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Re: GEOPOLÍTICA
Enviado: Ter Jul 15, 2008 10:13 am
por Marino
Nós e a guerra
Dada a nossa debilidade militar, não há muito que possamos fazer além de trabalhar dia e noite para eliminar os focos de tensão regional e avançar na integração política, econômica e militar
Por Alon Feuerwerker
A recente reaproximação entre os presidentes da Venezuela, Hugo Chávez, e da Colômbia, Álvaro Uribe, deita raízes num conflito iminente, ainda que geograficamente distante. A possibilidade de um ataque israelense ao Irã, com o objetivo de eliminar a suposta ameaça nuclear persa, deixa Chávez em situação militarmente exposta. No hipotético cenário internacional em que os Estados Unidos dariam apoio a uma ofensiva bélica de Israel contra Teerã, a neutralização do principal aliado sul-americano do regime dos aiatolás certamente seria tratada por Washington como uma operação de custo colateral reduzido e capaz de trazer bem mais ganhos do que perdas.
Especialmente se fosse realizada não diretamente pelas forças da Casa Branca, mas por um aliado regional, a Colômbia — ainda que com suporte do Pentágono. Não é segredo que os Estados Unidos controlam hoje a infra-estrutura de inteligência das Forças Armadas colombianas. A razão pretextada é o conflito com as guerrilhas das Farc. O motivo mais profundo é o desejo (ou necessidade) dos americanos de adotarem aqui posição militar compatível com o potencial energético da região.
Os Estados Unidos não podem se dar ao luxo de abrir mão do petróleo de Caracas. Ainda mais se sobrevier um quadro de incerteza em relação ao produto iraniano. Mais inaceitável ainda seria para Washington assistir passivamente a eventuais especulações sobre um elo nuclear dos venezuelanos com os iranianos. E como o útil sempre pode ser unido ao agradável, os recentes movimentos militares de Washington alcançam um alvo adicional: as recentes descobertas que projetam a plataforma continental brasileira como um gigantesco depósito de óleo e gás.
Voltando às relações Bogotá-Caracas, é nesse temor de uma possível intervenção americana que devem ser buscadas as razões de Chávez ter se enfiado na empreitada de buscar saídas políticas para a guerra civil no vizinho. Adversário da guerra de guerrilhas (não esquecer a origem militar de Chávez), há tempos o venezuelano percebeu que o conflito colombiano seria o pretexto perfeito para justificar um ataque ao regime bolivariano. Mas as inciativas venezuelanas não têm dado muito certo. Como nem Uribe nem George W. Bush desejam fortalecer Chávez, a prioridade de ambos é fechar as portas a qualquer solução diferente da rendição incondicional das Farc. Os fatos dos últimos seis meses não deixam dúvida.
O recente enfraquecimento das Farc, por seu lado, coloca Uribe diante de um outro problema: o força excessiva recentemente adquirida por seus falcões, especialmente o ministro da Defesa, candidato declarado a sucedê-lo. E o melhor sinal de que nem tudo são flores para as forças de direita no cenário político colombiano é o ajuste que a ex-refém Ingrid Bettancourt operou em seu discurso, incorporando um vetor social e negociador capaz de alavancá-la como alternativa ao uribismo puro e duro. Daí que se achegar a Hugo Chávez tenha se transformado, inesperadamente, num bom negócio para Álvaro Uribe.
E nós com tudo isso? Bem, parece que não há muita divergência quanto à tragédia geopolítica que uma intervenção militar norte-americana na América do Sul representaria para o Brasil. Por outro lado, dada a nossa debilidade militar, não há muito que possamos fazer além de trabalhar dia e noite para eliminar os focos de tensão regional e avançar na integração política, econômica e militar. Integração que não será possível num quadro de guerra, quente ou fria. Daí que para o Brasil a reaproximação Chávez-Uribe também seja um bom negócio.
O governo Luiz Inácio Lula da Silva vive desde o início uma lua-de-mel com a administração Bush, já que o Brasil governado pelo PT em nenhum momento se apresenta como ameaça aos interesses estratégicos dos Estados Unidos na América do Sul. E essa boa relação entre Brasília e Washington é um alicerce fundamental da estabilidade democrática regional. Que por sua vez é o elemento sine qua non para o avanço político pacífico dos projetos político-eleitorais de viés dito progressista.
Re: GEOPOLÍTICA
Enviado: Ter Jul 15, 2008 10:14 am
por GustavoB
Acho que é até redundante explicar que na questão energética o Brasil está no rumo certo.
Penso apenas que de tudo que se fala hoje, Guerra do Golfo, Guerra do Iraque, Perigo Amarelo, terrorismo, Irã, blá-blá-blá, tudo isso se resume em manter lucrativa a indústria de petróleo norte-americana. Não esqueçam, começou com Bush Pai no longínquo 1989.
Talvez agora vivamos um momento de inflexão, quando os EUA estão prestes a reconhecer que o Iraque foi um fiasco. Como mexer com o Irã é cutucar a Rússia, acredito que há uma boa probabilidade de o Brasil estar entre os próximos alvos da política externa norte-americana, tanto pela questão da Amazônia, quanto pelo petróleo e pela importância que ganhou o Atlântico Sul.
Bem, até lá há bastante tempo para especulações... mas há também para pragmatismo.
Sds.
