Reginaldo Bacchi escreveu:
O "Ogum" foi o projeto mais sem nexo feito pela ENGESA.
Bacchi
Meus caros felipexion e Túlio
Eu não quis dizer que o Ogum foi um mau projeto de engenharia.
Muito pelo contrario, foi um dos melhores trabalhos da engenharia da ENGESA!
Não só um bom trabalho como um trabalho extremamente rápido. O protótipo ficou pronto 3 meses após o começo do projeto!!!
O que eu sempre senti, foi que, no fundo ninguém sabia para o que servia o Ogum!
O pessoal que fazia o projeto muitas vezes trabalhava sem uma definição exata da finalidade do produto final.
A ideia do Ogum foi trazida pelo pessoal de vendas afirmando que o exército iraquiano queria um produto para substituir o Wiesel (que eles não tinham).
Quando o projeto começou, eu não tinha nenhum conhecimento do que era o Wiesel dentro da estrutura do exército alemão.
Com o tempo descobri uma série de coisas:
1. O Wiesel foi desenvolvido para mobiliar as tropas aero terrestres alemãs, servindo como veículo de reconhecimento e tembém como transporte do míssil anti carro guiado TOW;
2. Até aí morreu Neves. Podemos dizer que o Ogum poderia se encaixar nisto sem nenhum problema.
3. Mas, eu descobri mais coisas. Um dos principais requisitos era dele caber dentro de um helicóptero médio de transporte, cujas dimensões eram muito reduzidas.
A questão de ser sobre rodas ou sobre lagartas foi decidido por isto. Sobre rodas foi impossível se chegar às dimensões desejadas, ao passo que sobre lagartas o foi.
Ou seja, o que decidiu a questão foi a restrição a largura do veículo e não as melhores qualidades da roda sobre a lagarta ou vice versa.
Em suma, foi feito o projeto inicialmente com motor nacional Perkins e depois refinado com adoção de motor BMW turbo.
Fizemos várias demonstrações ao pessoal do Irak. Demonstrações empolgantes - só faltava o Ogum subir pelas paredes!!!
Depois de algum tempo acabaram declarando que não tinham serventia nenhuma para o Ogum, encerrando assim a tragi cômica carreira deste malfadado produto.
Este foi um dos muitos casos grotescos que eu assisti durante meus muitos anos de ENGESA.
Projetos que eram trazidos aos engenheiros de produtos da maneira mais leviana possível, sem nenhum documento que explicasse claramente o que se devia fazer, sem estabelecimento de metas, sem compromissos da parte do comprador - tudo na base do papo furado.
Eu vi vários casos grotescos semelhantes: o shrapnell, o Cascavel anti helicópteros, o Urutu lança chamas, o Cascavel meia lagarta etc etc etc.
Bacchi
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