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Enviado: Ter Ago 28, 2007 3:17 pm
por Dieneces
P44 escreveu:Dieneces,
Já percebemos que sabes muito latim, além que tens vocação para corrector ortográfico.
Em tudo o resto estou de pleno acordo com o Soultrain, nem vale a pena discutir, já que 1/2 dúzia de individuos se consideram Iluminados e portadores da verdade absoluta tentando trazer á luz as mentes inferiores, ingénuas, pacóvias, ignorantes, etc (nas quais orgulhosamente me incluo)
Fico á espera da correcção ortográfica!
Correção ortográfica é só para alguns , Beduíno . Para os que possuem senso de humor , não . Não costumo fazer isso , nem tenho habilidades suficientes para tal mister , meus conhecimentos gramaticais são os básicos de alguém bem alfabetizado e cometo erros com frequência , também . Mas quando me acusam de algo completamente destoante da realidade , achando que com isso me atingem , me instam a defender-me . E me defendo com didatismo , transformando os ataques a mim desferidos em conselhos práticos para meus contendores , isso eleva a qualidade do debate . Não sou o australopithecus político que me consideram . No máximo um índio Charrua ou Minuano .
Enviado: Ter Ago 28, 2007 3:25 pm
por Dieneces
Sniper escreveu:Senhores, o que acham de deixarem de lado os erros ortográficos dos colegas e se concentrarem em um debate com argumentos ao invés de tentativas de desqualificações pessoais ?
Gostaría de esclarecer que é aconselhável que os foristas procurem escrever de forma correta, respeitando a ortografia e a língua Portuguesa. Porém nunca foi e nunca será exigência para qualquer um que queira debater no Fórum Defesa Brasil total domínio da língua, tanto que temos foristas Russos, Americanos, Espanhóis, Argentinos, chilenos, Colombianos, Venezuelanos, Peruanos, etc... Que por mais que se esforcem, nem sempre escrevem de maneira "correta", mesmo assim todos entendem perfeitamente suas mensagens.
Em fim, conto com a colaboração de todos os colegas para mantermos o bom nível de debate que sempre foi a marca registrada do DB.
Sniper
Concordo . Me esforço em qualificar o debate . É um esforço hercúleo para quem possui tão poucos predicados , segundo alguns , mas me esforço . Continuarei lendo. Docem velle summs est eruditio.
Enviado: Ter Ago 28, 2007 5:45 pm
por JT8D
Dieneces escreveu:P44 escreveu:Dieneces,
Já percebemos que sabes muito latim, além que tens vocação para corrector ortográfico.
Em tudo o resto estou de pleno acordo com o Soultrain, nem vale a pena discutir, já que 1/2 dúzia de individuos se consideram Iluminados e portadores da verdade absoluta tentando trazer á luz as mentes inferiores, ingénuas, pacóvias, ignorantes, etc (nas quais orgulhosamente me incluo)
Fico á espera da correcção ortográfica!
Correção ortográfica é só para alguns , Beduíno . Para os que possuem senso de humor , não . Não costumo fazer isso , nem tenho habilidades suficientes para tal mister , meus conhecimentos gramaticais são os básicos de alguém bem alfabetizado e cometo erros com frequência , também . Mas quando me acusam de algo completamente destoante da realidade , achando que com isso me atingem , me instam a defender-me . E me defendo com didatismo , transformando os ataques a mim desferidos em conselhos práticos para meus contendores , isso eleva a qualidade do debate . Não sou o australopithecus político que me consideram . No máximo um índio Charrua ou Minuano .
Fala a verdade Indio Véio, tinhas acordado de mau humor
[ ]'s,
JT
Enviado: Ter Ago 28, 2007 6:17 pm
por Clermont
AS REAIS LIÇÕES DO VIETNAM.
Por Andrew J. Bacevich – The Los Angeles Times, 26 de agosto de 2007.
”Naturalmente, as pessoas comuns não querem a guerra, nem na Rússia, nem na Inglaterra, nem na América e nem na Alemanha. Isso se compreende. Mas, afinal de contas são os líderes do país quem determinam a política, e sempre é uma questão simples arrastar o povo junto, seja na democracia, ou numa ditadura fascista, ou num parlamento ou numa ditadura comunista. ... Com voz ou sem voz, o povo sempre pode ser trazido para o lado dos líderes. Isso é fácil. Tudo que você tem a fazer é dizer que eles estão sendo atacados, e denunciar os pacifistas por falta de patriotismo e por exporem o país ao perigo. Isso funciona do mesmo modo em qualquer país.”
(Hermann Göring, em entrevista em Nuremberg, 1945)
Considerar a débâcle da Guerra do Vietnam como uma racionalização para sustentar a presença militar dos Estados Unidos no Iraque requer considerável imaginação. Ao menos, o discurso do Presidente Bush aos Ex-combatentes das Guerras Externas (VFW, Veterans Foreign Wars) no início desta semana, revelou uma, até agora, insuspeitada capacidade criativa. Porém, como exercício de análise histórica, suas observações demonstram ser seletivas e em benefício próprio.
Por anos, a administração Bush tem rejeitado todas as comparações entre o Iraque e o Vietnam. Agora, o presidente cita o Vietnam para reforçar sua insistência em “cuidar dos iraquianos enquanto eles constroem sua democracia”. Fazer de outro modo, ele diz, convidará a repetição dos eventos que se seguiram a queda de Saigon, quando “milhões de cidadãos inocentes” foram assassinados, aprisionados ou forçados a fugir.
O presidente vê o abandono de nossos aliados do Sudeste da Ásia como uma desgraça, deplorando o destino sofrido pelo “Povo dos Botes” e as vítimas do Khmer Vermelho. De acordo com Bush, a retirada do Iraque se constituirá num ato de abandono comparável. Além disso, o presidente encontra poucas conexões entre o Vietnam e o Iraque. Isso é infortunado. Pois essa guerra anterior oferece lições de imediata relevância para a difícil situação que enfrentamos hoje. Como o balanço do discurso do presidente no VFW deixa claro, Bush permanece indiferente à história que realmente importa.
Aqui vão umas poucas lições que ele atropelou.
Em guerras não-convencionais, contagem de corpos, realmente não conta. Na Guerra do Vietnam, o superior poder de fogo americano permitiu às forças dos Estados Unidos prevalecer na maioria dos engajamentos táticos. Nós matamos montes de norte-vietnamitas e vietcongs. Porém, matança não produz vitória – os esforços das tropas americanas, com muita freqüência se mostraram contra-produtivos.
Assim também é no Iraque – embora Bush insista de outro modo. Seu discurso o fez parecer com o presidente Lyndon Johnson, se vangloriando de que, a cada mês desde janeiro, as tropas americanas “mataram ou capturaram, em média 1500 terroristas da Al Qaeda e outros extremistas.” Se Bush pensa que, ao produzir grandes grandes contagens de corpos, o assim chamado “reforço” irá reverter o curso da guerra, ele está se iludindo. A questão real não é quantos caras maus nós matamos, mas quantos mais nossa continuada presença no Iraque está criando.
Não há substituto para a legitimidade. Guerras como a do Vietnam e do Iraque não são vencidas militarmente, no melhor dos casos são resolvidas politicamente. Mas soluções políticas implicam a existência de instituições políticas, capazes de governarem efetivamente e de comandarem a lealdade da população.
Na República do Vietnam, criada pelos Estados Unidos após a partição da Indochina Francesa, tais instituições não existiam. Apesar de um enorme investimento dos Estados Unidos em construção de nações, elas nunca existiram. No fim, o Vietnam do Sul provou ser uma ficção.
Assim é, também com o Iraque, conjurado pelos britânicos após a Grande Guerra de 1914 a partir dos restos do Império Otomano. Como cortesia, nós podemos fazer de conta que o Iraque se qualifica como uma “nação-estado”. De fato, dadas as suas profundas divisões tribais e sectárias, o Iraque faz o Vietnam do Sul parecer muito bom, por comparação.
