Ditadura Portuguesa - 1926 - 1974 e período revolucionário

Área destinada para discussão sobre os conflitos do passado, do presente, futuro e missões de paz

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Re: Ditadura Portuguesa - 1926 - 1974 e período revolucionár

#196 Mensagem por soultrain » Qua Nov 09, 2011 7:29 pm

Essa o meu Avô ouviu em directo, mas contou-me uma anedota engraçada para demonstrar como ele era sovina.

Um ministro chega de manhã e diz:

-Bom dia Senhor Presidente do Concelho, calcule que hoje decidi poupar 2 centavos, vim para cá a correr atrás do eléctrico.

-Se tivesse corrido atrás de um taxi, poupava 20 centavos e ainda chegava mais depressa!

"O que se percebe hoje é que os idiotas perderam a modéstia. E nós temos de ter tolerância e compreensão também com os idiotas, que são exatamente aqueles que escrevem para o esquecimento" :!:


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Re: Ditadura Portuguesa - 1926 - 1974 e período revolucionár

#197 Mensagem por tflash » Qua Nov 09, 2011 7:58 pm

Para mim, esta é a melhor!

- Já conheces a última maneira de cozinhar bacalhau?
- Qual?
- Bacalhau à Salazar.
- Como é?
- Só batatas. . .

Isto é um programa de humor mas dá para ver o contexto em que as pessoas evocam o Salazar.

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Re: Ditadura Portuguesa - 1926 - 1974 e período revolucionár

#198 Mensagem por Túlio » Qua Nov 09, 2011 8:24 pm

O colega General Spínola mencionou em tom laudatório em outro tópico o nome de um certo SALGUEIRO MAIA. Fiquei curioso e fui ler mais, acabando por dar com este texto, que achei interessantíssimo. Detalhe; após ler, se eu usasse o nick do colega* que motivou minha pesquisa, o trocaria na hora... :twisted: :twisted: :twisted: :twisted:

Mas o feito de SALGUEIRO MAIA me parece quase épico, vale bem a leitura:

CRÓNICA DE UM PAÍS CINZENTO


Era uma vez um país cinzento onde nada acontecia... Ou melhor, as coisas e as pessoas aconteciam e nasciam, mas logo que acabavam de acontecer e de nascer, a cor era-lhes retirada, tudo passava a ser cinzento como nos noticiários da televisão da época. Até que...



3.25: ALEA JACTA EST:
MÓNACO, MÉXICO E TÓQUIO SÃO OCUPADOS





Na Rua Rodrigo da Fonseca, em Lisboa, na esquina com a Sampaio Pina, perto do Liceu Maria Amália, há um café-restaurante chamado «Pisca-Pisca». É quase meia-noite do dia 24 de Abril de 1974. Uma noite fria e ventosa, apesar da Primavera. Um grupo de cinco clientes entra no estabelecimento onde as cadeiras estão já arrumadas sobre as mesas. Pedem cafés. Um deles pergunta a um empregado se vão fechar.

- Claro, diz o homem - amanhã é dia de trabalho!

- Se calhar não vai ser - responde o freguês. - E, olhe, no futuro até vai ser feriado!

O empregado olha surpreendido aqueles clientes tardios e com um sentido de humor tão estranho. Se reparasse que apesar dos casacos diferentes, todos vestem calças, meias e sapatos iguais, ainda ficaria mais surpreendido.

São jovens, pouco mais de trinta anos os mais velhos, e estão excitadamente alegres. Com alguns outros, estiveram até agora fechados nos seus automóveis desde as nove da noite, suportando o vento fresco do alto do Parque Eduardo VII. São o 10º Grupo de Comandos. Às 22.55, nos rádios dos carros, sintonizados para os Emissores Associados de Lisboa, a voz do locutor João Paulo Diniz anunciou o Paulo de Carvalho na canção do Eurofestival «E Depois do Adeus» e provocou-lhes esta excitação de felicidade. Preparam-se para assaltar o Rádio Clube Português, na Rua Sampaio Pina, e para o transformar no emissor do posto de comando do Movimento das Forças Armadas.

À meia-noite e vinte, na Rádio Renascença, a voz de Zeca Afonso irrompe com a «Grândola, Vila Morena». É o segundo sinal. O MFA está em marcha, já nada o pode travar.

