botas e pensei em dar parte de doente. Veja, não sou uma pessoa combativa de forma alguma; não era um soldado, não tinha inimizada com nossos “inimigos” e nenhum desejo de causar-lhes mau. Só queria construir coisas, não demoli-las! Mas éramos uma parte indispensável das unidades avançadas e não poderia escapar meu destino.
Sem que passasse muito tempo, fomos movidos a noite para áreas de reunião e esperamos a madrugada com medo e insegurança. Quando o bombardeio começou, tudo iniciou de novo e estava agitado. O barulho era terrível, ainda pior do que na Polônia, pois nossa artilharia e aviões pareciam mais fortes. Nunca esquecerei o primeiro homem morto que vi naquela batalha. Era um dos sargentos de infantaria designados para nossa unidade e tinha sido alvejado na cabeça, de forma que seu rosto era uma massa sangrenta. Era nauseante e desejei que tivesse voltado meu rosto para o outro lado. Ele foi só o primeiro de muitos corpos que veria.
Avançamos por meio de vilas arrasadas e então nos dispusemos nos campos a medida que a batalha ficava mais feroz e mais complexa. Então recebemos ordem de cruzar com barcos de borracha um pequeno rio. Isto foi uma tarefa fácil, pois não houve oposição, mas logo chegamos a um rio muito mais largo e então uma batalha muito dura começou, na qual fui ferido. Num momento estava ajudando meus homens a montar nosso equipamento de pontes e a coisa seguinte que me lembro era estar deitado, sem minhas botas, sendo atendido por um médico. Fiquei aturdido e não tinha idéia do que tinha acontecido. O médico me disse que não era sério e então o choque passou e percebi que tinha uma dor aguda por todo meu pé. De fato, então senti o sangue correndo por todo meu pé, mas isso logo foi estancado pelo auxiliar de enfermagem, que me deu uma pastilha e sem demora me vi levado a um caminhão e então para a retaguarda. Havia uma fazenda cheia de feridos e ali me deram uma injeção enquanto o meu ferimento era enfaixado de forma correta. Ainda estava em um estado de espanto pois tudo tinha acontecido tão rápido e a despeito de meu pessimismo tinha sido tomado de surpresa. De fato, ainda não tenho idéia do que me atingiu – uma bala ou estilhaço de granada.
Mas isto foi o fim para mim, pelo menos no que dizia a respeito da campanha da França. Fui mandado de volta para a Alemanha em um trem-hospital cheio de feridos e então para um hospital militar onde o tratamento era excelente. Em uma semana ou duas fiquei capaz de capengar e, tendo escrito para meus pais, logo comecei a receber alguns confortos, incluindo uma carta e alguns doces de minha noiva; ela também me mandou uma grande foto, que se tornou um ponto de inveja para meus camaradas.
Ações de um engenheiro de combate alemão
Nasci em Berlim em 1911. Tinha uma irmã mais cinco anos mais velha e meu pai ganhava um bom dinheiro como pedreiro. Nunca tivemos falta de comida e minha mãe parecia alegre. Me lembro de Berlim como uma bela cidade, em diversas formas: havia tanto a ver e me lembro que quando garoto costumava ir ao Zoológico ver os animais que me fascinavam. Podia ir também aos parques e nadar nos grandes lagos; aprendi a nadar na escola e isso foi muito útil mais tarde.
Quando veio a Grande Guerra meu pai foi para o Exército de Reserva e nunca esteve em nenhum combate, pois foi empregado continuamente no transporte de suprimentos para a frente. Mais tarde ele nos contaria montes de histórias de coisas que tinha visto, mas naturalmente não sofreu muito como aconteceu com milhões de outros. Quando a guerra terminou as coisas estavam muito ruins e, jovens como éramos, podiamos ver que passávamos por todos os tipos de dificuldades. Mas quando se é jovem tudo passa para a memória sem nenhum tipo de trauma e comecei a aproveitar a vida como garoto na escola. Mesmo a grande depressão não me incomodou muito pois acho que estávamos acostumados a viver sem muitas coisas; ela só veio e foi e então as coisas começaram a ficar um pouco melhores.
Como um rapaz vi um monte de problemas nas ruas com homens marchando e gritando, mas nunca soube exatamente o que estava acontecendo, apesar dos meus pais falarem disso e amigos nos visitarem e discussões e brigas acontecerem.
Eventualmente ouvimos que um homem chamado Adolf Hitler era o novo líder na Alemanha e que tudo iria melhorar. Por esta época meu pai não era mais um pedreiro, mas tinha a sua própria pequena empresa de construção e me levou para ela, pois via um grande futuro naquele negócio. Eu estava interessado e queria aprender, pois gostava de ver prédios subir e tudo sendo colocado no interior. Havia muito a aprender acerca de trabalhos de construção assim como o lado empresarial deles, pois meu pai queria que eventualmente eu o sucedesse.
Minha irmã Greta trabalhava como secretária e parecia bem satisfeita com a vida, de forma que éramos uma família contente. Me lembro de uns poucos incidentes no início da década de 1930, logo depois que Hitler subiu ao poder.
Um dia eu estava no caminho para o trabalho quando vi uma coluna de nazistas camisas pardas arrombar uma loja e saquear o conteúdo; até tentaram dar algum do conteúdo aos passantes. Naturalmente era um negócio de judeus e fiquei chocado, mas segui em meu caminho para o trabalho. Por esta época, Josef Goebels era o Gauleiter [Prefeito] nazista de nossa cidade, mas nunca vimos nenhum sinal dele. O Ministério da Propaganda era muito ocupado com o mundo da imprensa e filmes.
Em outra ocasião estávamos escutando a música no rádio quando o programa foi interrompido para um anúncio especial – o Führer iria falar no rádio naquela noite sobre um assunto muito importante a respeito do futuro da Alemanha no mundo. Então escutamos e ficamos muito espantados quando ele começou a arengar e esbravejar contra este e aquele outro país que disse estarem tentando cercar a Alemanha. Falou palavras especialmente amargas contra aqueles a leste de nós na Checoslováquia, a quem ele chamou de palavrões, e também aos políticos do Ocidente. Bem, não sabíamos o que pensar daquele homem. Posso dizer-lhe que não tínhamos nenhuma ligação com a política, não ficamos muito divertidos com as façanhas dos nazistas e todas aquelas palhaçadas e paradas todo o tempo. Suponho que eles tivessem seus pontos válidos e a maior parte dos alemães achava que Hitler tinha salvo a Alemanha da ameaça bolchevista que tinha sido suficientemente real, apesar de eu mesmo não dar muita atenção a tais coisas. É preciso dizer, entretanto, que depois que eles chegaram ao poder tivemos que ficar de pé e ser reconhecidos; ou você era a favor deles ou contra eles e as coisas podiam ser um pouco difíceis a medida que por então percebemos sua força e, acima de tudo, a polícia e a Gestapo, que estavam ansiosas para recolher todos os “inimigos do Reich”, o que poderia ser um monte de pessoas. Nós não éramos uma família política; somente queríamos continuar com nossas vidas e não ter nada a ver com essa bobagem. Mas uma pessoa tinha que ser cada vez mais cuidadosa com o que dizia. Vivíamos em uma vila, mas mesmo em uma rua comum a polícia e a Gestapo tinham seus informantes; o problema era que você nunca sabia quem eles eram. Conhecíamos nossos vizinhos e sempre falávamos com eles na rua de nosso subúrbio, desejando bom dia etc, mas depois de 1934 nunca descobrimos mais quem era um espião da polícia secreta. A esse respeito as coisas mudaram muito, apesar de em outras formas a vida continuar como sempre.
Eu mesmo não tinha interesse em me juntar a nada e meus pais nunca tentaram me persuadir; sempre havia pressão de algum tipo para se inscrever nas organizações do Partido Nazista. Um homem que era um nazista fanático veio até nossa companhia, porque eles logo se infiltravam em tudo e era impossível para meu pai dizer não, não há trabalho para você aqui! Ele foi forçado, eu acho, a emprega-lo. Era como se um membro da Máfia o tivesse ameaçado com terríveis penalidades se ele não o fizesse. Assim esta era a situação. Acho que o homem trabalhava no nosso escritório, alguma coisa a ver com a contabilidade, mas uma pessoa naturalmente pensava, a partir dos comentários de meu pai,
que ele era um pau mandado do Partido, de forma que tínhamos que agir com cuidado.
Fui bem o bastante em meu trabalho, pois meu pai me fez passar pelo aprendizado completo, por assim dizer, aprendendo o lado do ofício de construtor antes de me introduzir ao lado dos negócios. Eu gostei da primeira parte, pois não queria ficar sentado em um escritório, especialmente por ter que entrar em contato com os nazistas. Mas havia algumas belas garotas lá e assim não era tão mal.
Tudo foi bem até 1935, quando a bomba do recrutamento foi lançada. Fiquei horrorizado, pois não tinha interesse em deixar minha casa e trabalho, mas depois de um tempo fui chamado para o exército, que estava aumentado de tamanho aos saltos. Então tivemos uma nova força aérea e comecei a perceber o que estava acontecendo, mas não podia fazer nada.
Me lembro muito bem do dia que me apresentei no quartel em Lichterfelde, Berlim. Era um dia frio e chuvoso e me sentia muito infeliz. Foi-nos mostrado um alojamento e um sargento-mór nos deu uma aula antes de recebermos nosso equipamento. Foi uma hora terrível e fiquei muito entristecido. O pior ainda estava por vir, pois sem demora fomos levados para fora na chuva para aprendermos ordem unida e a portar o fuzil. A comida não era ruim, mas entre meus companheiros havia alguns tipos muito rudes, que usavam palavrões tais como nunca tinha ouvido antes. Acho que isso era o mesmo em todos os lugares, mas quando você vem de uma família e lar decente, é duro, mas logo me acomodei e acostumei a tudo aquilo.
Passado muito pouco tempo deixamos o quartel e fomos para a área de treinamento. Me lembro de uma em Doberitz, onde aprendemos todos os tipos de truques de sobrevivência no mato e semelhantes e acho que de certa forma gostei daquilo, mas só tinha um pensamento em todo aquele tempo, que era voltar para minha casa e trabalho; meus pais souberam disto quando voltei para casa de licença. Tinha esperanças que em um ano mais ou menos seria liberado, mas isto não aconteceu. Meu sargento decidiu que eu tinha capacidade para ser um oficial e apesar de ter resistido fortemente, me forçou a me tornar um aspirante a oficial e a sorte foi lançada. Tentou me seduzir com todas as boas opções que teria como oficial, mas não me impressionaram, pois sabia perfeitamente bem que eram os oficiais que sofreriam as piores baixas na guerra, pelo menos se estivessem na infantaria e isso parecia ser meu destino.
Meus pais tentaram me tirar do exército, de fato, meu pai pediu ao nazista da sua firma para tentar usar seu pistolão, mas isto provou ser impossível. A firma estava funcionando bem sem mim. Logo estava acabando o treinamento básico normal e sendo enviado para uma escola para aspirantes a oficial e foi lá que tentei conseguir uma transferência para um batalhão de construção, pois achava que se tivesse que ficar no Exército, então pelo menos eu poderia tentar conseguir o melhor disso através de uma transferência para meu próprio tipo de profissão. Inicialmente não deu certo, pois tínhamos que aprender a sermos oficiais, mas depois do curso vários de nós foram enviados para treinar como grupos de especialistas e consegui ser enviado para uma escola de pioneiros. Isto era muito mais interessante, pois podia tentar colocar meu grande interesse em coisas de construção para um bom uso. Principalmente nós aprendíamos como construir pontes, mas também todos os tipos de trabalhos campais e fortificações que, apesar de serem inicialmente interessantes, logo se tornaram rotina e comecei a ficar entediado.
Por volta de 1937-38 fui forçado como todos os jovens oficiais a assistir aulas de educação política e ouvi um monte de blá-blá-blá sobre a raça Ariana de um funcionário nazista com pistolão. Não acho que ficamos muito impressionados, mas tínhamos aprendido a falar pouco, no caso de criarmos problemas. Fui para casa como um primeiro tenente e meus pais e irmã pareceram orgulhosos de mim e, quando visitei o escritório, uma das moças chamada Helene pareceu contente em sair comigo. Certamente vestir um uniforme de certa forma pode fazer maravilhas!
Mas como você sabe, em 1939 a Alemanha tinha ocupado a Áustria, que se tornou parte da Grande Pátria e então veio o assunto da Checoslováquia e ficamos pensando onde tudo terminaria. Fomos mantidos bem ocupados em manobras, mas não tomamos parte nessas operações. No ano seguinte, Hitler tinha feito uma aposta ainda maior ocupando toda a Checoslováquia usando um pretexto qualquer e quebrando o tratado assinado com os aliados. Ele então começou sua campanha de mentiras contra a Polônia, apesar de naquela época nós só sabíamos o que a imprensa controlada pelos nazistas nos dizia, de modo que não tínhamos como saber se os poloneses estavam assassinando nosso povo dentro das áreas de fronteira ou não. Não fez diferença, pois sem demora recebemos ordens para seguir para o oriente e descobrimos que éramos parte de uma força maior, colocada na fronteira com a Polônia. Fiquei muito preocupado e disse adeus aos meus pais e namorada justo antes da guerra começar.
