Lucas Lasota escreveu:
Creio que sua síntese esteja correta.
Ideologia é o molde subjetivo do conhecimento objetivo a uma determinada pessoa,ou seja, uma vez que o conhecimento deve ser internalizado na mente de uma pessoa para poder ser repassado para outra não há como submetê-lo a um processo valorativo.
Desculpes mas isso é meio que "de manual". Há Ideologias, "ideologias" e IDEOLOGICES. Explico: pela tua definição mas dentro da minha casuística pessoal, ambos temos uma "ideologia", algo que posso definir como um conjunto de algoritmos¹ associado a vivências próprias ou alheias - de que tivemos conhecimento de algum modo - que são o que "nos faz funcionar" ou, de modo mais Filosófico,
ser.
Ergo, eu sou o Túlio e tu és o Lucas por causa disso. Ela nos separa como indivíduos. Pessoalmente prefiro o termo que usei pouco antes, Casuística Pessoal, mas são apenas palavras, claro, cada um define como quiser/puder. De qualquer modo, repito que isso nos
separa como indivíduos. Já a Ideologia
une, pois agora são algoritmos¹ e vivências aceitos por um grupo, e hierarquicamente acima da citada Casuística. Não obstante, e com alguma ironia, é esta que decide a qual Ideologia submeteremos a nossa individualidade. O extremo disso, uma nauseante perversão da Ideologia, é a IDEOLOGICE, onde se submete à força a Casuística e se atropela a Ideologia em função de um paradigma (ou conjunto de paradigmas) que só levam a Realidade em conta quando é favorável à linha de pensamento que se quer dominante. E é aí que, ao menos para mim, conceitos tolos e execráveis como "esquerda" e "direita" se tornam piadas de mau gosto...
Lucas Lasota escreveu:Immanuel Kant foi quem primeiro sistematizou este processo, com sua Crítica da Razão Pura, onde defende que na verdade os objetos do conhecimento são impossíveis de atingir e, por isso mesmo, o que existe são abordagens subjetivas de cada pessoa em relação aos objetos.
Já gostei mais de Kant, tipo ali pelos oitenta. Junto com Marx e Nietsche formava a "santíssima trindade" na minha estante, com alguma preferência pelo último, justificado pela prosa mais elegante, quase poética. Isso durou mais ou menos até me cair nas mãos "Os Demônios de Loudun", de Huxley. Se já leste que nem eu, sabes bem o que é
orgasmo mental. A ironia é tão fina que corta como uma faca, e permite que ele disseque implacavelmente um fato histórico, demonstrando a quantidade de erros de juízo e ilogismos que culminaram com um homem - um padre - sendo queimado vivo, após muita "tortura judicial", por bruxaria. É em síntese a análise cuidadosa e intelectualmente honesta de fatos documentados e pessoas reais. Mas o que realmente me cativou foi uma coisa que não havia encontrado nos escritos dos outros três, qual seja a possibilidade de "discutir com o Autor". Huxley não me vendeu uma Verdade Fundamental, ele me convidou a elaborar a minha! Ou seja, Huxley permite que se "discuta com ele", do mesmo modo que Maquiavel (a primeira cópia de "O Príncipe" que tive vinha com notas de pé de página, originalmente anotações com data do próprio Napoleão!) Isso se tornou tão atraente para mim que abandonei os demais, Kant incluso, mesmo reconhecendo que muita coisa ali é indiscutível (até deixar de ser, claro), pois me parecem sobretudo afetados pelo pernosticismo. De toda forma, e se achas que minha interpretação de Kant é questionável, te deixo a versão que atual (e rara) mente leio:
https://web.archive.org/web/20150516003 ... a-Kant.pdf
Obs.: da "Crítica da Razão Prática" tenho apenas cópia em papel mas gostei muito mais, por ter aprendido algo de que falo até hoje, o Imperativo Categórico, que está sempre por trás de minhas críticas à IDEOLOGICE. Já a "Crítica do Juízo" pouco me atraiu, apenas folheei mas não comprei, pois o que vi me pareceu já nascer superado pela "Poética" e a "Retórica" (naquilo que me interessa, claro). O que o "Juízo" acrescentaria me pareceu uma forma de
sistematizar a subjetividade, o que me pareceu e continua parecendo um enorme disparate.
Lucas Lasota escreveu:A confusão criada em nosso debate realmente deriva do fato de que o termo ideologia estar maculado pelo estigma político-partidário. Nesse viés poderíamos trocar o termo por proselitismo, o qual se aplica da mesma forma à religião e ao discurso político pregador.
Sei lá, entrar nesta linha de debate acabaria arranhando os fundamentos da Cognição como é universalmente reconhecida e mesmo arrombando as fronteiras Gnósicas, eis que teríamos que ir às raízes da capacidade de apreensão de conhecimento individual, sem considerar a "BIOS¹" de cada um e, obrigados a simplificar cada vez mais para chegar a um conceito aplicável ao maior número possível de indivíduos, terminaríamos chegando (na verdade
praticando) à palavra que acho mais apropriada para o caso: Demagogia!
Lucas Lasota escreveu:Nesse sentido, em consonância com os colegas, concordo que a missão de um professor não é proselitismo na sala de aula, mas criar um sentimento crítico nos alunos. Para tanto deve mostrar que existe sempre uma dicotomia no conhecimento. Seja ele qual for.
Aí voltamos ao ponto em que comecei a ZOAR. Só que agora me convcenci que não mereces. É que faz anos (bobear e décadas) que não acho parceiro para um bom debate sobre Filosofia, Livros, etc, então vou passar, limitando-me a dizer que discordo.
Lucas Lasota escreveu:Devo lembrar, todavia, como você colocou muito bem, o proselitismo não é característica da esquerda. Há muito professor em faculdade de direito e economia que não está disposto a criar massa crítica e passar os cânones do mercado como verdade universal.
Demagogia não tem cor nem partido, está por toda parte de nossas vidas. Apenas sustento que não se evita isso através de uma outra demagogia. É meu Dever como Ser Humano que ao longo da vida adquira instrumentos capazes de reconhecer proselitismo pelo que é - e não importa de quem venha - e descartá-lo como perda de tempo. Assim, concordamos, creio.
Mas não vamos parar por aí, há muita coisa bem mais interessante a ser debatida do que o Bolsomito é melhor ou pior do que o Lulla-lau & quetales...
¹ - Desculpes a analogia com computadores mas me parece a mais fácil de entender para veteranos de internet como nós todos aqui.