Cassio escreveu:Leandro...
Desculpe dizer... mas falar que os aviões da Embraer são "parecidos" com os que você citou não quer dizer nada... e está incorreto dizer que os projetos foram baseados nos aviões que você citou... isso não é verdade.
Sou engenheiro aeronáutico e participei do desenvolvimento de alguns desses aviões... o que posso dizer é que os aviões por vezes se parecem porque a missão para os quais são projetos o fazem parecer assim.
Pegue todos ao aviões agrícolas que existem... no fundo todos se parecem em configuração, mas nem por isso podemos dizer que um foi projetado com base no outro... quem diz isso, para mim, não entender nada do que é engenharia aeronáutica.
Os aviões da Embraer são inovadores sim... posso citar vários que são inovadores em conceito, únicos até... quer exemplos:
Tucano, Ejets, Brasília e até o Phenom. Quando do seu lançamento não existiam aviões como eles... com as suas características, com o seu conceito... ou seja são produtos inovadores... e não "baseados em outros projetos" como os que você citou.
Sds,
Cassio
Cassio, acho que você não pegou exatamente o ponto.
Fora casos muito especiais (e a maioria dos que eu conheço são chineses
), a grande maioria dos projetos de aviões não é simplesmente uma cópia de outro existente, e isso vale tanto para a Embraer quanto para a HAL. Mas é indubitável que os conceitos utilizados em uma aeronave pioneira são sim muitas vezes adotados em outros projetos que terão a mesma aplicação, pois não há porque não adotar soluções que já se viram funcionando só pelo desejo de inovar, principalmente em aeronaves que deverão ser oferecidas no mercado. E neste aspecto a Embraer não é diferente da maioria absoluta de fabricantes de aeronaves do planeta, ela aproveita os conceitos (mas evidentemente não os projetos detalhados, isso seria burrice) de outros aviões que já voaram antes. E não há nenhum demérito nisso, é apenas a prática normal em qualquer ramo da engenharia, não há porque ser diferente no setor aeronáutico.
Todos os aviões da Embraer que você mencionou são evidentemente inovadores em detalhes, principalmente em termos de adequação às necessidades específicas que a Embraer identificou para os seus potenciais clientes, algo em que ela se especializou desde antes da sua fundação ao definir as características que seriam incorporadas ao seu primeiro projeto, o Bandeirante. Mas nenhum deles é realmente inovador em termos de conceito, sempre havia algo da mesma categoria já operacional ou em desenvolvimento antes do avião da Embraer ser lançado. Exatamente como nas imagens comparativas postadas por nosso colega Kirk com relação aos aviões da HAL. Senão vejamos:
- Tucano: Turbo-hélice de treinamento básico/intermediário, com o projeto contratado em 1978. A aeronave equivalente mais próxima (inclusive com número algo maior de exemplares vendidos) é o Pilatus PC-7, cujo programa começou muito antes, ainda na década de 1960, e cujo primeiro vôo de exemplar de produção ocorreu no mesmo ano de 1978. As diferenças entre os dois aviões estão nos detalhes, o conceito é idêntico, mas a Pilatos chegou a ele cerca de uma década antes.
- Brasília (também trabalhei nos projetos deste avião): Evolução do projeto anterior EMB-123 Tapajós, derivado direto do Xingú (inclusive utilizaria seções da fuselagem deste) concebido por volta de 1975 em um estudo cooperativo com a Fokker holandesa que acabou não indo para a frente. A evolução seguiria quase exatamente a do King-Air/Super King Air, que já estavam em operação desde 1964 e 1972 respectivamente. Em 1978 a Embraer retomou a avaliação de um avião aeronave regional turbo-hélice partindo do EMB-123, chegando ao modelo ampliado EMB-125. Mas decidiu consultar o mercado antes de iniciar o projeto detalhado (este é o ponto onde a Embraer realmente é excelente, identificar os nichos do mercado onde deve entrar e avaliar estes nichos muito bem). A resposta dos clientes indicou que o avião deveria ser ainda maior, e a decisão final foi ampliar o projeto até 30 lugares, gerando o EMB-120. Ouve de fato inovação no porte do avião devido à solicitação dos potenciais clientes (novamente, este é o forte da Embraer), mas o conceito ainda era uma evolução dos projetos iniciados com o Xingú e o EMB-123, inspirados nos aviões da Beech (que aliás lançou antes do próprio Brasília o Beech-1900, muito similar ao que teria sido o EMB-123).