Esta foi minha primeira experiência com o perigo e foi muito apavorante, mesmo apesar de termos uma grande superioridade em todas as forças. Os poloneses lutaram duro e atiraram contra nós com tudo o que tinham. Em nosso primeiro dia fomos parte de uma coluna de pontoneiros e avançamos logo atrás da infantaria. O ruído era terrível a medida que artilharia, panzers e Stukas entraram em ação. Nunca tinha experimentado tal barulho, mesmo em manobras. Ouvíamos todos os tipos de boatos, mas sabíamos pouco, a não ser que estávamos lentamente avançando. Então vimos o primeiro sangue, homens feridos sendo trazidos de volta e fiquei nauseado e amedrontado. Avançamos sob fogo esporádico, mas não sofrendo grande perigo até que a infantaria e os tanques foram retidos por um obstáculo fluvial. Este era o momento que temia, mas como um oficial, não tinha opção a não ser liderar nossos homens para frente, na perigosa tarefa de tentar construir uma passagem.
Corremos para frente com nossos botes de borracha e madeira com todos os tipos de fogo de artilharia vindo para nós. Era absolutamente terrível, mesmo apesar de nosso próprio pessoal estar atirando contra os poloneses que estavam ocultos em uma mata e nas ruínas de uma vila. A poeira das explosões estava caindo sobre nós a medida que corremos direto para o rio e começamos a montar os pontões de borracha e madeiras com amarrações de corda como um cruzamento temporário. Tínhamos que passar nossa infantaria e então fazer uma ponte mais resistente para os tanques. Mas logo que flutuamos em águas mais profundas ficamos sob um terrível fogo de uma metralhadora e o homem mais próximo a mim foi morto. Vi-o cair na água e flutuar para além, mas não podia fazer nada por ele. Pulamos n’água e nos agarramos aos lados dos botes de borracha que em alguns casos estavam sendo furados e ficando inúteis. Não sei quanto tempo isso durou, mas estava tão amedrontado que quase não podia falar e o barulho era tremendo.
Acho que nossos Stukas devem ter lidado com a oposição, pois o fogo inimigo se tornou muito mais fraco e finalmente fomos capazes de fazer algum progresso e montar a ponte até o outro lado. Os infantes foram magníficos e correram para a margem oposta quase tão cedo quanto colocamos a última trave no lugar. Foi então que fui capaz de olhar ao redor e descobrir que nosso comandante tinha desaparecido, junto com diversos outros homens. Estas travessias de assalto sempre foram muito duras para as unidades de engenheiros.
Voltamos para a margem oposta e caímos exaustos. Foi minha primeira batalha e uma experiência horripilante. Ainda assim, não tivemos descanso, pois logo recebemos ordens para embarcar nos caminhões e atravessar a mesma ponte improvisada que tínhamos feito, inútil para os tanques, que tinham achado outro lugar para atravessar. Tínhamos que avançar e colocar uma ponte sobre uma estrada minada; foi uma tarefa fácil depois da travessia do rio. Em seguida vi poloneses prisioneiros e feridos e eles pareciam bem ruins, ensangüentados, com ataduras e exaustos Senti muita pena deles, mas não nos deram descanso, o avanço tinha que continuar. Naquela noite tiramos um breve cochilo nas ruínas de uma vila, mas pela madrugada estávamos de novo em marcha com nossos veículos e trem de pontes, logo atrás da tropas avançadas, e tudo começou de novo. O barulho do bombardeio da artilharia, tanques e Stukas era ensurdecedor e pensei que meus nervos iriam quebrar. Tentamos comer, mas era inútil, pois toda vez que parávamos um pesado fogo polonês vinha e tínhamos que mergulhar em busca de cobertura. Os poloneses lutavam duro, mas estavam sendo continuamente desbordados e capturados em grandes números.
Mas depois de uma semana disso, podíamos ver que o exército deles estava em retirada em todos os lugares e começamos a ter esperança que tudo estivesse acabando. Mas ainda deveria haver mais duas semanas antes de ouvirmos que eles tinham se rendido e a guerra acabado. Nunca vi Varsóvia, que de qualquer forma acredito ter sido destruída; ao invés começamos a arrumar tudo e fazer nosso caminho de volta para a Alemanha. Eu pessoalmente achava que já tinha visto o suficiente da guerra, mas meu destino não estava em minhas mãos.
Houve grandes comemorações em casa e senti-me muito aliviado por ter voltado inteiro para ficar com meus pais e namorada. Recebi a Cruz de Ferro de 2ª Classe e costurei a fita vermelha, branco e preta na frente de meu dolmã, de forma, devo admitir, que me senti muito orgulhoso, mas fiz o melhor para não mostrar o quanto realmente tinha estado amedrontado. Meu pai quis saber sobre minhas experiências, mas não lhe disse tanto assim, apesar de pensar que ele imaginou o que eu tinha visto e ficou satisfeito. Como todo mundo, não podíamos ver razões para a guerra continuar e esperava que pudesse voltar para casa com um civil. Mas isso não aconteceria.
Depois daquele grande descanso em Berlim, fui enviado de volta para minha unidade na Alemanha Ocidental, onde começamos exercícios e passamos um tempo muito duro naquele forte inverno de 1939-1940. Soubemos que haveria uma grande ofensiva, mas isso era somente um boato. Fiquei muito receoso, pois não podia ver como poderia sobreviver muitas mais ações como a que tinha feito na Polônia. Eventualmente a primavera chegou e tudo ficou verde de novo e fui para casa de folga e fiquei noivo de minha namorada. Mas na volta o pior aconteceu: fomos chamados para uma grande reunião e nos informaram do ataque alemão no ocidente, que estava se preparando. Sempre vou me lembrar daquele dia.
Fiquei no fundo de uma multidão de oficiais e graduados enquanto nosso oficial comandante nos informou do plano. Meu coração caiu até minhas botas e pensei em dar parte de doente. Veja, não sou uma pessoa combativa de forma alguma; não era um soldado, não tinha inimizada com nossos “inimigos” e nenhum desejo de causar-lhes mau. Só queria construir coisas, não demoli-las! Mas éramos uma parte indispensável das unidades avançadas e não poderia escapar meu destino.
Sem que passasse muito tempo, fomos movidos a noite para áreas de reunião e esperamos a madrugada com medo e insegurança. Quando o bombardeio começou, tudo iniciou de novo e estava agitado. O barulho era terrível, ainda pior do que na Polônia, pois nossa artilharia e aviões pareciam mais fortes. Nunca esquecerei o primeiro homem morto que vi naquela batalha. Era um dos sargentos de infantaria designados para nossa unidade e tinha sido alvejado na cabeça, de forma que seu rosto era uma massa sangrenta. Era nauseante e desejei que tivesse voltado meu rosto para o outro lado. Ele foi só o primeiro de muitos corpos que veria.
Avançamos por meio de vilas arrasadas e então nos dispusemos nos campos a medida que a batalha ficava mais feroz e mais complexa. Então recebemos ordem de cruzar com barcos de borracha um pequeno rio. Isto foi uma tarefa fácil, pois não houve oposição, mas logo chegamos a um rio muito mais largo e então uma batalha muito dura começou, na qual fui ferido. Num momento estava ajudando meus homens a montar nosso equipamento de pontes e a coisa seguinte que me lembro era estar deitado, sem minhas botas, sendo atendido por um médico. Fiquei aturdido e não tinha idéia do que tinha acontecido. O médico me disse que não era sério e então o choque passou e percebi que tinha uma dor aguda por todo meu pé. De fato, então senti o sangue correndo por todo meu pé, mas isso logo foi estancado pelo auxiliar de enfermagem, que me deu uma pastilha e sem demora me vi levado a um caminhão e então para a retaguarda. Havia uma fazenda cheia de feridos e ali me deram uma injeção enquanto o meu ferimento era enfaixado de forma correta. Ainda estava em um estado de espanto pois tudo tinha acontecido tão rápido e a despeito de meu pessimismo tinha sido tomado de surpresa. De fato, ainda não tenho idéia do que me atingiu – uma bala ou estilhaço de granada.
Mas isto foi o fim para mim, pelo menos no que dizia a respeito da campanha da França. Fui mandado de volta para a Alemanha em um trem-hospital cheio de feridos e então para um hospital militar onde o tratamento era excelente. Em uma semana ou duas fiquei capaz de capengar e, tendo escrito para meus pais, logo comecei a receber alguns confortos, incluindo uma carta e alguns doces de minha noiva; ela também me mandou uma grande foto, que se tornou um ponto de inveja para meus camaradas.
Editado pela última vez por Ogun K-9 em Seg Mar 29, 2010 8:44 pm, em um total de 1 vez.
Nascido de alma caudilha- nem por isso menos franca -Deus te deu essa cor branca que até de noite rebrilha.Lua do herói na coxilha,por onde eu for, onde eu ande e sem que ninguém me mande eu te canto, troféu mudo que é puro neste Rio Grande!
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Re: SEGUNDA GUERRA MUNDIAL
Um mês depois me deixaram ir para casa de licença, quando a guerra com a França estava em seus estágios finais, de forma que novo esperei que pudesse escapar de volta para a vida civil. Posso lhe dizer que as comemorações e alívio na Alemanha eram muito grandes, pois todos pensávamos que a guerra tinha terminado e acho que uns poucos milhares de homens foram enviados para casa, dispensados da Wehrmacht. Mas isto pode ter sido um exercício de propaganda; nunca encontrei ninguém que tivesse sido dispensado.
Quando a Inglaterra recusou a oferta de Hitler, isto pareceu incrível e, devo admitir, que me tirou o fôlego, pois apesar de não termos grande simpatia por nosso ditador, ele tinha estado certo aos olhos de muitos alemães e tinha-nos obtido grandes vitórias, de forma que agora muito poucas pessoas duvidavam dele. Mas, de qualquer forma, ficamos terrivelmente desapontados quando a batalha do Canal começou e sabíamos que estávamos tendo perdas de novo. Apesar de não estar totalmente apto, fui enviado de volta à minha unidade na Alemanha. Tinha tido alguns músculos rompidos e estes precisavam de tempo para curar. Recebi um trabalho de secretaria e isto me agradava e comecei a esperar que qualquer coisa que acontecesse, eu veria a guerra em uma situação de não-combatente.
Esta esperança logo acabou, pois em uns poucos meses, depois da batalha do Canal ter terminado, fui examinado medicamente e se estabeleceu que estava cem porcento pronto para o serviço ativo. Fiquei muito desapontado, mas incapaz de enganar o doutor.
Mas a vida era bem fácil. Tive um magnífico Natal em Berlim e marquei uma data para meu casamento com Helena, que seria em fevereiro. Um monte de pessoas foi convidado, incluindo naturalmente os pais e amigos dela e um bom número de amigos da velha firma. Em meados de fevereiro eu tinha conseguido obter uma licença e me casei; a festa foi muito especial e apreciada por todos. Naquele tempo não havia escassez, a despeito da guerra, de forma que nada faltou nesse sentido em nossa celebração. Depois, conseguimos dar uma fugida e fomos para nossa lua de mel em uma pequena cabana próximo das margens do Báltico Estava muito frio, mas nos amávamos tanto que o clima não incomodava. Fizemos umas poucas viagens e então tudo acabou e voltamos para Berlim, onde conseguimos um pequeno apartamento, por meio de um contato de meu no ramo e o mobiliamos bem confortavelmente. Eu era agora um homem casado e muito relutante em voltar para o Exército, mas tinha que ir.
Quando voltei para minha unidade, fiquei chocado com um boato muito ruim que estava circulando de forma muito cautelosa; isto dizia respeito a algumas grandes operações no Oriente. Dificilmente podia acreditar nos meus ouvidos e mais uma vez fiquei amedrontado. Mas semanas se passaram e nada aconteceu, de forma que comecei a ter esperanças que tudo tivesse sido um alarme falso. Mas então a luta começou quando invadimos a Iugoslávia, a Grécia e Creta e antes que percebesse, todos estavam fazendo as malas e se movendo pela Polônia. Fiquei na maior depressão pois tudo tinha acontecido muito repentinamente, mesmo que depois tivéssemos percebido que o planejamento e preparações estivessem acontecendo por algum tempo.
Passamos através de áreas do “Governo Geral”, como eram chamadas, e era triste ver tanta devastação da campanha de 1939 e quanto empobrecidos pareciam os poloneses. Muitos alemães tinham fechado as portas de seus corações a estas vistas, mas eu nunca pude relevar essas visões de sofrimento. Se tivesse sabido do resto daquilo – os fuzilamentos em massa, deportações etc, que nós somente sabíamos por boatos, apesar de não termos visto qualquer prova – acho que teria fugido. Posso dizer que em todo o meu tempo de serviço no exército nunca vi uma só atrocidade, apesar de naturalmente quando tantos prisioneiros são feitos como na Rússia, teria que haver algum caos na alimentação etc, pois tudo estava numa incrível bagunça. Novamente, não tinha a menor idéia que muitos daqueles pobres diabos acabariam esfomeados ou mortos no Ocidente depois de terem sido enviados a pé em imensas colunas de muitos, muitos quilômetros de comprimento.
