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Mensagem
por jauro » Dom Mar 29, 2009 3:34 pm
Educação & Ciência
Um pelotão da natureza
Apesar do intenso treinamento militar na área, soldados do Exército que atuam no Campo de Instrução situado em Formosa preservam a flora e a fauna do cerrado com providências simples e cuidados especiais
JOSÉ ROBERTO LIMA
Há 39 anos uma área de 125 mil hectares, situada a 90 km de Brasília, próxima ao município de Formosa (GO), mantém-se praticamente intacta, com pelo menos 95% de vegetação preservados, enquanto no seu entorno as fazendas de soja, milho, alho e outros produtos agrícolas imprimem nos mapas fornecidos por satélites seus quadros homogêneos geometricamente delineados.
Desde que o governo federal desapropriou centenas de fazendas naquela área para que o Exército brasileiro estabelecesse ali o 6º Grupo de Lançadores Múltiplos de Foguetes/Campo de Instrução de Formosa, o espaço de pouco mais de 30 km de largura por 60 km de extensão, delimitado pelos rios Bezerra e Preto, pela BR-020, por arrendatários e pela lagoa Feia, teve poucas alterações.
Os exercícios de tiro com os lançadores de foguetes Astros, fabricados pela Avibras, são constantes e as manobras das tropas vindas de várias regiões do país não ocupam mais que 5% de toda área. Mesmo assim, quando realizados, são acompanhados de rigoroso monitoramento, com avaliação dos impactos ambientais ocorridos nas áreas atingidas pelas explosões ou pelo deslocamento de tropas.
O Exército tem consciência de que os treinamentos realizados nos seus campos de instrução interferem no meio ambiente. Por isso, enumera uma série de providências e cuidados especiais que garantem um grau tolerável de degradação ambiental, na maioria das vezes com resultados impressionantes de recuperação da própria natureza.
São providências simples como abastecer as viaturas em local afastado dos cursos d’água, não enterrar ou queimar lixo, fazer coleta seletiva e recolher os resíduos, empregar artefatos químicos em instalações apropriadas, utilizar trilhas e estradas para deslocamento de viaturas e de tropas, evitando as áreas com grande cobertura vegetal, não fazer camuflagem com espécies nativas, não detonar cargas explosivas embaixo d’água, não lavar viaturas nos cursos d’água e evitar ao máximo o uso de fogueiras.
Outros tipos de prevenção são postos em prática com resultados positivos, como a abertura de aceiros para evitar que o impacto das explosões ou das munições traçantes provoque incêndios.
Natureza intocada
Lagoas como a Grande, do Cedro, dos Veados, do Caboclo, Pestapé, Santo Inácio, dos Macacos e Bezerrinha permanecem intactas e perenes o ano todo, bem como os córregos da Areia, João Pires, Santo Inácio, dos Macacos, Buritizinho, da Erva, Jenipapo, São Lourenço, Olaria, Capitinga, Capoeira Grande, Fundo, Estiva, Santa Maria e Poço D’Antas, que serpenteiam toda a área alimentando os vários tipos de vegetação típica do cerrado. Nesses locais, normalmente, não ocorrem exercícios de tiro nem manobras, garantindo a integridade da flora e da fauna.
Frutíferas, como o araticum, o caju do cerrado, guariroba, marmelada, bacupari, ananás, coco xodó, fruta de cera, caroço de ema, mangaba, corriola, pequi, murici, pimenta de macaco e buriti, espalham-se por todo o campo, fazendo a festa da fauna local.
Sargento conhece a área como a palma da mão
Os resultados são visíveis ao longo de um dia de inspeção por algumas das áreas do campo de Formosa. Acompanhando o comandante do 6º GLMF/CIF, coronel Celso Luiz de Souza Lacerda, em um desses trabalhos de campo, estava o coronel Armênio Tadeu Flores, chefe da Assessoria de Meio Ambiente do Departamento de Engenharia e Construção do Exército, o tenente Alexandre, veterinário, e os sargentos Pozzebon, auxiliar de Relações Públicas do campo, e Dias, auxiliar de segurança.
O sargento Dias demonstra profundo conhecimento da fauna e da flora do cerrado, além de detalhar toda a história daquela área de treinamento. Enquanto avançava campo adentro, apontando áreas de nascentes de cursos d’água, lagoas e matas nativas, ele enumerava os bichos de maior ocorrência na região, como o caititu, o tamanduá colete, tamanduá bandeira, ariranha, tucano, micos, sussuarana, jaguatirica, anta, capivara, seriema, ema, carcará, corujão, veado campeiro, furão e uma sucuri que ele fez questão de mostrar as fotos.
Para o coronel Lacerda, o Campo de Instrução de Formosa é muito bem protegido e dificilmente sofrerá ações antrópicas externas. “Fazemos patrulhamento constantemente, inclusive com sobrevôo de helicóptero. Além disso, os habitantes da região sabem que se trata de uma área militar e respeitam”, relata o coronel.
Campos de instrução
O coronel Armênio adiantou que, em breve, o Campo de Instrução de Formosa irá contar com um veículo aéreo não tripulado (VANT), que o Instituto Militar de Engenharia (IME) e o Centro de Engenharia e Excelência em Transporte estão desenvolvendo. Será um equipamento de observação, dotado de moderno sistema de câmeras e navegação via GPS, nos moldes de um avião espião, embora com menos recursos, até porque o emprego será para outra finalidade.
Atualmente, o Exército conta com campos de instrução espalhados em várias região do país. Além do de Formosa (CIF), estão em funcionamento o de Barão de São Borja (CIBSB), em Rosário do Sul (RS); o de Butiá (CIB), em Butiá (RS); Rincão (CIR), em São Borja (RS); e Santa Maria (CISM), em Santa Maria (RS). Na região da Mata Atlântica estão os de Marechal Hermes (CIMH), em Três Barras (SC); de Gericinó (CIG), no Rio de Janeiro (RJ), de Juiz de Fora (CIF), em Juiz de Fora (MG); de Marechal Newton Cavalcanti (CIMNC), a cerca de 60 km do Recife; e o de Betione (CIBe), em Miranda (MS), ao sul do pantanal mato-grossense.
O Campo de Formosa conta com um efetivo de 500 homens em média e é o único que opera com os foguetes Astros.
"A disciplina militar prestante não se aprende senhor, sonhando e na fantasia, mas labutando e pelejando." (CAMÕES)
Jauro.