Re: GEOPOLÍTICA
Enviado: Ter Jul 15, 2008 10:28 am
por GustavoB
Muito claro esse texto, caríssimo Marino, não deu pra postar antes. Existe um ponto, porém, que não foi levantado: se as FARC abrandarem e os países da região endurecerem contra o narcotráfico, qual será a justificativa para a presença militar dos EUA na Colômbia e da 4ª Frota?
E, talvez o mais importante:
essa boa relação entre Brasília e Washington é um alicerce fundamental da estabilidade democrática regional. Que por sua vez é o elemento sine qua non para o avanço político pacífico dos projetos político-eleitorais de viés dito progressista.
Re: GEOPOLÍTICA
Enviado: Ter Jul 15, 2008 10:37 am
por Marino
A 4º Frota, a meu ver, tem funções muito claras:
- manter abertas as LCM do AS, principalmente com a crise que se aproxima do Golfo;
- controlar o AS, junto com a 2ª Frota, africana, no momento em que se descobrem imensas reservas de petróleo no AS e os países produtores da costa leste africana ganham importância, como Nigéria e Angola. O Golfo da Guiné será a próxima região "pré-sal"; e
- garantir que se os EUA quiserem, como não assinantes da Convenção da Jamaica, colocam suas plataformas em "águas internacionais" e extraem o petróleo que queiram.
Chavez e companhia são café pequeno.
Re: GEOPOLÍTICA
Enviado: Ter Jul 15, 2008 10:53 am
por Tigershark
Concordo contigo,Marino,em quase tudo.Não sou ingênuo,sei que é possível acontecer,mas acho pouco provável a extração de petróleo em "águas internacionais",o problema político seria imenso,seja onde for.
Re: GEOPOLÍTICA
Enviado: Ter Jul 15, 2008 12:41 pm
por EDSON
Marino escreveu:A 4º Frota, a meu ver, tem funções muito claras:
- manter abertas as LCM do AS, principalmente com a crise que se aproxima do Golfo;
- controlar o AS, junto com a 2ª Frota, africana, no momento em que se descobrem imensas reservas de petróleo no AS e os países produtores da costa leste africana ganham importância, como Nigéria e Angola. O Golfo da Guiné será a próxima região "pré-sal"; e
- garantir que se os EUA quiserem, como não assinantes da Convenção da Jamaica, colocam suas plataformas em "águas internacionais" e extraem o petróleo que queiram.
Chavez e companhia são café pequeno.
Submarino nuclear jjjjaaáa.
Re: GEOPOLÍTICA
Enviado: Ter Jul 15, 2008 1:22 pm
por cabeça de martelo
Só um? Tem que ser uma classe de SNB.
Re: GEOPOLÍTICA
Enviado: Ter Jul 15, 2008 3:15 pm
por soultrain
Re: GEOPOLÍTICA
Enviado: Ter Jul 15, 2008 3:55 pm
por Vinicius Pimenta
Recomendo também o novo artigo do DB sobre a política por trás do Escudo antimísseis:
http://defesabrasil.com/site/index.php/ ... dutos.html
Re: GEOPOLÍTICA
Enviado: Ter Jul 15, 2008 4:42 pm
por EDSON
cabeça de martelo escreveu:Só um? Tem que ser uma classe de SNB.
Calma não seja apressadinho.
Re: GEOPOLÍTICA
Enviado: Sáb Jul 19, 2008 12:25 pm
por Penguin
http://www.fab.mil.br/portal/capa/index ... a_notimpol
19/07/2008
Direto da fonte ::
Pra Chávez ver
Sonia Racy
Jornais colombianos deram destaque, ontem, a um “acordo Militar e de manobras conjuntas” entre Brasil e Colômbia. A ser assinado no domingo, em Bogotá, por Lula e Álvaro Uribe.
Por aqui, o Planalto trata do assunto em tom misterioso.Informa apenas que os dois presidentes vão falar de “questões de fronteira com ênfase na segurança”.
---------------------
Conexão diplomática ::
Fronteira geminada
Silvio Queiroz
As cidades gêmeas de Tabatinga, no Amazonas brasileiro, e Letícia, no Amazonas colombiano, são candidatas naturais a abrigar a base militar conjunta que os dois países planejam instalar na fronteira — que se estende por 1.500km de selva, mas ali consiste de um marco quase invisível na calçada de uma avenida de trânsito livre. Tabatinga já viveu como satélite da vizinha, para onde iam, 30 anos atrás, os militares brasileiros “exilados” no acanhado batalhão de fronteira, sem telefone, televisão ou diversão alguma. A guarnição e a cidade cresceram e “abraçaram” a irmã colombiana, que já esteve na mira das Farc, mas hoje sedia um importante comando aeronaval.
A iniciativa pode ser oficializada amanhã, quando os presidentes Lula e Álvaro Uribe assistirão em Letícia às solenidades do Dia Nacional da Colômbia. A conveniência não é apenas prática, ao menos do ponto de vista brasileiro. Se a guerrilha parece hoje uma ameaça distante, a cocaína está mais perto do que nunca. Pior, em março último o Exército localizou e destruiu na área de Tabatinga, pela primeira vez em solo brasileiro, uma plantação de coca (foto) com laboratório rudimentar para produção da pasta-base. Não é preciso um recenseamento carcerário no Amazonas para constatar que a população de narcotraficantes cresce, inclusive com expressiva “imigração” colombiana.