Entretanto, naquele dia quieto e terrível quando a proclamação do Führer foi lida para nós antes do alvorecer no Oriente, eu só queria me esconder em algum lugar e escapar daquilo tudo. Posso lhe dizer que nenhum de nós mostrava qualquer fanfarronice ou espírito de “vamos lá fazer”. Eles fizerem seu serviço, mas sem nenhuma alegria, mesmo quando as vitórias vieram. Nós éramos uma unidade de construtores e nunca – ou raramente – pegávamos em armas, a menos que fossemos diretamente atacados pela infantaria inimiga. Assim tivemos uma longa, dura, marcha avante, parte a pé, parte em veículos, até que chegamos ao primeiro obstáculo fluvial e fossemos enviados correndo para a frente para fazer nosso trabalho.
Me lembro de minha surpresa em ver os grandes campos e planícies na Rússia, os casebres chamados de casas e as pequenas vilas, que em alguns casos estavam totalmente queimadas. Os pobres camponeses e crianças sofreram terrivelmente. Era tudo muito cruel, mas estávamos sempre em movimento e incapazes de pararmos por muito tempo; só fazíamos descansos muito breves. Era sempre avante! Avante! Avante!
Um dia um rapaz russo de uns seis anos, bem sujo, me procurou e me pediu um ‘zigarro’, mas ao invés lhe dei um pedaço de pão que agarrou e correu para longe com ele, desaparecendo atrás de um pequena casa. Uns poucos momentos depois reapareceu, desta vez puxando uma menina pequena, não muito maior do que ele. Meus camaradas estavam dormindo, de forma que essas duas crianças vieram para me ver e uma coisa espantosa aconteceu. O menino sorriu para a pequena menina que era uma infantilmente bonita; ela imediatamente levantou seu surrado vestido para mostrar que não estava usando roupa de baixo. Ambos sorriram para mim e o menino disse novamente ‘zigarro?’ e apontou para as partes pudendas da menina, ambos agora rindo imensamente. Fiquei tão espantado que só fiquei ali de boca aberta por um momento antes de lhes dar um pedaço de chocolate e ameaçando dar-lhes uma palmada, fazendo-os correr.
Sempre descobrimos que havia alguns pobres civis russos que estavam ansiosos para trabalhar para nós e, no caso das mulheres que eram invariavelmente sujas, estavam literalmente dispostas a fazer tudo por cigarros, rações etc. Tenho certeza que em alguns casos onde a disciplina era relaxada elas tinham sucesso em sua busca por se tornarem prostitutas de quartel, viajando escondidas em alguma carroça para o uso dos soldados. Acontece em todos os exércitos, mas nós nunca nos comprazíamos nessas coisas.
Então veio o dia que fui ferido de novo. Era inevitável, pois cedo ou tarde teríamos dificuldade em passar por um rio e os russos eram sempre bons com a artilharia e morteiros, mesmo que fossem ruins em outras coisas.
Nessa manhã específica tínhamos chegado na frente, logo antes de um ponto de reunião de tropas e sob fogo, para construir uma ponte sobre um riacho de bom tamanho, fundo o suficiente para ser considerado como um obstáculo. Tínhamos só começado a resolver o problema quando algo me atingiu nas costas e fui derrubado por aquilo. Fiquei mais sem ar no início, mas então senti uma dor terrível e gritei. Houve uma pausas imediata, a medida que meus homens me pegaram e me levaram para um dos nossos veículos, me colocaram no chão e arrancaram minha túnica. Tinha pego um estilhaço no meu dorso inferior esquerdo, mas parecia pior do que era. Fui enfaixado e levado para a retaguarda e para um lugar melhor para tratar de meu ferimento. Era um celeiro montado como estação de primeiros socorros e já continha alguns pacientes em macas. O doutor deu uma olhada em mim, cutucou um pouco, o que foi muito doloroso, mas aparentemente não viu a coisa como séria, mas gritei e desmaiei. Em seguida acordei em um caminhão que estava sacudindo por uma daquelas horríveis estradas russas. Acho que acabei em um hospital em Kiev, em um dos poucos prédios que ainda estavam de pé e fiquei deitado por só dois ou três dias antes que me dessem permissão para levantar. Mais uma vez me perguntei se poderia sair dessa guerra desgraçada – mas não! Meu ferimento era considerado como superficial e em uma semana ou menos estava de volta à frente e tudo começou de novo.
Tinha já me resignado a perder minha vida, mas surpreendentemente, não perdi. De fato, os avanços alemães continuaram até aquele horrível inverno e me tornei acostumado àquilo tudo e bem esperava ser deixado para trás nas neves da Rússia. O inverno tinha chegado cedo e estávamos descansando em uma das casas arruinadas. O período de lama tinha se transformado em neve e gelo e graças a Deus o avanço tinha parado, pois de outra forma nunca teríamos sobrevivido. Imagine tentar cruzar os rios congelados no terrível frio do inverno russo. É verdade que o gelo cresceria até ter metros de espessura, mas isso veio depois, inicialmente só fomos atingidos por uma frente fria “comum”, sem equipamento de inverno.
Então tudo ficou pior e não vi como poderíamos sobreviver ao frio, que era como o inferno. Ficamos sentados tremendo de frio em nosso casebre por dias e dias, incapazes de ir a qualquer lugar, com pouca comida e cobertores, imaginando o que estaria acontecendo. Mesmo a contra-ofensiva russa não afetou muito nosso setor. Nós só recuamos alguns quilômetros e nos acomodamos para congelar de novo. As primeiras roupas de inverno chegaram, mas não havia suficiente para todo mundo e alguns de nós ainda congelamos. As baixas por congelamento e doença cresceram de forma alarmante. Fui um desses e este também foi um dia que me lembro.
Era um dia de inverno cinzento, horroroso, em novembro, acho eu. Tinha estado fora em minhas rondas para inspecionar os guardas e equipamento como sempre, pois nunca se saberia quando russos ladrões ou guerrilheiros poderiam se infiltrar em nossas posições. Senti um calafrio forte chegando e no dia seguinte tinha caído com febre. Tive pneumonia e foi levado para a retaguarda onde os doutores acharam que estava em uma condição perigosa. Tenho poucas lembranças de tudo isso, pois estava inconsciente; não era realmente o destino que esperava para mim.
Devem ter passado pelo menos duas semanas antes que acordasse suficientemente para descobrir que estava em uma cama confortável. Soube que estava na Alemanha e as enfermeiras eram um presente dos céus. Oh! Como fiquei feliz de escapar do inferno russo! Uns poucos dias depois, minha querida esposa e pais vieram me ver e fizemos uma maravilhosa reunião, apesar de começar a me preocupar quando me contaram dos raids aéreos. Entretanto, eram os dias iniciais daquele tipo de guerra, pois aqueles ataques eram apenas alfinetadas. Minha família me trouxe algumas coisas boas e logo comecei a me recuperar. Mas a medida que melhorava, comecei a perceber que futuro terrível teria, de retornar para a frente, onde as coisas não estavam indo bem. A estupidez e a enormidade da guerra estavam realmente se fazendo perceber para mim, mas não podia ver uma saída. Não podia desertar então, que esperança havia? Me sentia preso em uma armadilha, como milhões de camaradas meus também se sentiam.
Como esperava, cerca de um mês depois disseram que estava bom o bastante para deixar o hospital, mas para minha grande surpresa não fui remetido para a frente russa, mas enviado para um depósito na própria Berlim. Isto era uma sorte surpreendente e lá soube que tinha sido designado como instrutor para uma escola de engenharia, o que era incrível. Aparentemente, a despeito de todos os meus medos na linha de frente, tinha deixado uma boa impressão e, naturalmente, ter estado nas campanhas da Polônia e da França e usar as fitas de medalha de campanha ajudava.
Minha família ficou muito feliz, pois isso significava que poderia ir para casa visitá-los bem freqüentemente. A única mancha no horizonte surgiu quando me contaram que havia um esquema de rotação na escola: não havia previsão de um quadro permanente, todos tinham que ter sua parte na frente, me disseram e isso me incluía. Achava que já tinha feito o suficiente em termos de combate, mas aparentemente não. De qualquer forma tentei colocar o pensamento fora de minha mente. Pelo menos teria alguns meses para usufruir minha nova vida e pretendia aproveitar ao máximo a oportunidade.
Meus dias eram repletos de falar, falar, falar e fiquei entediado disso, mesmo apesar de perceber que era muito, muito melhor do que o inferno congelado da Rússia onde meus camaradas estavam sofrendo. Tinha que instruir os novos recrutas nas técnicas de construção de pontes e construção de fortificações, usando modelos e tudo o que tinha aprendido na prática. Isso realmente se tornou muito monótono, pois era muito repetitivo.
E então minha esposa deu a luz a nosso filho, que batizamos de Mark, e isso foi um tônico maravilhoso para mim. Soube também que “nosso nazista” na companhia tinha sido convocado para o serviço no exército, de forma que fiquei muito contente com isso também! Passei horas muitos felizes em casa em Berlim. As coisas tinha mudado um pouco ali; ainda podíamos conseguir rações razoáveis, apesar de não haver tantos cafés abertos. Estava muito contente com meu filho e tentava esquecer tudo a respeito da maldita guerra. Os ataques aéreos não eram tão ruins e até então ninguém de nossas famílias tinha ficado desabrigado pelos bombardeios ou coisa pior, de forma que não estava particularmente preocupado.
Entretanto, quando os ataques aéreos ficaram piores – e me lembro do grande raid sobre Colônia – achei que a Alemanha estava acabada. A Rússia nunca seria conquistada, não importa quantos deles matássemos ou capturássemos e agora eles tinham poderosos aliados. Senti, como muitos outros, que perderíamos a guerra.
No final fui chamado por meu oficial comandante que me disse que deveria voltar para a frente, onde precisavam de mim. Ele mesmo era muito velho, me disse, mas ele queria me acompanhar! Quase ri dele, o velho idiota. Fiquei muito, muito deprimido e em uma última licença disse aos meus pais que eles deveria deixar Berlim se pudessem, pois achava que seria atacada como foi Colônia. Contudo meu pai não queria saber disso. Naturalmente ele tinha seus negócios para cuidar, de forma que podia ver o ponto de vista dele. Meus medos eram justificados, entretanto, e com bastante razão.
Voltei à frente no verão de 1942, no meio de uma imensa ofensiva alemã que parecia alcançar todos os seus objetivos, mas então parou. Não importa quanto território nos tomássemos ou quantos Russkis nos matássemos ou capturássemos, ou o botim que conquistássemos, sempre havia mais. Somente sobravam meia dúzia de meus velhos camaradas e tínhamos um grande trabalho de cruzar um rio sob fogo pesado. Tinha estado afastado muito tempo; o barulho era tão grande que eu só queria me enterrar no solo e dormir, qualquer coisa para escapar. Mas fomos forçados a ir em frente e mergulhamos na água com nosso equipamento. O rio era salpicado com granadas explodindo e balas, com baixios de terra, entulho e estilhaços caindo sobre nós. Vi homens caindo e gritando e tremia tanto que estava a ponto de desistir. Mas colocamos a ponte em posição e perdemos uma dúzia de homens no processo. Por algum milagre sobrevivi, mas não sei como; foi terrível. Enquanto a infantaria e os tanques cruzavam, só cai no chão como uma trouxa velha, totalmente exausto e encharcado.
Aqueles dias de verão da Rússia era muito, muito quentes, mas de longe preferíveis ao maldito frio do inverno.
Naquele dia vencemos, mas em outro, o desastre caiu sobre nós.
Tínhamos estado dirigindo todo o dia e estávamos sujos, acalorados, muito sedentos e famintos. Finalmente chegamos a nossa área de bivaque, mas só tínhamos nos acomodado para comer alguma comida quando a artilharia russa nos atingiu. Fomos pegos de surpresa, no campo aberto, com muito pouco abrigo e tivemos baixas de imediato. As explosões eram muito altas e vi homens, cavalos e caminhões irem pelos ares em todas as direções em confusão. Cai em um grande buraco ou cratera e o bombardeio prosseguiu por algum tempo.
Quando ele parou e eu ousei olhar para fora do meu buraco, vi uma cena de completa desolação. Todos os cavalos, caminhões e equipamento estavam destruídos e somente aqui e ali um soldado sobrevivente, tão aturdido como eu. Tentamos nos formar para reunir as peças, mas não havia jeito. Fomos enviados como sobreviventes para a retaguarda. Era o fim de nossa velha unidade e, de fato, eu era o único sobrevivente do grupo original de homens que tinham começado na Polônia.
É muito doloroso contar o próximo ponto, pois eu tive um colapso nervoso total. Acontece em combate. Homens sob fogo atingem um ponto onde seus nervos entram em colapso e é impossível para eles funcionarem por mais tempo. Foi o que aconteceu comigo.
Tínhamos marchado, pois nossos transportes tinham sido destruídos e finalmente alcançamos abrigo, completamente exaustos e desmoralizados. Descobrimos um celeiro ou coisa parecida, esqueci exatamente o que, e um oficial estava tentando anotar os detalhes e dar-nos ordens, dando especial atenção a mim. Devo ter estourado naquele ponto. É difícil descrever – só fiquei furioso e cai no chão em lágrimas. Estava completamente acabado, pois chorei e chorei como um bebê e somente vagamente me lembro sentir que fui levantado e colocado, acho, no veículo do oficial e levado para outra área de base na retaguarda. Deve ter sido uma estação de primeiros socorros, pois me deram uma injeção e cai em sono profundo.
