Re: União Europeia
Enviado: Qui Nov 14, 2019 10:34 am
Só têm de agradecer à Merkel, que desviou todos os fundos e mais alguns para acolher "refugiados"
P44 escreveu: ↑Dom Nov 10, 2019 6:13 am Há 30 anos atrás, Alemães Ocidentais infiltrados na RDA aproveitaram um pequeno lapso do porta voz do Partido comunista e lançaram-se em massa para a travessia precipitada e ilegal da fronteira, provocando a ilusão de que os habitantes nativos da RDA estariam a fugir em massa para a Alemanha Ocidental, quando estes afinal permaneciam calmos, serenos e satisfeitos nos seus lares.
Foi o inicio das fake news, uma data negra para a história do Mundo moderno.
Professor de política internacional na Universidade Livre de Bruxelas, é conselheiro da Comissão Europeia e de várias empresas mundiais. Critica a inação dos líderes europeus e avisa que as alterações climáticas podem destruir a nossa sociedade ainda este século.
Escreveu o livro mais recente, Guerra e Paz, Uma História Política do Mundo (Ed. D. Quixote) porque sentiu que as obras sobre diplomacia que usava nas aulas começavam todas nos séculos XVII ou XIX, um período dominado pelo Ocidente. Isso, diz, provoca uma visão parcial do mundo e dificulta a compreensão entre povos. Nesta entrevista, analisa a tensão entre o Ocidente e a China e a Rússia e explica como a Europa pode estar a entrar numa decadência irreversível.
Guerra ou paz, qual é o estado natural do nosso planeta?
O mundo foi sempre uma selva. Por vezes, grandes civilizações criam um espaço de tranquilidade, mas raramente dura muito. Mesmo quando dizemos ter paz, ela costuma significar algo completamente diferente para outros. A Pax Romana, as dinastias chinesas ou a Pax Americana foram períodos de prosperidade para os que estavam no centro do império, mas de abuso e exploração para os da periferia. Harmonia, normalmente, significa hierarquia. Por isso os poderes na periferia enfrentam sempre os do centro para mudar a balança de poder. É o que vemos hoje com a China e os EUA.
O que garante um período de paz?
Poder e modéstia. No fim da linha, a paz é sobre a capacidade de defender o nosso modo de vida e isso requer poder. Quando o equilíbrio de poder se altera há tensão. Mas mesmo que se tenha poder, ele deve ser usado com sabedoria, não entrar em guerras imprudentes, como fizemos nas últimas décadas, não se tomar arrogante, não gastar o poder económico nos concorrentes, como a UE também fez com a China e a Rússia. Enriquecemos os nossos rivais e agora estamos nervosos.
Então a paz não é alcançável através do comércio e da democracia?
Temos esta ideia romântica de a Rota de Seda ser uma avenida para a cooperação e as trocas culturais. Bem, a Rota da Seda, através da história, estava alinhada com fortalezas. Onde quer que haja comércio, os Estados vão querer controlá-lo. A conectividade, seja ela por mar, terra, ou, actualmente, pela Internet, é crucial para o poder. Em relação à democracia, a história recente mostra que o comércio não é seguido pela democracia. Olhe para a China e para a Rússia. Trocamos mais, eles tomam-se menos democráticos.
Mas acredita que o período de grandes guerras já ficou para trás?
Não. Porque é que o nosso tempo seria diferente? O comércio não nos impede de voltar às políticas de poder mais duras. A democracia criou o Brexit, Trump e Bolsonaro. A destruição em massa também não impediu os países de irem para a guerra. É a assunção de que as grandes guerras de poder se tomaram improváveis que as tomam mais prováveis.
Incluiria a guerra ao terrorismo na lista das grandes guerras?
Se considerar o custo financeiro, certamente. É a segunda mais cara desde a II Guerra Mundial (GM) e matou meio milhão de pessoas. É também importante porque esgotou o Ocidente, criou novos inimigos e tomou a população avessa ao poder militar.
Então ela alcançou o que os terroristas queriam: exaurir o Ocidente e perpetuar o terrorismo?
Os terroristas têm muitos objetivos: no caso do Estado Islâmico (EI), subverter o Estado sírio e o iraquiano, corrigir a discriminação sunita, enriquecer através do crime organizado... Mas um objetivo é enfraquecer oOcidente e nesse sentido foram bem-sucedidos. O terrorismo não desaparecerá. A raiva contra o Ocidente no mundo islâmico também vai aumentar. Cerca de 10% da população do Médio Oriente e Norte de África simpatiza com o terrorismo. Se, desses, considerar que 1% está pronto a lutar, terá uma força de meio milhão. Não estamos a derrotar o terrorismo, estamos a reprimi-lo.
Há cada vez mais conflitos mas vivemos também em prosperidade e segurança. É contraditório?
É o melhor dos mundos e o pior dos mundos, como Dickens diria. Já estivemos aqui. Pense em Keynes, que se descrevia a beber chá em Londres e a beneficiar de todas as coisas boas do mundo a poucos anos da II GM. O principal problema da Europa é que nos preocupamos, mas não fazemos nada. Olhamos com medo para o Sul, mas abandonamo-lo e criamos um vazio de poder onde o extremismo e outros males se alimentam. Olhamos com medo para a Rússia, mas deixamos Putin ganhar mais de 100 mil milhões por ano em exportações de gás. Ficamos chocados com os Estados do Golfo que financiam o terrorismo, mas enviamos-lhes armas e compramos o seu petróleo. Estamos preocupados com o aumento do poder da China, mas aceitamos os seus produtos baratos. Destruímos a nossa própria segurança. Isso é típico de uma sociedade rica e voltada para o interior. Chamava-se decadência.