Em sua apresentação na VFW, Bush descreve o Primeiro-Ministro Nouri Maliki como “um bom sujeito”. Se Maliki é um bom sujeito, ou mesmo um sujeito danado de bom, não vem ao caso. A questão real é se ele preside um governo capaz de governar. A evidência crescente sugere que a resposta a essa questão é não.
Como uma lente para a análise estratégica, a ideologia distorce antes do que clarifica. 1 Desde o Dwight D. Eisenhower indo até Richard M. Nixon, uma elenco de presidentes convenceram a si próprios de que defender o Vietnam do Sul se qualificava como um interesse vital dos Estados Unidos. Para o mundo livre, uma conquista comunista desse país iria implicar numa derrota inaceitável.
Mesmo assim, quando o Vietnam do Sul caiu, o efeito estratégico se mostrou limitado. Os dominós em queda nunca representaram uma ameaça à nossa linha costeira por uma simples razão. Os comunistas do Vietnam do Norte estavam menos interessados em promover a revolução mundial do que em unificar o país deles sob o domínio socialista. Nós nos iludimos ao pensar que estávamos defendendo a liberdade contra o totalitarismo. De fato, nós nos enfiamos dentro de uma guerra civil.
Com respeito ao Iraque, Bush persiste em cometer um erro análogo. Em suas observações na VFW, o presidente descreveu o Iraque como uma “luta ideológica”. Nosso adversário lá visa esmagar “a liberdade, tolerância e a dissenção,” ele disse, doravante “impondo essa ideologia por toda uma vital região do mundo.” Se nós não lutarmos com eles “lá”, nós, certamente teremos de lutar com eles, “aqui”. 2
Islamistas radicais como Osama bin Laden subscrevem uma odiosa ideologia. Mas imaginar que bin Laden e outros do mesmo tipo tem a capacidade de controlarem o Oriente Médio, restaurando o chamado Califato, é um absurdo tão ingênuo como a bazófia da teoria do dominós dos anos 1950 e 1960.
Política, não ideologia, irá determinar o futuro do Oriente Médio. Estas são boas e más novas. Boas novas porque os interesses e aspirações dos árabes e não-árabes, xiitas e sunitas, modernizadores e tradicionalistas irão se combinar para impedir qualquer uma das facções de ganhar o controle. Más novas porque esses mesmos fatores, garantem que o Oriente Médio permanecerá uma bagunça instável no futuro previsível.
Às vezes, as pessoas podem administrar seus próprios negócios. Os Estados Unidos precisam se meter nesta bagunça? Talvez não.
Aqui, a experiência do Vietnam após a derrota dos Estados Unidos é instrutiva. Uma vez que os americanos partiram, os vietnamitas começaram a agir juntos. Embora não seja uma utopia, o Vietnam se tornou uma nação estável e cada vez mais próspera. Ele é um membro responsável da comunidade internacional. Em Hanói, os comunistas permanecem no poder. De um ponto de vista americano, quem se importa?
Bush nem mesmo se referiu a condição do Vietnam de hoje. Ainda assim, a questão aparece por si só: não seria possível que o povo do Oriente Médio possa ser mais qualificado para determinar seu futuro do que um punhado de soldados americanos, benfeitores? A resposta a essa questão pode muito bem ser, sim.
1 : Essa aqui eu acho muito boa.
2 : não posso deixar de citar uma declaração do presidente americano Lyndon B. Johnson, em outra guerra:
“Se permitirmos que o Vietnam caia, amanhã estaremos lutando no Hawaii, e na semana seguinte, em San Francisco.”
Os tempos passam, os presidentes mudam, mas algumas coisas perduram, infelizmente.
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Andrew J. Bacevich é professor de história e relações internacionais na Universidade de Boston. Ele é um ex-combatente da Guerra do Vietnam.
Enviado: Sáb Set 01, 2007 7:40 am
por Clermont
A OUTRA GUERRA: EX-COMBATENTES DO IRAQUE TESTEMUNHAM – PARTE 07.
Por Chris Hedges and Laila Al-Arian – The Nation, 9 de julho de 2007.
Patrulhas.
Soldados e fuzileiros navais que participaram em patrulhas de vizinhanças disseram que, freqüentemente utilizavam as mesmas táticas dos comboios – fogo agressivo e rápido – para reduzir os riscos de serem emboscados ou caírem vítimas de IEDs. O sargento Patrick Campbell, 29 anos, de Camarillo, Califórnia, que tomou parte em freqüentes patrulhas, disse que sua unidade disparava com freqüência e sem muito aviso sobre iraquianos civis numa desesperada ânsia de evitar ataques.
“Toda vez que entrávamos em uma auto-estrada,” ele disse, “estávamos disparando tiros de aviso, provocando acidentes o tempo todo. Carros paravam freando, entravam em outros cruzamentos... O problema é, se você desacelerar num cruzamento mais do que uma vez, será lá que a próxima bomba vai estar porque você sabe que eles estão observando. Sabia? E se você desacelerar no mesmo ponto de estrangulamento toda vez, isso garante que vai haver uma bomba lá, nos próximos dois dias. Portanto entrar numa via expressa ou auto-estrada cria um ponto de estrangulamento porque você tem de aguardar o trânsito parar. Desse modo, você quer andar o mais rápido que puder, e isso envolve riscos aumentados para todos os carros em volta de você, todos carros civis.
“O primeiro iraquiano que eu vi morto, era um que chegou perto demais de nossa patrulha,” ele disse. “Estávamos na subida. E ele vinha descendo a estrada. E o pessoal efetuou disparos de aviso e ele não parou. Ele apenas entrou direto no comboio e eles abriram fogo sobre ele.”
Isso teve lugar em algum momento de 2005 em Khadamiya, no canto noroeste de Bagdá, disse o sargento Campbell. Sua unidade abriu fogo contra o carro do homem com uma 240 Bravo, uma metralhadora pesada. “Eu ouvi três tiros,” ele disse. “Estávamos à meio caminho da estrada e... o sujeito no carro saiu coberto de sangue. E aí foi... o impulso é continuar seguindo. Não tem jeito nenhum desse cara saber quem somos. A gente era apenas mais outra patrulha que vai e vem nessa estrada. Eu olhei para o meu tenente e isso nem foi motivo para discussão. Nós viramos e voltamos.
“Então eu estava tratando do sujeito. Ele tinha três ferimentos de bala no peito. Sangue pra todo lado. E ele continuava entrando e saindo de consciência. E quando ele, finalmente parou de respirar, eu tive de fazer ressuscitação. Com a mão direita, levantei o queixo dele e com a esquerda segurei sua nuca para posicionar sua cabeça, e ao botar a mão esquerda ela entrou dentro do seu crânio. Assim, eu estava, realmente segurando o cérebro do homem na minha mão.. E então, eu entendi que havia cometido um engano. Eu tinha procurado por ferimentos de saída. Mas o que eu não sabia foi que o “Humvee” atrás de mim, depois que o carro não parou e depois dos primeiros três tiros, havia disparado vinte, trinta projéteis contra o carro. Eu nem ouvi isso.
“Eu ouvi três tiros, e vi três buracos, sem ferimentos de saída,” ele disse. “Eu sabia qual era a situação. Portanto nem mesmo tratei o ferimento na cabeça desse cara. Com todo socorrista com quem falei era, tipo ‘Mas é claro, quero dizer, o sujeito foi baleado na cabeça. Não há nada que você pudesse ter feito.’ E eu estou muito seguro... quero dizer, você não pode parar sangramento na cabeça como aquele. Mas esse cara, eu estou vendo esse cara, que eu sabia que a gente tinha baleado porque tinha chegado perto demais. Seu carro estava limpo. Não havia... não ouviu, não viu a gente, o que quer que fosse. Morreu, sabe, morreu nos meus braços.”