Na EPA, Escola Prática de Artilharia, de Vendas Novas, o coronel que comanda a unidade é preso no seu gabinete por um grupo de capitães e tenentes. A central telefónica e a central rádio são ocupadas, as entradas do quartel colocadas sob controlo.

Na EPAM, Escola Prática de Administração Militar, no Lumiar, em Lisboa, os capitães e subalternos preparam-se, com as forças sob o seu comando, para se dirigirem para ali perto, para a Alameda das Linhas de Torres, e ocupar os estúdios da Radiotelevisão Portuguesa.

Do Batalhão de Caçadores 5, em Campolide, sai uma coluna apeada para reforçar o comando de assalto ao Rádio Clube Português, que os tardios clientes do «Pisca-Pisca» e os seus companheiros ocuparam já.

Do Campo de Tiro da Serra da Carregueira (CTSC), pouco depois das 2.00 sai uma coluna motorizada para ocupar a Emissora Nacional, na Rua do Quelhas, em Lisboa.

Entre as 3.15 e as 3.25 da madrugada de 25, ao posto de comando, instalado no Regimento de Engenharia 1, na Pontinha, onde o major Otelo Saraiva de Carvalho coordena as operações, chegam sucessivamente as mensagens de que Mónaco, México e Tóquio foram tomados. São os nomes de código para a Radiotelevisão Portuguesa, para o Rádio Clube Português e para a Emissora Nacional. Os capitães sabem que a guerra da informação é fundamental ser ganha. Por isso, deram prioridade aos objectivos que lhes irão permitir dominar as comunicações e ter o controlo da informação.



CAI NOVA IORQUE



Tudo está a correr de acordo com a ordem de operações. Todas as forças vão atingindo os seus objectivos. A coluna do Regimento de Infantaria 10, de Aveiro, chega junto dos portões do Regimento de Artilharia Pesada, da Figueira da Foz, às 3.40. O comandante é preso. Aguarda-se a chegada das forças do CICA 2, também da Figueira, e do Regimento de Infantaria 14, de Viseu. É o agrupamento Norte que, depois de concentrado, se dirigirá aos seus alvos, controlando um segmento da fronteira com Espanha, ocupando o Forte de Peniche, a Pide/DGS do Porto... Outras forças correm para outros objectivos: quartéis da Legião Portuguesa, unidades da GNR e da PSP, as fronteiras mais próximas, as antenas de rádio... Tudo corre bem. No posto de comando, na Pontinha, apenas uma preocupação: o aeroporto da Portela ainda não foi tomado. A Escola Prática de Infantaria (EPI), de Mafra, deveria ali ter chegado à hora H (às 3.00) para tomar a torre de controlo, ocupar as pistas, interditando a descolagem e aterragem de aviões. Terá corrido mal alguma coisa? Finalmente, às 4,20 recebe-se uma comunicação:

- Nova Iorque, conquistada e controlada!

O aeroporto de Lisboa está em poder da Revolução!



AQUI POSTO DE COMANDO...



Às 4,26 o Rádio Clube Português emite o primeiro comunicado. Joaquim Furtado lê pausada e solenemente:

«Aqui posto de comando do Movimento das Forças Armadas.

As Forças Armadas portuguesas apelam a todos os habitantes da cidade de Lisboa no sentido de recolherem a suas casas, nas quais se devem conservar com a máxima calma. Esperamos sinceramente que a gravidade da hora que vivemos não seja tristemente assinalada por qualquer acidente pessoal, para o que apelamos para o bom senso dos comandos das forças militarizadas, no sentido de serem evitados quaisquer confrontos com as Forças Armadas. Tal confronto, além de desnecessário, só poderá conduzir a sérios prejuízos individuais que enlutariam e criariam divisões entre os Portugueses, o que há que evitar a todo o custo. Não obstante a expressa preocupação de não fazer correr a mínima gota de sangue de qualquer português, apelamos para o espírito cívico e profissional da classe médica, esperando a sua acorrência aos hospitais, a fim de prestar a sua eventual colaboração, que se deseja, sinceramente, desnecessária».

Segue-se A Portuguesa e, depois, marchas militares.



