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Mensagem
por PQD » Ter Ago 19, 2008 5:20 pm
Enigma chinês
Polícia localiza na Vila Cruzeiro cativeiro de estrangeiros seqüestrados
Publicada em 19/08/2008 às 15h09m
Ana Cláudia Costa e Cristiane de Cássia - O Globo, O Globo Online, Bom Dia Rio e CBN
RIO - A polícia localizou na Favela da Vila Cruzeiro, no Complexo do Alemão, a casa que foi usada de cativeiro para os três chineses e o funcionário da embaixada do Vietnã no Brasil, Vu Thanh Nam. O local para onde foram levados os estrangeiros, que foram seqüestrados no último sábado na Estrada das Paineiras, foi encontrado com a ajuda do chinês Liu Chang Hong, uma das vítimas, que circulou na favela em um caveirão. Policiais e peritos do Instituto de Criminalística Carlos Éboli (ICCE) estão no local. ( Veja as imagens da operação policial )
Cerca de 250 policiais ocupam desde o início da manhã desta terça-feira na Favela da Vila Cruzeiro, no Complexo do Alemão. O objetivo da ocupação, que começou na tarde da segunda-feira, a mando do secretário Estadual de Segurança Pública, José Mariano Beltrame, é encontrar os suspeitos de terem seqüestrado os estrangeiros. Ninguém foi preso até o momento.
No final da manhã, policiais da Delegacia de Cargas apreenderam meia tonelada de maconha e um tonel de loló. A droga foi encontrada no alto da Vila Cruzeiro, na localidade conhecida como Vacaria, mesma área onde está o cativeiro dos estrangeiros. Não houve confronto entre policiais e traficantes enquanto o chinês esteve na favela.
Segundo o delegado Fernando Veloso, da Delegacia Especial de Atendimento ao Turista (Deat), as polícias Militar e Civil ocuparão por tempo indeterminado a comunidade. Três carros blindados auxiliam na operação e um helicóptero Águia sobrevoou a favela no início da manhã. Ainda não há registro de troca de tiros, mas o comércio fechou as portas na Avenida Nossa Senhora da Penha, que dá acesso à Vila Cruzeiro. Na segunda, houve troca de tiros e um homem morreu. Segundo a polícia ele era traficante . ( Veja imagens da operação )
Apesar de já haver suspeitos de terem seqüestrado os estrangeiros na Estrada das Paineiras, a motivação do crime ainda é um enigma para a polícia do Rio. Depois de ter descartado a hipótese de assalto a turistas, a polícia agora trabalha com duas possibilidades: de o crime ter sido cometido a mando do traficante Fernandinho Beira-Mar ou estar relacionado a uma disputa por mão-de-obra chinesa. De acordo com o delegado, o alvo do seqüestro eram os chineses, que prestaram depoimento na delegacia. (Leia mais: Pontos turísticos do Rio são mal policiados )
- Já existem suspeitos, tem provas que estão sendo trazidas pro inquérito da DEAT, provas emprestadas de outros inquéritos, de outras (unidades) especializadas, pra que a gente possa adotar medidas coercitivas quanto a esses suspeitos - disse o delegado Fernando Veloso. ( Ouça o delegado )
O Ministério Público do Trabalho entrou com uma ação na Justiça, semana passada, contestando a contratação dos chineses. Cento e vinte estariam trabalhando irregularmente na obra . A Thyssen-Krupp CSA Siderúrgica do Atlântico, no entanto, afirma que obedece a legislação brasileira. A empresa explicou que os chineses foram chamados por falta de mão-de- obra qualificada no Brasil.
Os dois últimos chineses que continuavam desaparecidos foram encontrados na manhã da segunda-feira. Jin Bao Hong, de 39 anos, e You Ben Gang, de 46, foram seqüestrados no sábado, juntamente com o conselheiro vietnamita e o também chinês Liu Chang Hong. No domingo, o grupo, que era mantido em cativeiro numa cisterna na Vila Cruzeiro, no Complexo do Alemão, na Penha, conseguiu fugir. No entanto, como os reféns conseguiram fugir do cárcere sem ser vistos e por que não havia vigias do lado de fora da cisterna ainda não está claro. Para o delegado, no entanto, nenhum traficante facilitou a fuga dos estrangeiros. De acordo com Fernando Veloso, os chineses contaram que passaram cerca de quatro horas tentando sair do lugar.
- O ponto mais sensível desse caso é a motivação. Não posso adiantar muita coisa. Seria leviano dizer algo sem ter comprovação. Há mais de uma linha de investigação e a disputa por mão-de-obra barata é uma delas.
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19/08/2008 14:14:00
Encontrada na Vila Cruzeiro casa que serviu de cativeiro para estrangeiros seqüestrados
Bartolomeu Brito
Rio - Foi identificada na tarde desta terçpa-feira a casa que serviu de cativeiro para os quatro estrangeiros seqüestrados no último sábado, nas Paineiras. O imóvel fica no alto do Complexo da Vila Cruzeiro, na Penha, Zona Norte do Rio. Uma equipe de peritos do ICE (Instituto de Criminalística Carlos Éboli) foi direcionada para o local.
Mais cedo, policiais da Delegacia de Roubos e Furtos de Automóveis estouraram um ponto de endolação de drogas no morro, durante a megaoperação para descobrir o cativeiro em que os estrangeiros ficaram escondidos.
