Visita do Papa
Patrões indecisos na tolerância de ponto
por FRANCISCO MANGAS /
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Presidente da CIP desagradado com a decisão do Governo de Sócrates. Partidos da oposição remetem-se ao silêncio.
Os patrões portugueses ainda não sabem se vão seguir o Governo na tolerância de ponto aos seus trabalhadores, no dia 13 de Maio, durante a visita do Papa Bento XVI. Estão a ponderar o assunto, mas o presidente da CIP já se manifestou desagrado com a medida. Nos partidos da oposição, só o Bloco de Esquerda comenta este "excesso" do Executivo de José Sócrates.
Filipe Soares Franco, ao fim da tarde de ontem, desconhecia a decisão e "não estava a pensar em conceder tolerância de ponto" aos trabalhadores da sua empresa. A visita do Papa, reconhece o presidente da Opway, "não é um acontecimento qualquer". No entanto, Portugal tem um excesso de "pontes" e feriados: "É muito tempo, não recuperamos um país assim". Mas como se trata de "caso especial", promete "pensar nisso".
Outros responsáveis de grandes empresas portugueses, ouvidos pelo DN, também ainda nada decidiram. Luís Filipe Pereira, presidente da Efacec, refere que, em relação ao Papa, "ainda não decidimos". Na sua empresa, diz, o calendário dos feriados e pontes é programado para o ano inteiro.
Na Amorim Turismo, a questão da tolerância de ponto - no dia 13 de Maio, em todo o País, e na parte da tarde do 11, em Lisboa, e na manhã do dia 14, no Porto - também carece de ponderação. "Ainda não equacionámos essa questão", refere Jorge Armindo, presidente da empresa.
O "ainda não", de igual modo, aparece na resposta do responsável pela Unicer. "Ainda não tomamos nenhuma decisão" sobre o assunto, diz António Pires de Lima. Uma indefinição vivida na Sonae, no BCP ou na PT, empresas ouvidas pelo DN.
Menos indeciso sobre o assunto está o presidente da Confederação da Indústria Portuguesa (CIP). António Saraiva estranha a tolerância de ponto "numa altura em que se pede aos portugueses em geral um esforço maior de competitividade". O País é maioritariamente católico, reconhece, "mas temos outras religiões: se eventualmente outros líderes religiosos nos visitarem, estaría-mos constantemente a legitimar pontes", sublinha.
Carvalho da Silva vê uma contradição na decisão do Governo. "Deve receber-se o Papa com dignidade, os valores que sustentam esta atitude são importantes." Mas não são menos importantes, realça o coordenador da CGTP, "o direito ao descanso semanal, ou excesso de trabalho" que atinge muitos portugueses.
Nos partidos da oposição, a tolerância de ponto na função pública durante a visita do Papa Bento XVI, no dia 13 de Maio, foi acolhida com silêncio. Só o Bloco de Esquerda considera a decisão do Governo "um excesso". PSD, PCP CDS não comentam.
Mariana Aiveca, deputada do BE, lembra que Portugal é um Estado laico. Sendo assim, o Executivo de José Sócrates, com a tolerância de ponto, "parece privilegiar uma religião". A medida, no entanto, diz a deputada, esconde outro objectivo. O Governo "quer dar um rebuçado aos trabalhadores da Administração Pública", para tentar atenuar "o congelamento dos salários e das aposentações".
"Não temos opinião sobre o Papa", diz Miguel Relvas, porta- -voz do PSD. O PCP e o CDS-PP também evitaram fazer comentários. Pela voz de Vitalino Canas, os socialistas consideram que a tolerância de ponto aos trabalhadores da função pública "vai facilitar as pessoas que pretendam ver o Papa Bento XVI".