Os ataques russos aos portos da Ucrânia, junto ao bloqueio naval impetrado no Mar Negro de forma a tentar impedir o comércio marítimo ucraniano, e consequentemente afetando a capacidade do país de receber divisas de exportação de seus produtos, é uma forma de guerra já muito antiga, e que os russo, até o presente momento, estão levando vantagem.
A resposta da OTAN foi o anúncio da aumento da vigilância sobre o Mar Negro e as rotas comerciais que cruzam o litoral romeno e búlgaro, sem intervir diretamente no mar que banha a Ucrânia, seja com drones e aviões de patrulha marítima e ISR, estes escoltados não raras vezes por caças da aliança ocidental.
Os ataques tem sido feitos prioritariamente com drones e mísseis de longo alcance, lançados a partir de caças, bombardeiros e navios. Todos eles tem chegado até seus alvos, sendo que parte é interceptada, mas o restante tem conseguido causar muitos estragos. E a Ucrânia não tem recursos suficientes para dispor de defesas AAe que possam defender seus principais portos, de forma a escoar sua produção agrícola.
Como um paralelo, segue aqui a lista dos principais portos brasileiros. Qualquer tentativa externa de barrar a entrada e saída de navios nestes locais trará consequências dantescas para a economia do país. E o CFN e a MB não dispõe hoje de meios necessários tanto para a defesa AAe como naval destes portos, que como se pode ver, estão espalhados pelo litoral de norte a sul.
Principais Portos em Movimentação de Carga.
Fonte dos Dados: Antaq - Período de Janeiro a Outubro de 2019.
https://www.fazcomex.com.br/comex/portos-brasileiros/
Existem 175 instalações de carga portuária no Brasil, com 99 deles situados no litoral, e outros 76 no interior do país.
Lista com Principais Portos Brasileiros
1. Porto de Santos (SP)
2. Porto de Paranaguá (PR)
3. Porto Itapoá (SC)
4. Portonave (SC)
5. Porto de Rio Grande (RS)
6. Dp World Santos (SP)
7. Porto Chibatão (AM)
8. Porto de Suape (PE)
9. Porto de Itajaí (SC)
10. Porto de Rio de Janeiro (RJ)
https://www.fazcomex.com.br/comex/portos-brasileiros/
Apesar da maioria destes portos se localizar na região sul-sudeste, isto pode ser um ponto a favor de eventual adversário que poderá concentrar meios naquela área ao mesmo tempo que também imputa novos bloqueios ou ataques a outros terminais nas regiões norte e nordeste, o que forçaria a marinha a demandar um maior esforço para a defesa dos portos situados naquelas duas primeiras regiões, deixando as demais meio que à sorte, ou com meios menos capazes de realizar a sua defesa.
Um apontamento importante a fazer é que um eventual bloqueio naval também pode nos ser imposto indiretamente no Atlântico Sul ao barrar toda a navegação nas linhas marítimas que conectam o Atlântico Norte, Índico, Caribe e Pacífico à costa brasileira, sem precisar necessariamente fazer isso à curta distância de nós. O uso de submarinos e FT nucleadas em Nae - e até mesmo aviação a partir de aeroportos na costa atlântica, pode obliterar os portos brasileiros e sufocar a economia do país no curto e médio prazo. Mais uma vez, não temos os meios necessários e suficientes para defender-nos de uma eventual ameaça(s) que nos imponha um bloqueio assim.
No que concerne a defesa própria dos portos em questão, é mister afirmar que o CFN tem essa missão prioritária, e portanto, deve dispor dos recursos necessários para a sua auto-defesa e a defesa das infraestruturas pelas quais é responsável. Assim, além de Manpad\shorad, é impositiva a aquisição de meios AAe de médio e longo alcance que visem a defesa em camadas ao menos dos principais portos brasileiros ao longo da costa, já que não é viável, embora possível, a defesa de todos os 176 portos que temos.
De qualquer forma, a título de análise de contexto, a defesa de costa e a AAe alocadas ao CFN devem possuir meios que visem pelo menos a defesa dos principais portos do país, de forma a podermos manter, ainda que minimamente, a fluidez do nosso comércio exterior, sob o risco do país se ver sufocado e sem acesso a um de seus maiores meios de obtenção de recursos financeiros vindos do exterior, com a economia solapando em pouco tempo.
Notar que o CFN em virtude dos dados acima irá demandar ao menos recursos para a defesa dos 10 principais portos ao longo do litoral, inclusos neles os que se destacam em movimentação de mercadorias. Assim, imagino que ao menos 10 Bia AAe seriam necessárias para que os fuzileiros navais estejam devidamente equipados para defender estas importantes infraestruturas do poder econômico nacional. Além da defesa AAe, a defesa de costa com mísseis e\ou artilharia deve ser compartilhada com o EB, ou deixada ao CFN caso o exército não se resigne a operar novamente esta via da artilharia terrestre.
Logo, é possível verificar que as 2\3 baterias destacadas para a MB no contexto do Programa Defesa AAe comum são no mínimo irrisórias, e não condizentes com a realidade da defesa da infraestrutura a ser operada prioritariamente pela MB. E como se sabe, é muito difícil encontrar soluções que casem com os onipresentes limitações de verbas para investimento, ainda que eles sejam claros e inequívocos, apesar de nunca reconhecidos e compreendidos.
O CFN possui batalhões nas seguintes localidades: Manaus, Belém, Ladário e Rio de Janeiro. Os grupamentos estão localizados nas seguintes cidades: Brasília, Natal, Salvador, Rio de Janeiro, Santos e Rio Grande.
Como se pode ver, não há unidades em vários locais onde os principais portos estão localizados, dependendo, portanto, do deslocamento de tropas navais de outros lugares para a sua defesa, assim como seus meios.
Por fim, é importante fazer-se notar que o CFN e a MB não tem como dispor dos meios mais modernos para a defesa AAe e\ou de costa dos principais portos do país, de forma que na eventualidade de sofrermos um bloqueio naval, assim como a Ucrânia, estaremos fadados à rendição em tempo bem curto, já que a nossa economia não consegue sobreviver a uma semana que seja sem poder operar suas atividades de importação e exportação. E é sempre bom lembrar, a economia do país ainda depende em mais de 95% do modal marítimo para poder mover sua indústria e comércio. Inclusivo o sacro santo agro do Brasil, que sem seus portos, fenece antes mesmo de pedir arrego.