Túlio escreveu: Sáb Mar 28, 2020 11:33 am
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Túlio eu acho que tanto tu como o P44 estão a diparar ao lado.
Quando o Ministro das Finanças da Holanda na qual defende que a Comissão Europeia devia investigar países como Espanha, que dizem não ter margem orçamental para responder ao impacto da crise provocada pelo novo coronavírus, ele está a fazê-lo não a pensar em despesismos, mas sim para dar ao seu próprio povo um novo alvo (para disfarçar a incompetência demonstrada pelo seu próprio governo no combate ao COVID-19) e para atacar uma solução que é defendida por grande parte da EU… os Coronabonds. Caso não saibas o Primeiro-Ministro italiano,
terá discutido no Conselho Europeu de terça-feira passada sobre a possibilidade de a União Europeia emitir Eurobonds, com uma mutualização da dívida, como parte do esforço para mitigar o impacto económico do novo coronavírus.
Em relação a quem paga o quê, podes ver que Itália, que é um dos países a pedir ajuda, na verdade é um contribuidor superior à Holanda, como tal o que ele disse nem sequer faz sentido.
Em relação aos Coronabonds, tanto a Holanda como a Finlândia, Áustria e Alemanha sempre foram contra emissão de dívida europeia comum. Neste momento o governo Alemão está a começar a pensar nisso e a querer negociar.
Viajante escreveu:
CORONABONDS?
Nestes tempos conturbados que vive o mundo, a Europa que já apresentava dificuldades em manter-se unida, teve de enfrentar o Brexit, que por sua vez deixou problemas ainda insolúveis, que se amplificam com a necessidade de fechar o orçamento do próximo quadro comunitário (ainda sem aprovação!), e leva à necessidade dos 27 países da EU colmatarem a contribuição anual do Reino Unido (mais de 20 mil milhões) para o orçamento da EU.
Mais uma vez a UE não criou este problema/crise, assim como não criou a crise das dívidas soberanas provocadas pela resposta tardia e individual para fazerem frente à crise do sub-prime de 2007/2008, criada nos EUA, mas foi o espaço da UE quem mais sofreu as consequências dessa crise. A resposta inicial dada pela UE, que começou por desvalorizar e confinar o problema aos EUA, passou para uma nova fase, de pedido de investimento público maciço na economia e resgate dos bancos que levaram consequentemente a um enorme endividamento público de cada país.
Com o endividamento público das economias, percebemos que não estavam todos os países em igualdade de circunstâncias. Como sempre, os mais fracos pagam muito mais por uma mesma crise, e na crise do sub-prime percebemos que os remédios aplicados para debelar a crise têem um peso diferente no bolso dos países, assim como no das pessoas. Uma crise que junta países muito diferentes como Portugal ou a Grécia por um lado e Alemanha por outro, qualquer factura a pagar será muito mais difícil de pagar pelos mais fracos!
Acresce ainda o facto de termos a mesma moeda em comum, pelo que cada país deixou de controlar o dinheiro que circula no seu próprio país, e em que cada país tem a sua própria política fiscal, não possuindo um orçamento comum a todos os países, leva a que uma resposta a uma crise, tenha consequências de diferente magnitude nas economias (assimétrica).
Se bem que o BCE conseguiu o que eu considero de muito relevo, artificialmente baixar os custos de financiamento dos estados ao ter uma pessoa ao seu leme de enorme visão, podemos ter agora uma liderança mais míope à frente do BCE que diga-se de passagem, está ao nível das lideranças que temos hoje em dia na Europa!
Essa falta de liderança europeia é pressentida pelos necrófagos com cargos vitalícios que sempre desejaram o fim da UE e do Euro. Quem criou os alicerces da UE logo a seguir à IIª Guerra Mundial, pretendia que por um lado a Europa vivesse em paz e prosperidade e não andássemos constantemente em guerra, que no caso da IIª Guerra Mundial teve como consequência mais óbvia o fim do domínio europeu sobre o globo, que iniciou o seu domínio global no século XV e chegou até ao século XX.
A criação do euro, criada por visionários que já não estão no activo, pretendia essencialmente que a Europa não dependesse de uma moeda que dominava o globo nessa altura, já que nenhuma moeda europeia era suficientemente universal que pudesse rivalizar com o dólar. Mas a criação do euro por si só não resolveria todos os problemas, como ficou patente na crise do sub-prime.
