Re: NOTÍCIAS POLÍTICAS
Enviado: Qui Ago 18, 2016 7:45 pm
Não, não, você está confundindo estatista com esquerdista e liberal com direitista. Governos de direita como os dos militares brasileiros por exemplo criaram um monte de estatais e aumentaram impostos (não para os níveis de hoje, mas para níveis maiores que antes de 1964), e nem por isso deixaram de ser de direita, defendendo com unhas e dentes a iniciativa privada e perseguindo partidos e pessoas de esquerda. Os generais eram mentirosos então? Ou é mais fácil imaginar que você esteja confundindo as definições?Quiron escreveu:Muito pelo contrário. Esquerda sempre defende mais estado e direita sempre defende menos estado, basta acompanhar qualquer debate político. Se o sujeito está defendendo aumento de impostos e mais estado e se diz de direita, é um mentiroso. Já o anarquismo é uma utopia bocó que não serve para esclarecer nada, só confundir. O anarquismo eliminaria completamente o Estado e, uma vez sem regras, atingiria o pleno mercado livre, o que seria o sonho de um... liberal.
E o anarquismo de fato é bocó, mas é de esquerda por qualquer análise que se faça (e quem foi que disse que não existem ideários bocós à esquerda?).
De novo, qualificar Mussolini e o regime fascista como de esquerda e não de direita é absurdo por qualquer analise histórica que se estude. O mesmo sobre dizer que Getúlio se baseou em Lênin para qualquer coisa que fosse. Sem ofensa, mas acho que você está sendo vitima do pensamento maniqueísta "esquerda = ruim; direita = bom".O regime de Mussolini, que tudo tinha de esquerdista, criou comitês de planejamento que definiam as linhas de produtos, os níveis de produção, preços, salários, condições de trabalho, e o tamanho das firmas; os licenciamentos eram onipresentes e nenhuma atividade econômica podia ser realizada sem a permissão do governo; gigantesca intervenção do estado na economia; estatais gigantes; a Carta del Lavoro - inspiração da reforma trabalhista de Getúlio Vargas; criou a justiça do trabalho; fortaleceu as associações de trabalhadores e a participação destas na política etc. Ele se baseava nas idéias de Lênin e tentou uma "terceira via". Um verdadeiro neoliberal, não é verdade?
Evidentemente não foi isso que escrevi, mas só por curiosidade: quanto tempo levou para você ler tudo que todos os estudiosos de política de todas as épocas escreveram sobre fascismo?
Me indique um único texto sério (que não seja de algum blog da direita deslumbrada ou da esquerda desmemoriada - sempre a jovem) que afirme ou mesmo insinue isso, porque eu não conheço. Eu já dediquei sim muito tempo lendo não um mas diversos livros e artigos sobre definições, história e análises sociológicas, políticas e econômicas (o último foi o livro do Piketty, que terminei mês passado), e nunca vi nenhum estudioso reconhecido dizendo que Mussolini ou Getúlio tinham queda para a esquerda, muito pelo contrário. O que acontece é que estas ideias de o estado organizar as relações entre empresários e trabalhadores por sua conta não é exclusiva da esquerda, que em suas vertentes socialistas defendem que em última instância não existam mais é empresários. O que os ditadores da direita buscavam não era a igualdade (ideal da esquerda), mas a estabilidade social mesmo com desigualdades (ideal estatista - e sim, pode-se ser direitista e estatista).
Perceba que os setores estatais da Itália fascista eram os da indústria de base, necessários para alavancar a industrialização do país mas que os empresários italianos não tinham capacidade de montar por si mesmos. Eram empresas que foram criadas pelo estado, e não estatizadas. Novamente, pode haver estatismo de direita, uma coisa não é antagônica da outra. Seria de esquerda se as empresas privadas estivessem sendo estatizadas e seus proprietários transformados em assalariados ou mesmo trabalhadores proletários (socialismo estatizante), ou expropriadas e entregues a cooperativas de trabalhadores (socialismo liberal - sim, pode-se ser socialista liberal). Mas nenhum ditador de direita jamais sequer sugeriu isso, pelo contrário, prendeu e arrebentou quem sugeriu."Em 1939, o estado fascista controlava mais de quatro quintos da frota mercante e da construção naval da Itália, três quartos da produção de lingotes e quase metade da de aço". "Esse nível de intervenção estatal ultrapassava bastante o da Alemanha nazista antes da segunda guerra, fazendo com que o setor público italiano em tempos de paz só ficasse atrás da União Soviética". - Martin Blinkhorn, considerado um dos mais prestigiados professores de história europeia moderna da atualidade, autor de vários livros sobre Mussolini e o fascismo italiano (você deve ter lido esse quando leu todos os estudiosos de todas as épocas).
Você percebe o absurdo, não, de classificar o governo nazista como sendo de esquerda? esta tomada de controle das empresas foi feita apenas quando os nazistas achavam que a empresa não estava empenhada como deveria no esforço de guerra, ou que não estava agindo de acordo com as diretrizes do partido. Mas mesmo na maioria destes casos os donos das empresas continuavam seus donos, apenas a administração era controlada pelo governo mas a propriedade se mantinha, a menos que a ação do proprietário tivesse sido mais séria e o dono fosse acusado de traidor da pátria (o que não necessariamente envolvia a administração da empresa - o simples contato com conspiradores anti-nazistas já era justificativa). Mas estes casos foram relativamente raros. Isso na verdade foi bem pouco comum até a parte final da guerra, quando ficou claro que a liderança de Hitler era um equívoco e ele começou até mesmo a ordenar a destruição pura e simples das empresas, para que não restasse nada na Alemanha após o que já percebia como o fim inevitável do seu regime. Aí os empresários começaram a querer descer do barco, e o governo interviu para não apressar ainda mais a sua derrocada.E vamos lembrar que na Alemanha de Hitler o governo chegou a nomear os diretores das empresas privadas, determinar a produção, o preço dos produtos e os salários dos trabalhadores. Centralismo total, o que nos leva ao conceito hoje universalmente aceito: esquerda = mais estado, mais intervenção.
Excetuando-se, é claro, quando os donos das empresas não eram considerados "arianos puros", aí a coisa já começou mesmo antes da guerra. Mas esta já é outra história.
Foi sim uma acusação, mas irônica, justamente para mostrar o absurdo que o outro lado comete o tempo todo e nem se preocupa em perceber como isso é ofensivo.Pois me pareceu que você quis acusar um sujeito a favor de privatizar tudo de seguidor de um interventor/estatista radical, o que seria um absurdo.
Tudo que se faz nos ainda existentes mas na verdade praticamente insignificantes círculos marxistas é apenas mais uma forma de fomentar e dirigir a esperada revolução marxista, que não veio naturalmente como se pensava ano tempo de Marx vivo. Nada de realmente novo, só mais uma reedição adaptada aos seus tempos do leninismo, maoísmo e etc... . E hoje quase ninguém liga mais para isso fora os que adoram um espantalho vermelho para justificar suas ideias negras.Parece que você escolheu ignorar tudo desde a Escola de Frankfurt pra cá, o que daria uns 90 anos de marxismo aplicado em outras áreas.
A onda de vender tudo é muito mais antiga. Ou não houve uma já no tempo de Collor e FHC? Para os defensores do privatismo qualquer desculpa ou argumento vale, o negócio é privatizar por privatizar, e isso não começou agora embora tenham surgido novos adeptos.Afirmação completamente falsa. Falei que devido aos atuais escândalos surgiu essa atual onda de vender tudo.
Leandro G. Card