Enquanto muitos ex-combatentes dizem que a matança de civis os perturba profundamente, eles também dizem que não outro modo de uma patrulha operar seguramente.
“Você não quer atirar em garotos, quer dizer, ninguém quer,” disse o sargento Campbell, enquanto descrevia um incidente no verão de 2005, contado à ele por vários homens na sua unidade. “Mas você tem. Eu lembro de minha unidade estar transitando ao longo de um viaduto. E esse guri estava numa pilha de lixo embaixo, e saca de um AK-47 e, na maior decide que vai começar a atirar. Você tem que entender... quando você passa nove meses numa zona de guerra, onde ninguém... toda vez você era alvejado, você nunca via a pessoa atirando em você, e você nunca podia atirar de volta. Aqui estava um cara, um guri de uns 14 anos com um AK-47, e decide que vai começar a atirar no teu comboio. Isso foi a coisa mais obscena que você jamais viu. Cada elemento saiu e abriu fogo no garoto. Usando das maiores armas que podíamos encontrar, nós rasgamos ele em pedaços.” O sargento Campbell não estava presente no incidente, que teve lugar em Khadamiya, mas ele viu fotografias e ouviu descrições de várias testemunhas em sua unidade.
“Todo mundo estava tão feliz, com esse alívio de terem, finalmente matado um insurgente,” ele disse. “Então quando eles foram até lá, descobriram que era apenas um garoto pequeno. E eu sei que isso, realmente fodeu com a cabeça de um bocado de gente... Eles mostraram todas aquelas fotos e algumas pessoas estavam, realmente felizes, tipo, ‘Oh, olha só o que a gente fez.’ E outras pessoas eram, assim ‘Eu não quero ver isso nunca mais.’ “
A matança de iraquianos desarmados era tão comum que muitos dos soldados disseram que isso se tornou uma parte aceita da paisagem diária. “As forças terrestres foram postas nessa situação,” disse o primeiro-tenente Wade Zirkle, de Shenandoah County, Virginia, que lutou em Nasiriya e Falluja com o 2º Batalhão de Blindados Leves de Reconhecimento, de março à maio de 2003. “Você tem um cara tentando me matar, mas ele está disparando de casas... com civis em volta dele, mulheres e crianças. Sabe? O que você faz? Você não quer se arriscar a atirar nele e alvejar crianças. Mas, ao mesmo tempo você não quer morrer também.”
A sargento Kelly Dougherty relembra um incidente ao norte de Nasiriya em dezembro de 2003, quando seu líder de grupo de polícia baleou um civil iraquiano pelas costas. O fuzilamento foi descrito a ela por uma mulher em sua unidade que tratou o ferido. “Era assim que a mentalidade do meu líder de grupo era, como, ‘Oh, nós temos de matar eles aqui, para que não tenhamos de matá-los lá no Colorado,” ela disse. “Ele, simplesmente, assim, parecia ver todo iraquiano como um terrorista em potencial.”
Vários entrevistados disseram que, ocasionalmente, essas matanças eram justificadas incriminando inocentes como terroristas, tipicamente seguindo-se a incidentes quando tropas americanas disparavam sobre grupos de iraquianos desarmados. Os soldados detinham aqueles que sobreviviam, acusando-os de serem insurgentes, e plantando AK-47s próximos aos corpos daqueles que haviam matado, para dar a impressão de que os civis mortos eram combatentes. “Sempre era um AK, já que eles tem tantas dessas armas espalhadas por lá,” disse o especialista Aoun. O batedor da Cavalaria Joe Hatcher, 26 anos, de San Diego, disse que pistolas 9 mm e, até mesmo pás – para fazer parecer com que o não-combatente estava cavando um buraco para plantar uma IED – eram utilizadas, também.
“Todo bom policial carrega uma arma pra ser plantada,” disse Hatcher, que serviu com o I Esquadrão do 4º Regimento de Cavalaria, em Ad Dawar, a meio caminho entre Tikrit e Samarra, de fevereiro de 2004 à março de 2005. “Se você matar alguém e ele estiver desarmado, você apenas joga uma nele.” Aqueles que sobreviverem a tais fuzilamentos então, se vêem aprisionados e acusados de insurgentes.
No inverno de 2004, o sargento Campbell estava dirigindo próximo a uma particularmente perigosa estrada em Abu Gharth, uma cidade a oeste de Bagdá, quando ouviu tiros. Campbell, que serviu como socorrista em Abu Gharth com a 256º Brigada de Infantaria de novembro de 2004 a outubro de 2005, foi informado de que tocaieiros do Exército haviam disparado de cinqüenta a sessenta cartuchos em dois insurgentes que tinham saído do carro deles para plantar IEDs. Um alegado insurgente foi baleado nos joelhos três ou quatro vezes, tratado e evacuado em um helicóptero militar, enquanto o outro homem, que foi tratado para retirar estilhaços de vidro, foi detido e encarcerado.
“Eu vim a descobrir mais tarde que, enquanto estava tratando dele, os tocaieiros tinham plantado... após terem feito uma revista e não achado nada... eles tinham plantado materiais de fabricação de bombas no sujeito porque eles não queriam ser investigados pelos tiros,” disse o sargento Campbell. (Ele mostrou ao The Nation uma fotografia de um tocaieiro com um rádio no bolso, que ele mais tarde plantou como evidência) “E até o dia de hoje, quero dizer, eu lembro de levar esse cara para a prisão de Abu Ghraib... o sujeito que não foi baleado.. e apenas dizer ‘Sinto muito’ porque não tinha merda nenhuma que eu pudesse fazer sobre isso... quer dizer, eu achava que tinha a obrigação moral de dizer alguma coisa, mas eu teria sido chutado para fora da unidade, num piscar de olhos. Eu teria sido um traidor.”
Enviado: Seg Set 03, 2007 1:17 pm
por Scout
Olha, esse é um tema deveras complexo. É uma questão de opinião, mas o lado mais errado da história é quando a levam para o lado religioso. Respeito todas as religiões e crenças mas particularmente não tenho nenhuma.
Se pensarmos sobre o que é realmente a Guerra, não há como negar que é algo horrível e mais aquele monte de coisas de direitos humanos. Ao executar alguém a gente não pode pensar na família do indivíduo ou coisa do tipo. Os EUA invadiram o Iraque sem explicação correta, mas o soldado que está no campo de batalha simplesmente não tem nada haver com isso, na verdade ele tem tudo haver com aquilo, mas é a última coisa que o cara tem que pensar. A idéia é cumprir sua missão e sobreviver. É idiota o cara pensar em patriotismo e todas essas baboseiras, os políticos não estão nem ai com você!
Eu sou brasileiro mas minha farda tem uma bandeira tricolor. A diferença? Nenhuma! Mortos somos a mesma coisa.
Enfim, a Guerra é má, matar é algo ruim. Mas tem que ser feito, é um trabalho, se você escolheu isso então que seja!
"A guerra é horrível e maligna, sem dúvida, mas ainda é a forma de agir em quase todo o planeta. Os intelectuais podem teorizar o quanto quiserem, mas no mundo real, a força ainda sai do tambor de um revólver. Você pode enviar reformadores sociais idealistas extremamente compreensivos, dar as mãos e orar e cantar canções folclóricas e invocar os grandes deuses BBC e CNN, mas a única maneira de finalmente abrir caminhos para aqueles bebês de olhos enormes é aparecer com mais armas. Se os ideais humanitários têm que prevalecer, então precisam de homens que fazem acontecer."
PS: desculpem por qualquer palavra agressiva, é só a minha opinião, não passa disso.
Enviado: Ter Set 11, 2007 5:51 pm
por Clermont
A OUTRA GUERRA: EX-COMBATENTES DO IRAQUE TESTEMUNHAM – PARTE 08.
Por Chris Hedges and Laila Al-Arian – The Nation, 9 de julho de 2007.