Fecha a cerca
Da perspectiva colombiana, a base conjunta representa um passo a mais no assédio final às Farc, que a ofensiva militar do governo Uribe empurrou em direção à fronteira. Militares e policiais do Brasil, Equador, Peru e Venezuela sempre disseram, reservadamente, que do lado colombiano viam apenas a guerrilha — quando viam alguém fardado. Mas Tabatinga-Letícia já sediou manobras aéreas conjuntas, e um dos acordos que Lula e Uribe devem assinar é justamente de cooperação militar. Contemplaria até o estabelecimento de postos conjuntos por toda a fronteira, possivelmente a partir dos pelotões que o Brasil já mantém nos principais rios que unem os dois países.
Gringo na área
A região foi citada, no início do ano, em um documento anual do Departamento de Estado norte-americano sobre estratégia de combate ao narcotráfico no país. “Os programas bilaterais EUA-Brasil enfatizam o estabelecimento de operações como os centros conjuntos de inteligência instalados em Tabatinga”, diz o texto. É explícita também a recomendação para que agentes da DEA (agência antidrogas) e “outros órgãos do governo americano” continuem investindo no treinamento e capacitação dos policiais brasileiros em regiões críticas. Mas, como é comum também do lado colombiano, a presença dos gringos na área é tão invisível quanto os marcos de fronteira.
=================================
http://www.mre.gov.br/portugues/noticia ... NHA=473112
Título:
EUA querem aproximar Brasil e Colômbia
Data:
10/07/2008
Crédito: Andrea Murta, da redação
Andrea Murta, da redação
Thomas Shannon, chefe da diplomacia americana na região, diz que relação forte entre os dois países é importante para o continente
Diplomata se cala sobre 3º mandato de Uribe, alega que 4ª Frota não terá papel ofensivo e se opõe a diálogo com as Farc como grupo
Poucas horas após chegar de uma visita a Bogotá, o secretário-adjunto de Estado dos EUA para o Hemisfério Ocidental, Thomas Shannon, deixou no ar um recado ao Brasil: é chegado o momento de fortalecer relações com a Colômbia.
"A visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à Colômbia [nos dias 18 a 20 próximos] vai ser bastante importante para o Brasil e para Bogotá. De todos os países da América do Sul, talvez a relação do Brasil com a Colômbia seja a menos desenvolvida, por razões históricas e pelo isolamento que a Colômbia sofreu por muitos anos devido à sua luta interna", disse Shannon em entrevista ontem em São Paulo.
Exibindo pulseira com as cores nacionais colombianas no braço direito, o secretário-adjunto afirmou que a "Colômbia representa hoje um aspecto muito importante do futuro da América do Sul", por seu "êxito na política de segurança democrática" e pela busca de relações comerciais globais. "Uma forte relação entre Brasil e Colômbia seria importante para todo o continente."
Shannon não foi o único a lembrar a percepção de frieza entre os dois países após o resgate, na semana passada, de 15 reféns das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) pelo Exército colombiano. A reação do Brasil à ação foi tida como mais discreta do que a dos demais países da região -Lula pediu que o chanceler Celso Amorim cumprimentasse o governo colombiano.
Sobre as Farc, o diplomata disse que seu governo não se opõe a negociações com o grupo, apesar de os EUA tradicionalmente serem contra contatos com organizações que considera terroristas. "Não somos contra negociações, somos contra concessões. Somos realistas", disse.
Mas ele defendeu que a Colômbia negocie com as Farc da mesma maneira que negociou, pelo menos oficialmente, com os grupos paramilitares de direita, que concordaram em se desmobilizar em 2005. "Não há um processo de paz que os reconhece como iguais. Os paramilitares têm que se submeter ao Estado e à Justiça. E os membros têm que se reintegrar à sociedade como indivíduos, não como bloco. Pode ser feito o mesmo com as Farc."
Terceiro mandato
Shannon evitou condenar a possibilidade de Uribe concorrer a um terceiro mandato consecutivo, como vêm pleiteando seus partidários. "É um assunto supersensível e interno da Colômbia. Seria um erro da parte dos EUA expressar uma opinião antes que os próprios colombianos possam discuti-lo."
Ele lembrou também o impacto político forte que o resgate da ex-candidata à Presidência da Colômbia, Ingrid Betancourt, teve no país. A popular ex-refém tende a se alinhar à esquerda de Uribe e tem potencial para alterar o cenário local.
"Com a capacidade do governo [Uribe] de eliminar os paramilitares, de marginalizar o ELN [Exército de Libertação Nacional] e de golpear fortemente as Farc, se abre mais espaço político no país. Algum líder vai ocupar esse espaço", diagnosticou. Ele afirma, porém, que ainda é cedo para avaliar o papel futuro de Ingrid.
Quarta Frota
Shannon abordou ainda um assunto que vêm tirando o sono de governos latinos: a reativação da Quarta Frota da Marinha dos EUA, a partir do próximo sábado, para defender interesses americanos nas águas da América do Sul e do Caribe.
Para o secretário-adjunto, a reativação é uma questão administrativa. "As embarcações que operam ao redor das Américas não mudam. A Quarta Frota não tem capacidade ofensiva, não tem porta-aviões nem submarinos. O trabalho local continua o mesmo, que é principalmente de ajuda humanitária e interdição de tráfico de drogas e pessoas."
Ele garante ainda que haverá respeito às águas nacionais. "Não nos interessa e não temos razões para navegar em rios ou áreas litorâneas onde o mar pertence a um Estado."
