Vejam que interessante...
CARTA: FMI AINDA VÊ O BRASIL NOS ANOS 80
A revista Carta Capital desta semana publica uma reportagem que trata da visita de uma missão do FMI ao Brasil. A editora de economia da Carta Capital, Márcia Pinheiro, teve acesso a um documento confidencial produzido por essa missão (aguarde o áudio).
Márcia disse em entrevista a Paulo Henrique Amorim nesta segunda-feira, dia 04, que o FMI não mudou e ainda vê o Brasil como nos anos 80. “Se você olhar esse documento, você tem a impressão que eles (FMI) pararam no tempo. A avaliação que eles têm da economia brasileira hoje é a mesma dos anos 80 e dos anos 90”, disse Márcia.
Segundo Márcia Pinheiro, “a prescrição, o remédio, que os economistas do FMI dão ao Brasil é exatamente o mesmo de uma receita que levou ao fracasso e crises econômicas todos os países da América Latina”.
A receita do FMI é a seguinte:
1) Aumentar o superávit primário, que hoje é 4,25% do PIB. O FMI quer que o Brasil faça mais do que 4,25%, pra pagar os juros.
2) O Brasil precisa de reformas.
3) O Brasil precisa reduzir a meta de inflação.
4) Liberalizar o comércio.
5) Parar de intervir no câmbio.
6) Mexer nas leis trabalhistas.
7) Não ajudar os setores que são afetados pelo câmbio.
Márcia Pinheiro concorda que se trata de uma espécie de receituário reproduzido mecanicamente e automaticamente pelos chamados neoliberais brasileiros e seus porta-vozes na “imprensa tupiniquim”, como diria Mino Carta. “E, aliás, muito pouco imaginativo, porque é uma receita muito antiga. Todo economista pensante hoje no Brasil sabe que dessa forma não deu certo”, disse Márcia.
Leia abaixo a íntegra da entrevista com Márcia Pinheiro:
Paulo Henrique Amorim – Eu vou conversar agora com Márcia Pinheiro, que é editora de economia da revista Carta Capital. Márcia, como vai, tudo bem?
Márcia Pinheiro – Bom dia, tudo bem, Paulo.
Paulo Henrique Amorim – Márcia, a Carta Capital publica uma reportagem tua essa semana que mostra que voltou ao Brasil uma missão rotineira do FMI (Fundo Monetário Internacional) e aparentemente o FMI não muda, não é isso?
Márcia Pinheiro – É ate divertido olhar esse documento confidencial que foi produzido por essa missão do FMI e você tem a impressão, Paulo, que eles pararam no tempo. A avaliação que eles têm da economia brasileira hoje é a mesma dos anos 80 e dos anos 90 e a prescrição, o remédio que dão é exatamente o mesmo, de uma receita que a gente sabe que levou ao fracasso e crises econômicas em todos os países da América Latina.
Paulo Henrique Amorim – Como é que você descreveria, a prescrição do FMI qual é ainda?
Márcia Pinheiro – É o Consenso de Washington ainda. Aquela receitinha assim, por exemplo: aumentar o superávit primário, que hoje é 4,25% do PIB. Eles querem que faça mais do que 4,25%, pra pagar os juros, como se fosse necessário a gente estar pagando direitinho. Segundo: retomar aquilo que eles chamam de reformas. Ok, o Brasil precisa de reformas. Mas é uma coisa tão vaga. Que tipo de reformas? Vai discutir com a sociedade que reforma é essa? Reduzir a meta de inflação, tão querendo colocar o torniquete, tem que ser menos do que os 4,5% que a gente tem, é o que eles estão pedindo. Liberalizar o comércio, que é uma coisa altamente temerária agora quer a gente está às vésperas da Rodada de Doha, pra tentar destravar um pouquinho. Parar de intervir no câmbio, que eu achei particularmente um absurdo. A gente sabe que esse câmbio já está destruindo a indústria nacional. Se você parar de intervir no câmbio, o câmbio vai escorregar a 1,80 sem dúvida. Mexer nas leis trabalhistas, de uma forma que a gente fala: “Mas como assim?”. Essa é uma discussão que a sociedade tem que fazer. E não ajudar os setores que estão sendo afetados pelo câmbio. Eles defendem o darwinismo total: quem se danar com o câmbio vai morrer, vai fechar as portas. Basicamente é isso que eles querem.
Paulo Henrique Amorim – Agora, interessante, né, Márcia, que esse é uma espécie de um receituário reproduzido mecanicamente, automaticamente pelos chamados neoliberais brasileiros e seus porta-vozes na imprensa tupiniquim, como diria o Mino Carta.
Márcia Pinheiro – Exatamente. É aliás muito pouco imaginativo, né, Paulo. É uma receita muito antiga, todo economista pensante no Brasil hoje sabe que essa coisa dessa forma não deu certo e que cada país tem ido procurar o que melhor em termos de política econômica.
Paulo Henrique Amorim – Agora, eu te pergunto, o Brasil já pagou o que devia ao FMI...
Márcia Pinheiro – Já pagou o que devia.
Paulo Henrique Amorim – Tem um novo diretor no FMI, que é o Paulo Nogueira Batista Júnior e o FMI ainda vem pra cá dar palpite?
Márcia Pinheiro – Eles dão. Agora, que bom que o governo brasileiro não vai aceitar, segundo me disse o ministro Guido Mantega.
Paulo Henrique Amorim – Quer dizer, eles falam, falam e a gente não ouve.
Márcia Pinheiro – Eu acho que eles têm que justificar o emprego deles, Paulo. O FMI teve um déficit ano passado, um prejuízo de US$ 100 milhões. Isso que dizer o que? Eles ganhavam muito dinheiro quando emprestavam recursos para Brasil, Argentina, países latino-americanos que pagavam aqueles juros absurdos. Como eles estão sem fonte de renda, eu acho que é meio pra defender o emprego.