sapao escreveu:Porque não dominamos nem a metade da cadeia de produção dos equipamentos utilizados.
Concordo que é possível, como tudo em engenharia é.
Mas esbarraríamos em itens sensíveis que foram desenvolvidos la fora em décadas, e ai dependeríamos da "vontade" estrangeira como sempre, para ter um vetor moderno.
Sapão, você sabe muito bem que isso depende demais do que se considera "moderno". Não precisamos logo de cara construir um míssil com o nível de sofisticação das mais avançadas armas hoje em desenvolvimento no mundo para obter um desempenho equivalente ou mesmo maior do que um Exocet Block-III ou mesmo de um Harpoon, se a decisão de despender o esforço e os recursos necessários fosse tomada. O resultado poderia ser algo maior, mais pesado ou com menos versatilidade do que um projeto de especificações idênticas desenvolvido nas potências centrais, mas funcionaria, poderia ser perfeitamente efetivo e muito provavelmente ainda sairia bem mais barato. Ou você acredita mesmo que um Otomat, desenvolvido na Itália na década de 1960/70, tinha um conteúdo tecnológico superior para obter seu desempenho equivalente ao do atual Exocet Block-III em alcance e bem maior em carga trinta anos atrás?
Restrições tecnológicas existem, mas evidentemente não são insuperáveis ou não teríamos já prontos ou em desenvolvimento produtos como o MAA-1B, MSS-1.2, MAR-1, MAN-1, AVMT, SBMK, Saber-60, Saber-200, Scipio e por aí vai. Se jamais tivéssemos feito nada disso é claro que eu não teria sequer começado a escrevinhar o meu post inicial. Mas até onde eu sei estes projetos existem realmente, não são apenas "vaporware", já tendo sido até exportados, então não estamos falando de começar desde a descoberta do fogo e a invenção da roda
.
Com relação aos itens específicos que você mencionou, seguem alguns comentários:
- a tecnologia para produzir antenas em espiral levou mais de década para desenvolvermos, e sem ela não haveria MAR;
Mas já está pronta. Não estamos dez anos atrás.
- giroscópio que até hoje não conseguimos produzir;
Isso não impediu que construíssemos e até exportássemos alguns dos mísseis acima. Não vejo então porque seria um impeditivo maior em novos projetos.
- combustível liquido para foguetes que só conseguimos dominar porque os russos nos repassaram a expertise;
Pode ser mais específico? Porque já construímos protótipos de motores de controle de atitude a hidrazina lá atrás na década de 80, e até em cursos de graduação em universidades já se construíram motores semelhantes usando H2O2. Fora isso o combustível líquido é usado somente em foguetes de grande porte para aplicações espaciais, e hoje basicamente são usados oxigênio líquido com hidrocarbonetos (ou hidrogênio também líquido), que qualquer um sabe fabricar. Mesmo o RP-1 e seus equivalentes é basicamente uma mistura de componentes que já se fabrica desde a década de 50, o máximo que precisaríamos aprender seria a composição necessária para evitar os problemas de deposição de "borra" típicos dos motores de grande porte.
- sensor IR e capa da cabeça de míssil IR que só conseguimos desenvolver por causa da parceria com a Africa do Sul;
Pelo que sei nós chegamos a construir aqui os sensores iniciais do programa do MAA-1, apenas ele não era tão sensível nem tinha a capacidade de discriminação que desejamos, e acabamos adotando o Sul-Africano após o acordo do A-Darter. Mas que eu saiba mísseis anti-navio não usam sensores IR de alta discriminação deste tipo.
-sensores de guerra eletrônica de alta qualidade (como a Bragg Cell) com alta Probabilidade de Detecção (POD) e de Probabilidade de Interceptação (POI) e baixa Probabilidade de Falso Alarme (PFA), entre outras características, que nós nem suspeitamos como são produzidos
Que míssil deixa de funcionar sem isso? Pense bem na resposta, porque temos vários em desenvolvimento e produção.
-o mais elementar: processadores!!!! Sem isso NADA que funciona hoje sai do chão.
Realmente complicadíssimo. Tanto que os americanos compram os deles no Japão e na China
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Por isso sinto discordar, não é problema de especificação pois nós simplesmente poderíamos sim ter especificado algo semelhante ao Bl 3 (e tenho certeza de que especificamos no Estudo de Estado Maior)
Não é o que está na entrevista do VA. Ele foi muito claro ao dizer que o alcance foi especificado em função da capacidade de detecção dos navios existentes, com o objetivo declarado de manter os custos no mínimo.
E se existe mesmo um impedimento tão absoluto, então o AVMT não passa de vaporware. Pena, eu gostava deste programa
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...e muito menos de dinheiro, até porque eu DUVIDO que qualquer empresa nacional hoje, incluindo a Mectron, tenha sequer a menor noção de quanto custaria desenvolver um míssil assim. Até porque ela mesmo não controla toda a cadeia de suprimento, como já falei.
Então todos os programas que mencionei acima foram feitos sem uma estimativa razoável de custos de desenvolvimento. Bem, grande coisa, qual obra no Brasil você conhece que teve um orçamento preciso (e olhe que os valores eram muitíssimo maiores)
?
Não tem jeito, se podemos fazer o que já estamos fazendo, então não existe razão para não podermos fazer mais. Fora a especificação, que aí sim limita todo e qualquer projeto sujeito às restrições do budget inicial.
Leandro G. Card