Para reforçar a resposta americana, além de Shannon o Embaixador dos EUA no Brasil, Clifford M. Sobel, falou sobre a Quarta Frota ontem aos senadores Pedro Simon (PMDB-RS), Eduardo Suplicy (PT-SP), Cristovam Buarque (PDT-DF) e João Pedro (PT-AM).
Shannon manifestou otimismo com a relação entre os EUA e a América Latina. Elogiou até o venezuelano Hugo Chávez: "Ele disse a nosso embaixador na Venezuela que sente falta dos cafés da manhã que tinham juntos. Isso para nós é muito bem vindo".
Re: GEOPOLÍTICA
Enviado: Sáb Jul 19, 2008 7:16 pm
por EDSON
19/07/2008 - 18h57
Uribe anuncia entrada da Colômbia no Conselho de Segurança da Unasul
Bogotá, 19 jul (EFE).- O presidente da Colômbia, Ã?lvaro Uribe, anunciou hoje a decisão de incluir seu paÃs no Conselho de Segurança da União de Nações Sul-americanas (Unasul).
"A decisão comunicada pela Colômbia hoje é (a de) ingressar no Conselho de Segurança da América do Sul", disse Uribe em entrevista coletiva concedida junto com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que está em visita oficial no paÃs.
Uribe explicou que as preocupações que seu paÃs tinha quanto à criação de um conselho regional de segurança ficaram para trás hoje, em consultas com a governante chilena, Michelle Bachelet, que exerce a Presidência rotativa da Unasul.
Em 23 de maio, na cúpula que instituiu a Unasul em BrasÃlia, a Colômbia foi contra a criação de um Conselho de Segurança dentro da nova comunidade de nações, ao alegar que enfrentava ameaças "de terrorismo e as derivações conhecidas" de um problema desse tipo.
No entanto, Uribe aceitou que a Colômbia formasse um grupo de estudo sobre a criação do conselho regional, que é uma iniciativa do Brasil.
"Temos uma vocação integracionista", assegurou o governante colombiano, ao defender que "as decisões têm de ser tomadas em consenso".
A este respeito, Uribe disse que na declaração de princÃpios do Conselho de Segurança da Unasul "deve haver uma rejeição total aos grupos violentos, qualquer que seja sua origem".
Além disso, nela "devem ser reconhecidas somente as forças institucionais dos paÃses signatários", acrescentou Uribe, ao fazer referência à s 12 nações sul-americanas, todas elas integrantes da Unasul.
"Pudemos contar com a compreensão do presidente Lula, com a compreensão da presidente Bachelet, e, devido a esta compreensão que encontramos, então a decisão comunicada pela Colômbia hoje é (a de) ingressar no Conselho de Segurança da América do Sul", afirmou o governante do paÃs andino.
Uribe divulgou sua decisão na granja presidencial de Hato Grande, localizada perto de Bogotá, ao término de uma reunião de trabalho com Lula, que chegou à Colômbia na sexta-feira à noite, para uma visita oficial que terminará amanhã.
Na mesma conferência, o chefe de Estado colombiano disse que os assuntos relativos à defesa regional foram abordados na reunião binacional "como um componente da Comunidade Sul-Americana".
Re: GEOPOLÍTICA
Enviado: Sáb Jul 19, 2008 7:25 pm
por Penguin
Santiago escreveu:http://www.fab.mil.br/portal/capa/index ... a_notimpol
19/07/2008
Direto da fonte ::
Pra Chávez ver
Sonia Racy
Jornais colombianos deram destaque, ontem, a um “acordo Militar e de manobras conjuntas” entre Brasil e Colômbia. A ser assinado no domingo, em Bogotá, por Lula e Álvaro Uribe.
Por aqui, o Planalto trata do assunto em tom misterioso.Informa apenas que os dois presidentes vão falar de “questões de fronteira com ênfase na segurança”.
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Conexão diplomática ::
Fronteira geminada
Silvio Queiroz
As cidades gêmeas de Tabatinga, no Amazonas brasileiro, e Letícia, no Amazonas colombiano, são candidatas naturais a abrigar a base militar conjunta que os dois países planejam instalar na fronteira — que se estende por 1.500km de selva, mas ali consiste de um marco quase invisível na calçada de uma avenida de trânsito livre. Tabatinga já viveu como satélite da vizinha, para onde iam, 30 anos atrás, os militares brasileiros “exilados” no acanhado batalhão de fronteira, sem telefone, televisão ou diversão alguma. A guarnição e a cidade cresceram e “abraçaram” a irmã colombiana, que já esteve na mira das Farc, mas hoje sedia um importante comando aeronaval.
A iniciativa pode ser oficializada amanhã, quando os presidentes Lula e Álvaro Uribe assistirão em Letícia às solenidades do Dia Nacional da Colômbia. A conveniência não é apenas prática, ao menos do ponto de vista brasileiro. Se a guerrilha parece hoje uma ameaça distante, a cocaína está mais perto do que nunca. Pior, em março último o Exército localizou e destruiu na área de Tabatinga, pela primeira vez em solo brasileiro, uma plantação de coca (foto) com laboratório rudimentar para produção da pasta-base. Não é preciso um recenseamento carcerário no Amazonas para constatar que a população de narcotraficantes cresce, inclusive com expressiva “imigração” colombiana.