Ou seja, não estamos a proteger os nossos princípios e valores?
Sim. A política de poder não deve ser sobre abandonar os nossos ideais e tomarmo-nos oportunistas. Ela deve ser sobre aumentar o poder e a influência para preservar os nossos valores e ideais. Abandonar os valores é rendição e cobardia.
É também por isso que estamos a virar para uma era de protecionismo e nacionalismo?
O nacionalismo nunca nos deixou. Apenas ficámos inconscientes dele. No momento em que celebrávamos a globalização, foram feitos planos na China para tomar uma parte da nossa indústria e tecnologia; no Médio Oriente para lutar contra o liberalismo ocidental; na Rússia para repelir a influência europeia A nossa globalização alimentou o nacionalismo em muitas partes do mundo mas durante muito tempo, os líderes chineses, os xeques e os reis fingiram nos fóruns internacionais, como Davos, que estavam a abraçá-la. Esses países juntaram-se à globalização para a mudar, não para se submeterem às nossas regras.
Tal como os populistas entraram no Parlamento Europeu (PE) para subverter a UE?
Certamente. Há populistas no PE com interesses de negócios na China e financiamento da Rússia. Pense também nos conservadores britânicos a receber dinheiro russo, em Vicktor Orbán, a China a oferecer apoio a políticos de direita, antigos políticos como Gerhard Schrtider e jean-Pierre Raffarin que se tornaram fantoches de Moscovo e Pequim. Um político ou funcionário público deve servir a nossa sociedade, não os nossos rivais. Hoje há uma completa falta de patriotismo, lealdade e dedicação à sociedade. A forma como os nossos políticos sucumbem a investimento e a dinheiro da China, ao 5G da Huawei e ao gás da Gazprom ou do Qatar, não é muito diferente dos líderes africanos do século XV, que venderam os seus países por um punhado de vidros e sinos.
Como devemos lidar com populistas como Putin, Orbán ou Trump, que minam a democracia?
Devemos começar por ler a oração fúnebre de Pendes. O líder ateniense enfatizou a beleza da democracia, mas também que ela requeria patriotismo. Uma democracia saudável requer um equilíbrio entre abertura, simbolizada pelo porto de Pireu, no caso de Atenas, identidade e um sentimento de pertença, pense no templo da Acrópole, e segurança, simbolizada pelas muralhas. Nas últimas décadas as nossas elites cuidaram dos portos mas esqueceram-se do resto. As grandes companhias viraram as costas à sociedade. As pessoas tornaram-se consumidores, não cidadãos. Trump tem razão quando critica os cosmopolitas que falam da harmonia no mundo mas falham em preservá-la em casa. Não estou a dizer que gosto das suas políticas mas não podemos ser abertos e inclusivos se não há segurança e um sentimento de pertença.
Estes lideres vão marcar a história ou ser uma nota de rodapé?
Os atuais líderes pragmáticos ou as gerações passadas de líderes pragmáticos marcaram a história? O populismo é o produto de décadas de lideranças falhadas do centro político. Obama, por exemplo, prometeu conter a influência das grandes multinacionais, mas quem é que ele enfrentou? O comportamento desses políticos era mais civilizado mas faltava-lhes coragem. Agora temos coragem sem civismo. Estas gerações vão ficar na história como gerações decadentes, sem paixão cívica, que consumiram riqueza mas nada fizeram para a preservar. Arriscamo-nos a passar à história como a idade que lixou tudo para o Ocidente.
No seu livro percebemos que as alterações climáticas foram uma preocupação constante ao longo da história Porquê?
O primeiro conselho que grandes pensadores estratégicos como Sun Tzu ou o indiano Kautilya davam aos seus governantes era para se preocuparem com o ambiente, porque todos os poderes dependem muito dele e dos recursos naturais. Vemos as alterações climáticas contribuírem para a violência, uma e outra vez: invasões dos Povos do Mar, dos Hunos, Mongóis e assim por diante. Não penso que hoje seja diferente. As forças que estão a crescer no Sul são um resultado de pobreza, crescimento demográfico e as alterações climáticas têm o potencial de destruir a nossa sociedade no que resta deste século, sobretudo se as combinarmos com a atual ausência de estratégia em relação à África e Médio Oriente. A migração em massa não vai continuar pacífica nas próximas décadas e não precisamos de pertencer à extrema-direita para dizer isso. O que estamos a fazer? Um lado quer salvar refugiados, outro quer construir muros e o centro político tenta ganhar tempo ao subornar líderes como o Presidente Erdogan.
O que nos ensinam os últimos 3000 anos sobre a política atual?
Gostava de salientar uma coisa: a armadilha da fortaleza vazia. Em tempos de incerteza, as sociedades ricas tendem a recuar e a esconderem-se atrás de muros. Mas no longo prazo os muros não resultam, são sempre derrubados. A Europa não se pode esconder. Deve reforçar o seu poder, como economia, como comunidade de valores, como ator militar e retomar a iniciativa no seu quintal. Ou governamos ou somos governados. Os fortes fazem o que querem, os fracos sofrem o que devem, disse Tucídides. O desafio é exercer influência com sabedoria e empatia.
P44 escreveu: ↑Sáb Nov 30, 2019 10:23 am Dois mortos em Londres: quem são os "heróis" que dominaram o atacante
Um homem esfaqueou várias pessoas na Ponte de Londres e acabou por ser abatido pela polícia depois de ser dominado por um grupo de cidadãos. O ataque, que fez dois mortos e três feridos, está a ser investigado como um atentado terrorista.
Helena Tecedeiro
https://www.dn.pt/mundo/amp/dois-mortos ... ssion=true