No local, foram apreendidos 7 kg de maconha, uma calça camuflada, farto material de endolação, um vidro de álcool e outro de fermento, utilizados na produção da droga. Na residência, uma pessoa foi detida para averigüação. Também foram recuperados dois carros, um caminhão e quatro motocicletas, todos roubados.
O chinês Liu Chang Hong, um dos seqüestrados nas Paineiras, chegou na manhã desta terça na Vila Cruzeiro para o reconhecimento do local do cativeiro. A proposta da Polícia Civil é que ele possa ajudar nas investigações e auxiliar nas prisões dos seqüestradores. O estrangeiro e o intérprete, que está prestando serviço para a Civil, estão acompanhados do delegado Fernando Veloso, responsável pelas investigações.
Liu Chang Hong chegou em um Astra preto, da Polícia Civil, e parou na Av. Nossa Senhora da Penha, em frente ao quartel dos Bombeiros para a troca de viaturas. Ele irá entrar na favela em um carro blindado da polícia.
Mais de 400 homens da Polícia Civil de várias delegacias especializadas e distritais, com apoio de um helicóptero e três carros blindados da Core (Coordenadoria de Recursos Especiais), estão fazendo uma grande operação no complexo da Vila Cruzeiro.
A pólícia tenta encontrar o cativeiro onde os vietnamitas foram mantidos. A Polícia Civil está em busca dos seqüestrados que também estariam na favela.
O clima na comunidade está tenso e o comércio na localidade está fechado. Um ciep e quatro escolas publicas na Vila Cruzeiro também encerraram experiente. Já aconteceram alguns disparos e duas pessoas teriam sido detidas.
Ontem, Bope e 16º DP ocuparam o Complexo
O Batalhão de Operações Especiais (Bope) ocupa desde a tarde de ontem a Vila Cruzeiro, onde o conselheiro da Embaixada do Vietnã no Brasil, Vu Thanh Nam, 56 anos, e três chineses, funcionários da Companhia Siderúrgica do Atlântico (CSA) foram mantidos reféns. Os quatro foram seqüestrados na manhã de sábado na Estrada das Paineiras. A polícia procura os criminosos e o cativeiro, que seria na Rua 14, e a previsão é de as equipes só deixem a comunidade após encontrá-lo.
Uma linha de investigação é de que o crime seria uma retaliação da máfia chinesa, insatisfeita porque não estaria recebendo propina de uma empresa que contrata mão-de-obra oriental. A polícia garante que os seqüestradores já foram identificados. O líder seria o chefe do tráfico da Vila Cruzeiro, Fabiano Atanasio da Silva, o FB. As investigações tentam descobrir o elo entre o tráfico e a máfia.
A operação contou com 200 homens e seis blindados. Houve intensa troca de tiros e um bandido identificado como Douglas Gouvêia Ferreira, o Pit, 22 anos, foi morto. Atingido por bala perdida, o morador Antônio Rodrigues Neves, 57, foi ferido no tórax e seu estado é grave. Um fuzil e uma granada foram apreendidos. Traficantes chegaram a atravessar um caminhão para atrapalhar a ação do Bope.
Das quatro vítimas, duas — Jin Bao Hong, 39 anos, e You Bengang, 46 — foram localizadas ontem. Eles contaram que deixaram a favela de manhã e pegaram um táxi, na esquina das ruas Leopoldina Rego e Cardoso de Moraes, em Ramos. Quando saíram do cativeiro, os dois se esconderam na mata. Um deles chegou a se abrigar num buraco, no meio de pedras. Os chineses contaram que viram, durante toda noite, vários traficantes passando com fuzis em motos.
O taxista que conduziu os chineses contou que eles estavam assustados. Como não falam português, escreveram num papel a sigla da empresa onde trabalham — CSA, em Santa Cruz — e disseram “Itaguaí”, município próximo de onde fica a obra. “Estavam sujos e machucados. Tinham muitos arranhões e mordidas de mosquito. Tinha acabado de ouvir a notícia no rádio, mas só me dei conta de que podiam ser os chineses desaparecidos ao chegar à empresa. Lá, pagaram a corrida”, contou.
Outra vítima dos bandidos, Liu Chang Hong, 36 anos, foi encontrado vagando em Del Castilho, no fim da noite de domingo. Ele fugiu com o vietnamita, mas se escondeu até a noite, para sair da favela. O vice-embaixador contou que eles conversavam o tempo inteiro no cativeiro. “Não entendia nada, mas me comuniquei com eles por sinais. Ficamos quatro horas tentando sair dali”, contou ele, ex-fuzileiro naval, que atuou na Guerra do Vietnã.
Para deixar o cativeiro, os reféns empilharam engradados de água e usaram o cabo de uma vassoura para empurrar a tampa cimentada da cisterna. Os chineses não circularam pelas vielas e ficaram escondidos até sair da Vila Cruzeiro. Os reféns não sofreram violência, nem tiveram seus objetos levados.
“A motivação é o ponto mais sensível da investigação. Por enquanto, não vou ouvir ninguém da CSA”, disse o delegado Ferando Veloso, enfatizando que a quadrilha trocou as placas dos três carros que serviram para levar os reféns até a favela.
Cabeça dos outros é terra que ninguem anda... terras ermas...