Fecha a cerca
Da perspectiva colombiana, a base conjunta representa um passo a mais no assédio final às Farc, que a ofensiva militar do governo Uribe empurrou em direção à fronteira. Militares e policiais do Brasil, Equador, Peru e Venezuela sempre disseram, reservadamente, que do lado colombiano viam apenas a guerrilha — quando viam alguém fardado. Mas Tabatinga-Letícia já sediou manobras aéreas conjuntas, e um dos acordos que Lula e Uribe devem assinar é justamente de cooperação militar. Contemplaria até o estabelecimento de postos conjuntos por toda a fronteira, possivelmente a partir dos pelotões que o Brasil já mantém nos principais rios que unem os dois países.
Gringo na área
A região foi citada, no início do ano, em um documento anual do Departamento de Estado norte-americano sobre estratégia de combate ao narcotráfico no país. “Os programas bilaterais EUA-Brasil enfatizam o estabelecimento de operações como os centros conjuntos de inteligência instalados em Tabatinga”, diz o texto. É explícita também a recomendação para que agentes da DEA (agência antidrogas) e “outros órgãos do governo americano” continuem investindo no treinamento e capacitação dos policiais brasileiros em regiões críticas. Mas, como é comum também do lado colombiano, a presença dos gringos na área é tão invisível quanto os marcos de fronteira.
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http://www.mre.gov.br/portugues/noticia ... NHA=473112
Título:
EUA querem aproximar Brasil e Colômbia
Data:
10/07/2008
Crédito: Andrea Murta, da redação
Andrea Murta, da redação
Thomas Shannon, chefe da diplomacia americana na região, diz que relação forte entre os dois países é importante para o continente
Diplomata se cala sobre 3º mandato de Uribe, alega que 4ª Frota não terá papel ofensivo e se opõe a diálogo com as Farc como grupo
Poucas horas após chegar de uma visita a Bogotá, o secretário-adjunto de Estado dos EUA para o Hemisfério Ocidental, Thomas Shannon, deixou no ar um recado ao Brasil: é chegado o momento de fortalecer relações com a Colômbia.
"A visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à Colômbia [nos dias 18 a 20 próximos] vai ser bastante importante para o Brasil e para Bogotá. De todos os países da América do Sul, talvez a relação do Brasil com a Colômbia seja a menos desenvolvida, por razões históricas e pelo isolamento que a Colômbia sofreu por muitos anos devido à sua luta interna", disse Shannon em entrevista ontem em São Paulo.
Exibindo pulseira com as cores nacionais colombianas no braço direito, o secretário-adjunto afirmou que a "Colômbia representa hoje um aspecto muito importante do futuro da América do Sul", por seu "êxito na política de segurança democrática" e pela busca de relações comerciais globais. "Uma forte relação entre Brasil e Colômbia seria importante para todo o continente."
Shannon não foi o único a lembrar a percepção de frieza entre os dois países após o resgate, na semana passada, de 15 reféns das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) pelo Exército colombiano. A reação do Brasil à ação foi tida como mais discreta do que a dos demais países da região -Lula pediu que o chanceler Celso Amorim cumprimentasse o governo colombiano.
Sobre as Farc, o diplomata disse que seu governo não se opõe a negociações com o grupo, apesar de os EUA tradicionalmente serem contra contatos com organizações que considera terroristas. "Não somos contra negociações, somos contra concessões. Somos realistas", disse.
Mas ele defendeu que a Colômbia negocie com as Farc da mesma maneira que negociou, pelo menos oficialmente, com os grupos paramilitares de direita, que concordaram em se desmobilizar em 2005. "Não há um processo de paz que os reconhece como iguais. Os paramilitares têm que se submeter ao Estado e à Justiça. E os membros têm que se reintegrar à sociedade como indivíduos, não como bloco. Pode ser feito o mesmo com as Farc."
Terceiro mandato
Shannon evitou condenar a possibilidade de Uribe concorrer a um terceiro mandato consecutivo, como vêm pleiteando seus partidários. "É um assunto supersensível e interno da Colômbia. Seria um erro da parte dos EUA expressar uma opinião antes que os próprios colombianos possam discuti-lo."
Ele lembrou também o impacto político forte que o resgate da ex-candidata à Presidência da Colômbia, Ingrid Betancourt, teve no país. A popular ex-refém tende a se alinhar à esquerda de Uribe e tem potencial para alterar o cenário local.
"Com a capacidade do governo [Uribe] de eliminar os paramilitares, de marginalizar o ELN [Exército de Libertação Nacional] e de golpear fortemente as Farc, se abre mais espaço político no país. Algum líder vai ocupar esse espaço", diagnosticou. Ele afirma, porém, que ainda é cedo para avaliar o papel futuro de Ingrid.
Quarta Frota
Shannon abordou ainda um assunto que vêm tirando o sono de governos latinos: a reativação da Quarta Frota da Marinha dos EUA, a partir do próximo sábado, para defender interesses americanos nas águas da América do Sul e do Caribe.
Para o secretário-adjunto, a reativação é uma questão administrativa. "As embarcações que operam ao redor das Américas não mudam. A Quarta Frota não tem capacidade ofensiva, não tem porta-aviões nem submarinos. O trabalho local continua o mesmo, que é principalmente de ajuda humanitária e interdição de tráfico de drogas e pessoas."
Ele garante ainda que haverá respeito às águas nacionais. "Não nos interessa e não temos razões para navegar em rios ou áreas litorâneas onde o mar pertence a um Estado."
Para reforçar a resposta americana, além de Shannon o Embaixador dos EUA no Brasil, Clifford M. Sobel, falou sobre a Quarta Frota ontem aos senadores Pedro Simon (PMDB-RS), Eduardo Suplicy (PT-SP), Cristovam Buarque (PDT-DF) e João Pedro (PT-AM).