-Família 145: Eu estava na Embraer quando este projeto estava sendo iniciado, e era voz corrente que ele inicialmente foi concebido como uma versão ligeiramente maior e impulsionada à jato do EMB-120 Brasília. Inclusive seus desenhos iniciais mostravam os motores instalados em carenagens na parte superior das asas, isso sim uma inovação (embora proposta antes para aeronaves de outros países, como no Boeing YC-14). Mas análises estruturais e em túnel de vento mostraram que esta configuração não seria a ideal, e acabou-se mudando os motores primeiro para debaixo das asas (já uma configuração convencional) e depois para a parte traseira da fuselagem, como já era utilizado em muitos aviões comerciais e executivos. O resultado foi um avião bastante convencional, cuja única "inovação" era a quantidade de passageiros e o foco na aplicação comercial ao invés de executiva.
- E-jets (família 175/190): Lançada em 2002, como uma quantidade enorme de aviões comerciais atuais ela segue basicamente o mesmo conceito aerodinâmico lançado com o Boeing 737, concebido lá atrás em 1964. A "inovação" consistiria no tamanho menor e no emprego da configuração de assentos 2x2, que já era usada no Bombardier CRJ200 uns dez anos antes. Fora isso é uma aeronave bastante convencional, usando o que usam todos os projetos contemporâneos.
- Phenom: Nem precisa falar muito, basta olhar a configuração de todos os aviões executivos lançados desde os primeiros Learjets e Gulfstreams da década de 1960.
- EMB-123 Vector: Talvez o mais inovador dos aviões mencionados, era também uma evolução do Brasília, mas deslocando os motores para a traseira da fuselagem com hélices propulsoras. Um conceito que foi considerado muito avançado por algum tempo, sendo adotado anteriormente no Piaggio 180 Avanti e no Beech Sstarship. Mas nestes dois modelos os motores estavam instalados nas asas, e no Vector a Embraer os colocou nas laterais da fuselagem, dando ao avião o aspecto de um jato executivo. Mas este projeto acabou fracassando, não atingindo o estágio de produção.
É evidente que em cada um destes modelos existe uma miríade de pequenos detalhes inovadores desenvolvidos pela Embraer (e também em grande parte por seus fornecedores), como os perfis de asa próprios (a Embraer desenvolve seus próprios perfis, tem gente muito boa nisso) e o acabamento interno desenvolvidos pela BMW Designworks dos Phenom. Mas as inovações estão nos detalhes, todos estes aviões utilizam conceitos já empregados antes deles começarem a ser desenvolvidos.
E a mesmíssima situação ocorreu na HAL. Não houve diferença alguma de gênero, o que era a discussão inicial. A única vantagem da Embraer sobre a empresa indiana foi ter de algum tempo para cá (desde o lançamento do EMB-120) focado no mercado internacional, o que lhe abriu as portas de um mercado muito maior e a manteve muito mais focada nas necessidades dos clientes e mais ágil, de forma a garantir vantagens com relação à concorrência. Enquanto isso a HAL focava no mercado interno indiano (o que é muito semelhante ao procedimento tradicional das indústrias brasileiras em geral, que por isso também acabam com limitações). Isso acabou fazendo com que a HAL se tornasse uma empresa lenta e burocrática do ponto de vista administrativo, e o fato dela ser estatal não ajudou em nada a minimizar este problema. Mas daí a dizer que as empresas não são comparáveis tecnicamente é um enorme exagero, o histórico técnico da HAl é bastante grande e com relação a aeronaves militares maior que o da própria Embraer, pois eles já desenvolveram mais de uma aeronave de combate à jato, produziram e produzem em série modelos bastante avançados de caças supersônicos e estão desenvolvendo um modelo autóctone, ao passo que a Embraer só desenvolveu sozinha até agora aeronaves militares turbo-hélice leves e 1/3 de um avião de ataque subsônico.
Leandro G. Card