Acordei e vi um jovem doutor me perguntando como me sentia. Disse-lhe, ‘doido’ e ele disse, ‘é o choque. Acho que você logo superará’. Meus pensamentos acerca disso mantive para mim mesmo. Comecei a achar que nunca voltaria para a frente, mesmo que para isso tivesse que fingir estar doente. Sabia que estava em mau estado; meus nervos estavam em frangalhos. Depois de um dia ou dois me permitiram sair da cama e caminhar com uma bengala, me sentia tão fraco. Não tinha interesse em nada, não podia mesmo escrever para casa, estava completamente inutilizado. Estranhamente, não tinha maus sonhos ou pesadelos sobre minhas experiências na frente. De fato, acredito que dormi muito bem, o que era estranho. Mas de dia eu era como um vegetal inútil. Mesmo comer era árduo, só podia engolir com dificuldade, apesar de poder beber com facilidade.
Fui inspecionado por médicos de todas as formas e discutiram sobre meu caso e sei que estavam tentando decidir se era um covarde ou não. Mas o meu estado deteriorou sem nenhum esforço de minha parte. Estava definhando e claramente não tinha condições de ser enviado de novo para a frente. Estava em uma espécie de limbo, de certa forma meio morto, mas ainda na terra dos vivos. Era simplesmente fadiga de combate, os efeitos do choque na mente que impediam minha mente de funcionar durante o dia. No final, depois de duas semanas, tiveram que se livrar de mim, pois precisavam do quarto, com tantas baixas. Fui enviado de volta com muitos outros para a Alemanha, para uma enfermaria de reabilitação, sem dúvida na esperança de que pudesse retornar para a Rússia, como mais bucha de canhão ou mesmo para uma das outras frentes. Por então tudo tinha acabado na África e esperávamos uma invasão, apesar dela ainda estar um pouco distante. Me deram licença médica e nunca esquecerei a expressão dos rostos de minha esposa e país quando me viram. Devo admitir que estava em péssimo estado e muito surpreso com minha própria cara no espelho.
Mas então o pior aconteceu: nosso apartamento foi bombardeado, apesar de felizmente minha esposa e filho não estarem lá no momento. Sobreviveram e se mudaram para a casa de meus pais, que era muito grande. Eu estava em uma unidade de recompletamento e inseguro quanto meu destino. Mas então minha situação médica foi rebaixada e não podia ver como poderia jamais retornar para a frente. Então uma coisa boa aconteceu: fui novamente enviado para uma escola de instrução e ali foi onde terminei minha carreira no exército alemão.
Apesar de ir para casa em Berlim regularmente, os ataques aéreos se tornaram tão ruins que finamente convenci minha esposa a partir e encontrei para ela um bom quarto próximo a meu quartel. Mas logo depois meus pais foram mortos em um dos ataques aéreos. Eles tinham descido para o porão como era normal, mas uma bomba estourou tudo em cima deles e não puderam ser salvos a tempo. Felizmente minha irmã estava em outro lugar naquele momento e sobreviveu. Foi um terrível revés para nós e ficamos muito maus por um tempo, pois os restos de meus pais não foram descobertos por algumas semanas. Fiquei doente de novo e minha esposa e filho me visitaram no hospital. Então tive baixa por incapacidade médica, de forma que rompi minhas ligações com o serviço ativo.
A medida que os americanos se aproximaram, fizemos um grande esforço para escapar do avanço russo, mesmo sendo muito difícil, pois os militares, a polícia e as SS estavam muito ativas e todos os homens de idade militar estavam sendo parados nas ruas. De fato, a despeito de minha baixa, quase fui incorporado na Volkssturm (milícia territorial). Recebi ordens de me apresentar ao comandante local, mas por então os russos não estavam longe e entrando nos subúrbios de Berlim. Com grande esforço conseguimos escapar com a ajuda de um velho amigo que tinha um pistolão e um carro com gasolina.
Nunca esquecerei meu imenso alívio quando vimos os primeiros tanques americanos. Acho que aqueles americanos não sabiam quão aliviados estávamos em vê-los.
Fonte: BLANDFORD, Edmund. Under Hitler´s Banner.
Quando a Inglaterra recusou a oferta de Hitler, isto pareceu incrível e, devo admitir, que me tirou o fôlego, pois apesar de não termos grande simpatia por nosso ditador, ele tinha estado certo aos olhos de muitos alemães e tinha-nos obtido grandes vitórias, de forma que agora muito poucas pessoas duvidavam dele. Mas, de qualquer forma, ficamos terrivelmente desapontados quando a batalha do Canal começou e sabíamos que estávamos tendo perdas de novo. Apesar de não estar totalmente apto, fui enviado de volta à minha unidade na Alemanha. Tinha tido alguns músculos rompidos e estes precisavam de tempo para curar. Recebi um trabalho de secretaria e isto me agradava e comecei a esperar que qualquer coisa que acontecesse, eu veria a guerra em uma situação de não-combatente.
Esta esperança logo acabou, pois em uns poucos meses, depois da batalha do Canal ter terminado, fui examinado medicamente e se estabeleceu que estava cem porcento pronto para o serviço ativo. Fiquei muito desapontado, mas incapaz de enganar o doutor.
Mas a vida era bem fácil. Tive um magnífico Natal em Berlim e marquei uma data para meu casamento com Helena, que seria em fevereiro. Um monte de pessoas foi convidado, incluindo naturalmente os pais e amigos dela e um bom número de amigos da velha firma. Em meados de fevereiro eu tinha conseguido obter uma licença e me casei; a festa foi muito especial e apreciada por todos. Naquele tempo não havia escassez, a despeito da guerra, de forma que nada faltou nesse sentido em nossa celebração. Depois, conseguimos dar uma fugida e fomos para nossa lua de mel em uma pequena cabana próximo das margens do Báltico Estava muito frio, mas nos amávamos tanto que o clima não incomodava. Fizemos umas poucas viagens e então tudo acabou e voltamos para Berlim, onde conseguimos um pequeno apartamento, por meio de um contato de meu no ramo e o mobiliamos bem confortavelmente. Eu era agora um homem casado e muito relutante em voltar para o Exército, mas tinha que ir.
Quando voltei para minha unidade, fiquei chocado com um boato muito ruim que estava circulando de forma muito cautelosa; isto dizia respeito a algumas grandes operações no Oriente. Dificilmente podia acreditar nos meus ouvidos e mais uma vez fiquei amedrontado. Mas semanas se passaram e nada aconteceu, de forma que comecei a ter esperanças que tudo tivesse sido um alarme falso. Mas então a luta começou quando invadimos a Iugoslávia, a Grécia e Creta e antes que percebesse, todos estavam fazendo as malas e se movendo pela Polônia. Fiquei na maior depressão pois tudo tinha acontecido muito repentinamente, mesmo que depois tivéssemos percebido que o planejamento e preparações estivessem acontecendo por algum tempo.
Passamos através de áreas do “Governo Geral”, como eram chamadas, e era triste ver tanta devastação da campanha de 1939 e quanto empobrecidos pareciam os poloneses. Muitos alemães tinham fechado as portas de seus corações a estas vistas, mas eu nunca pude relevar essas visões de sofrimento. Se tivesse sabido do resto daquilo – os fuzilamentos em massa, deportações etc, que nós somente sabíamos por boatos, apesar de não termos visto qualquer prova – acho que teria fugido. Posso dizer que em todo o meu tempo de serviço no exército nunca vi uma só atrocidade, apesar de naturalmente quando tantos prisioneiros são feitos como na Rússia, teria que haver algum caos na alimentação etc, pois tudo estava numa incrível bagunça. Novamente, não tinha a menor idéia que muitos daqueles pobres diabos acabariam esfomeados ou mortos no Ocidente depois de terem sido enviados a pé em imensas colunas de muitos, muitos quilômetros de comprimento.
Entretanto, naquele dia quieto e terrível quando a proclamação do Führer foi lida para nós antes do alvorecer no Oriente, eu só queria me esconder em algum lugar e escapar daquilo tudo. Posso lhe dizer que nenhum de nós mostrava qualquer fanfarronice ou espírito de “vamos lá fazer”. Eles fizerem seu serviço, mas sem nenhuma alegria, mesmo quando as vitórias vieram. Nós éramos uma unidade de construtores e nunca – ou raramente – pegávamos em armas, a menos que fossemos diretamente atacados pela infantaria inimiga. Assim tivemos uma longa, dura, marcha avante, parte a pé, parte em veículos, até que chegamos ao primeiro obstáculo fluvial e fossemos enviados correndo para a frente para fazer nosso trabalho.
Me lembro de minha surpresa em ver os grandes campos e planícies na Rússia, os casebres chamados de casas e as pequenas vilas, que em alguns casos estavam totalmente queimadas. Os pobres camponeses e crianças sofreram terrivelmente. Era tudo muito cruel, mas estávamos sempre em movimento e incapazes de pararmos por muito tempo; só fazíamos descansos muito breves. Era sempre avante! Avante! Avante!
Um dia um rapaz russo de uns seis anos, bem sujo, me procurou e me pediu um ‘zigarro’, mas ao invés lhe dei um pedaço de pão que agarrou e correu para longe com ele, desaparecendo atrás de um pequena casa. Uns poucos momentos depois reapareceu, desta vez puxando uma menina pequena, não muito maior do que ele. Meus camaradas estavam dormindo, de forma que essas duas crianças vieram para me ver e uma coisa espantosa aconteceu. O menino sorriu para a pequena menina que era uma infantilmente bonita; ela imediatamente levantou seu surrado vestido para mostrar que não estava usando roupa de baixo. Ambos sorriram para mim e o menino disse novamente ‘zigarro?’ e apontou para as partes pudendas da menina, ambos agora rindo imensamente. Fiquei tão espantado que só fiquei ali de boca aberta por um momento antes de lhes dar um pedaço de chocolate e ameaçando dar-lhes uma palmada, fazendo-os correr.
Sempre descobrimos que havia alguns pobres civis russos que estavam ansiosos para trabalhar para nós e, no caso das mulheres que eram invariavelmente sujas, estavam literalmente dispostas a fazer tudo por cigarros, rações etc. Tenho certeza que em alguns casos onde a disciplina era relaxada elas tinham sucesso em sua busca por se tornarem prostitutas de quartel, viajando escondidas em alguma carroça para o uso dos soldados. Acontece em todos os exércitos, mas nós nunca nos comprazíamos nessas coisas.
Então veio o dia que fui ferido de novo. Era inevitável, pois cedo ou tarde teríamos dificuldade em passar por um rio e os russos eram sempre bons com a artilharia e morteiros, mesmo que fossem ruins em outras coisas.
Nessa manhã específica tínhamos chegado na frente, logo antes de um ponto de reunião de tropas e sob fogo, para construir uma ponte sobre um riacho de bom tamanho, fundo o suficiente para ser considerado como um obstáculo. Tínhamos só começado a resolver o problema quando algo me atingiu nas costas e fui derrubado por aquilo. Fiquei mais sem ar no início, mas então senti uma dor terrível e gritei. Houve uma pausas imediata, a medida que meus homens me pegaram e me levaram para um dos nossos veículos, me colocaram no chão e arrancaram minha túnica. Tinha pego um estilhaço no meu dorso inferior esquerdo, mas parecia pior do que era. Fui enfaixado e levado para a retaguarda e para um lugar melhor para tratar de meu ferimento. Era um celeiro montado como estação de primeiros socorros e já continha alguns pacientes em macas. O doutor deu uma olhada em mim, cutucou um pouco, o que foi muito doloroso, mas aparentemente não viu a coisa como séria, mas gritei e desmaiei. Em seguida acordei em um caminhão que estava sacudindo por uma daquelas horríveis estradas russas. Acho que acabei em um hospital em Kiev, em um dos poucos prédios que ainda estavam de pé e fiquei deitado por só dois ou três dias antes que me dessem permissão para levantar. Mais uma vez me perguntei se poderia sair dessa guerra desgraçada – mas não! Meu ferimento era considerado como superficial e em uma semana ou menos estava de volta à frente e tudo começou de novo.
Tinha já me resignado a perder minha vida, mas surpreendentemente, não perdi. De fato, os avanços alemães continuaram até aquele horrível inverno e me tornei acostumado àquilo tudo e bem esperava ser deixado para trás nas neves da Rússia. O inverno tinha chegado cedo e estávamos descansando em uma das casas arruinadas. O período de lama tinha se transformado em neve e gelo e graças a Deus o avanço tinha parado, pois de outra forma nunca teríamos sobrevivido. Imagine tentar cruzar os rios congelados no terrível frio do inverno russo. É verdade que o gelo cresceria até ter metros de espessura, mas isso veio depois, inicialmente só fomos atingidos por uma frente fria “comum”, sem equipamento de inverno.