Shannon manifestou otimismo com a relação entre os EUA e a América Latina. Elogiou até o venezuelano Hugo Chávez: "Ele disse a nosso embaixador na Venezuela que sente falta dos cafés da manhã que tinham juntos. Isso para nós é muito bem vindo".
19/07/2008 - 16h03
http://economia.uol.com.br/ultnot/2008/ ... 60942.jhtm
Lula oferece a Uribe aliança no setor de biocombustíveis
BOGOTA, 19 Jul 2008 (AFP) - O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, ofereceu neste sábado em Bogotá uma aliança com a Colômbia no setor de biocombustíveis, e destacou o aumento dos investimentos brasileiros no país vizinho.
"O Brasil deseja cooperar como aliado com a Colômbia na área de biocombustíveis", disse Lula ao inaugurar, ao lado do presidente Alvaro Uribe, um encontro de empresários das duas nações.
"Nossos países possuem grande potencial nesse campo e podem mostrar ao mundo, com exemplos práticos, as numerosas vantagens desses combustíveis limpos e renováveis", acrescentou; o presidente brasileiro fica na Colômbia até amanhã, domingo, em visita oficial.
Brasil e Colômbia são, nessa ordem, os principais produtores de biocombustíveis na América Latina.
Lula também destacou o aumento dos investimentos brasileiros e os negócios com a Colômbia, referindo-se em particular à construção de uma linha de trem para o transporte de carvão e a participação da estatal Empresa Colombiana de Petróleos (Ecopetrol) em projetos de exploração no Brasil.
"O Brasil financia integralmente a participação de suas empresas na construção da estrada de ferro de Carare para transportar carvão de alta qualidade", afirmou, lembrando também que a "Ecopetrol assinou seis contratos com a Agência Nacional de Petróleo para a exploração no Brasil junto com a Petrobras".
Uribe pediu a Lula aumentar os investimentos em seu país, mencionando projetos como a construção de uma estrada que ligaria o litoral do Atlântico ao Pacífico colombiano.
"Estamos muito agradecidos com os investimentos brasileiros na Colômbia, que são importantes. Nosso povo os vem recebendo com entusiasmo. Mas precisamos muito mais", afirmou Uribe no mesmo ato.
Destacou que, para isso, seu governo introduziu "incentivos tributários muito importantes voltados para os investidores". "Hoje, a lei colombiana autoriza os investidores a firmarem acordos de até 20 anos com o governo. E estamos avançando nos acordos de comércio", destacou.
UOL Celular
Re: GEOPOLÍTICA
Enviado: Dom Jul 20, 2008 3:47 am
por pafuncio
Um detalhe importante. A Colômbia já é importante produtora de biocombustíveis.
E li que os maiores rendimentos de cana de açúcar, no mundo, estão na Colômbia e no Peru (
), apesar de toda a tecnologia acumulada aqui no Brasil.
Transferimos nossa tecnologia no etanol, incentivamos a logística transoceânica. Por decorrência, teremos enfim acesso a um carvão de alta qualidade com preços razoáveis. Como bônus, mais um sócio no C 390 e talvez a venda de mais aviões da Embraer.
Vejamos ...
Re: GEOPOLÍTICA
Enviado: Dom Jul 20, 2008 11:29 am
por Marino
O Estado de São Paulo CRISE ENERGÉTICA
Alta do petróleo intensifica conflitos
Guerras entre nações, violência separatista e governos instáveis são conseqüências do preço exorbitante do barril
Cristiano Dias
Guerras pelo controle do petróleo são constantes desde o início do século 20. Elas variam apenas de caráter, sejam disputas territoriais por regiões petrolíferas ou instabilidades políticas causadas pelo controle da máquina estatal de nações produtoras. À medida que o petróleo se torna mais raro - e caro -, a intensidade dessas hostilidades aumenta e novos conflitos tendem a surgir.
A crise é o desfecho de um drama com três atores: aumento da demanda, limitação da oferta e extrema dependência do petróleo. Para sustentar taxas de crescimento de países emergentes como China e Índia, que se aproximam dos 10% ao ano, o mundo devora, segundo o Departamento de Energia dos EUA, cerca de 85 milhões de barris por dia, o dobro do que consumia em 1970.
Completando o cenário, o petróleo se aproxima rapidamente de seu pico de produção, ponto no qual a metade de todas as reservas é extraída do solo, que será seguido de um declínio irreversível. "Existe um bate-boca científico sobre quando isso ocorrerá. Especialistas mais otimistas dizem que será em 2030. Outros, mais realistas, afirmam que não passará de 2015", afirma o analista Paul Roberts, autor do livro The End of Oil.
"Esse panorama aumenta o valor econômico e estratégico das reservas petrolíferas que ainda restam e intensificam as disputas pelo acesso a elas", disse ao Estado, por telefone, Michael Klare, especialista em segurança internacional da Universidade de Massachusetts e autor do livro Blood and Oil, que traça um perfil dos novos conflitos por petróleo.
"O petróleo é hoje o maior combustível de lutas internas pelo controle dos lucros em Estados produtores, como Venezuela, Nigéria e Iraque", afirmou Klare. "Essa instabilidade aumenta ainda mais o preço do petróleo. Não acredito que essa tendência se reverta tão cedo."