Postos de controle
Os postos de controle (Checkpoint) militares pontilhavam todo o Iraque, eles, de acordo com vinte e seis soldados e fuzileiros navais que estavam estacionados neles ou os supriram – em locais tão diversos quanto Tikrit, Bagdá, Karbala, Samarra, Mosul e Kirkuk – eram, com freqüência mortíferos para os civis. Os iraquianos desarmados eram confundidos com insurgentes, e as regras de engajamento eram obscuras. Os soldados, temendo homens-bombas e rojões RPG, com freqüência atiravam sobre carros civis. Nove desses militares disseram ter visto civis sendo fuzilados em postos de controle. Esses incidentes eram tão comuns que os militares não podiam investigar cada um, dizem alguns ex-combatentes.
“A maioria das vezes, era uma família,” disse o sargento Cannon, que serviu em meia dúzia de postos de controle em Tikrit. “Todo instante tinha uma bomba, sabe, essa é a parte assustadora.”
Haviam alguns postos de controle permanentes estacionados através do país, mas para os civis desapercebidos, “postos de controle relâmpago” eram, de longe mais perigosos de acordo com oito ex-combatentes que estiveram envolvidos em prepará-los. Esses perímetros de segurança improvisados, lançados num instante e, rapidamente desmantelados, eram, em geral desenhados para pegar os insurgentes no ato de movimentar armas ou explosivos, pessoas violando o toque-de-recolher impostos pelos militares ou suspeitos em ataques à bomba ou de atirar de dentro de carros.
Os iraquianos não tinham modo algum de saber onde esses chamados “postos de controle tático” iriam aparecer, dizem os entrevistados, portanto muitos iriam dobrar a esquina, em alta-velocidade e se tornarem alvos de agitados soldados e fuzileiros navais.
“Para mim, isso era, realmente aleatório,” disse o tenente Van Engelen. “Eu apenas escolhia um ponto no mapa que eu achava ser uma área de grande volume onde se poderia pegar algumas pessoas. Nós apenas preparávamos alguma coisa para meia hora ou uma hora e então a gente se movimentava. Não havia nenhuma preleção antes de estabelecer postos de controle”, ele disse.
Postos de controle temporários eram mais seguros para os soldados, de acordo com os ex-combatentes, porque era menos provável que eles servissem como alvos estáticos para os insurgentes. “Você fazia isso, realmente rápido porque você não quer anunciar sua presença,” disse o primeiro-sargento Perry Jefferies, 46 anos, de Waco, Texas, que serviu com a 4ª Divisão de Infantaria de abril à outubro de 2003.
Os postos de controle temporários variavam enormemente. O tenente Van Engelen preparava postos usando cones laranja e algumas dezenas de metros de arame concertina. Ele designava um soldado para controlar o fluxo de tráfego e direcionar os motoristas através do arame, enquanto outros revistavam os veículos, questionavam os motoristas e pediam por identificação. Ele disse que os sinais em inglês ou árabe avisavam os iraquianos para parar; à noite, os soldados usavam lasers, bastões iluminativos ou balas traçantes para sinalizar para os carros. Quando isso não estava disponível, os soldados improvisavam usando lanternas mandadas para eles pela família e pelos amigos em casa.
“Bagdá não é bem-iluminada,” diz o sargento Flanders. “Não há postes de luz em toda parte. Você não pode, realmente dizer o que está acontecendo.”
Outros soldados, no entanto, dizem que construíam postos de controle tático que mal eram visíveis para os motoristas. “Nós não tínhamos cones, não tínhamos nada,” relembra o sargento Bocanegra, que disse ter servido em mais de dez postos de controle em Tikrit. “Você, literalmente botava pedras no lado da estrada e dizia para eles pararem. E, é claro, alguns carros não podiam ver as pedras. Eu mesmo não podia vê-las.”
De acordo com o sargento Flanders, a preocupação primária quando preparando postos de controle era proteger os soldados neles. “Humvess” eram posicionados de modo a saírem de lá rapidamente, se necessário, e as armas pesadas montadas neles eram colocadas “na melhor posição possível” para disparar contra veículos que tentassem passar através do posto de controle sem parar. E as regras de engajamento eram, com freqüência improvisadas, disseram os soldados.
“Nos era dado uma longa lista de coisas desse tipo e, para ser honesto, uma porção de vezes a gente dava uma olhada e jogava fora,” disse o sargento-ajudante James Zuelow, 39 anos, um guarda nacional de Juneau, Alaska, que serviu em Bagdá no III Batalhão, 297º Regimento de Infantaria, por um ano começando em janeiro de 2005. “Uma porção daquilo tinha sido escrito em um nível tão elevado que não se aplicava.”
Nos postos de controle, os soldados tinham de tomar decisões numa fração de segundo sobre quando usar força letal, e os ex-combatentes disseram que o medo nublava o julgamento deles.
O sargento Matt Jordan, 31 anos, de Minneapolis, serviu como um batedor-tocaieiro fuzileiro naval, fora de Falluja em 2004 e 2005 com o III Batalhão, 1º de Fuzileiros Navais. “As pessoas pensam que isso é perigoso, e é mesmo,” ele disse. “Mas eu iria fazer isso todo dia da semana de preferência a ser um fuzileiro naval sentado na porra de um posto de controle, olhando carros.”
Nenhum carro que passe através de um posto de controle está acima de suspeita, disse a sargento Kelly Dougherty. “Você começa olhando para todo mundo como um criminoso... Será esse o carro que vai tentar me atropelar? Será este o carro que tem explosivos nele? Ou será alguém que só está confuso?” A perpétua incerteza, ela disse, é mentalmente exaustiva e fisicamente debilitadora.
“No momento, o que está passando pela sua cabeça é, ‘essa pessoa será uma ameaça?’ Eu atiro para pará-la, ou para matá-la?” disse o tenente Morgenstein, que serviu em Al Anbar.
O sargento Mejia relembra um incidente em Ramadi, em julho de 2003, quando um homem desarmado dirigia com seu jovem filho, perto demais de um posto de controle. O pai foi decapitado na frente do pequeno e apavorado menino, por um membro da unidade do sargento Mejia disparando uma metralhadora pesada calibre .50. Àquela altura, disse o sargento Mejia, que chegou à cena após o fato, “esse tipo de matança de civis já tinha, há muito deixado de provocar muito interesse ou mesmo comentários.” No mês seguinte, o sargento Mejia retornou aos Estados Unidos para um descanso de duas semanas e se recusou a voltar, lançando um protesto público a respeito do tratamento dos iraquianos. (Ele foi acusado de deserção, sentenciado a um ano na prisão e recebeu uma dispensa por má-conduta.)
Durante o verão de 2005, o sargento Millar, que serviu como um assistente para um general em Tikrit, participou de uma preleção sobre um tiroteio num posto de controle, na qual sua função era rolar slides de Power Point.
“Essa unidade estabeleceu seu posto de controle de tráfego, e esse garoto de 18 anos estava no topo de um Humvee blindado com uma metralhadora calibre .50,” ele disse. “Esse carro acelera na direção dele, e ele toma uma decisão numa fração de segundo de que se trata de um homem-bomba, e pressiona o gatilho-borboleta, enfiando 200 cartuchos, em menos de um minuto nesse veículo. Ele matou a mãe, o pai e duas crianças. O menino tinha 4 anos e a filha, 3 anos. E eles apresentaram isso ao general. E apresentaram do modo mais medonho. Quero dizer, eles tinham imagens. Eles apresentaram isso pra ele. E um coronel se voltou para o estado-maior inteiro da divisão e disse, ‘Se essas porras desses hajis aprendessem a dirigir, essa merda não teria acontecido’ “.