Então tudo ficou pior e não vi como poderíamos sobreviver ao frio, que era como o inferno. Ficamos sentados tremendo de frio em nosso casebre por dias e dias, incapazes de ir a qualquer lugar, com pouca comida e cobertores, imaginando o que estaria acontecendo. Mesmo a contra-ofensiva russa não afetou muito nosso setor. Nós só recuamos alguns quilômetros e nos acomodamos para congelar de novo. As primeiras roupas de inverno chegaram, mas não havia suficiente para todo mundo e alguns de nós ainda congelamos. As baixas por congelamento e doença cresceram de forma alarmante. Fui um desses e este também foi um dia que me lembro.
Era um dia de inverno cinzento, horroroso, em novembro, acho eu. Tinha estado fora em minhas rondas para inspecionar os guardas e equipamento como sempre, pois nunca se saberia quando russos ladrões ou guerrilheiros poderiam se infiltrar em nossas posições. Senti um calafrio forte chegando e no dia seguinte tinha caído com febre. Tive pneumonia e foi levado para a retaguarda onde os doutores acharam que estava em uma condição perigosa. Tenho poucas lembranças de tudo isso, pois estava inconsciente; não era realmente o destino que esperava para mim.
Devem ter passado pelo menos duas semanas antes que acordasse suficientemente para descobrir que estava em uma cama confortável. Soube que estava na Alemanha e as enfermeiras eram um presente dos céus. Oh! Como fiquei feliz de escapar do inferno russo! Uns poucos dias depois, minha querida esposa e pais vieram me ver e fizemos uma maravilhosa reunião, apesar de começar a me preocupar quando me contaram dos raids aéreos. Entretanto, eram os dias iniciais daquele tipo de guerra, pois aqueles ataques eram apenas alfinetadas. Minha família me trouxe algumas coisas boas e logo comecei a me recuperar. Mas a medida que melhorava, comecei a perceber que futuro terrível teria, de retornar para a frente, onde as coisas não estavam indo bem. A estupidez e a enormidade da guerra estavam realmente se fazendo perceber para mim, mas não podia ver uma saída. Não podia desertar então, que esperança havia? Me sentia preso em uma armadilha, como milhões de camaradas meus também se sentiam.
Como esperava, cerca de um mês depois disseram que estava bom o bastante para deixar o hospital, mas para minha grande surpresa não fui remetido para a frente russa, mas enviado para um depósito na própria Berlim. Isto era uma sorte surpreendente e lá soube que tinha sido designado como instrutor para uma escola de engenharia, o que era incrível. Aparentemente, a despeito de todos os meus medos na linha de frente, tinha deixado uma boa impressão e, naturalmente, ter estado nas campanhas da Polônia e da França e usar as fitas de medalha de campanha ajudava.
Minha família ficou muito feliz, pois isso significava que poderia ir para casa visitá-los bem freqüentemente. A única mancha no horizonte surgiu quando me contaram que havia um esquema de rotação na escola: não havia previsão de um quadro permanente, todos tinham que ter sua parte na frente, me disseram e isso me incluía. Achava que já tinha feito o suficiente em termos de combate, mas aparentemente não. De qualquer forma tentei colocar o pensamento fora de minha mente. Pelo menos teria alguns meses para usufruir minha nova vida e pretendia aproveitar ao máximo a oportunidade.
Meus dias eram repletos de falar, falar, falar e fiquei entediado disso, mesmo apesar de perceber que era muito, muito melhor do que o inferno congelado da Rússia onde meus camaradas estavam sofrendo. Tinha que instruir os novos recrutas nas técnicas de construção de pontes e construção de fortificações, usando modelos e tudo o que tinha aprendido na prática. Isso realmente se tornou muito monótono, pois era muito repetitivo.
E então minha esposa deu a luz a nosso filho, que batizamos de Mark, e isso foi um tônico maravilhoso para mim. Soube também que “nosso nazista” na companhia tinha sido convocado para o serviço no exército, de forma que fiquei muito contente com isso também! Passei horas muitos felizes em casa em Berlim. As coisas tinha mudado um pouco ali; ainda podíamos conseguir rações razoáveis, apesar de não haver tantos cafés abertos. Estava muito contente com meu filho e tentava esquecer tudo a respeito da maldita guerra. Os ataques aéreos não eram tão ruins e até então ninguém de nossas famílias tinha ficado desabrigado pelos bombardeios ou coisa pior, de forma que não estava particularmente preocupado.
Entretanto, quando os ataques aéreos ficaram piores – e me lembro do grande raid sobre Colônia – achei que a Alemanha estava acabada. A Rússia nunca seria conquistada, não importa quantos deles matássemos ou capturássemos e agora eles tinham poderosos aliados. Senti, como muitos outros, que perderíamos a guerra.
No final fui chamado por meu oficial comandante que me disse que deveria voltar para a frente, onde precisavam de mim. Ele mesmo era muito velho, me disse, mas ele queria me acompanhar! Quase ri dele, o velho idiota. Fiquei muito, muito deprimido e em uma última licença disse aos meus pais que eles deveria deixar Berlim se pudessem, pois achava que seria atacada como foi Colônia. Contudo meu pai não queria saber disso. Naturalmente ele tinha seus negócios para cuidar, de forma que podia ver o ponto de vista dele. Meus medos eram justificados, entretanto, e com bastante razão.
Voltei à frente no verão de 1942, no meio de uma imensa ofensiva alemã que parecia alcançar todos os seus objetivos, mas então parou. Não importa quanto território nos tomássemos ou quantos Russkis nos matássemos ou capturássemos, ou o botim que conquistássemos, sempre havia mais. Somente sobravam meia dúzia de meus velhos camaradas e tínhamos um grande trabalho de cruzar um rio sob fogo pesado. Tinha estado afastado muito tempo; o barulho era tão grande que eu só queria me enterrar no solo e dormir, qualquer coisa para escapar. Mas fomos forçados a ir em frente e mergulhamos na água com nosso equipamento. O rio era salpicado com granadas explodindo e balas, com baixios de terra, entulho e estilhaços caindo sobre nós. Vi homens caindo e gritando e tremia tanto que estava a ponto de desistir. Mas colocamos a ponte em posição e perdemos uma dúzia de homens no processo. Por algum milagre sobrevivi, mas não sei como; foi terrível. Enquanto a infantaria e os tanques cruzavam, só cai no chão como uma trouxa velha, totalmente exausto e encharcado.
Aqueles dias de verão da Rússia era muito, muito quentes, mas de longe preferíveis ao maldito frio do inverno.
Naquele dia vencemos, mas em outro, o desastre caiu sobre nós.
Tínhamos estado dirigindo todo o dia e estávamos sujos, acalorados, muito sedentos e famintos. Finalmente chegamos a nossa área de bivaque, mas só tínhamos nos acomodado para comer alguma comida quando a artilharia russa nos atingiu. Fomos pegos de surpresa, no campo aberto, com muito pouco abrigo e tivemos baixas de imediato. As explosões eram muito altas e vi homens, cavalos e caminhões irem pelos ares em todas as direções em confusão. Cai em um grande buraco ou cratera e o bombardeio prosseguiu por algum tempo.
Quando ele parou e eu ousei olhar para fora do meu buraco, vi uma cena de completa desolação. Todos os cavalos, caminhões e equipamento estavam destruídos e somente aqui e ali um soldado sobrevivente, tão aturdido como eu. Tentamos nos formar para reunir as peças, mas não havia jeito. Fomos enviados como sobreviventes para a retaguarda. Era o fim de nossa velha unidade e, de fato, eu era o único sobrevivente do grupo original de homens que tinham começado na Polônia.
É muito doloroso contar o próximo ponto, pois eu tive um colapso nervoso total. Acontece em combate. Homens sob fogo atingem um ponto onde seus nervos entram em colapso e é impossível para eles funcionarem por mais tempo. Foi o que aconteceu comigo.
Tínhamos marchado, pois nossos transportes tinham sido destruídos e finalmente alcançamos abrigo, completamente exaustos e desmoralizados. Descobrimos um celeiro ou coisa parecida, esqueci exatamente o que, e um oficial estava tentando anotar os detalhes e dar-nos ordens, dando especial atenção a mim. Devo ter estourado naquele ponto. É difícil descrever – só fiquei furioso e cai no chão em lágrimas. Estava completamente acabado, pois chorei e chorei como um bebê e somente vagamente me lembro sentir que fui levantado e colocado, acho, no veículo do oficial e levado para outra área de base na retaguarda. Deve ter sido uma estação de primeiros socorros, pois me deram uma injeção e cai em sono profundo.
Acordei e vi um jovem doutor me perguntando como me sentia. Disse-lhe, ‘doido’ e ele disse, ‘é o choque. Acho que você logo superará’. Meus pensamentos acerca disso mantive para mim mesmo. Comecei a achar que nunca voltaria para a frente, mesmo que para isso tivesse que fingir estar doente. Sabia que estava em mau estado; meus nervos estavam em frangalhos. Depois de um dia ou dois me permitiram sair da cama e caminhar com uma bengala, me sentia tão fraco. Não tinha interesse em nada, não podia mesmo escrever para casa, estava completamente inutilizado. Estranhamente, não tinha maus sonhos ou pesadelos sobre minhas experiências na frente. De fato, acredito que dormi muito bem, o que era estranho. Mas de dia eu era como um vegetal inútil. Mesmo comer era árduo, só podia engolir com dificuldade, apesar de poder beber com facilidade.
Fui inspecionado por médicos de todas as formas e discutiram sobre meu caso e sei que estavam tentando decidir se era um covarde ou não. Mas o meu estado deteriorou sem nenhum esforço de minha parte. Estava definhando e claramente não tinha condições de ser enviado de novo para a frente. Estava em uma espécie de limbo, de certa forma meio morto, mas ainda na terra dos vivos. Era simplesmente fadiga de combate, os efeitos do choque na mente que impediam minha mente de funcionar durante o dia. No final, depois de duas semanas, tiveram que se livrar de mim, pois precisavam do quarto, com tantas baixas. Fui enviado de volta com muitos outros para a Alemanha, para uma enfermaria de reabilitação, sem dúvida na esperança de que pudesse retornar para a Rússia, como mais bucha de canhão ou mesmo para uma das outras frentes. Por então tudo tinha acabado na África e esperávamos uma invasão, apesar dela ainda estar um pouco distante. Me deram licença médica e nunca esquecerei a expressão dos rostos de minha esposa e país quando me viram. Devo admitir que estava em péssimo estado e muito surpreso com minha própria cara no espelho.
Mas então o pior aconteceu: nosso apartamento foi bombardeado, apesar de felizmente minha esposa e filho não estarem lá no momento. Sobreviveram e se mudaram para a casa de meus pais, que era muito grande. Eu estava em uma unidade de recompletamento e inseguro quanto meu destino. Mas então minha situação médica foi rebaixada e não podia ver como poderia jamais retornar para a frente. Então uma coisa boa aconteceu: fui novamente enviado para uma escola de instrução e ali foi onde terminei minha carreira no exército alemão.
Apesar de ir para casa em Berlim regularmente, os ataques aéreos se tornaram tão ruins que finamente convenci minha esposa a partir e encontrei para ela um bom quarto próximo a meu quartel. Mas logo depois meus pais foram mortos em um dos ataques aéreos. Eles tinham descido para o porão como era normal, mas uma bomba estourou tudo em cima deles e não puderam ser salvos a tempo. Felizmente minha irmã estava em outro lugar naquele momento e sobreviveu. Foi um terrível revés para nós e ficamos muito maus por um tempo, pois os restos de meus pais não foram descobertos por algumas semanas. Fiquei doente de novo e minha esposa e filho me visitaram no hospital. Então tive baixa por incapacidade médica, de forma que rompi minhas ligações com o serviço ativo.
A medida que os americanos se aproximaram, fizemos um grande esforço para escapar do avanço russo, mesmo sendo muito difícil, pois os militares, a polícia e as SS estavam muito ativas e todos os homens de idade militar estavam sendo parados nas ruas. De fato, a despeito de minha baixa, quase fui incorporado na Volkssturm (milícia territorial). Recebi ordens de me apresentar ao comandante local, mas por então os russos não estavam longe e entrando nos subúrbios de Berlim. Com grande esforço conseguimos escapar com a ajuda de um velho amigo que tinha um pistolão e um carro com gasolina.
Nunca esquecerei meu imenso alívio quando vimos os primeiros tanques americanos. Acho que aqueles americanos não sabiam quão aliviados estávamos em vê-los.
Fonte: BLANDFORD, Edmund. Under Hitler´s Banner.
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Re: SEGUNDA GUERRA MUNDIAL
Para o oeste - inverno de 43
Relato do panzergrenadier Guy Sajer, da Divisão Gross Deutschland, sobre a defesa da fronteira romena no Natal de 1943.
"Stille Nacht... Heilige Nacht... Oh! Weihnacht!"
Noite de Natal, 1943. O vento sopra pelo labirinto de trincheiras ao norte de Boporoeivska. Duas companhias ocupavam as posições preparadas pela divisão de segurança e a organização Todt, que já se retirara para o oeste, para além da fronteira da Bessarábia. Nós chegáramos a estas geladas covas dois dias antes. A frente parecia movimentada e, quase com certeza, estaríamos combatendo em breve. O colapso de nosso front sul havia-nos forçado a este último recuo e reagrupamento ao longo da linha. O vasto ímpeto soviético movia-se lenta e inexoravelmente em nossa direção, como um rolo compressor. Estávamos plenamente cientes disto e o contínuo fluxo de reforços em nosso setor permitia adivinhar um violento embate.
