Uribe vai denunciar Chávez ao TPI por patrocinar o terrorismo
BOGOTÁ - Os ecos da crise provocada por uma ação militar colombiana em território equatoriano, no sábado, vão chegar ao Tribunal Penal Internacional (TPI). O presidente colombiano, Álvaro Uribe, anunciou nesta terça-feira que vai denunciar seu colega venezuelano, Hugo Chávez, à corte internacional por patrocinar grupos terroristas. O governo colombiano diz ter provas de que Chávez doou US$ 300 milhões às Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), classificadas no país como terroristas. As provas teriam sido encontradas no computador do guerrilheiro Raúl Reyes, o "número dois" das Farc morto no ataque colombiano a um acampamento no Equador. Chávez fechou a fronteira da Venezuela com a Colômbia. (Veja em infográfico como foi a ação colombiana no Equador:
http://oglobo.globo.com/servicos/pop_in ... =720&a=520)
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A Colômbia se propõe, no Tribunal Penal Internacional, a denunciar Hugo Chávez, presidente da Venezuela, por patrocínio e financiamento de genocidas - disse Uribe após visitar Gloria Polanco de Lozada, ex-congressista libertada na semana passada pela guerrilha colombiana.
O presidente venezuelano foi a primeira liderança a reagir à operação colombiana, considerada por ele e pelo presidente do Equador, Rafael Correa, uma invasão ao território equatoriano. Assim como o presidente equatoriano, Chávez enviou tropas para a fronteira com a Colômbia, além de expulsar todos os representantes colombianos de Caracas. O governo Uribe pediu desculpas pela ação. Posteriormente, no entanto, a Colômbia acusou Correa de ter ligações com as Farc, segundo os documentos apreendidos nos computadores do guerrilheiro morto.
Na tentativa de contornar a crise, Brasil e Chile se uniram para propor à Organização dos Estados Americanos a criação de uma missão de investigação da ação colombiana no Equador. O Brasil condenou a incursão colombiana em território do Equador e classificou a situação como "grave". Para analistas, em caso de guerra, o desenlace é imprevisível.
Correa iniciou, nesta terça-feira, um giro por cinco países da América do Sul - entre eles o Brasil, onde vai se reunir com Lula - em busca de apoio no conflito. No Peru, onde começou a viagem, ele disse que buscará uma saída pacífica para a crise, mas disse que será difícil manter um diálogo com Uribe.
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Vai ser muito difícil falar com essa pessoa com essas características, que mente descaradamente e, uma vez que vê revelada as suas mentiras, inventa uma nova infâmia; que trai; nos dá punhaldas pelas costas quando estamos trabalhando juntos pelo bem-estar de nossos países - disse Correa, sobre Uribe.
O presidente do Equador rompeu relações diplomáticas com a Colômbia depois de ser acusado de ter ligações com as Farc.
Farc dizem que morte de Reyes é sério revés nas negociações
O acampamento das Farc bombardeado por forças colombianas - Reuters
As Farc afirmaram em comunicado nesta terça-feira que a morte de seu dirigente Raúl Reyes representou um sério revés na possibilidade de um acordo humanitário para a libertação de 40 reféns políticos, incluindo a ex-candidata presidencial Ingrid Betancourt. O comunicado seria uma mudança de posição da guerrilha. Na segunda-feira, segundo o jornal O Globo , em sua primeira declaração sobre o ocorrido, o grupo guerrilheiro havia dito que não iria "
hesitar no esforço em favor de uma troca humanitária".
O vice-presidente da Colômbia, Francisco Santos Calderón, disse nesta terça-feira, que as Farc tentavam fabricar uma bomba radioativa. Segundo ele, os indícios de que a guerrilha negociava a compra de material para a produção da bomba estão em computadores encontrados com o número dois das Farc, Raúl Reyes, morto no ataque de sábado. Na segunda-feira, o general Oscar Naranjo, comandante da polícia colombiana, já havia informado que os documentos confiscados das Farc comprovam a compra e venda de 50 quilos de urânio. Para ele, isso significa que "
a guerrilha tem objetivo de se tornar um grande agressor internacional".
A crise desencadeada pela ação militar colombiana, que também provocou reações do governo da Venezuela, será discutida na tarde desta terça-feira em uma reunião extraordinária convocada pela Organização dos Estados Americanos (OEA), em Washington. O "Wall Street Journal", um dos maiores jornais americanos, diz que a ação colombiana no Equador foi em "
legítima defesa".
Correa diz que Ingrid seria libertada. Para Colômbia, Equador faria tráfico
Colombianos usam máscaras com o rosto da refém das Farc Ingrid Betancourt em manifestação pela sua libertação, em Medelín, na Colômbia - Reuters
Na noite de segunda-feira, o governo colombiano havia acusado o Equador de negociar com as Farc o "
tráfico de reféns com fins políticos", e não um acordo humanitário, como afirma o governo equatoriano. A denúncia foi feita em comunicado emitido pela Colômbia em resposta a declarações do presidente do Equador, segundo o qual a libertação de mais 12 reféns, entre os quais estaria a ex-candidata presidencial colombiana Ingrid Betancourt, foi frustrada pela ação militar da Colômbia.
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Lamento comunicar que as conversas estavam bastante avançadas para libertar 12 reféns, entre eles Ingrid Betancourt. Tudo foi frustrado pelas mãos belicistas e autoritárias - afirmou Correa, na noite de segunda-feira, no Palácio de Governo, em Quito.
O presidente chegou a afirmar que a libertação de Betancourt e de outros 11 reféns poderia ter motivado os ataques que resultaram na morte de Reyes, que seria o responsável pelas negociações para a libertação dos seqüestrados.
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Não podemos descartar que essa foi uma das motivações para o ataque por parte dos inimigos da paz - disse Correa, em referência à Colômbia.
O governo colombiano respondeu menos de meia hora depois, afirmando que o Equador negociava com as Farc "um acordo com fins políticos". "
Isso não tem relação com a justificativa dada pelo governo equatoriano que estaria acelerando ações humanitárias. O que revelam os documentos tem mais as características de tráfico de seqüestrados com fins políticos. Temas pelos quais o governo do presidente Correa deverá responder", diz o comunicado.
Na segunda-feira, o ministro da Segurança equatoriano, Gustavo Larrea, reconheceu que se reuniu com Raúl Reyes, mas disse que o encontro foi por motivos humanitários. Ele afirmou, no entanto, que não existe qualquer acordo com as Farc que não seja humanitário.
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Não estávamos negociando absolutamente nada que fosse a libertação dos seqüestrados - indicou.
Segundo o comandante da polícia colombiana, os documentos confiscados de Reyes "
desmascaram as relações e o envolvimento das Farc com uma série de governos e personagens 'confabulados' contra a Colômbia, que provam que o país é vítima do terrorismo". Para o vice-presidente colombiano, Francisco Santos Calderón, a possibilidade de que as Farc estejam tentando produzir uma "bomba suja" mostra que a guerrilha é uma ameaça para todo o continente.
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Essa informação indica que com base no poder econômico que o narcotráfico lhes dá, os grupos terroristas constituem uma ameaça muito grave não apenas para nosso país, como também para toda a região Andina e latino-americana - disse o vice-presidente, em uma reunião da ONU em Genebra.
Fonte: http://oglobo.globo.com/mundo/mat/2008/ ... 069973.asp