Compartilhando ou não, os oficiais comandantes, dessas atitudes, dizem os entrevistados, os soldados raramente eram responsabilizados por atirarem em civis nos postos de controle. Oito ex-combatentes descrevem a atitude que prevalecia entre eles como “Melhor ser julgado por doze homens que ser carregado por seis.” Já que o número de soldados julgados por matar civis é tão escasso, os entrevistados dizem, eles iriam preferir arriscar a corte marcial do que a possibilidade de ferimento ou morte.
Enviado: Seg Set 24, 2007 8:34 pm
por Clermont
NINGUÉM OUSA CHAMAR ISSO DE GENOCÍDIO.
Por Llewellyn H. Rockwell, Jr. – 18 de setembro de 2007.
Como estamos confortáveis nos Estados Unidos, enquanto engajamos em debates ao vivo sobre a ocupação americana do Iraque, se “nós” estamos levando-lhes a liberdade, e se a liberdade deles é realmente digna do sacrifício de tantos de nossos homens e mulheres. Nós falamos sobre se os objetivos de guerra tem sido, realmente atingidos, como sairmos por cima, ou se precisamos de um hiper-reforço para acabar com esse negócio de uma vez por todas.
Mas há uma coisa sobre a qual os americanos não falam: as vidas dos iraquianos, ou antes, as mortes dos iraquianos. Isso é interessante porque vivemos numa era de extremo multiculturalismo e preocupação global. Nós adoramos trabalhadores de auxílio internacional, vamos em missões no exterior, choramos pela difícil situação daqueles sofrendo de fome e doença, somos voluntários em esforços para levar encanamentos para o Equador, mosquiteiros para Ruanda, água limpa para o Malawi, direitos humanos para Togo, e remédios para Bangladesh.
Mas quando “nós” causamos a calamidade, de repente há o silêncio. Há algo estranho, suspeito, mesmo desleal sobre uma pessoa que lamenta pelas mortes dos iraquianos desde a invasão americana de 2003. Talvez uma pessoa que chore pelo Iraque seja, realmente uma simpatizante dos terroristas. Afinal de contas, a maioria das mortes resulta de “violência sectária”, e quem é que pode impedir essas loucas seitas islâmicas de se matarem uns aos outros. Melhor uns aos outros do que à nós, não é mesmo?
Bem, já está na hora de pensarmos sobre os números, mesmo embora os militares americanos tenham decidido que contagens de corpos não valem o tempo deles. A Opinion Research Business, uma firma de pesquisas altamente respeitável no Reino Unido, acabou de completer uma detalhada e rigorosa pesquisa dos iraquianos. No passado, os resultados da companhia foram propagandeados pela administração Bush toda vez que os dados pareciam favoráveis à causa americana. Mas seu último relatório não recebeu, virtualmente nenhuma atenção nos Estados Unidos.
Eis aqui o sombrio pano de fundo: mais de um milhão de pessoas foram assassinadas no Iraque desde a invasão americana, de acordo com a ORB. Sim, outras estimativas são mais baixas, mas você tem de se impressionar pelo que eles acharam. E isso parece muito crível.
Em Bagdá, onde a presença americana é mais pronunciada, quase metade dos lares relata ter perdido um membro da família para um assassinato de alguma espécie. Metade das mortes são de ferimentos à bala, um quinto por carros-bomba, e um décimo por bombas aéreas. O número total de mortos excede o amplamente divulgado genocídio de ruandeses em 1994.
Você é bem-vindo para inspecionar os dados detalhados:
http://www.opinion.co.uk/Documents/TABLES.pdf
Deixando de lado o espantoso detalhamento, o que me salta aos olhos é o número de mortos que não são nem sunitas, nem xiitas. É também gritante como quanto mais geograficamente você se afaste das tropas americanas, mais pacífica é a área. Os americanos pensam que estão levando a liberdade ao Iraque, mas os dados indicam que nós estamos, apenas levando sofrimento e morte.
Se você já perdeu um membro da família, sabe que a vida nunca é mesma novamente. Isso causa toda espécie de trauma religioso, social e marital. Já é ruim o bastante perder um membro da família para alguma doença. Mas para um assassinato à sangue-frio, ou para um carro-bomba ou uma bomba de avião? Isso instila um sentido de fúria e motivação para retribuição.
Portanto, nós estamos falando de cerca de 1 milhão e 200 mil pessoas que foram mortas deste modo, e isso não inclui os números dos que foram mortos durante a invasão em si, pelo crime de terem tentado se opor à tropas estrangeiras invasoras, ou as 500 mil crianças e velhos mortos pelas sanções americanas e da ONU contra civis nos dez anos anteriores.
E não vamos nos aliviar ao pensar que esses não passam de uns cabeças-de-pano matando-se uns aos outros sem nenhuma boa razão. Somente na semana passada, houve um exemplo. Alguns dos legendários contratados pelo Departamento de Estado estavam dirigindo por uma vizinhança sunita de Mansour em Bagdá. Eles estavam conduzindo seus utilitários quando testemunhas relatam uma explosão de tiros que durou vinte minutos. Os veículos foram embora, deixando, pelo menos nove pessoas mortas na estrada.
Por quê? Ninguém sabe. Certamente haverá investigações. Já ocorreram desculpas. A companhia em questão teve sua licença para praticar ocupação revogada pelo governo iraquiano. Por quanto tempo, ninguém sabe. Mas esses são meramente gestos simbólicos. Não haverá justiça, e nem esquecimento.
Para qualquer um que prestar atenção à esse assunto, só se irá ouvir as palavras do porta-voz do Departamento de Estado: “O pano de fundo é que o secretário quer deixar claro que fazemos tudo o quanto é possível para evitar a perda de vidas inocentes.”
À luz do número de um milhão acima, tais declarações soam como piadas macabras. Os Estados Unidos desencadearam um banho de sangue no Iraque que raramente é conhecido em países que consideramos como violentos e dilacerados pela luta civil. É impressionante que isso tenha ocorrido naquele que foi, até recentemente um país liberal e civilizado pelos padrões da região. Esse era um país que tinha problemas com imigração, particularmente entre as classes bem-educadas e talentosas. Elas iam para o Iraque porque era o território árabe mais próximo à uma sociedade de estilo ocidental que alguém podia encontrar na área.
Foram os Estados Unidos que transformaram esse país num campo de matança. Por quê não encaramos isso? Por quê não assumimos a responsabilidade? A razão tem a ver com essa coisa misteriosa chamada nacionalismo, que faz das guerras da nação uma religião ideológica. Nós somos como deuses libertadores. Eles são como demônios terroristas. Nenhum montante de dados ou informação em contrário parece fazer mossa nessa fé irreligiosa. E assim é em cada país e em todas as eras. Eis aqui a cegueira intelectual que a guerra gera.
Tal cegueira é sempre indesculpável, mas talvez compreensível em um tempo quando a informação era severamente restrita, quando os limites tecnológicos realmente nos proibiam de saber a totalidade da verdade na época. Qual desculpa nós temos hoje? Nossa cegueira não é tecnológica mas ideológica. Nós somos os bons sujeitos, certo? Toda nação pensa isso sobre si mesma, mas a liberdade é melhor servida pelos poucos que ousam pensar criticamente.
Um postulado essencial do pensamento ocidental, ou pelo menos dizemos isso para nós mesmos, é o valor universal e final da vida humana. E, de fato isso é verdade. Nenhuma pessoa ou grupo de pessoas é sem valor – nem mesmo aqueles que o nosso próprio governo escolhe rotular como o inimigo.
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Llewellyn H. Rockwell, Jr. é presidente da
Ludwig Von Mises Institute em Auburn, Alabama, editor de
LewRockwell.com e autor de
Speaking of Liberty.
Enviado: Ter Out 02, 2007 12:09 pm
por Clermont
ÓDIO E MEDO.
Por Charley Reese – 2 de outubro de 2007.
O poeta Robert Burns, observando um piolho andando em volta da cabeça de uma mulher rica, se inspirou para escrever um poema que contém uma linha que demonstra a necessidade de ver a nós mesmos como os outros nos vêem.