O terreno vizinho a nossa posição era montanhoso e arborizado. Os tanques e a artilharia móvel aguardavam, escondidos, nos gélidos bosques, onde o frio arrancava até mesmo as cascas das árvores. Os estoques de comida em Boporoeivska eram constantemente saqueados; nosso comandante concordara tacitamente em uns poucos dias de bonança, como se isso fosse compensar o holocausto que se aproximava.
Era noite de Natal. A despeito de nossa miserável circunstância, estávamos repletos de emoção, como crianças que foram privadas de diversão por um longo período. Sob os nossos capacetes de aço e por baixo de nossas faces silenciosas, transbordava uma multidão de pensamentos brilhantes. Alguns homens falavam de paz, outros sobre a infância, que para alguns ainda estava próxima; tentávamos esconder nossos sentimentos, a falta de esperança e os sonhos ridículos engrossando a voz. Wesreidau [o capelão] fez sua ronda pelas trincheiras, falando aos homens, mas suas palavras pareciam somente perturbadas reflexões pessoais, em breve ele desistiu e se recolheu aos seus pensamentos. Sem dúvida ele também tinha filhos e gostaria de estar com eles. Algumas vezes ele parava por um momento e fitava o céu, que tinha clareado um pouco. O gelo brilhava em seu longo casaco como lantejoulas em uma árvore de Natal.
Por quatro dias tivemos que resistir a nada mais do que o absurdo frio. As seções na linha eram substituídas continuamente, e as insuportáveis noites eram dividas em dois turnos. Cada novo dia trazia novos casos de pneumonia. Enregelamento tornara-se um lugar comum. Por duas vezes eu fora carregado para uma cabana e trazido à consciência e à vida, dos braços da morte. Nossos rostos estavam terrivelmente ressecados, particularmente em volta dos lábios. Pelo menos tínhamos o suficiente para comer. Aos cozinheiros foram dadas ordens especiais para preparar a nossa comida com a maior quantidade de gordura possível. Suprimentos chegavam regularmente, o que possibilitava a Grandsk produzir sopas gosmentas, cheias de margarina. Estas misturas eram nauseantes, mas bastante efetivas. Os cozinheiros aprenderam bastante sobre os ingrediente ideais para o clima frio com os russos. Nós também fazíamos sauna - um tratamento cavalar que não tolerava fraquezas. Saíamos diretamente do vapor quente para as duchas geladas, uma transição tão violenta que nossos corações ameaçavam parar de bater. No entanto, tal qual as gosmentas sopas de Grandsk, estes choques eram efetivos e sempre nos sentíamos melhor depois.
"Aproveitem o máximo que puderem", Grandsk nos dizia, "Comam e não reclamem. Na Alemanha as crianças estão passando sem sobremesa, então vocês podem tolerar esse pequeno sacrifício".
A propósito, as palavras de Grandsk eram perfeitamente verdadeiras. Como Paula explicara-me em uma carta que chegara há apenas seis dias, o racionamento tornara-se bastante severo. Estávamos chegando tão perto de nossas próprias fronteiras que a cada dia a distância de casa parecia menor. Em breve, a Alemanha, em apuros, não seria capaz de nos mandar nem mesmo margarina.
Numa manhã, os apitos dos feldwebels nos arrancaram de nossa cabana enquanto dormíamos. Uma patrulha de tanques soviéticos estava a apenas uma milha de Boporoeivska. O frio, quando corremos para fora, nos cortava como o golpe machado do açougueiro, no entanto, cada homem galopou o mais rapidamente para um ponto preciso.
Ainda não chegáramos às nossas posições quando o som de pesadas explosões sacudiram o ar a oeste. Os tanques russos, carregando como uma manada de búfalos enlouquecida, haviam alcançado nosso campo minado. Agora era a vez dos tripulantes de tanque sofrerem um pouco. Nossos observadores olhavam através dos binóculos. Quase todos os tanques tentavam se retirar pelo caminho que haviam seguido. Nossa artilharia permanecia em silêncio, deixando os tanques para as minas. Às vezes o fogo de bateria estraga essas armadilhas.
Entretanto, três tanques Stalin haviam conseguido cruzar o campo minado e seguiam em direção à cidade, em um troar de lagartas e barulho de escapamento. Com extraordinária coragem eles receberam o fogo de nossas baterias antitanque 37 mm sem se deterem, mas foram atingidos pelos tanques Tigre escondidos, com seus terríveis canhões 88 mm. Em uma seqüência tão irreal quanto qualquer filme de Hollywood, todos os três tanques foram atingidos pela primeira salva. Um deles capotou e explodiu. Outro parou, morto como um javali atingido entre os olhos. O terceiro, embora atingido, virou-se, sem parar, expondo seu flanco aos nossos canhões antitanque, que arrancaram suas armas e placas de blindagem. Ele continuou em um círculo com pequenas viradas, tentando executar uma meia curva. Essa dramática tentativa nos deixou pasmos de admiração. Em seu desejo de sobreviver, o motorista russo seguiu diretamente para o campo minado. Uma série de explosões arrancou a lagarta de seu lado esquerdo e o tanque lentamente parou, como uma besta caída. Enquanto uma densa fumaça negra começava a sair de suas entranhas, duas figuras escuras saltaram, mas nossos dedos, duros pelo frio, não dispararam. Ambos os russos seguravam suas pistolas, preparados para se defenderem. Como não ouvissem nenhum disparo, deram uns poucos passos em direção às nossas linhas, jogando fora suas armas e levantando as mãos. Nós, os infantes, que os considerávamos heróis, lhes sorrimos, ao qual eles retribuíram, com seus dentes muito brancos, tal qual os dentes dos negros, em seus rostos escurecidos pelo óleo, graxa e fumaça. Nossos homens os levaram para uma "isba" e lhes deram algum Schnapps. Sua atitude e performance pareceram tão diferentes dos partisans, que não sentíamos ódio deles. Lensen os observou por alguns momentos e disse: "se Wiener estivesse aqui, ele provavemente beberia um trago com eles".
Na noite seguinte, mandamos patrulhas para recompor o campo minado. Nossa luta defensiva se apoiava cada vez mais em minas para tomar o lugar de pontos enfraquecidos ou expostos na linha. No dia seguinte, houve um reforço geral da frente. Dois regimentos romenos e um batalhão húngaro foram enviados para que se juntassem a nós. Também nos comunicaram que teríamos o apoio aéreo de um esquadrão de caças-bombardeiros baseados em algum lugar próximo a Vinnitsa.
"Parece que estamos sendo preparados para um grande show", observou Pferham, "não gosto nada disso".
O Obergefreiter Lensen tinha um ponto de vista bem diferente, feliz com o aumento das nossas forças. Conforme sua opinião, a tenaz dos vermelhos tinha que ser parada aqui. A idéia de que a sua Prússia poderia cair a qualquer momento nas mãos inimigas, nunca passou pela sua mente, embora essa hipótese já fosse tomada como certeza por todos nós.
Em uma noite, os russos mandaram uma onda humana de mongóis em um assalto direto contra as nossas posições. Sua função era desmantelar o campo minado, atravessando-o. Como os russos preferissem economizar seus tanques, e como suas reservas humanas eram gigantescas, eles geralmente mandavam soldados para esse tipo de trabalho.
O ataque soviético falhara, mas Ivan não esperava sucesso. O campo minado explodira sob a multidão uivante e, para completar, mandamos uma cortina de traçadoras a fim de obliterar qualquer um que tivesse sobrevivido. Os cadáveres fragmentados congelavam muito rapidamente, poupando-nos do odor que poluiria uma vasta área no calor.
Os russos nem mesmo utilizaram artilharia para auxiliar os mongóis, isso parecia confirmar nossa estimativa sobre a situação. Tentamos enviar patrulhas a fim de recuperar o campo minado, mas os russos atiravam em qualquer coisa que se mexesse. Fomos capazes de colocar somente uma fina camada de minas, ainda assim com consideráveis perdas. Claramente não era mais possível confiar nas minas para defender nossa linha de frente.
Em outra tarde, quando o frio atingiu uma intensidade dramática, os russos atacaram novamente. Nós guarnecíamos nossas posições em uma temperatura que descera a 45º negativos. Alguns homens desmaiavam enquanto o frio os consumia, eram paralizados antes que tivessem a chance de gritar por ajuda. A sobrevivência parecia impossível. Nossas mãos e rostos estavam cobertos com graxa de motor, e até mesmo as nossas grossas luvas estavam cobertas com essa mistura grudenta, todos os gestos se mostravam extremamente difíceis. Dos nossos tanques, cujos motores já não funcionavam, só víamos as pontas dos canhões acima da neve, como elefantes pegos em uma armadilha.
Os muzhiks que se preparavam para nos atacar sofriam da mesma maneira, congelando em suas posições antes mesmo de conseguir gritar o típico "Ourrah pobieda!". Os homens, em ambos os lados, sofrendo do mesmo martírio, clamavam por algum conforto. O metal quebrava com impressionante facilidade. Os tanques soviéticos avançavam cegamente através da pálida luz de seus faróis, o que realçava a visão surreal da cena. Estes tanques eram destruídos pelas minas colocadas paralelamente às nossas trincheiras, uns 40 metros de nossa linha de frente ou pelos tanques Tigre, que atiravam sem se mover. As tropas russas, com pés e mãos congeladas, tombavam e se retiravam em confusão perante o fogo contínuo que mantínhamos, a despeito de nossos dedos rígidos. Seus oficiais, que esperavam que estivéssemos paralizados pelo frio e incapazes de defesa, não tinham a menor noção do estado de suas próprias tropas. Eles estavam prontos para fazer qualquer sacrifício, conquanto que nossas linhas fossem atacadas.
Eu consegui evitar que minhas mãos congelassem colocando-as, dentro das luvas, em duas caixas de munição vazias, quando os cartuchos das metralhadoras alí caíam. Os artiheiros e qualquer um que fosse obrigado a fazer algum trabalho manual, mais cedo ou mais tarde davam entrada no serviço médico, com casos graves de congelamento. Houveram várias amputações nesses dias.
O frio intenso durou três semanas, durante os quais os russos se restringiram a colocar músicas calculadas para nos deixar saudosos de casa e fazer discursos nos convidando à rendição.
Por volta do fim de janeiro o frio amainou um pouco e se tornou tolerável. Algumas vezes durante o dia, o têrmometro nos dava uma trégua e chegava a marcar cinco graus positivos. As noites ainda eram cruéis, mas com a freqüente troca de turnos de trabalho nós conseguíamos agüentá-las bem. Sabíamos que a ofensiva russa retornaria em breve.
Numa noite, ou melhor, numa manhã, entre 4 e 5 horas, os apitos nos mandaram de volta aos nossos postos de interceptação.
Uma grande formação de tanques T-34 e Sherman movia-se adiante com grande barulho. Um bombardeio de artilharia os precedera, infringindo pesados danos à Boporoeivska e provocando uma evacuação em massa da população civil, a qual aguardava a luta com terrível apreensão. Nossos tanques - uns 15 Tigres, 10 Panteras e uma dezena de Marks 2 e 3 - haviam conseguido dar partida, pois seus motores tinham sido aquecidos continuamente no dia anterior. No começo da ofensiva, dois Mark 2 foram destruídos, lado a lado, pelo bombardeio russo. A frente parecia que iria ruir mais uma vez. Nós nos apertávamos nas trincheiras, com os olhos semi-fechados, esperando pelas hordas da infantaria vermelha que certamente estariam a caminho. Neste momento, nossas metralhadoras e Panzerfausts estavam silenciosos, deixando o caminho livre para a artilharia pesada e tanques.
Habilmente camuflados, os Tigres aguardavam, com os motores ligados. Quase toda a vez que um tanque russo chegava ao alcance, um tiro direto e estridente o incendiava. Os russos avançavam em nossa direção lentamente, confiantes e atirando a esmo. Suas táticas de desmoralização funcionariam se não houvessem tantas colunas de fumaça negra de seus tanques destruídos. Nossos 37 mm e Panzerfausts, destinados a serem usados quase à queima-roupa, foram poucas vezes requisitados. A primeira leva de assalto soviética foi consumida uns 450 metros de nossas primeiras posições, arrasados pelo fogo certeiro dos nossos Tigres e Panteras, além dos petrechos antitanques pesados.
O Tigre era uma fortaleza impressionantemente inabalável. O fogo inimigo parecia não ter qualquer efeito em sua blindagem, a qual, na frente, chegava a 14 cm de espessura. Sua única fraqueza era a relativa lentidão.
Uma segunda leva russa seguia bem próxima à primeira, mais densa do que a antecessora e acompanhada por um enxame de infantaria, que se apresentava como uma séria ameaça.
Nós esperávamos, com as bocas secas, nossas armas coladas contra os ombros e as granadas ao lado. Tínhamos a impressão de ouvir o coração de nossos vizinhos de trincheira.
