16 Fev 09
ESPECIAL
Missão: servir à Pátria amada
Fiquem em posição de sentido! O Exército mostra que, dentro do quartel, o que realmente prevalece é o companheirismo e o amor à pátria. Claro que disciplina e organização são essenciais.
O Exército brasileiro pode passar um século fora da batalha, mas jamais fica um minuto sem estar preparado. Esse é o lema responsável por guiar o dia-a-dia de inúmeros jovens que embarcam, anualmente, numa aventura baseada no respeito e compromisso com a pátria
Longe de ser uma obrigação, fazer parte das Forças Armadas em terra é um sonho de criança que, em geral, é realizado na juventude. Chega a hora de se dedicar à caserna (habitação de soldados) e não mais ao ritmo badalado da maioria dos rapazes nessa fase. Devoção total!
Estudante de Jornalismo, Dirceu Tairo, 18, conquistou, cedo, espaço na vida acadêmica. Dedicado, como os pais-coruja mesmo lhe definem, ele sempre teve vontade de pertencer a um batalhão. E conseguiu! O Zoeira acompanhou a formatura - dia oficial do ingresso de 20 novos combatentes no 23º BC (Batalhão de Caçadores). Era notável a expectativa de Tairo: ´Desde criança, quero servir ao País. Estou pronto para qualquer coisa´.
Como tem um futuro acadêmico pela frente, o jovem entra no Exército como aspirante a oficial, que, ao contrário do soldado, pode alternar turnos na instituição para não se prejudicar na universidade. ´Vou conseguir conciliar. Inclusive, já estou me acostumando com a rotina desde a semana anterior à formatura´.
Influências
Talvez pelo fato de o pai, Cleomar Lima, ter feito parte da Aeronáutica, e o tio, composto o quadro de oficiais da Academia Militar das Agulhas Negras (Aman), Tairo expressa tanto orgulho quando o assunto é o dia-a-dia militar. ´É da natureza do meu filho obedecer e ajudar. Não vejo como um defeito. Na verdade, é uma virtude que o faz ser tranqüilo diante de uma situação complicada´, conta a mãe, Linda Arair.
O estudante está confiante com os rumos de sua nova fase. Temer desafios? Jamais! ´Aqui, vou aprender a ter disciplina e organização. Enfrentarei uma longa caminhada que só vai contribuir para o meu sucesso´.
Mas, apesar de vibrar com o momento, ele ainda não ousa ainda escolher entre o jornalismo e o quartel. Pelo menos, o pai confessa sentir gratidão pelo tempo que passou na Força Aérea. ´Dá até saudades daquela época. É incrível como a gente aprende a lidar com você mesmo e o próximo. Só sabe quem esteve lá´.
Ao ouvir o pai, Tairo espera, um dia, poder dizer o mesmo. Por enquanto, ´o melhor é deixar o futuro nas mãos de Deus. Afinal, tudo pode acontecer. Quero muito, mas ainda não dá para ter certeza de que vou gostar do que vem por aí´.
Expectativas
Felipe Luz pensa que não será tão fácil seguir carreira militar, mas sabe da importância do momento para sua vida. Ele está ansioso para começar as atividades junto a outros aspirantes a oficiais.
João Murilo Bezerra acredita que a vida de militar é uma experiência nova e gratificante. Para os próximos anos, sonha em se tornar tenente e, assim, encher seus pais de orgulho.
Diego Mesquita pretende conciliar a vida de militar com a de civil neste período como aspirante a oficial. Ele promete realizar um bom trabalho e incentivar os amigos a se alistar.
Ticiana de Castro - Repórter
ESPECIAL
Força jovem do Brasil em ação
Apesar de estarem em dois momentos distintos, Renato Pereira e Wendy Ferreira têm algo em comum: suas vidas se cruzam às Forças Armadas.
Renato Pereira acorda às 5h30 quando monta guarda no quartel
Ao meio-dia, segue para o refeitório, onde almoça com os demais soldados
Todos os dias,´entra em forma´ juntamente com o pelotão de sua Companhia
Toque matinal da corneta. É hora de acordar! Pronto para mais um dia, soldado? Às 5h30, levanta da cama, 6h10, toma café-da-manhã, de 7h30 às 9h40, treinamento físico. Corrida, abdominal, apoio de frente, barra... Haja fôlego! E o dia mal começou. Veste uniforme de trabalho, almoça ao meio-dia e, se tiver de montar guarda por 24 horas, é bom estar preparado para não se atrapalhar.
´Emagreci 30 quilos com essa rotina. Aprendi, também, a ser companheiro e disciplinado´, conta Renato Pereira, 20, cuja função no quartel é conduzir os carros do Exército. Filho de comerciantes, o rapaz tinha o sonho de servir às Forças Armadas, assim como os três tios que foram da Marinha. O peso, apesar de não ser aliado, foi desconsiderado no alistamento. Daí, já se vão 11 meses vestindo a farda. Nada de fardo!
´Aos 19, saí de perto da família (em Aracati) e vim para Fortaleza, onde moro sozinho. Foi difícil por causa das saudades, mas já me acostumei. Volto lá de 15 em 15 dias´, explica. Uma curiosidade: Renato recebe ajuda da tia sempre que precisa de alguma coisa, como lavar o uniforme. ´É bom ter algum parente para ver. Nada melhor como se sentir em casa´.
Dormir no batalhão só quando está escalado para a guarda. Fora do mundo militar, ele arranja tempo até para namorar. Por que não? ´Aproveito o momento livre para ficar com minha namorada. Ela entende. Como trabalha e faz cursinho, tem pouco tempo também´.
