Embaixador de Israel diz que crítica da força é «argumento estúpido»
O novo embaixador de Israel em Portugal classificou de «argumento estúpido e cínico» a crítica ao uso desproporcionado da força pelos soldados israelitas na faixa de Gaza e considerou positivo qualquer passo para acabar com os combates.
Ehud Gol, que assumiu funções em Lisboa esta semana, disse à agência
Lusa não compreender os que utilizam «esse argumento estúpido» de um uso desproporcionado da força por parte de Israel na ofensiva militar à faixa de Gaza lançada a 27 de Dezembro e que, de acordo com fontes palestinianas, já causou a morte a mais de 700 pessoas no território.
«O que é que é desproporcionado? Se morressem 600 judeus seria proporcional? Não compreendo os que utilizam esse argumento estúpido. É um argumento cínico», declarou o diplomata em entrevista à Lusa.
«Quando o (movimento islamita palestiniano que controla a faixa de Gaza) Hamas pede pela libertação de (soldado israelita capturado em 2006 por grupos armados palestinianos) Gilad Shalid mil pessoas isto é proporcional? Onde é que estão todos esses que nos criticam por sermos desproporcionados?», questionou o embaixador israelita.
Ehud Gol referiu que «nos últimos oito anos foram disparados 8.000 rockets Kassam e Katiushas (sobre Israel)», para questionar ainda: «o que seria proporcional? Que bombardeássemos 8.000 vezes Gaza?»
O diplomata assinalou que Israel não iniciou o ataque e declarou que «o elemento desproporcionado» é o movimento islamita pôr «os terroristas (…) entre a população civil (da faixa de Gaza)».
«Nos últimos 12 dias quase 800 rockets caíram sobre Sderot, Ashkelon, Beersheba, Gedera (cidades do sul de Israel), e têm como alvo civis. Seria proporcional se bombardeássemos jardins-de-infância e escolas?», disse ainda, para aconselhar
«os que criticam Israel» a «abrir os olhos e olhar a verdade e criticar o Hamas e os outros que estão envolvidos no terrorismo e tentam matar mulheres e crianças em Israel».
Considerando que «1,5 milhões sofrem em Gaza por causa do Hamas e um milhão (população no sul) sofre em Israel por causa do Hamas», Ehud Gol defendeu que «qualquer passo para acabar com a luta é positivo».
Por isso, salientou que o governo israelita agradece «a qualquer líder no mundo que esteja disposto a fazer algo para se alcançar uma coexistência pacífica».
Desse modo o Estado hebreu acolheu «favoravelmente a abordagem do presidente Hosni Mubarak (egípcio), e presidente Nicolas Sarkozy (francês), para acabar com o conflito agora», disse.
Um plano elaborado pelo presidente egípcio, em coordenação com o seu homólogo francês, prevê «um cessar-fogo imediato por um período limitado» para permitir a abertura de corredores humanitários, a continuação dos esforços egípcios para uma trégua permanente e acordos para tornar seguras as fronteiras da faixa de Gaza antes da sua eventual reabertura.
Israel espera com a ofensiva conseguir «limitar a capacidade do Hamas para continuar com as suas actividades terroristas contra o sul de Israel», mas para o embaixador do país em Portugal «a chave para uma solução é acabar com o contrabando de armas através da fronteira com o Egipto, por Rafah».
«Se os egípcios estiverem dispostos a dar os passos necessários e juntamente com uma força internacional se pudesse garantir que nenhum armamento era contrabandeado do Egipto para Gaza alcançaríamos outra era e seria muito mais fácil para nós e também muito mais fácil para o povo de Gaza», afirmou.
A propósito, recordou que Israel deixou Gaza há três anos. «Não foram só os soldados israelitas (…), cerca de 20.000 colonos deixaram a área de Gaza por decisão do governo, abandonámos as nossas sinagogas, as nossas escolas, os nossos centros, tudo foi destruído porque queríamos ficar fora de Gaza e deixá-la aos palestinianos para chegar ao dia em que um Estado palestiniano fosse criado».
«Mas em vez de aproveitar esse desafio e tentar viver em coexistência e harmonia connosco, o Hamas fez um golpe contra a Fatah, mesmo se no início o processo fosse democrático (…), não faz diferença porque se transformou num caos e ditadura», adiantou.
Em Janeiro de 2006 o Hamas venceu as eleições para o Conselho Legislativo Palestiniano derrotando a Fatah, movimento de que é membro o presidente da Autoridade Palestiniana, Mahmud Abbas, e em Junho de 2007 o movimento islamita tomou o controlo da faixa de Gaza derrotando as forças da Fatah no território.
«Vencer o Hamas não é só do interesse de Israel. Claro que é nosso interesse directo porque somos alvo das suas actividades terroristas, mas não tem ideia de quantos palestinianos no Estado palestiniano desejam o dia em que o Hamas desapareça, especialmente os palestinianos que vivem em Gaza e que estão sujeitos ao terror e violência do Hamas em Gaza», salientou Ehud Gol.
Adiantou que também «vários países moderados no mundo árabe (…) gostariam de ver o desaparecimento desta organização Hamas, porque também é importante para eles o processo em que a região avance e possa envolver-se em negociações».
«Se tudo acalmar, Gaza pode transformar-se na Hong Kong do Médio Oriente. Esse é o nosso objectivo, mas eles (o Hamas) transformaram-no num inferno», declarou o diplomata israelita, sublinhando que o sonho de Israel há 60 anos (desde a sua criação) é viver em «paz e tranquilidade com os (seus) vizinhos».
Lusa