Repentinamente, como um milagre, trinta de nossas aeronaves apareceram. Conforme o prometido, o esquadrão de Vinnitsa estava atacando. Este trabalho, em particular, foi muito fácil para eles e todas as bombas acertaram o alvo. Um grito de "Sieg Heil, der Luftwaffe!", soou tão alto de nossas trincheiras que acredito que até os pilotos o tenham ouvido. Neste momento, abrimos fogo com tudo o que dispúnhamos, mas Ivan continuava atacando, a despeito das brutais perdas sofridas. Nossos tanques, então, dirigiram-se contra o obstinado inimigo com um ardor que relembrava o de 1941.
O barulho tornara-se ensurdecedor. O ar estava denso de vapores e fumaça, recheado do cheiro de pólvora, cordite e gasolina queimada. Nossos gritos se misturavam com os dos russos, que titubeavam ante a inesperada resistência.
De onde estávamos, conseguimos ver o magnífico progresso dos Tigres, pulverizando os tanques inimigos antes que os mesmos pudessem dar meia-volta. Ao mesmo tempo, a Luftwaffe atacava novamente, com foguetes e canhões de 20 mm. As posições russas desapareceam sob uma grossa camada de fumaça.
A artilharia soviética continuava despejando granadas em nossas linhas, causando várias baixas que, na confusão, não notávamos. No entanto, em breve suas baterias silenciaram, quando as tropas de frente as alcançaram em retirada.
Uma segunda leva de aviões alemães, um luxo inconcebível a esta altura, completou o rompimento do ataque russo. Nas trincheiras, nos abraçávamos com grande alegria. Por quase um ano estivéramos nos retirando frente a um inimigo cuja superioridade numérica crescia constantemente. Lensen gritava como um homem possesso: "Eu lhes disse que nós conseguiríamos! Eu lhes disse que nós conseguiríamos!".
Nossa façanha foi mencionada em boletins especiais. A posição na fronteira romena fora mantida. Depois de meses de constantes ataques e frio terrível, as tropas alemãs e romenas mais uma vez rechaçaram a ofensiva soviética e destruíram enormes quantidades de material inimigo. A massa de metal retorcido misturado com cadáveres, que repousava em frente às nossas linhas, era a prova visível do que realizáramos. Ao longo de uma frente de mais de 300 quilômetros, o Exército Vermelho lançou dezesseis ataques no espaço de tempo de um mês. Levando em conta as três semanas de inatividade, durante as quais qualquer operação era impossível, estes dezesseis ataques aconteceram todos em aproximadamente uma semana. Cinco posições, ao longo da fronteira, obtiveram total sucesso em obstar o avanço russo, somente em uma os soviéticos chegaram perto de obter sucesso. Nosso dispositivo fora rompido ao sul, mas logo o ímpeto foi contido e as tropas vermelhas foram aniquiladas ou feitas prisioneiras.
Em nosso setor todas as linhas resistiram e por isso nos sentíamos muito orgulhosos. Prováramos mais uma vez que com material adequado e um mínimo de preparação, poderíamos conter um inimigo diversas vezes superior, cujos frenéticos esforços nunca foram inteligentemente empregados.
Wiener, o veterano, geralmente alertava que os russos costumavam falhar nos momentos difíceis. Ante a visão de um tanque inimigo em chamas, ele costumava abrir um largo sorriso de escárnio: "Mas que maldito idiota", dizia, "como pôde se deixar pegar dessa maneira? Só mesmo pela quantidade eles um dia nos derrotarão".
Foram distribuídas trinta Cruzes de Ferro para a Divisão Gross Deutschland e tantas outras para os pequenos regimentos de tanques, que também mereciam as honras pelo feito.
Fonte deste artigo: The Forgotten Soldier - Guy Sajer - Brassey´s, Inc.
Relato do panzergrenadier Guy Sajer, da Divisão Gross Deutschland, sobre a defesa da fronteira romena no Natal de 1943.
"Stille Nacht... Heilige Nacht... Oh! Weihnacht!"
Noite de Natal, 1943. O vento sopra pelo labirinto de trincheiras ao norte de Boporoeivska. Duas companhias ocupavam as posições preparadas pela divisão de segurança e a organização Todt, que já se retirara para o oeste, para além da fronteira da Bessarábia. Nós chegáramos a estas geladas covas dois dias antes. A frente parecia movimentada e, quase com certeza, estaríamos combatendo em breve. O colapso de nosso front sul havia-nos forçado a este último recuo e reagrupamento ao longo da linha. O vasto ímpeto soviético movia-se lenta e inexoravelmente em nossa direção, como um rolo compressor. Estávamos plenamente cientes disto e o contínuo fluxo de reforços em nosso setor permitia adivinhar um violento embate.
O terreno vizinho a nossa posição era montanhoso e arborizado. Os tanques e a artilharia móvel aguardavam, escondidos, nos gélidos bosques, onde o frio arrancava até mesmo as cascas das árvores. Os estoques de comida em Boporoeivska eram constantemente saqueados; nosso comandante concordara tacitamente em uns poucos dias de bonança, como se isso fosse compensar o holocausto que se aproximava.
Era noite de Natal. A despeito de nossa miserável circunstância, estávamos repletos de emoção, como crianças que foram privadas de diversão por um longo período. Sob os nossos capacetes de aço e por baixo de nossas faces silenciosas, transbordava uma multidão de pensamentos brilhantes. Alguns homens falavam de paz, outros sobre a infância, que para alguns ainda estava próxima; tentávamos esconder nossos sentimentos, a falta de esperança e os sonhos ridículos engrossando a voz. Wesreidau [o capelão] fez sua ronda pelas trincheiras, falando aos homens, mas suas palavras pareciam somente perturbadas reflexões pessoais, em breve ele desistiu e se recolheu aos seus pensamentos. Sem dúvida ele também tinha filhos e gostaria de estar com eles. Algumas vezes ele parava por um momento e fitava o céu, que tinha clareado um pouco. O gelo brilhava em seu longo casaco como lantejoulas em uma árvore de Natal.
Por quatro dias tivemos que resistir a nada mais do que o absurdo frio. As seções na linha eram substituídas continuamente, e as insuportáveis noites eram dividas em dois turnos. Cada novo dia trazia novos casos de pneumonia. Enregelamento tornara-se um lugar comum. Por duas vezes eu fora carregado para uma cabana e trazido à consciência e à vida, dos braços da morte. Nossos rostos estavam terrivelmente ressecados, particularmente em volta dos lábios. Pelo menos tínhamos o suficiente para comer. Aos cozinheiros foram dadas ordens especiais para preparar a nossa comida com a maior quantidade de gordura possível. Suprimentos chegavam regularmente, o que possibilitava a Grandsk produzir sopas gosmentas, cheias de margarina. Estas misturas eram nauseantes, mas bastante efetivas. Os cozinheiros aprenderam bastante sobre os ingrediente ideais para o clima frio com os russos. Nós também fazíamos sauna - um tratamento cavalar que não tolerava fraquezas. Saíamos diretamente do vapor quente para as duchas geladas, uma transição tão violenta que nossos corações ameaçavam parar de bater. No entanto, tal qual as gosmentas sopas de Grandsk, estes choques eram efetivos e sempre nos sentíamos melhor depois.
"Aproveitem o máximo que puderem", Grandsk nos dizia, "Comam e não reclamem. Na Alemanha as crianças estão passando sem sobremesa, então vocês podem tolerar esse pequeno sacrifício".
A propósito, as palavras de Grandsk eram perfeitamente verdadeiras. Como Paula explicara-me em uma carta que chegara há apenas seis dias, o racionamento tornara-se bastante severo. Estávamos chegando tão perto de nossas próprias fronteiras que a cada dia a distância de casa parecia menor. Em breve, a Alemanha, em apuros, não seria capaz de nos mandar nem mesmo margarina.
Numa manhã, os apitos dos feldwebels nos arrancaram de nossa cabana enquanto dormíamos. Uma patrulha de tanques soviéticos estava a apenas uma milha de Boporoeivska. O frio, quando corremos para fora, nos cortava como o golpe machado do açougueiro, no entanto, cada homem galopou o mais rapidamente para um ponto preciso.
Ainda não chegáramos às nossas posições quando o som de pesadas explosões sacudiram o ar a oeste. Os tanques russos, carregando como uma manada de búfalos enlouquecida, haviam alcançado nosso campo minado. Agora era a vez dos tripulantes de tanque sofrerem um pouco. Nossos observadores olhavam através dos binóculos. Quase todos os tanques tentavam se retirar pelo caminho que haviam seguido. Nossa artilharia permanecia em silêncio, deixando os tanques para as minas. Às vezes o fogo de bateria estraga essas armadilhas.
Entretanto, três tanques Stalin haviam conseguido cruzar o campo minado e seguiam em direção à cidade, em um troar de lagartas e barulho de escapamento. Com extraordinária coragem eles receberam o fogo de nossas baterias antitanque 37 mm sem se deterem, mas foram atingidos pelos tanques Tigre escondidos, com seus terríveis canhões 88 mm. Em uma seqüência tão irreal quanto qualquer filme de Hollywood, todos os três tanques foram atingidos pela primeira salva. Um deles capotou e explodiu. Outro parou, morto como um javali atingido entre os olhos. O terceiro, embora atingido, virou-se, sem parar, expondo seu flanco aos nossos canhões antitanque, que arrancaram suas armas e placas de blindagem. Ele continuou em um círculo com pequenas viradas, tentando executar uma meia curva. Essa dramática tentativa nos deixou pasmos de admiração. Em seu desejo de sobreviver, o motorista russo seguiu diretamente para o campo minado. Uma série de explosões arrancou a lagarta de seu lado esquerdo e o tanque lentamente parou, como uma besta caída. Enquanto uma densa fumaça negra começava a sair de suas entranhas, duas figuras escuras saltaram, mas nossos dedos, duros pelo frio, não dispararam. Ambos os russos seguravam suas pistolas, preparados para se defenderem. Como não ouvissem nenhum disparo, deram uns poucos passos em direção às nossas linhas, jogando fora suas armas e levantando as mãos. Nós, os infantes, que os considerávamos heróis, lhes sorrimos, ao qual eles retribuíram, com seus dentes muito brancos, tal qual os dentes dos negros, em seus rostos escurecidos pelo óleo, graxa e fumaça. Nossos homens os levaram para uma "isba" e lhes deram algum Schnapps. Sua atitude e performance pareceram tão diferentes dos partisans, que não sentíamos ódio deles. Lensen os observou por alguns momentos e disse: "se Wiener estivesse aqui, ele provavemente beberia um trago com eles".
Na noite seguinte, mandamos patrulhas para recompor o campo minado. Nossa luta defensiva se apoiava cada vez mais em minas para tomar o lugar de pontos enfraquecidos ou expostos na linha. No dia seguinte, houve um reforço geral da frente. Dois regimentos romenos e um batalhão húngaro foram enviados para que se juntassem a nós. Também nos comunicaram que teríamos o apoio aéreo de um esquadrão de caças-bombardeiros baseados em algum lugar próximo a Vinnitsa.
"Parece que estamos sendo preparados para um grande show", observou Pferham, "não gosto nada disso".
O Obergefreiter Lensen tinha um ponto de vista bem diferente, feliz com o aumento das nossas forças. Conforme sua opinião, a tenaz dos vermelhos tinha que ser parada aqui. A idéia de que a sua Prússia poderia cair a qualquer momento nas mãos inimigas, nunca passou pela sua mente, embora essa hipótese já fosse tomada como certeza por todos nós.
Em uma noite, os russos mandaram uma onda humana de mongóis em um assalto direto contra as nossas posições. Sua função era desmantelar o campo minado, atravessando-o. Como os russos preferissem economizar seus tanques, e como suas reservas humanas eram gigantescas, eles geralmente mandavam soldados para esse tipo de trabalho.
O ataque soviético falhara, mas Ivan não esperava sucesso. O campo minado explodira sob a multidão uivante e, para completar, mandamos uma cortina de traçadoras a fim de obliterar qualquer um que tivesse sobrevivido. Os cadáveres fragmentados congelavam muito rapidamente, poupando-nos do odor que poluiria uma vasta área no calor.
Os russos nem mesmo utilizaram artilharia para auxiliar os mongóis, isso parecia confirmar nossa estimativa sobre a situação. Tentamos enviar patrulhas a fim de recuperar o campo minado, mas os russos atiravam em qualquer coisa que se mexesse. Fomos capazes de colocar somente uma fina camada de minas, ainda assim com consideráveis perdas. Claramente não era mais possível confiar nas minas para defender nossa linha de frente.
Em outra tarde, quando o frio atingiu uma intensidade dramática, os russos atacaram novamente. Nós guarnecíamos nossas posições em uma temperatura que descera a 45º negativos. Alguns homens desmaiavam enquanto o frio os consumia, eram paralizados antes que tivessem a chance de gritar por ajuda. A sobrevivência parecia impossível. Nossas mãos e rostos estavam cobertos com graxa de motor, e até mesmo as nossas grossas luvas estavam cobertas com essa mistura grudenta, todos os gestos se mostravam extremamente difíceis. Dos nossos tanques, cujos motores já não funcionavam, só víamos as pontas dos canhões acima da neve, como elefantes pegos em uma armadilha.