SINAL VERMELHO É PARA AVANÇAR



Entretanto, às 3.30, a porta de armas da Escola Prática de Cavalaria (EPC), de Santarém, fora atravessada por dez viaturas blindadas, doze de transporte, duas ambulâncias, um jipe e uma viatura civil de exploração à frente da coluna comandada pelo capitão Salgueiro Maia. Objectivo principal: Toledo ou, descodificando, o Terreiro do Paço e os seus ministérios.

As viaturas atravessam a lezíria sem impedimento. Chegam à auto-estrada e, procurando recuperar o atraso com que tinham saído da unidade, vêm a grande velocidade. Chegam à portagem da auto-estrada do Norte às 5.30, saem da 2ª Circular para o Campo Grande. Em duas horas, a coluna percorreu 90 quilómetros, o que é uma grande velocidade para as autometralhadoras. Salgueiro Maia ouve num dos rádios um carro-patrulha da PSP a informar o seu Comando da passagem da coluna, impressionado com o número de autometralhadoras. Mas passemos a palavra ao comandante Maia: «Enquanto ouvia estas informações, o jipe trava de repente e dou comigo parado no sinal vermelho do cruzamento da Cidade Universitária. Olho para o lado e vejo um autocarro da Carris também parado. Achei que era de mais parar a Revolução ao sinal vermelho, quando o que distinguia os carros do MFA era um triângulo vermelho no lado esquerdo das viaturas ou tapando a matrícula. Mando avançar tocando as sirenes das autometralhadoras EBR até chegar ao Terreiro do Paço».

Às 6.00 a coluna atinge finalmente Toledo, o coração do regime! Os carros de combate cercam os ministérios, a divisão da PSP aquartelada no Governo Civil, a Câmara Municipal, a Marconi e o Banco de Portugal. No centro da praça uma Chaimite e uma autometralhadora EBR, com o jipe do comandante, constituem o posto de comando e a força de intervenção de Salgueiro Maia. A primeira parte da sua missão é cumprida com êxito - chega ao seu objectivo antes de ser dado o alarme geral. Charlie Oito, ou seja, Salgueiro Maia, comunica a Tigre, ou seja, a Otelo:

- Ocupámos Toledo e controlamos Bruxelas e Viena (Banco de Portugal e Rádio Marconi)!

Entretanto, os comunicados vão-se sucedendo na rádio. Às 4.45, aconselha-se às forças militarizadas e policiais que recolham aos seus quartéis e aí aguardem as ordens que o MFA lhes transmita. Às 5.15 sobe o tom e adverte-se as forças repressivas do regime que serão severamente responsabilizadas caso enveredem pela luta armada. Às 5.45, num comunicado mais extenso reforça-se o que foi dito nos anteriores, e apela-se para o civismo de todos os portugueses no sentido de ser evitado qualquer confronto armado. Nos intervalos, cantam José Afonso, Adriano Correia de Oliveira, José Jorge Letria, Francisco Fanhais, Luís Cília, José Mário Branco. Os Portugueses adormeceram cinzentos e escravos num país cinzento onde nada acontecia. A madrugada vai-se enchendo de sons e de cores. Os Portugueses acordam noutro país. Um país onde tudo acontece.



UMA ESTRELA DO MFA VITORIOSO




A partir da chegada da coluna de Salgueiro Maia ao centro físico do poder político, a acção deste capitão confunde-se com a história do próprio 25 de Abril. É óbvio que ao mesmo tempo, em Lisboa e no País, ocorrem factos, o MFA cumpre objectivos, a Revolução assume o controlo. Porém ali, entre o nascer do dia e o meio da tarde, verificam-se os acontecimentos centrais do 25 de Abril. Se Otelo é o estratega, o cérebro da operação, Salgueiro Maia é o seu braço mais importante. Diz Otelo («Alvorada em Abril»): Salgueiro Maia iria ser o comandante das forças do Movimento mais sujeito a situações de perigo e de tensão ao longo do dia 25. O número de homens que tem sob o seu comando e o potencial bélico de que dispõe permitem-lhe, todavia, encarar com certo optimismo as situações de responsabilidade que se lhe vão deparando e sendo resolvidas e que farão concentrar sobre ele e as forças da EPC as preocupações do posto de comando e as atenções e o carinho das massas populares que, a partir do Terreiro do Paço, não mais deixarão de o acompanhar e aos seus homens, guindando desde logo o jovem capitão às culminâncias de primeira estrela do MFA vitorioso».