Na Venezuela, o petróleo responde por cerca de 90% das exportações. "O poder, basicamente, se resume ao controle da alocação desses recursos", afirmou Klare. "Essa disputa política entre grupos de interesse, facções e partidos rivais causa instabilidade interna."
Em muitos casos, os lucros do petróleo também servem para promover uma determinada política externa. No caso venezuelano, o presidente Hugo Chávez usa o petróleo para exportar sua agenda bolivariana, subsidiando a venda do produto para Cuba, República Dominicana e Nicarágua e criando atritos regionais.
A dependência da Arábia Saudita é ainda maior, mas o padrão é o mesmo. O petróleo representa 95% das exportações, 75% das receitas do Estado e 40% do PIB saudita. O governo tenta se equilibrar entre o pacto antiterror com os EUA e a pressão dos wahabistas, linha fundamentalista do Islã que domina o ambiente político e cultural do país.
Segundo analistas, o medo de uma revolução islâmica, como a iraniana, deixa o governo à mercê dos radicais e muitos suspeitam que parte do financiamento de grupos terroristas venha do petróleo saudita. Uma das razões seria o próprio tamanho da família real, que teria hoje cerca de 7 mil príncipes. Centenas deles estão alijados do poder, mas recebem parte dos royalties, que seriam enviados para organizações terroristas.
Embora ninguém ponha em dúvida a estabilidade do regime dos aiatolás, o Irã também é um caso clássico de como o petróleo pode comprar influência externa e exportar conflitos. Parte das receitas com a exportação de petróleo são queimadas no financiamento do Hezbollah, grupo de oposição xiita no Líbano, e do Hamas, que domina a Faixa de Gaza.
A instabilidade também ganha a forma de movimentos separatistas. Isso já acontece com a Província de Aceh, na Indonésia, no Curdistão iraquiano e no Estado de Delta, na Nigéria. As agitações sociais surgiram de uma profunda insatisfação com a distribuição da riqueza e acabaram se degenerando em lutas separatistas.
Confrontos entre nações soberanas por causa da descoberta de poços petrolíferos também se tornarão mais comuns. Existem hoje pelo menos três pontos de conflito: no Mar Cáspio, entre Irã e Azerbaijão; na Península de Bakassi, entre Nigéria e Camarões; e nas Ilhas Spratly, disputadas por Vietnã, China, Malásia e Filipinas - neste último caso, apenas os rumores da presença de gás e petróleo bastaram para aumentar a tensão na região. "O risco de conflitos armados por causa do petróleo deve aumentar nos próximos anos", prevê Klare. "Eles podem envolver Estados ou simplesmente acirrar cisões internas que já existiam."
A primeira explicação para esse fenômeno é que o planeta é viciado em petróleo. Hoje, ele é responsável por 37% da energia consumida no mundo. O carvão vem atrás, com 25%, seguido pelo gás natural, 23%, e pela energia nuclear, 6%. Ele é vital para a rede de transportes - por terra, ar e mar - e move todo o aparato militar: tanques, aviões, navios e mísseis. Além disso, o petróleo é componente básico na produção de plásticos, fertilizantes, tintas e solventes.
O problema começa pela distribuição irregular do petróleo no globo. Dois terços das jazidas ficam em países do Golfo Pérsico. "Os poços de petróleo mais antigos estão localizados em países que se industrializaram há mais tempo. A maioria já ultrapassou seu pico de produção e está decadente", disse Klare. "O centro de gravidade do petróleo está se movendo na direção de nações em desenvolvimento, como Angola, Nigéria e Arábia Saudita. Isso é importante porque muitos desses países produtores são Estados cronicamente instáveis ou berço de antiamericanismo."
O Departamento de Energia dos EUA estima que nos próximos dez anos a parcela de petróleo extraído de Europa, EUA e Canadá caia de 27% para 18% da produção mundial. Por isso, é cada vez maior o número de analistas que descartam o terrorismo ou o choque entre a civilização cristã ocidental e o mundo islâmico como o principal estopim de guerras no futuro. "Na ausência do conflito ideológico, que marcou os últimos 50 anos, estamos retrocedendo ao mesmo padrão de competição econômica e militar do início do século 20", disse Klare.
O pesquisador americano enxerga algumas semelhanças entre a perspectiva atual e a crise vivida nos anos que antecederam a 1ª Guerra, quando a competição era por outra forma de energia: o carvão. Na época, um dos barris de pólvora da Europa eram os territórios da Alsácia e da Lorena, ricas em carvão, que acirraram a rivalidade entre França e Alemanha.
Hoje, a corrida pela exploração do Ártico e da Antártida esconde um processo semelhante. Estima-se que mais de 25% de todo o petróleo e gás ainda não explorados do planeta estejam nos pólos. Em 2007, um submarino russo fincou uma bandeira de titânio no fundo do Oceano Ártico, que Moscou diz ser uma extensão de seu território. O gesto abriu uma crise entre Canadá, EUA, Rússia, Noruega e Dinamarca para saber quem é o dono do Pólo Norte.
A mesma razão levou a Grã-Bretanha a reivindicar direitos de soberania sobre 1 milhão de quilômetros quadrados da Antártida, em outubro. O objetivo é estender os direitos britânicos de exploração de petróleo no Pólo Sul. A decisão de Londres irritou argentinos e chilenos, que reivindicam parte dessa área.
