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Mensagem
por Clermont » Ter Ago 26, 2008 3:05 pm
O PRÓXIMO PRESIDENTE IRÁ DESAPONTÁ-LO – Esqueçam as promessas; não há muita coisa que um presidente possa obter.
Por Andrew J. Bacevich – 24 de agosto de 2008 – The Los Angeles Times.
No dia da posse, um novo presidente dos Estados Unidos é um semi-deus, a encarnação de aspirações tão vastas quanto variadas. Com o passar dos anos que se seguem, o presidente, inevitavelmente, fracassa em satisfazer essas elevadas esperanças. Então, o ciclo recomeça de novo, e os americanos olham para o próximo ocupante do Salão Oval como aquele que irá desfazer os equívocos de seu predecessor e dar início a uma era de paz duradoura e de prosperidade sustentada.
Desta vez, as expectativas são um pouco mais altas do que o usual. O juvenil e carismático senador Barack Obama se apresenta como o porta-bandeira destes mais ansiosos para consertar Washington, redimir a América e salvar o mundo. “Sim, nós podemos”, o proclama o bordão de Obama, convidando os apoiadores a completar o pensamento, inserindo seus mais ardentes desejos. Sim, nós podemos: trazer a paz ao Oriente Médio; reverter o aquecimento global; ganhar a guerra global contra o terrorismo.
Da mesma forma, a campanha do senador John McCain também não tem se esquivado de forjar grandes expectativas. Falando no início deste mês, enquanto a maioria dos americanos estava intranqüila sobre o custo do petróleo, McCain desvendou uma de suas patenteadas promessas sem enrolação: “Eu vou liderar nossa nação rumo à independência energética”. De acordo com o que McCain deseja nos fazer acreditar, você pode botar fé.
Irá o próximo presidente, realmente, trazer a Grande Mudança? Não coloque suas esperanças nisto.
Independente de quem vá ganhar em 4 de novembro, nós devemos esfriar nossas expectativas sobre aquilo que o sucessor de George W. Bush irá conseguir, especialmente, em política externa.
Na realidade, presidentes não fazem política; administrações, sim. Julgando o quadro de assessores que ambos recrutaram, nenhum candidato demonstra muita afinidade com pensadores fora das panelinhas. O “grupo de trabalho de segurança nacional” de Obama, por exemplo, consiste, principalmente, dos cavalos de guerra democratas, incluindo os antigos secretários de estado, Madeleine Albright e Warren Christopher e o antigo conselheiro de segurança nacional Anthony Lake – um grupo que não é jovem, nem carismático e não é conhecido por pensamento inovador.
A equipe de segurança nacional de McCain se caracteriza por uma forte presença neoconservadora, incluindo especialistas como Max Boot e Robert Kagan, juntamente com falcões de Washington como Randy Scheunemann e James Woolseley. Todos figuraram proeminentemente entre os advogados da invasão do Iraque; nenhum deles ainda se arrependeu. Agentes da mudança? Provavelmente, não, a não ser que cair em cima do Irã seja qualificado como pensamento criativo.
A própria estrutura da política americana impõe suas próprias restrições. Mesmo com toda influência que os presidentes tem incorporado, desde a Segunda Guerra Mundial, suas prerrogativas permanecem limitadas. Um presidente McCain irá, quase com certeza, encarar um Congresso de maioria Democrata, portanto, obstrucionista. Um presidente Obama, mesmo se o seu partido controlar o Senado e a Casa, não irá gozar de muito mais latitude, especialmente quando se trata das três áreas nas quais a mão morta do passado pesa mais: a política de defesa, a política energética e o processo de paz árabe-israelense. O complexo industrial-militar irá inibir os esforços para conter a afinidade do Pentágono pelo desperdício. Detroit e o The Big Oil irão conspirar para prolongar a era do consumo desmedido de gasolina. E o lobby de Israel irá se opor a tentativas de estabelecer um novo curso no Oriente Médio. Se o passado fornece qualquer indicação, os advogados do status quo irão montar uma defesa tenaz.
E também há a questão do crescente distanciamento entre o poder americano e as exigências do exercício da liderança global.
Os limites do poder americano são mais, obviamente aparentes, no reino dos assuntos militares. Para McCain, o Iraque permanece sendo a frente central na guerra ao terrorismo, e ele irá ficar por lá o tempo que for preciso para vencer. A frente central de Obama é o Afeganistão, e ele quer reforçar o empenho americano, lá. Sua discordância mascara um problema mais fundamental: o próximo comandante-chefe irá herdar uma intratável carência de tropa. Os Estados Unidos, hoje, se encontram com guerras demais e guerreiros de menos. Isso, somente, irá constranger um presidente de conduzir dois conflitos simultaneamente.
A crise vindoura de débito e dependência irá, da mesma forma, atar as mãos do presidente. De forma obtusa, os Estados Undios, tem de há muito, vivido além de seus meios. Com os americanos importando mais do que 60 porcento do petróleo que consomem; o balanço comercial negativo, agora, de cerca $ 800 bilhões anuais; o déficit federal em nível recorde e a dívida nacional, aproximando-se de $ 10 trilhões, com tudo isso, os Estados Unidos encaram uma urgente necessidade de conter suas tendências extravagantes. Gastar menos (e economizar mais) implica em almejar menos. Porém, entre os temas de campanha promovidos, igualmente, por McCain e Obama, apelos por um aperto de cintos nacional, estão emudecidos.
Acima de tudo, existe isto; o restante do mundo não mais irá marchar sob as ordens de Washington, não importa quem seja o próximo presidente, ano que vem. Os governos irão responder à conselhos, ameaças ou bajulações americanas, até ao ponto exato em que isto sirva aos interesses deles, e nada mais. Isto, somente, restringirá, agudamente, o que o sucessor de Bush será capaz de realizar, seja ao lidar com aliados, como Israel e Paquistão, ou com adversários, como o Irã e a Coréia do Norte.
Irá o tom da diplomacia americana, seja sob um presidente Obama ou um presidente McCain, diferir deste que temos visto nos últimos sete anos? Sim, e, provavelmente, de maneiras que a maioria das nações – e muitos americanos – irão saudar. Mas não importa o quanto de carisma ou conversa franca emane da Casa Branca, o mundo irá permanecer, obstinadamente, intratável.
Em questões de substância, a Grande Mudança irá permanecer ilusória. O próximo presidente irá deixar sua própria marca na política dos Estados Unidos. Apenas, ela não irá ser tão distinta ou dramática quanto os mais entusiastas apoiadores de Obama ou McCain tem comentado ou esperado.
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Andrew. J. Bacevich, um professor de história e relações internacionais na Universidade de Boston, é o autor do novo livro “The Limits of Power: The End of American Exceptionalism.