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O presidente russo Vladimir Putin advertiu o Ocidente contra a tomada de uma ação unilateral na Síria, reforçando a necessidade de um aval do Conselho de Segurança da ONU, mas afirmou que “não exclui” um apoio da Rússia a uma resolução do órgão internacional em uma ação militar punitiva se for provado que o regime do presidente Bashar al-Assad usou armas químicas contra a própria população. O mandatário russo também criticou os Estados Unidos na condução do caso Snowden e negou que o país tenha uma política antigay.
Putin fez esses comentários durante entrevista para a agência Associated Press e ao canal de TV russo Channel 1 em sua residência nos arredores de Moscou – a única que concedeu antes da cúpula do G20 que se inicia nesta quinta-feira em São Petersburgo.
Putin afirmou que forneceu alguns componentes do sistema de defesa contra mísseis S-300 para a Síria, mas cancelou novas entregas. O mandatário sugeriu, no entanto, que pode vender o sistema para outras nações se os países ocidentais atacarem a Síria sem o apoio do Conselho de Segurança da ONU - o governante fez questão de enfatizar essa autorização pelo seleto grupo composto por Estados Unidos, Reino Unido, França, China e a própria Rússia.
O presidente russo lamentou o cancelamento do encontro que teria com Barack Obama antes do início da cúpula do G20, mas expressou esperança de que os dois tenham sérias discussões sobre a Síria, entre outras, durante o encontro em São Petersburgo. “O presidente Obama não foi eleito pelo povo americano para ser simpático com a Rússia. E seu humilde servo (se referindo a si mesmo) não foi eleito pela população russa para ser simpático com alguém também”, comentou Putin sobre a relação com o colega americano.
O líder da Rússia disse que seria um “absurdo” que o governo do presidente Assad - um aliado de Moscou -, usasse armas químicas em um momento em que estava detendo as forças rebeldes.
“Do nosso ponto de vista, parece absolutamente um absurdo que as Forças Armadas, que estão na ofensiva hoje e em algumas áreas encurralaram os chamados rebeldes e estão os derrotando, nessas condições elas começariam a usar armas químicas proibidas, percebendo que isso poderia servir de pretexto para a aplicação de sanções, incluindo o uso de força”, analisou.
Putin compara situação com invasão do Iraque e pede evidências para apoiar ataque
A administração Obama diz que 1.429 pessoas morreram no ataque de 21 de agosto nos arredores de Damasco. O governo sírio culpa os rebeldes que tentam derrubá-lo pelo incidente. Inspetores da ONU estão esperando por resultados laboratoriais após coleta de amostras na região.
“Se há dados de que armas químicas tenham sido usadas, e usadas especificamente pelo Exército, esta evidência deveria ser submetida ao Conselho de Segurança. E deveria ser convincente. Não poderia ser baseada em rumores e informações obtidas por serviços especiais por meio de algum tipo de espionagem de conversas e coisas do tipo”, explicou Putin.
Ex-oficial da KGB, serviço-secreto da antiga União Soviética, o presidente russo comparou a evidência apresentada por Washington com aquela usada pela administração Bush para justificar a invasão do Iraque, em 2003. “Esses argumentos (armas de destruição em massa) se tornaram insustentáveis. (...) Nós nos esquecemos sobre isso?”, questionou.
Putin afirmou que não exclui o apoio ao uso da força contra a Síria na ONU se houver evidência objetiva provando que o regime de Assad usou armas químicas contra a população, mas alertou os Estados Unidos contra uma ação militar sem a aprovação da ONU, o que representaria uma agressão.
Apesar de ser bem enfático quanto à necessidade de aprovação pelo Conselho de Segurança da ONU, o mandatário russo disse que é “muito cedo” para uma possível resposta do país em caso de ataque americano sem o apoio do Conselho de Segurança, no qual a Rússia tem poder de veto, mas afirmou que “temos nossos planos” sobre o que e como fazer.