Vivemos tempos conturbados, do politicamente correcto, do individualismo e nacionalismo. Todos estes termos podem minar definitivamente a UE se não forem tomadas medidas de solidariedade, tal e qual como tinham em mente quem criou a CECA (Comunidade Europeia do Carvão e do Aço), que mais tarde seria rebatizada de CEE (Comunidade Económica Europeia) e mais tarde viria dar origem ao União Europeia.
Mais uma vez a UE é confrontada com uma crise que não criou, mas que a sua estrutura não está preparada para resolver, pela necessidade de tomada conjunta de países com posições tão antagónicas, como temos vindo a presenciar.
O COVID-19, que inicialmente foi ignorado pela Europa, e visto mais uma vez como um problema longínquo, tornou-se um problema global. Cada país tem de fazer o que pode, inicialmente para combater o vírus e as consequências físicas que provoca, mas posteriormente, e a partir de agora, vai ser necessário resolver um problema colossal que está a ser criado pela paragem da economia. Quanto mais tempo for utilizado para resolver o problema da doença, piores vão ser as consequências para a economia. Cálculos feitos já em Março, estima-se uma quebra da economia europeia de pelo menos 8% do PIB.
Apesar do problema ser comum a todos os países, a palavra solidariedade foi riscada pelos países europeus, quando por exemplo a Itália a solicitou e quase todos os países ficaram a olha só para si, como se o vírus não ultrapassasse fronteiras ou distinguisse quem tem melhor deficit. E se os países mais aflitos com a doença não são ajudados pelos seus pares, particularmente a Itália e a Espanha, sujeitando-nos a apoios interessados de outras ditaduras a esses países (Rússia, China, Cuba e a Albânia), vamos esperar solidariedade no momento de salvarmos as economias?
Mais do que nunca, depois da relocalização da indústria ocidental para a Ásia, deixando-nos vulneráveis até em equipamentos fundamentais para a nossa sobrevivência, como os ventiladores, vamos ser capazes de salvar o que resta da economia? Como é que cada país vai aguentar um impacto de 8% PIB? (só para recordar que no tempo da troika, a nossa economia recuou menos de 6%)
A linha de crédito disponibilizada pelo BCE, de 750 mil milhões de euros é insuficiente para acudir a tamanha crise e a ajuda do Fundo de estabilização com mais 410 mil milhões, não são suficientes! Vejo que a única solução possível, para que todos os países possam enfrentar esta crise económica que se aproxima, a criação dos chamados “CORONABONDS”.
A criação dos coronabonds, mesmo que limitada a 8% do PIB europeu, como se fala, permitia injectar dinheiro na economia de valor equivalente aos estragos que a paragem forçada provocou e com a vantagem da dívida não ficar associada a nenhum país em particular, mas sim a uma entidade que esteja a cima, como por exemplo o BCE. A dívida seria assim do BCE e não de nenhum país e ao contrário destes, o BCE tem poder de imprimir euros ilimitadamente. Como todos os países da UE têem as suas economias muito interligadas entre si, os aspectos negativos da criação de mais moeda, seriam muito minimizadas!
Esta solução permitia “salvar” as economias com dinheiro fresco, não aumentar o endividamento absoluto dos países, manter os juros dos países relativamente baixo e ainda passavam a ter uma vantagem competitiva em relação ao resto do mundo, porque o resto do mundo teria de se endividar individualmente!!!!
Mas se os “coronabonds” não vierem, (também começo a perder a fé em tanta gente sem visão a comandar os destinos do continente), pode acontecer à UE o que sucedeu ao império romano no século IV, a divisão do “império” entre a parte ocidental e a parte oriental. Neste caso seria mais uma divisão norte da Europa vs sul da Europa. Ou até o divórcio completo e o “arrumar das malas de cartão”. Se acontecer algum tipo de cisão, haverá um enorme retrocesso entre os povos europeus, porque não tenham dúvidas, os países novamente voltados para sí, vai prejudicar principalmente os mais fracos de cada país e também a classe média (esqueçam os créditos-habitação, crédito para carro, etc……).
O que acham?
RG