Respeito sua opinião, apesar de não concordar com ela.LeandroGCard escreveu:Na verdade você não está de todo errado, mas também não está apontando as armas para o alvo certo.lelobh escreveu:Sei de todo valor do setor aeronáutico, mas até que ponto o Brasil (não os acionistas) tem auferido vantagens com a Embraer? É uma questão que devemos colocar na mesa, sem nacionalismos deslocados ou oba oba (não falo de você, falo de mim, eu mesmo antigamente me orgulhava como brasileiro pela Embraer, mas sinceramente, orgulhar de que?) Em ocasiões passadas o governo brasileiro deixou sem amparo empresários audaciosos e inventores, que realmente contribuiriam para um salto tecnológico no país, enquanto salvava empresas que nada somavam, enfim, players que fora do jogo seriam substituídos por outros da mesma qualidade. Em que caso a Embraer está?
Nos últimos 10 anos tem sido grande a demanda por seus jatos regionais, mas a empresa tem aproveitados os incentivos fiscais e ajudas governamentais (compras) para incentivar a construção de uma rede de fornecedores nacionais, ou simplesmente segue a lógica do mercado e compra de quem fornece mais barato (normalmente um fornecedor estrangeiro)? Já passamos dos 50% de conteúdo nacional? Sim o mundo empresarial não funciona assim, concordo, mas quando se trata de recursos públicos a gestão da empresa deve também se pautar pelo ganho da sociedade como um todo. Quando é empregado recurso público o mundo empresárial tem, por obrigação, que se pautar por outros objetivos que não apenas o lucro.
Não sei qual é a realidade da Embraer, não conheço a empresa, mas conheço o Brasil. Sinceramente, atualmente coloco a Embraer no mesmo patamar da Fiat, se bem que a Fiat provavelmente investe mais no Brasil do que a Embraer, além de provavelmente ter mais empregados.
Enfim, vai ver eu estou sendo "ácido" demais, se for o caso me desculpe. Em verdade espero estar errado.
Em qualquer setor industrial existem divisões muito claras entre os montadores do produto final e seus fornecedores. A Embraer é a montadora final, e tem seu foco no desenvolvimento, comercialização e suporte-técnico dos aviões que projeta. Ela não pode se responsabilizar pela produção de cada sub-sistema ou peça que coloca em seus produtos, até porque a escolha em muitos casos cabe aos seus clientes e não a ela. Agora, se nossa legislação, estrutura de impostos, etc... torna os produtos da Embraer mais caros aqui dentro do que no mercado mundial, fazendo com que pouquíssimas empresas brasileiras possam adquirir os seus aviões, e os clientes externos exigem componentes que tenham já tradição no mercado (até por questões de confiabilidade e disponibilidade de suporte técnico e mão de obra treinada), o que a Embraer poderia fazer? Insistir em usar componentes de fabricantes nacionais que sequer existem e teriam que ser desenvolvidos do zero e perder praticamente todas as suas vendas, ou adotar os componentes dos fornecedores existentes (a maioria lá de fora) e continuar vendendo e existindo?
Caberia ao governo criar um ambiente que permtisse a empresas brasileiras adquirir os produtos da Embraer, bem como o surgimento de fornecedores locais. Em alguns casos ele até tenta fazer isso, como quando escolheu a AEL para fornecer a aviônica de aviões como o Tucano ou para as modernizações do F-5, o AMX e o A-4. Mas como até bem pouco tempo sequer existia uma definição de empresa estratégica nacional não havia como evitar que empresas estrangeiras viessem aqui e simplesmente comprassem as nacionais, como aconteceu com a própria AEL e em diversos outros casos comentados aqui mesmo no fórum. Qual a culpa da Embraer nisso?
Agora, se a própria Embraer falir e deixar de projetar e construir aviões aqui, que chances você acha que qualquer fornecedor de sistemas aeronáuticos nacionais atuais ou futuros teria de continuar existindo, em um mercado onde os governos dos países produtores protegem suas próprias empresas com unhas e dentes? A solução é desamparar a Embraer em um mundo onde todos os países sérios sustentam suas próprias empresas de todas as formas possíveis (a própria Dassault faliu algum tempo atrás, e foi estatizada pelo governo francês recebendo apoio financeiro e encomendas para voltar a operar), ou mantê-la funcionando e desenvolvendo novos projetos enquanto se criam as condições para que fornecedores locais de componentes também possam surgir e prosperar? Pense nisso.
Um grande abraço,
Leandro G. Card
P.S.: Com relação à FIAT, eu vi pessoalmente o documento interno que foi circulado à época do desenvolvimento do Pálio, explicando o motivo para ele ter sido desenvolvido na Itália e não no Brasil (já que nem seria fabricado lá). Dizia textualmente que a principal razão era justamente a manutenção dos empregos dos engenheiros italianos ! E procure verificar quanto dinheiro a FIAT tem enviado para sua matriz na Itália ultimamente, grande parte dele ganho com as reduções de impostos dos automóveis para proteger o mercado local explorado por ela (e outras empresas multinacionais) . A Embraer pelo menos não manda seus lucros para fora do país.
Não acho ou espero que a Embraer se responsabilize por fabricar cada parte do avião, se dei essa impressão desculpe. O que espero é que ao receber recursos públicos exista uma exigência pública que faça reverter ao conjunto social aquele incentivo da coletividade (nação). A Embraer ao receber o estimulo estatal deve sim favorecer os fornecedores nacionais, ou mesmo estimular o surgimento destes. Não sei se a Embraer faz isto... Se a Helibras tem metas de conteúdo nacional não vejo motivos para a Embraer não ter.
Acredito, outrossim, que nem tudo cabe ao governo.
Na minha opinião, e visão, apontaste a única diferença real entre a FIAT e a Embraer, a remessa de lucros.
Abraço