Escudo nuclear na ótica de Vladimir Putin.
O primeiro-ministro e candidato à presidência da Rússia, Vladimir Putin, publicou um artigo programático sobre os problemas da segurança nacional, onde fala pormenorizadamente sobre as perspetivas de reequipamento das Forças Armadas. Partindo dos dados referidos por Putin, é possível prognosticar como serão as Forças Armadas do país no fim da década e, nomeadamente, qual será a configuração das Forças Nucleares Estratégicas.
“Nos próximos dez anos, as Forças Armadas receberão mais de 400 mísseis balísticos intercontinentais de última geração de baseamento marítimo e terrestre e oito submarinos portadores de mísseis de destino estratégico…”, escreve Vladimir Putin.
O número de 400 mísseis em 10 anos é realista. Em 2011, as Forças Armadas da Rússia receberam cerca 30 mísseis balísticos intercontinentais Yars e Topol-M, de baseamento terrestre e Bulava e Sineva, de baseamento marítimo. O aumento da produção de mísseis em mais de 30% também é possível, combinando as possibilidades financeiras e administrativas. Quanto à configuração das Forças Nucleares Estratégicas, esta deverá ser bastante diferente da atual.
Na composição da Marinha de Guerra devem ser integrados oito submarinos estratégicos portadores de mísseis do projeto 955. Os três primeiros submarinos – Yuri Dolgoruki, Alexandre Nevski e Vladimir Monomakh – têm cada um 16 mísseis balísticos intercontinentais Bulava; os restantes cinco, a serem construídos no quadro do projeto 955U, terão 20 mísseis deste tipo cada um. Na totalidade, os novos submarinos irão portar 148 mísseis. Deste modo, levando em consideração os mísseis destinados para lançamentos de treino e de ensaio, serão produzidos aproximadamente 160-170 mísseis Bulava.
A Marinha vai também dispor de seis submarinos do projeto 667BDRM, cinco dos quais já têm em dotação mísseis modernizados R-29RMU2 Sineva. Para equipar o sexto submarino, será necessário produzir 16 destes mísseis. Levando em conta os lançamentos de treino e o fornecimento de mísseis Lainer, a nova modernização do míssil Bulava,a serem fornecidos nesta década, devem ser produzidos aproximadamente 40 mísseis.
Resumindo, a componente naval das forças nucleares terá 200-210 mísseis, ou seja quase metade do potencial militar estratégico sumário da Federação Russa. Deste modo, será radicalmente alterada a estratégia nuclear da Rússia: desde os anos 50, os mísseis de baseamento terrestre constituíam a maior parte do arsenal nuclear do país.
Partindo do acima exposto, as Forças de Mísseis Estratégicas da Rússia disporão de 190-200 mísseis. Praticamente está garantido que estes serão mísseis tipo RS-24 Yars: a produção dos RS-12M2 Topol-M terminou em 2011 a favor dos Yars,enquanto, até o lançamento da produção em série de mísseis de nova geração, será preciso ainda muito tempo.
Ao mesmo tempo, 190-200 mísseis Yars serão suficientes para substituir nas Forças de Mísseis Estratégicas 170 mísseis RS-12M Topol, produzidos nos anos 80 – início dos anos 90 e efetuar um número necessário de lançamentos de treino. Para além disso, as Forças de Mísseis Estratégicas terão em dotação até 2020 cerca de 20 mísseis R-36M2 de últimas versões, que serão substituídos já entre 2020-2025 por mísseis de novos tipos. Estarão em dotação também 70 mísseis Topol-M,produzidos entre 1977 e 2011, que serão utilizados no quadro dos trabalhos voltados para prolongar os seus recursos.
Qual será o potencial nuclear estratégico sumário da Rússia no fim de 2020? A Marinha de Guerra terá 14 submarinos com 244 sistemas de lançamento. As Forças de Mísseis Estratégicas irão dispor de cerca de 250 mísseis de baseamento móvel e em silos. A aviação de longo alcance terá cerca de 80 bombardeiros estratégicos, cada um dos quais, segundo as regras do Tratado START-3, é considerado como uma carga nuclear. Ao todo, haverá mais de 570 portadores e aproximadamente 2000 cargas. Deste modo, a Rússia não superará as restrições do Tratado START-3 pelo número de portadores (700 desdobrados e 800 desdobrados e não desdobrados em conjunto), mas ultrapassará consideravelmente estas limitações pelo número de cargas (1550 unidades). Deste modo, será realista a medida anunciada ainda em 2911 pelo comandante das Forças de Mísseis Estratégicas de que serão desdobrados novos mísseis com um número reduzido de cargas, para se enquadrarem nas limitações do tratado. Ao mesmo tempo, as cargas de sobra serão armazenadas em bases e utilizadas só em caso da necessidade – por exemplo, se a situação no mundo se agravar.
http://portuguese.ruvr.ru/2012_02_21/66565935/