Os muzhiks que se preparavam para nos atacar sofriam da mesma maneira, congelando em suas posições antes mesmo de conseguir gritar o típico "Ourrah pobieda!". Os homens, em ambos os lados, sofrendo do mesmo martírio, clamavam por algum conforto. O metal quebrava com impressionante facilidade. Os tanques soviéticos avançavam cegamente através da pálida luz de seus faróis, o que realçava a visão surreal da cena. Estes tanques eram destruídos pelas minas colocadas paralelamente às nossas trincheiras, uns 40 metros de nossa linha de frente ou pelos tanques Tigre, que atiravam sem se mover. As tropas russas, com pés e mãos congeladas, tombavam e se retiravam em confusão perante o fogo contínuo que mantínhamos, a despeito de nossos dedos rígidos. Seus oficiais, que esperavam que estivéssemos paralizados pelo frio e incapazes de defesa, não tinham a menor noção do estado de suas próprias tropas. Eles estavam prontos para fazer qualquer sacrifício, conquanto que nossas linhas fossem atacadas.
Eu consegui evitar que minhas mãos congelassem colocando-as, dentro das luvas, em duas caixas de munição vazias, quando os cartuchos das metralhadoras alí caíam. Os artiheiros e qualquer um que fosse obrigado a fazer algum trabalho manual, mais cedo ou mais tarde davam entrada no serviço médico, com casos graves de congelamento. Houveram várias amputações nesses dias.
O frio intenso durou três semanas, durante os quais os russos se restringiram a colocar músicas calculadas para nos deixar saudosos de casa e fazer discursos nos convidando à rendição.
Por volta do fim de janeiro o frio amainou um pouco e se tornou tolerável. Algumas vezes durante o dia, o têrmometro nos dava uma trégua e chegava a marcar cinco graus positivos. As noites ainda eram cruéis, mas com a freqüente troca de turnos de trabalho nós conseguíamos agüentá-las bem. Sabíamos que a ofensiva russa retornaria em breve.
Numa noite, ou melhor, numa manhã, entre 4 e 5 horas, os apitos nos mandaram de volta aos nossos postos de interceptação.
Uma grande formação de tanques T-34 e Sherman movia-se adiante com grande barulho. Um bombardeio de artilharia os precedera, infringindo pesados danos à Boporoeivska e provocando uma evacuação em massa da população civil, a qual aguardava a luta com terrível apreensão. Nossos tanques - uns 15 Tigres, 10 Panteras e uma dezena de Marks 2 e 3 - haviam conseguido dar partida, pois seus motores tinham sido aquecidos continuamente no dia anterior. No começo da ofensiva, dois Mark 2 foram destruídos, lado a lado, pelo bombardeio russo. A frente parecia que iria ruir mais uma vez. Nós nos apertávamos nas trincheiras, com os olhos semi-fechados, esperando pelas hordas da infantaria vermelha que certamente estariam a caminho. Neste momento, nossas metralhadoras e Panzerfausts estavam silenciosos, deixando o caminho livre para a artilharia pesada e tanques.
Habilmente camuflados, os Tigres aguardavam, com os motores ligados. Quase toda a vez que um tanque russo chegava ao alcance, um tiro direto e estridente o incendiava. Os russos avançavam em nossa direção lentamente, confiantes e atirando a esmo. Suas táticas de desmoralização funcionariam se não houvessem tantas colunas de fumaça negra de seus tanques destruídos. Nossos 37 mm e Panzerfausts, destinados a serem usados quase à queima-roupa, foram poucas vezes requisitados. A primeira leva de assalto soviética foi consumida uns 450 metros de nossas primeiras posições, arrasados pelo fogo certeiro dos nossos Tigres e Panteras, além dos petrechos antitanques pesados.
O Tigre era uma fortaleza impressionantemente inabalável. O fogo inimigo parecia não ter qualquer efeito em sua blindagem, a qual, na frente, chegava a 14 cm de espessura. Sua única fraqueza era a relativa lentidão.
Uma segunda leva russa seguia bem próxima à primeira, mais densa do que a antecessora e acompanhada por um enxame de infantaria, que se apresentava como uma séria ameaça.
Nós esperávamos, com as bocas secas, nossas armas coladas contra os ombros e as granadas ao lado. Tínhamos a impressão de ouvir o coração de nossos vizinhos de trincheira.
Repentinamente, como um milagre, trinta de nossas aeronaves apareceram. Conforme o prometido, o esquadrão de Vinnitsa estava atacando. Este trabalho, em particular, foi muito fácil para eles e todas as bombas acertaram o alvo. Um grito de "Sieg Heil, der Luftwaffe!", soou tão alto de nossas trincheiras que acredito que até os pilotos o tenham ouvido. Neste momento, abrimos fogo com tudo o que dispúnhamos, mas Ivan continuava atacando, a despeito das brutais perdas sofridas. Nossos tanques, então, dirigiram-se contra o obstinado inimigo com um ardor que relembrava o de 1941.
O barulho tornara-se ensurdecedor. O ar estava denso de vapores e fumaça, recheado do cheiro de pólvora, cordite e gasolina queimada. Nossos gritos se misturavam com os dos russos, que titubeavam ante a inesperada resistência.
De onde estávamos, conseguimos ver o magnífico progresso dos Tigres, pulverizando os tanques inimigos antes que os mesmos pudessem dar meia-volta. Ao mesmo tempo, a Luftwaffe atacava novamente, com foguetes e canhões de 20 mm. As posições russas desapareceam sob uma grossa camada de fumaça.
A artilharia soviética continuava despejando granadas em nossas linhas, causando várias baixas que, na confusão, não notávamos. No entanto, em breve suas baterias silenciaram, quando as tropas de frente as alcançaram em retirada.
Uma segunda leva de aviões alemães, um luxo inconcebível a esta altura, completou o rompimento do ataque russo. Nas trincheiras, nos abraçávamos com grande alegria. Por quase um ano estivéramos nos retirando frente a um inimigo cuja superioridade numérica crescia constantemente. Lensen gritava como um homem possesso: "Eu lhes disse que nós conseguiríamos! Eu lhes disse que nós conseguiríamos!".
Nossa façanha foi mencionada em boletins especiais. A posição na fronteira romena fora mantida. Depois de meses de constantes ataques e frio terrível, as tropas alemãs e romenas mais uma vez rechaçaram a ofensiva soviética e destruíram enormes quantidades de material inimigo. A massa de metal retorcido misturado com cadáveres, que repousava em frente às nossas linhas, era a prova visível do que realizáramos. Ao longo de uma frente de mais de 300 quilômetros, o Exército Vermelho lançou dezesseis ataques no espaço de tempo de um mês. Levando em conta as três semanas de inatividade, durante as quais qualquer operação era impossível, estes dezesseis ataques aconteceram todos em aproximadamente uma semana. Cinco posições, ao longo da fronteira, obtiveram total sucesso em obstar o avanço russo, somente em uma os soviéticos chegaram perto de obter sucesso. Nosso dispositivo fora rompido ao sul, mas logo o ímpeto foi contido e as tropas vermelhas foram aniquiladas ou feitas prisioneiras.
Em nosso setor todas as linhas resistiram e por isso nos sentíamos muito orgulhosos. Prováramos mais uma vez que com material adequado e um mínimo de preparação, poderíamos conter um inimigo diversas vezes superior, cujos frenéticos esforços nunca foram inteligentemente empregados.
Wiener, o veterano, geralmente alertava que os russos costumavam falhar nos momentos difíceis. Ante a visão de um tanque inimigo em chamas, ele costumava abrir um largo sorriso de escárnio: "Mas que maldito idiota", dizia, "como pôde se deixar pegar dessa maneira? Só mesmo pela quantidade eles um dia nos derrotarão".
Foram distribuídas trinta Cruzes de Ferro para a Divisão Gross Deutschland e tantas outras para os pequenos regimentos de tanques, que também mereciam as honras pelo feito.
Fonte deste artigo: The Forgotten Soldier - Guy Sajer - Brassey´s, Inc.
Nascido de alma caudilha- nem por isso menos franca -Deus te deu essa cor branca que até de noite rebrilha.Lua do herói na coxilha,por onde eu for, onde eu ande e sem que ninguém me mande eu te canto, troféu mudo que é puro neste Rio Grande!
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Re: SEGUNDA GUERRA MUNDIAL
II World War surrender historical movie, very interesting.
VIDEO COM A RENDIÇÃO DO JAPÃO 1945
Já viu esse? É um tesouro histórico, inimaginável antes da Internet.
Este é o filme feito durante a cerimonia de rendição do Japão ao General Douglas McArthur a bordo do encouraçado Missouri, na baía de Toquio em setembro de 1945. A voz é realmente a do General. Este filme nunca foi mostrado ao público em geral que teve acesso apenas á s fotos tiradas na ocasião.
Filmagem Histórica: Assinatura da rendição japonesa a bordo do encouraçado Missouri, no domingo 2 de setembro de 1945.
O General McArthur era o Comandante Supremo das forças armadas na ocasião, mas notem a presença de comandantes famosos como os almirantes Nimitz e Halsey.
http://enka2.netorage.com:9711/harddisk ... hurjap.htm
VIDEO COM A RENDIÇÃO DO JAPÃO 1945
Já viu esse? É um tesouro histórico, inimaginável antes da Internet.
Este é o filme feito durante a cerimonia de rendição do Japão ao General Douglas McArthur a bordo do encouraçado Missouri, na baía de Toquio em setembro de 1945. A voz é realmente a do General. Este filme nunca foi mostrado ao público em geral que teve acesso apenas á s fotos tiradas na ocasião.
Filmagem Histórica: Assinatura da rendição japonesa a bordo do encouraçado Missouri, no domingo 2 de setembro de 1945.
O General McArthur era o Comandante Supremo das forças armadas na ocasião, mas notem a presença de comandantes famosos como os almirantes Nimitz e Halsey.
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"O comunismo é a filosofia do fracasso, o credo da ignorância e o evangelho da inveja. Sua virtude inerente é a distribuição equitativa da miséria".
Winston Churchill
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Re: SEGUNDA GUERRA MUNDIAL
Vendo este vídeo eu tento imaginar o que passou na cabeça do general MacArthur no momento da assinatura.Ele que dois anos antes fazia uma retirada forçada das Filipinas mas deixandoma famosa promessa "I Shall Return",não só só retomou a ilha como também foi o algoz da rendição japonesa.Nada melhor do que o dever cumprido com uma saborosa "vingança".
Nascido de alma caudilha- nem por isso menos franca -Deus te deu essa cor branca que até de noite rebrilha.Lua do herói na coxilha,por onde eu for, onde eu ande e sem que ninguém me mande eu te canto, troféu mudo que é puro neste Rio Grande!
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Re: SEGUNDA GUERRA MUNDIAL
Ogun K-9 escreveu:Vendo este vídeo eu tento imaginar o que passou na cabeça do general MacArthur no momento da assinatura.Ele que dois anos antes fazia uma retirada forçada das Filipinas mas deixandom a famosa promessa "I Shall Return",não só só retomou a ilha como também foi o algoz da rendição japonesa.Nada melhor do que o dever cumprido com uma saborosa "vingança".
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- Ogun K-9
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Re: SEGUNDA GUERRA MUNDIAL
Vendo este vídeo eu tento imaginar o que passou na cabeça do general MacArthur no momento da assinatura.Ele que dois anos antes fazia uma retirada forçada das Filipinas mas deixandom a famosa promessa "I Shall Return",não só só retomou a ilha como também foi o algoz da rendição japonesa.Nada melhor do que o dever cumprido com uma saborosa "vingança".
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Re: SEGUNDA GUERRA MUNDIAL
Osvobozhdenie
Sinopse:
Super produção soviética que retrata os momentos decisivos da guerra apartir de 1943, retratando momentos de extrema importância para o futuro da guerra. Dividido em 5 partes (começou a ser produzido em 1969 até 1971), retratando desde a Batalha de kursk, Libertação de Minsk, Kiev, Invasão da Polónia, ação das guerrilhas de Tito até a batalha de Berlim.
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Super produção soviética que retrata os momentos decisivos da guerra apartir de 1943, retratando momentos de extrema importância para o futuro da guerra. Dividido em 5 partes (começou a ser produzido em 1969 até 1971), retratando desde a Batalha de kursk, Libertação de Minsk, Kiev, Invasão da Polónia, ação das guerrilhas de Tito até a batalha de Berlim.
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"If the people who marched actually voted, we wouldn’t have to march in the first place".
"(Poor) countries are poor because those who have power make choices that create poverty".
ubi solitudinem faciunt pacem appellant
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SEGUNDA GUERRA MUNDIAL
Nova série sobre a Segunda Guerra Mundial ("Pacífico") seguindo a linha do "Band of Brothers":
http://televisao.uol.com.br/ultimas-not ... uerra.jhtm
Roberto
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Re: SEGUNDA GUERRA MUNDIAL
estes relatos que o ogum posta são muito bons
"A religião católica contém a Verdade total revelada por Deus e não dizemos isso com arrogância nem para desafiar ninguém. Não podemos diminuir esta afirmação" Dom Hector Aguer
http://ridingaraid.blogspot.com.br/ meu blog
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