Eu acabei de ler um blog (http://arabwomanblues.blogspot.com/2007_09_01_archive.html) de uma mulher árabe, obviamente instruída, que está lívida de ódio por nós devido a destruição do Iraque. Ela desconsidera as desculpas daqueles que dizem não terem votado na atual administração.
O que se segue é um resumo. Ela diz: “Meu problema são vocês. Seu caráter, seu comportamento, sua presunção, sua arrogância, falso orgulho, negação, estupidez coletiva e ignorância, seu modo de vida, que eu acho tedioso, desagradável e vazio. Vocês são ogros do consumismo, cobiça, avidez, voracidade, inveja, despeito. Vocês não são nada, e o seu nihilismo contamina tudo o mais. Vocês destroem e auto-destroem.”
Ela termina dizendo: “O Iraque afundou com seu passado e futuro. Eu posso, apenas prometer uma coisa a vocês. Não importa o quanto tempo possa levar, nós vamos levar vocês para o fundo conosco.”
Nós, americanos, somos muito bons em desconsiderar críticos e criticismo. Nós temos uma tão elevada opinião sobre nós mesmos, que simplesmente não podemos acreditar que gente normal possa não gostar de nós, muito menos nos odiar. Nós podemos destruir países inteiros, matar milhões de pessoas e, então esperar ingenuamente que os sobreviventes nos dêem as boas-vindas como amigos.
O velho ditado de que alguém colhe o que plantou é uma observação bem precisa do modo como a história humana se desenrola. Nós plantamos e estamos, continuamente colhendo uma porção de ódio para nós mesmos.
A guerra é a coisa mais horrível que um grupo de pessoas pode infligir sobre outra. A guerra destrói vidas, lares, famílias, economias, culturas e o futuro. Ela mata, mutila e empobrece. A precipitação da guerra é o ódio, e como a radioatividade, seu veneno pode perdurar por gerações.
O vitorioso sempre acha que sua vitória irá durar para sempre, mas a verdade é que todas as vitórias são temporárias. Eu não faria pouco caso do voto de vingança da dama. Ela tem um aliado nesta mesma estupidez coletiva e ignorância que ela critica.
Qualquer um que olhe para a atual liderança, tanto esses nos cargos como os que aspiram aos cargos, e se sente bem a respeito do futuro é danadamente mais otimista do que eu. A corrupção, tanto monetária quanto intelectual, é tão profunda e entrincheirada em nossa sociedade que será preciso um milagre para que possamos sobreviver a ela.
Observando o mundo, eu vejo muito poucos países onde as pessoas tenham qualquer que seja a razão para gostar de nós. Eles podem ser impotentes no momento para expressarem seu ódio, mas o poder, como a vitória, também é efêmero.
“Seja cuidadoso sobre quem você pisa no caminho para cima, porque você irá encontrar as mesmas pessoas no caminho para baixo.” Um ator meio bandido disse isso nos anos 1930.
Uma de nossas culpas é que temos sido condicionados pela televisão e ciclos políticos curtos para pensar em curto prazo. A verdade é que temos sido personagens no palco da história apenas por um instante. Nós ganhamos na arrancada, mas a história da espécie humana é uma maratona.
Se alguma vez você visitar a Palestina, algum palestino irá, quase com certeza apontar para as ruínas deixadas pelos romanos e cruzados e dizer: “Onde estão eles agora? Levou 200 anos para nos livrarmos dos cruzados, mas eles se foram e nós ainda estamos aqui.”
Pergunte a si mesmo se você voaria até o Iraque e, desarmado e sem escolta, faria uma caminhada através de Bagdá, orgulhosamente ostentando uma bandeira americana em sua lapela. O ódio tem um irmão gêmeo, e ele é o medo. Nós devíamos parar de prejudicar as outras pessoas para que possamos viver sem ódio ou medo.
Enviado: Ter Out 02, 2007 12:14 pm
por P44
Clermont,
Brilhante texto como sempre
Vc pode colocar a fonte de onde vc retira estes textos?
é claro que isso não é mais que propaganda esquerdista-bovino-iraniano-cubano-PT-terrorista, dos amantes da Al-Qaeda
(esqueci-me de algo?), todo o mundo sabe que
os EUA estão a ganhar a guerra
Enviado: Ter Out 02, 2007 12:26 pm
por Clermont
Enviado: Ter Out 02, 2007 5:18 pm
por Don Pascual
P44 escreveu:Clermont,
Brilhante texto como sempre
Vc pode colocar a fonte de onde vc retira estes textos?
é claro que isso não é mais que propaganda esquerdista-bovino-iraniano-cubano-PT-terrorista, dos amantes da Al-Qaeda
(esqueci-me de algo?), todo o mundo sabe que
os EUA estão a ganhar a guerra
x2
Tem gente que deve pensar isso mesmo, propaganda esquerdistoide... hahaha! Sugiro pesquisarem para saber que o Mises Institue, do qual o autor de tais textos é o Presidente, é uma instituição LIBERAL, no sentido clássico do termo (Ludwig von Mises foi uma das maiores vozes do Liberalismo contemporaneo), e por isso esta looonge de poder ser considerado um "esquerdista"
Enviado: Ter Out 02, 2007 5:31 pm
por P44
obrigado Clermont!
você é que traduz para português?
bom, e agora vou-me retirar , tenho o Amahdinejad na linha 1 e o Chavéz na Linha 2, e tenho de preparar as injecções para dar atrás das orelhas para amanhã...ah, porra, e onde terei deixado o plutónio que o Kim Jong-Il pediu....?????
Enviado: Qui Out 04, 2007 4:14 am
por P44
Blackwater: Exército privado ou outra cara do Ku Klux Klan?
por Pedro Brás
18.09.2007
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O governo iraquiano enfrenta desde o dia 15 de Setembro mais um dilema.
A empresa Blackwater, especializada em segurança musculada no Iraque, terá alegadamente entrado em confronto com civis iraquianos e do recontro terão resultado pelo menos 11 civis iraquianos mortos. O governo iraquiano retirou a licença de operação à empresa Blackwater, a maior empresa americana de segurança em operação no país, mas os dirigentes da empresa já avisaram que o governo do Iraque não tem autoridade para retirar uma licença que nunca passaram. A Blackwater afirma que opera como subcontratada das forças armadas americanas, e só a elas pode obedecer.
Os reduzidos efectivos militares dos Estados Unidos no Iraque levaram a que desde o início do conflito os responsáveis do Pentágono aceitassem a sugestão de empregar empresas privadas que garantissem a segurança de instalações importantes e embaixadas.
O número de militares regulares envolvidos na operação foi sempre considerado insuficiente e acredita-se que os responsáveis americanos tomaram como certos muitos dos relatórios que afirmavam que grande parte da população do Iraque deveria aceitar facilmente a chegada das tropas dos Estados Unidos.
Com uma grande adesão popular, a presença de grandes forças americanas era de pouca utilidade e por isso não foram feitos planos para uma presença longa de forças daquele país no Iraque.
Invasão desastrada
A recusa do pentágono e de cabeças pensantes como Donald Rumsfeld em aceitar que a guerra no Iraque seria longa e custosa, tem uma curiosa parecença com a atitude de Adolf Hitler em 1941, quando se recusou a admitir que as forças alemãs na Rússia teriam que lutar no inverno.
Sempre que alguém falava em roupas para o Inverno Hitler recusava-se pura e simplesmente a ouvir. O tempo passou e a realidade sobrepôs-se ao sonho e a realidade era dura e fria como o gelo da Rússia.
No Iraque, os militares nitidamente não tinham como controlar a situação e embora a vitória tivesse sido declarada, não havia paz nas ruas das cidades iraquianas.
