#233
Mensagem
por VICTOR » Ter Abr 20, 2004 9:59 am
OPINIÃO - Jornal de Brasilia
Momento de decisão
O governo Lula está prestes a tomar uma decisão definitiva sobre a licitação para compra de 12 caças que substituirão os Mirage, comprados em 1973 e já obsoletos. A decisão está nas mãos do presidente: bater o martelo logo, com base nos relatórios da Aeronáutica e da Comissão Interministerial que examinou as propostas, adiar mais uma vez o resultado, ou até mesmo cancelar a licitação. O Ministério da Defesa e o Comando da Aeronáutica, em manifestações oficiais, descartam tanto o adiamento, quanto o cancelamento, e não consideram que haja alternativas razoáveis à compra, como reformar a frota de Mirage ou comprar caças usados no mercado de armamentos. Mas, como deixou claro o ministro da Defesa, José Viegas, “a decisão é do presidente”.
No último dia 8, depois de audiência com o presidente Lula, Viegas afirmou que não trabalha com a hipótese de adiamento. “Já houve um adiamento e não há por que haver um segundo”, disse ele. Mas, segundo Viegas, não há como estabelecer prazos. “Espero que esse processo possa chegar à sua conclusão em algumas semanas”, afirmou – deixando claro que a decisão não será tomada este mês, como estava prevista. Há, no entanto, uma clara preocupação das áreas de Defesa, Comércio Exterior e Relações Exteriores com o impacto negativo de um novo adiamento, ou do simples cancelamento da licitação, iniciada em 1996.
O fato – atestam fontes das três áreas – é que uma decisão dessas, depois que os cinco grupos internacionais envolvidos no processo gastaram milhões de dólares para atender às demandas do governo brasileiro e trabalharam em suas propostas ao longo de sete anos, seria trágica para a imagem do País junto a investidores internacionais. Primeiro, porque há uma clara necessidade de reequipar a Força Aérea Brasileira, especialmente depois de inaugurado o Sivam. Em segundo lugar, porque seria uma sinalização negativa para investidores internacionais, que se envolveram na licitação direta ou indiretamente por confiarem no Brasil.
“Será difícil explicar como o Brasil, um País de dimensões continentais e a maior potência da América Latina, abandona um processo de licitação internacional iniciado há sete anos, quando países de menor expressão e com faixas territoriais bem menores compraram aviões recentemente – a África do Sul, por exemplo, comprou 28; a República Tcheca, 14; a Áustria, 18; e até o vizinho Chile, 10”, disse uma fonte do Ministério da Defesa. Para a mesma fonte, seria uma contradição tomar a decisão de não efetuar a compra, num momento em que o presidente investe pesado na imagem internacional do Brasil e na luta por uma vaga no Conselho de Defesa da ONU.
Tecnicamente, as análises indicam que o caça anglo-sueco Gripen é o mais qualificado levando-se em conta todos os indicadores, inclusive por ser o único de quarta geração. O Gripen foi o escolhido no governo FHC, mas, pela proximidade da eleição, foi feito o primeiro adiamento. O governo Lula pediu que as propostas fossem refeitas, promovendo o segundo adiamento, mas pouca coisa mudou: o Gripen continua sendo o mais cotado, seguido do russo Sukhoi, que melhorou sua proposta. O Mirage, da Embraer-Dassault, tem mais apoios políticos, mas foi descartado tecnicamente e considerado de alto risco.
O presidente Lula tem argumentos prontos para o caso de resolver tocar o processo adiante e descartar a proposta da Embraer-Dassault: seja qual for o vencedor, a decisão do presidente é que a Embraer participe de qualquer maneira do projeto FX. Os participantes, que já concordaram com a total transferência de tecnologia, inclusive dos códigos-fonte, não se opõem a que a Embraer participe pelo lado brasileiro. A Avibrás, parceira dos russos, e a VEM, empresa de engenharia da Varig, parceira dos anglo-suecos, teriam que fazer uma composição com a Embraer, o que todos admitem. O presidente Lula está convencido de que, assim, caem por terra os argumentos nacionalistas de que o projeto da Embraer-Dassault seja o vencedor. Que seja escolhido o melhor, e que o indicado trabalhe com a Embraer, é a decisão do governo.
As cartas estão lançadas. O processo se afunilou e só dois projetos continuam no páreo: o Gripen, anglo-sueco, e o Sukhoi, russo. Só falta marcar a reunião do Conselho de Defesa Nacional que analisaria os relatórios e orientaria a decisão do presidente Lula. A pressão é grande para que não haja uma decisão política, e sim técnica. Mas, primeiro, é preciso que o presidente decida se a compra será feita, e quando.
Fonte: Jornal de Brasilia, via Notimp