Marechal-do-ar escreveu:Vejo aqui uma "insistência" em usar o sonar de casco de corvetas e fragatas para a guerra anti-submarino, acontece que esse sonar é um outdoor de neon piscante bem grande e em forma de alvo escrito "atire em mim" quando visto pelo sonar do submarino, por que o uso desses meios hoje?
É verdade que sonares são verdadeiros faróis, indicando onde estão so navios que os utilizam. No meio do oceano aberto, com os submarinos podendo se aproximar por uma arco de pelo menos 180 graus e se esconder debaixo da termoclina, isso realmente é um problema, e os sonares em geral só são usados para dar uma solução de tiro final contra um sub que já foi detectado por outros meios.
Mas no caso em questão, de comboios em águas rasas rente à costa, a coisa é um pouco diferente. Primeiro porque o arco de aproximação possível tem 90 graus ou menos, ficando bem mais estreito. E segundo porque em profundidades pequenas não existe uma termoclina abaixo da qual o sub possa se esconder, e nem dá para a refração desviar as ondas sonoras, que ficam refletindo entre o fundo e a tona em amplitudes baixas enquanto se espalham. Nestas condições um submarino no alcance de detecção está "morto", não tem para onde escapar, e por isso nenhum comandante de sub vai se deixar colocar nesta situação apenas para tentar acertar navios mercantes ou uma simples corveta, e vai evitar se aproximar muito da fonte do sonar. Neste caso o sonar não funciona como um sensor, e sim como um "repelente", mantendo o inimigo a uma distância razoável.
Por outro lado, a presença do sonar ligado vai sim indicar para o comandante do sub ainda fora do alcance de detecção (que a rigor é um dado não conhecido mas que pode ser estimado) onde está o comboio inimigo, levando-o a se posicionar de forma a poder tentar um ataque se as condições forem favoráveis. E é exatamente nesta área, na estreita zona de aproximação e em alcances acima do de detecção do sonar do navio mas dentro da capacidade de escuta dos sub's, que as aeronaves AS baseadas em terra vão fazer as suas buscas. Fora daí elas podem simplesmente deixar os sub's para lá, pois eles estarão apenas gastando combustível e víveres à toa em patrulhas que não ameaçam ninguém. Esta restrição da área de busca para as aeronaves é importantíssima para um país com uma costa extensa como a nossa.
Resumindo, com seu sonar ligado o escolta em águas rasas funciona ao mesmo tempo como um uma "isca" e um "escudo", atraindo os sub’s inimigos para regiões onde podem ser caçados mais eficientemente e ao mesmo tempo tolhendo sua liberdade de ação.
É claro que esta tática também tem seus riscos, principalmente se o sub inimigo dispuser de torpedos realmente modernos, que tenham longo alcance e a capacidade de ter seu comportamento alterado de acordo com as circunstâncias. Neste caso ele poderia ficar patrulhando a uma distáncia maior da costa (várias dezenas de km), e quando detectasse as emanações do sonar dispararia seus torpedos não contra os navios em si (que a esta altura ainda estariam fora do alcance) e sim na direção perpendicular à linha da costa, para onde eles seguiriam em baixa velocidade. Desta forma eles se colocariam bem no caminho do comboio, quase como minas inteligentes, e somente quando os navios se aproximassem eles partiriam para sua corrida final em alta velocidade. É claro que nesta distância os torpedos são mais fáceis de serem enganados por alvos falsos, e se os defensores percebessem esta situação (torpedos surgindo no nada de repente, unto aos navios) também teriam uma boa idéia de onde procurar o sub. O risco é para os dois lados, e neste caso o valor do sub é maior que o dos alvos que eles estaria tentando atacar, o que deixa a vantagem com a defesa.
O que vejo no resto do mundo são veículos não tribulados fazendo essa função, submarinos, botes, helicópteros, dirigíveis, etc não tripulados que podem operar a uma distância segura da escolta, muito mais baratos que a escolta em si e com sensores suficientemente bons para águas rasas, e claro, se estiverem perto da costa, podem operar a partir de uma base em terra, que não pode ser afundada deixando o comboio vulnerável.
Acho completamente inviável e até desnecessário ter escoltas para poteger todo o nosso litoral e seria um grande erro se, para proteger mais o litoral, sacrificássemos a força ofensiva, que é o que acabaria com a guerra.
Na verdade o que se usa nesta tarefa hoje são aviões e helicópteros tripulados (e pode-se com vantagem usar dirigíveis também tripulados). Embarcações pequenas não tem tanta velocidade e nem autonomia para dar a cobertura contínua necessária, e até onde eu sei Vant’s capazes de lançar sonobóias, operar sonares rebocados e disparar torpedos AS ainda estão no máximo nas pranchetas de desenho. Além disso nenhum deles pode operar com eficiência em condições climáticas onde um navio ainda pode. E temos que lembrar que estes navios poderiam ainda cumprir outras funções, como apoiar os escoltas maiores em missões dentro do Atlântico Sul, prover interdição de superfície com seus mísseis Sup-Sup ou servir como ponto de apoio para helicópteros em patrulhas AS em águas não tão litorâneas assim, como na zona do pré-sal.
E sendo pequenos e relativamente baratos eles não põem um risco muito grande de afetarem os programas de escoltas maiores, necessários para outras funções.
Leandro G. Card