Na tentativa de resolver o problema, foi chamado às pressas Paul Bremer, um administrador americano para o Iraque. Tratava-se de um administrador civil, que pretendia dar a ideia de que o Iraque não era governado pelos militares e que tentou resolver o problema da falta de tropas, utilizando para o efeito meios civis, estabelecendo contratos com empresas norte-americanas que passariam a ser responsáveis pela reconstrução do Iraque e pela sua transição para a democracia.
Ocorre que grande parte dos contratos estabelecidos por Paul Bremer, provou-se serem fraudulentos. O sistema montado era débil e no seu conjunto tão absurdo e desorganizado que os pagamentos por serviços prestados eram feitos em dinheiro (notas de 100 dólares americanos), sem qualquer nota ou recibo dos pagamentos. Os maços e pacotes de notas de dólar, eram enviados para o Iraque em aviões civis e militares de carga, e acomodados como mercadoria. O sistema de pagamentos era medieval e para para Paul Bremer, tinha a vantagem de ser impossível de escrutinar.
Paul Bremer foi afastado, mas foi no ambiente de corrupção e negócios escuros, a que alegadamente estará ligado o próprio vice-presidente dos Estados Unidos através da empresa Halliburton que a empresa Blackwater apareceu no Iraque com a importância que hoje se lhe atribui.
Mas as empresas civis, pela sua própria natureza não poderiam obedecer às regras e condutas dos militares, mas também não poderiam estar sob jurisdição iraquiana, pois o país não tinha quaisquer instituições funcionais que pudessem escrutinar a operação das empresas privadas de segurança.
Ao mesmo tempo, embora sendo empresas norte-americanas, as empresas de segurança não têm que responder perante a lei do seu país de origem.
Estava montado o palco para a criação e crescimento do poder de instituições que possuíam armas, tinham o direito de recorrer à violência para atingir os seus fins (proteger os seus clientes) mas que não tinham que responder perante qualquer lei, qualquer tribunal, qualquer juiz ou qualquer instituição legítima.
Exército privado, fora da lei
A Blackwater está entre as muitas empresas contratadas para fornecer serviços de segurança e tornou-se neste período na maior empresa privada de segurança a operar no Iraque.
Segundo o iraquiano médio entrevistado pelas televisões, as colunas de veículos das empresas de segurança que andam pelas ruas não respeitam regras de transito atropelam pessoas nos passeios são violentas e mais temidas que os próprios soldados americanos. Eles podem bater. Violar e até matar, sabendo que nada, absolutamente nada lhes vai acontecer.
Eles recebem ordens para proteger empresários e figuras públicas - desde empresários americanos a funcionários do próprio governo do Iraque – e não têm qualquer problema em quebrar qualquer regra para cumprir essa missão.
Para desempenhar estas missões cada um dos funcionários/mercenários pode receber até 1.400 Euros por dia , 42.000 Euros (R& 120.000) por mês, dependendo da missão que lhe for atribuída e do perigo que a mesma represente para quem a desempenha.
O Iraque, para a Blackwater e os seus mercenários, funciona como o antigo «Far West» dos Estados Unidos, em que não há nenhuma lei, e onde quem impõe a lei é quem tem uma arma.
Mas para conseguir encontrar os seus «guerreiros» modelo, a Blackwater tem que proceder a um recrutamento selectivo, e a forma de recrutamento por parte da Blackwater (e não só) está desde há algum tempo a ser criticada mesmo nos próprios Estados Unidos.
Muitos dos recrutados são antigos militares dos Estados Unidos, que após cumprirem o serviço militar voluntário procuram emprego na sociedade civil.
Muitos deles não sabem fazer mais nada que não seja utilizar armamentos e colocar em prática os ensinamentos que lhes deram.
Além destes, existem ainda os cidadãos norte-americanos que não sendo militares têm especial apetência pelas armas e pela violência.
São especialmente preocupantes as ligações da Blackwater com a chamada direita neo conservadora norte-americana, os lobbies das empresas de armamento e as seitas evangélicas extremistas, às quais está ligado o próprio presidente dos Estados Unidos, George W. Bush.
Recrutamento selectivo
Mas como se não fosse já de si preocupante a criação do que parece ser um exército privado, gerido por pessoas com ideais religiosos próximos do fanatismo, há ainda a alegada ligação da Blackwater aos teoricamente extintos movimentos da «Nação Ariana» e «Ku Klux Klan».
A tal nível chegou a situação, que nos Estados Unidos a empresa Blackwater já é chamada de Ku Klux Klan sem os lençóis brancos.
O recrutamento é extremamente exigente, e por detrás dessas exigências que são uma das marcas da Blackwater (A empresa afirma recrutar apenas os melhores), desponta uma estranha realidade:
A Blackwater, parece ter uma estranha apetência por cidadãos que sejam de pele branca, ascendência americana-ariana, religião protestante evangélica, e de preferência votante no Partido Republicano. As excepções existem, mas são tão poucas que quase se podem afirmar como a excepção que confirma a regra.
O comportamento truculento e violento dos funcionários da Blackwater no Iraque, coaduna-se perfeitamente com a visão racista e xenófoba do Ku Klux Klan e das seitas evangélicas norte-americanas.
Muitas seitas evangélicas americanas, são geridas por bispos de moralidade duvidosa, tendo ainda recentemente um dos seus mais conhecidos pastores proposto que se bombardeasse Meca com armas atómicas.
A Blackwater, é uma «agência de segurança» em roda livre, sem qualquer controlo e com ordem para se necessário matar indiscriminadamente num país estrangeiro, com a garantia para os seus executores de que nada lhes acontecerá e de que não devem temer nenhuma justiça.
As actividades da Blackwater não se restringem a simples operações de escolta e vão muito para lá disso.
Exército privado
A empresa já opera veículos blindados, uma frota de aeronaves, e recentemente demonstrou o seu interesse pela aquisição de aeronaves de ataque ao solo da Embraer, as quais podem ser equipadas com foguetes e mísseis.
Futuramente, a Blackwater poderá disponibilizar os seus serviços militares privados para ditadores em dificuldades, que tenham o dinheiro mas não a capacidade para organizar um exército no seu próprio país.
Ao contrário de criar uma situação de estabilidade e segurança, o comportamento das empresas de segurança americanas, com os seus funcionários violentos, alguns deles saídos das prisões, e educados num ambiente de ódio xenófobo a tudo o que não for americano, parece ser mais causa de problemas que solução para o que quer que seja.
O que acontecer à Blackwater no Iraque, vai também servir para conferir até que ponto o governo eleito daquele país, tem de facto poder.
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Este texto é da autoria de Pedro Brás e foi publicado em 18.09.2007.
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FONTE
Enviado: Seg Out 15, 2007 3:05 pm
por Clermont
A OUTRA GUERRA: EX-COMBATENTES DO IRAQUE TESTEMUNHAM – PARTE 09.
Por Chris Hedges and Laila Al-Arian – The Nation, 9 de julho de 2007.
Regras de Engajamento.
E mais, vários soldados disseram que as regras de engajamento são fluidas e desenhadas para assegurar a sobrevivência deles acima de tudo o mais. Alguns disseram que simplesmente lhes era dito estarem autorizados a atirar caso achassem que estavam ameaçados, e que o que se constituía em risco para a segurança deles estava aberto a ampla interpretação. “Basicamente sempre se trata de auto-defesa e melhor eles do que você,” disse o sargento Bobby Yen, 28 anos, de Atherton, Califórnia, que cobriu uma variedade de atividades do Exército em Bagdá e Mosul como parte do 22º Destacamento de Operações de Transmissões por um ano, começando em novembro de 2003.
“Proteja seu rabo era a primeira regra de engajamento,” confirmou o tenente Van Engelen. “Alguém podia olhar pra mim do modo errado e eu podia afirmar que minha segurança estava ameaçada.”