A responsabilidade com a segurança nacional é um dever do qual ele não abre mão. Os dez meses de serviço militar ainda são muito pouco para o garoto. Por isso, esforça-se para obter boas avaliações e, assim, ser reengajado em mais um período como soldado. ´Não escondo o meu interesse em melhorar minha situação aqui dentro. Quero subir de patente, sim´, revela.
Quase lá
Wendy Ferreira foi aprovado, semana passadam, na segunda fase de seleção para ingressar no serviço militar. Espera, ansioso, para servir às Forças Armadas
O jovem Wendy da Silva Ferreira, 18, acaba de passar pela segunda fase de seleção para soldado do Exército. Essa etapa ocorreu semana passada, quando foi entrevistado por instrutores da instituição.
Tudo começou, na verdade, com o alistamento obrigatório, ano passado. Em seguida, vieram os testes (dentre eles, o de vista e corrida), no 23º BC, para analisar a saúde e o condicionamento físico. ´Os exames foram minuciosos, mas mantive a calma e a vontade de vencer´.
E olha que, para Wendy, o sentimento de vitória não é novidade. Quando menino ainda, ´bastante danado na escola´, como mesmo lembra, fez aulas de Karatê. O resultado? Campeão do esporte aos cinco anos de idade! O pequeno atleta trocou de faixa até a marrom e recorda da época com orgulho.
Depois, já na adolescência, jogou no time sub-16 do Ferroviário e, depois, foi novamente campeão, dessa vez de jiu-jitsu e no âmbito Norte/Nordeste. Aos eventos esportivos, ele agradece o preparo físico que adquiriu ao longo da vida. ´Nunca parei de me exercitar. Tenho um condicionamento muito bom, o que é ótimo para a carreira militar´, acredita.
Dando tudo certo na seleção, Wendy confessa que realizará um sonho de criança. ´Desde pequeno, eu assistia a filmes de ação. Adorava ver os soldados camuflados e em cenas de guerra´, diz.
Além de quimera de infância, o jovem segue os passos de dois tios, o cabo Adilson Feijó e o policial militar Denísio Feijó. ´Meus tios sempre me falaram dos grandes ensinamentos da vida militar: disciplina, obediência, respeito e aprender a conviver em grupo. Espero me aperfeiçoar em tudo isso e seguir carreira´, afirma.
De prontidão
E pensa que ele tem medo de enfrentar períodos de turbulência, se, por acaso, vier uma guerra por aí? De jeito nenhum. Wendy já se sente preparado. ´Queria ir a uma guerra, defender a Pátria, lutar por valores como paz e justiça e entrar para a história´, admite o garoto prodígio.
Bem-informado, recorda-se de um pelotão do 23º BC (composto por 16 soldados, oito cabos, quatro sargentos e um tenente) enviado ao Haiti no ano de 2006 para ajudar a liderar as forças de paz das Organizações das Nações Unidas (ONU) no País.
O objetivo da missão era manter a estabilidade do local e participar de ações humanitárias para melhorar as condições de vida do povo haitiano. ´Após servir nessa força-tarefa, os soldados voltaram com a promessa de subir uma patente. É algo que eu quero para mim´, diz.
Exército de batom
Foi-se o tempo em que vestir a farda militar era privilégio apenas dos homens. Na verdade, desde a década de 1980, elas também servem às Forças Armadas Brasileiras. Primeiro, ingressaram na área de saúde, como médicas, dentistas, farmacêuticas, veterinárias, etc., para, depois, trabalharem nas seções administrativas e advocatícias.
Joelma Taumaturgo, 34, é uma das atuais mulheres que estão no 23º BC treinando para aprender como é a vida militar. Após 45 dias, ela será encaminhada a uma das unidades de saúde ligadas à instituição - provavelmente o Hospital Militar.
Farmacêutica de formação, Joelma tentava entrar no Exército já há dois anos. Para ela, a seleção é diferente daquela pelas quais os alistados passam. ´Enviamos nosso currículo, do qual analisam os títulos, cursos, estágios, residências´, explica.
Feliz da vida por estar realizando o almejado sonho, Joelma diz que é uma mulher como qualquer outra. É mãe e e vaidosa (antes das fotos para a matéria, ela e outras profissionais fizeram questão de retocar a maquiagem).
Ela também não acredita em divisão entre sexos no Exército. Homens e mulheres têm dormitórios separados por questão de privacidade e respeito, como em muitos outros estabelecimentos. No entanto, não existe restrição no treinamento. ´Não sofremos preconceito enquanto estamos aqui. Para nós, o militar é um só´, conclui.
Curiosidades do Exército
Patentes por hierarquia: soldado, cabo, sargento, sub-tenente, segundo-tenente, primeiro-tenente, capitão, major, tenente-coronel, coronel, general-de-brigada, general-de-divisão, general-de-exército e, caso haja guerra, marechal.
Quando o jovem é aceito no serviço militar, passa três meses em treinamento para depois se qualificar em uma função (motorista, pedreiro, soldador, pintor, etc.).
A continência sempre parte do militar menos graduado para um mais superior. É sinal de respeito.
O Código de Ética do Caçador repassa valores como honra, justiça e comprometimento com a pátria.
O cabelo deve ser aparado uma vez por semana. Existe o ´cartão de cabelo´ para mostrar aos superiores que o corte foi realizado.
Caso haja algum ato que fira a disciplina militar, o soldado é repreendido, detido ou preso, conforme a gravidade da falta. Só pode ser punido após apresentar por escrito suas razões de defesa.
Além do alistamento, o jovem pode ingressar na carreira militar a partir de concursos públicos como: EsPCEx, IME, EsAEx e EsSEx. Mais informações no site:
http://www.exercito.gov.br