O Estado de São Paulo CRISE ENERGÉTICA
História de luta começa no Chaco e termina no Iraque
Nos anos 30, o petróleo foi o estopim de uma guerra, a do Chaco, entre Bolívia e Paraguai. O conflito explodiu em razão da suspeita de reservas de petróleo na região. A Standard Oil explorava o lado boliviano, enquanto a Shell, o paraguaio. Quase 100 mil mortos depois, a guerra entrou para a história como o mais violento conflito na América do Sul no século 20 e uma das primeiras guerras por petróleo da história.
Durante a 2ª Guerra, a expansão japonesa no Sudeste Asiático, o avanço alemão em direção ao Cáucaso soviético e os planos de lançar o Afrika Korps do general nazista Erwin von Rommel sobre os campos de petróleo do Oriente Médio mostram que o petróleo continuou tendo papel fundamental na geopolítica global.
Ainda hoje, apesar das negativas de Washington, são poucos os que acreditam na fábula das armas de destruição em massa. "Bem antes do 11 de Setembro, o vice-presidente dos EUA, Dick Cheney, e vários estrategistas da Casa Branca, já estava debruçados sobre mapas do Iraque e calculando a quantidade de petróleo iraquiano que poderiam pôr no mercado", disse o analista Paul Roberts. O resultado da invasão, segundo ele, foi um desastre. Antes da chegada dos americanos, o Iraque extraía 3,5 milhões de barris diários. Hoje, produz 2,5 milhões.
"Do ponto de vista econômico, a invasão foi um fracasso", disse o professor Víctor Poleo, da Universidade Central da Venezuela, referindo-se aos quase US$ 200 bilhões anuais que os EUA queimam na guerra. "Com despesas desse tamanho, o custo real de um barril de petróleo é maior que US$ 200."
Os EUA mantêm hoje 737 bases militares em 130 países diferentes, que empregam 2,5 milhões de funcionários. "Parte desse contingente é a garantia de que o suprimento seja mantido", disse Poleo. Um exemplo seria a súbita importância da África. Segundo estimativas, em dez anos os africanos serão os maiores fornecedores de petróleo dos EUA. Em 2007, Washington criou um comando militar - o Africom - especialmente para assegurar acesso aos recursos naturais do continente, objetivo reconhecido pela própria Casa Branca.
O Estado de São Paulo CRISE ENERGÉTICA
''A crise é tão grave como a dos anos 70''
Especialista diz que estamos próximos do equilíbrio entre oferta e demanda, que estabilizaria o preço do petróleo
Patrícia Campos Mello
O mundo vive uma crise do petróleo tão grave quanto a ocorrida nos anos 70, mas estamos próximos de um ponto de equilíbrio, que é quando os preços causam uma reação econômica ou tecnológica que reduz o consumo. A previsão é de Daniel Yergin, um dos maiores especialistas em petróleo do mundo. Ele é presidente da Cambridge Energy Research Associates e autor de The Prize: the Epic Quest for Oil, Money and Power, livro vencedor do Pulitzer. "Talvez já estejamos neste ponto de equilíbrio." A seguir, trechos da entrevista que ele concedeu ao Estado.
Recentemente, o sr. disse que a descoberta de petróleo no Brasil não está sendo "percebida" da forma adequada. Qual a importância dessas descobertas?
As novas reservas do Brasil podem ser uma das mais importantes descobertas de petróleo deste século, mas a importância dessas descobertas ainda não foram reconhecidas. Isso se deve, em parte, ao fato de a exploração ainda não ter sido concluída. No momento, a mentalidade do mercado está concentrada no quanto vai faltar petróleo em cinco anos, e não nas novas reservas.
O sr. acha que chegamos ao pico da produção de petróleo?
Não. Se isso fosse verdade, não haveria grandes descobertas no Brasil e o petróleo estaria prestes a acabar. Acredito que esse petróleo em grandes profundidades será parte importante do fornecimento no futuro.
E a demanda, atingiu o pico?
Em alguns mercados, sim. Nos EUA, ela atingiu seu ponto máximo no ano passado. Isso é muito importante porque o consumo de gasolina dos americanos está acima de 9 milhões de barris por dia, maior que o mercado de petróleo de qualquer país, incluindo a China. Nos EUA, os hábitos de consumo estão mudando e os motoristas querem carros que sejam mais econômicos - e as montadoras estão respondendo a essa demanda. Em breve, novas regulamentações exigirão que veículos usem menos combustível e teremos carros híbridos. Tudo isso diminuirá a demanda.
Qual a previsão do preço do petróleo para o fim do ano?
Os preços estão muito acima do que jamais estiveram no passado, devidamente corrigidos pela inflação. A alta do petróleo está causando enormes dificuldades para muitas empresas e países. Jean-Claude Trichet, presidente do Banco Central Europeu, acha que estamos vivendo um choque do petróleo tão grave como o dos anos 70. Se os mercados continuarem apertados, veremos os preços se manterem no atual patamar e, no caso de qualquer interrupção de oferta, preços ainda maiores. O que pode levar o petróleo a cair são sinais de desaceleração econômica no mundo ou uma queda na demanda. Em algum momento chegaremos a um ponto de equilíbrio. Talvez já estejamos nesse ponto.
Qual o impacto das energias renováveis no futuro e o papel do etanol brasileiro?
A energia renovável é parte da solução. Os governos precisam ter políticas mais abrangentes. Nossos estudos prevêem que a energia renovável seja responsável por cerca de 15% do fornecimento mundial de eletricidade em 2030. E o etanol brasileiro será uma importante fonte de energia, não apenas no Brasil, mas no mundo todo, já que é o etanol mais eficiente que existe.