Falta de política uniforme de força para força, base para base e ano para ano, forçou os soldados a confiarem em seu próprio julgamento, explica o sargento Jefferies. “Nós não tínhamos regras estritas,” ele disse. “Você recebia coisas como, ‘Não seja agressivo’ ou ‘Tente não atirar se não for preciso.’ Bem, o que isso quer dizer?”
Antes do desdobramento, o sargento Flanders disse, os soldados eram treinados sobre os cinco “S” da escalada de força: Grite [Shout] um aviso; Empurre [Shove] (repressão física), Mostre [Show] uma arma, Dispare [Shoot] munição não-letal no motor da viatura ou nos pneus, e Dispare para matar. Alguns soldados dizem que eles levavam as regras em seus bolsos ou capacetes num pequeno cartão laminado. “A metodologia da escalada de força devia ser um guia para determinar o curso das ações que você deveria tentar antes de atirar,” disse ele. “Empurrar podia ser um passo a ser pulado em dada situação. Em viaturas, à noite, como ‘Gritar’ iria funcionar? Cada soldado não só é adestrado nos cinco ‘S” mas em seu inerente direito à auto-defesa.”
Alguns entrevistados disseram que seus comandantes desencorajavam esse sistema de escalada. “Não há uma tal coisa como tiros de aviso,” disse o especialista Resta ter sido informado disso durante seu treinamento de pré-desdobramento em Fort Bragg. “Eu até mesmo me lembro de ter sido, especificamente informado de que antes era melhor matá-los do que ter alguém ferido e ainda vivo.”
O tenente Morgenstein disse que ao chegar no Iraque em agosto de 2004, as regras de engajamento barravam o uso de tiros de aviso. “Nós fomos treinados para que se alguém não estivesse armado e não fosse uma ameaça, você nunca deveria disparar um tiro de aviso pois não haveria necessidade alguma de atirar, afinal de contas,” ele disse. “Você sinalizaria para eles com algum outro meio que não balas. Se eles estivessem armados e fossem uma ameaça, você nunca dispararia um tiro de aviso porque... isso somente lhes daria uma chance para matá-lo. Eu não lembro se, neste ponto, isso era uma ROE [Rule Of Engagement] explícita ou simplesmente parte de nosso treinamento consistente.” Porém, mais tarde, ele disse, “nós fomos ditos que as ROE haviam mudado” e que tiros de aviso eram agora, explicitamente permitidos em certas circunstâncias.
O sargento Westphal disse que, pela época em que chegou ao Iraque no início de 2004, as regras de engajamento para postos de controle eram mais refinadas – pelo menos onde ele serviu com o Exército em Tikrit. “Se eles não parassem, você iria disparar um tiro de aviso,” disse o sargento Westphal. “Se eles continuassem a vir, você era instruído a escalar e apontar sua arma para o carro. E se eles ainda assim não parassem, então, se você sentisse estar em perigo e eles estivessem prestes a atropelar seu posto de controle ou explodir, você podia engajar.”
Em seu treinamento inicial, o tenente Morgenstein disse, os fuzileiros navais eram acautelados contra o uso de tiros de aviso pois “outros em volta de você poderiam ser feridos por balas perdidas,” e de fato tais incidentes não eram incomuns. Uma noite em Bagdá, relembra o sargento Zuelow, uma van acelerou rumo a um posto de controle onde outro pelotão em sua companhia estava estacionado e um soldado disparou um tiro de aviso que ricocheteou no chão e matou o passageiro da van. “Esse foi um grande chamado de alerta,” ele disse, “e após isso nós desencorajamos tiros de aviso de qualquer tipo.”
Muitos incidentes em postos de controle passam sem serem relatados, numerosos ex-combatentes indicam, e os civis mortos não são incluídos na contagem total de baixas. Ainda assim, julgando pelo número de tiroteios em postos de controle descritos ao The Nation por ex-combatentes que entrevistamos, tais tiroteios parecem ser bem comuns.
O sargento Flatt relembra de um incidente em Mosul em janeiro de 2005 quando um casal idoso avançou para um posto de controle. “O carro estava se aproximando do que, na minha opinião era um posto de controle muito mal sinalizado, ou nem mesmo um posto de controle afinal de contas, e provavelmente nem mesmo viram os soldados” disse ele. “Os caras se assustaram e decidiram que se tratava de uma possível ameaça, portanto abriram fogo contra o carro. Eles, literalmente ficaram sentados no carro pelos próximos três dias enquanto nós passávamos por eles, dia após dia.”
Em outro incidente, um homem estava conduzindo sua esposa e três filhos numa caminhonete pick-up por uma auto-estrada ao norte do Eufrates, próximo a Ramadi, num dia chuvoso em fevereiro ou março de 2005. Quando o homem falhou em parar num posto de controle, um fuzileiro naval em uma viatura blindada leve disparou contra o carro, matando a esposa e ferindo criticamente um filho. De acordo com o tenente Morgenstein, um oficial de assuntos civis, um funcionário JAG prestou condolências à família e deu cerca de $ 3.000,00 em compensação. “Quero dizer, isso é uma coisa terrível pois não há modo algum de pagar dinheiro para substituir um membro da família,” disse o tenente Morgenstein, que foi algumas vezes encarregado de se desculpar com as famílias por mortes acidentais e oferecer-lhes tal compensação, chamada “pagamentos de condolência” ou “solatia”. “Mas isso é uma tentativa de compensação por alguns custos do funeral e todas as despesas. É uma tentativa de fazer uma oferenda de boa-fé em sinal de respeito e dizer, sabe, ‘Nós não queríamos que isso ocorresse. Foi por acidente.’ “ De acordo com um relatório de maio do Escritório de Responsabilização do Governo, o Departamento de Defesa emitiu quase $ 31 milhões em solatia e pagamentos de condolência entre 2003 e 2006 à civis no Iraque e Afeganistão que foram “mortos, feridos ou incorreram em danos à propriedades como resultado de ações das forças americanas e da coalizão durante combate.” O estudo caracteriza os pagamentos como “expressões de simpatia ou remorso... mas não de admissão de responsabilidade ou culpa legais.” No Iraque, de acordo com o relatório, os civis são pagos até $ 2.500 por morte, até $ 1.500 por ferimentos sérios e $ 200 ou mais por ferimentos menores.
Em uma ocasião, em Ramadi, no final de 2004, aconteceu de um homem dirigir por uma estrada com sua família, minutos após um homem-bomba ter atingido uma barreira durante uma operação de busca-e-isolamento, disse o tenente Morgenstein. O freios do carro falharam e os fuzileiros navais atiraram. A esposa e seus dois filhos conseguiram escapar do carro, mas o homem foi atingido fatalmente. À família foi dito, erroneamente que ele havia sobrevivido, portanto o tenente Morgenstein teve de endireitar as coisas. “Eu nunca tinha feito isso antes,” disse ele. “Eu tive de ir e contar a essa mulher que seu marido estava, na verdade morto. Nós demos a ela dinheiro, demos, tipo, dez jarras de água, nós demos aos garotos, eu lembro, talvez bolas de futebol soccer e brinquedos. Nós apenas, realmente não sabíamos o que mais fazer.”
Em um tal incidente, que teve lugar em Falluja em março de 2003 e foi relatado na época pela BBC, até mesmo envolveu um grupo de policiais iraquianos à paisana. O sargento Mejia foi informado sobre o evento por vários soldados que o presenciaram.
Os oficiais de polícia estavam dirigindo uma caminhonete pick-up branca, caçando uma BMW que havia ultrapassado um posto de controle. “O sujeito que os tiras estavam caçando passou direto e eu acho que os soldados ficaram assustados ou nervosos, assim quando a caminhonete chegou eles abriram fogo contra ela,” disse o sargento Mejia. “Os policiais iraquianos tentaram fazer cessar o fogo, mas quando os soldados não pararam eles passaram a se defender, e houve uma troca de tiros entre soldados e tiras. Nem um só soldado foi morto, mas oito tiras foram.”