ALGUMAS NUVENS



Porém, sobre esta estrela rutilante algumas nuvens se vão acastelando.

Os guardiães do regime começam a acordar no meio daquilo que, para eles, é um verdadeiro pesadelo. Desde as 3.30 que, no Porto, o comandante da PSP local telefona para o Comando da GNR a informar sobre a tomada do Quartel General da Região Militar pelos revoltosos. A partir deste primeiro alarme, as comunicações sucedem-se por todo o País. Até que, pelas 5.00, Silva Pais, director-geral da PIDE, telefona a Marcelo Caetano:

- Senhor Presidente, a Revolução está na rua!

É então que se decide que o chefe do Governo se deve acolher ao quartel do Carmo.

É surpreendente que um regime ditatorial, com uma experiência de repressão de quase cinco décadas e em cujas estruturas os militares tinham um peso tão significativo, estivesse afinal tão mal preparado para resistir a um golpe militar. Em todo o caso, algumas medidas foram sendo tomadas. Assim, pouco depois das 6.00 chega ao Terreiro do Paço um pelotão de AML/Chaimites pertencente ao Regimento de Cavalaria 7, comandado por um alferes miliciano que às primeiras palavras de Salgueiro Maia adere ao Movimento. O mesmo acontece a dois pelotões de Lanceiros 2. No Ministério do Exército, o ministro e outros elementos do Governo estão reunidos de emergência para fazer face à rebelião. Ao verem que as forças que vão sendo enviadas para os proteger vão aderindo à Revolução, os valorosos cabos de guerra encontram uma única saída para a situação: abrem à picareta um buraco na parede e, passando para a biblioteca do Ministério da Marinha, dão às de vila-diogo!

No Atlântico, a fragata Almirante Gago Coutinho, integrada numa esquadra da NATO, participa no exercício «Dawn Patrol». Recebe ordens para abandonar as manobras, entrar no Tejo e abrir fogo sobre as forças insurrectas que ocupam o Terreiro do Paço. Cerca das 9.00 a silhueta esguia da fragata surge diante do centro de Lisboa. Uma bateria da Escola Prática de Artilharia, de Torres Novas, segue em Londres , ou seja no morro do Cristo-Rei de Almada, os movimentos do navio. Porém sabe-se que o elevado poder de fogo do vaso de guerra pode causar grandes estragos. Tigre ordena a Charlie Oito que proteja o pessoal e os blindados, metendo o que for possível sob as arcadas da praça. O comandante Vítor Crespo consegue que seja anulada a ordem e que a fragata acabe por ir fundear, cerca do meio-dia, em frente ao Alfeite.

Quando Salgueiro Maia e o posto de comando ainda estão a suspirar de alívio por ter passado a ameaça da Gago Coutinho, surgem cinco carros de combate M/47 de Cavalaria 7 seguidos de atiradores do Regimento de Infantaria 1, da Amadora, e alguns soldados da PM de Lanceiros 2. Um brigadeiro comanda a coluna. Salgueiro Maia, de braços erguidos, agitando um lenço branco, tenta o diálogo, mas o brigadeiro não aceita encontrar-se com ele a meio caminho. Dá ordem a um alferes que abra fogo. O jovem não obedece. Irado, o brigadeiro, repete a ordem directamente aos apontadores dos carros e aos atiradores de infantaria. Salgueiro Maia está a descoberto debaixo da mira das torres dos blindados e das espingardas dos atiradores. Nem as tripulações dos carros nem os outros soldados obedecem. Dando vozes de prisão a torto e a direito, disparando para o ar, o brigadeiro salta do carro e desaparece. Toda a coluna fica sob as ordens do capitão Maia.



RUMO AO CARMO



Antes do meio-dia, pelo posto de comando, Salgueiro Maia é informado de que Marcelo Caetano está no Carmo. Deixando forças a guardar os ministérios, avança para lá. Quando entra no Rossio, aparece-lhe pela frente uma coluna militar com uma companhia de atiradores que o Governo enviara para fazer frente aos revoltosos. O Capitão salta do seu jipe e vai perguntar ao comandante da coluna o que está ali a fazer. É-lhe respondido que tem ordens para o prender, mas que está com a Revolução. E também esta coluna é integrada nas forças que avançam para o Carmo.

As edições especiais dos jornais começam a circular. O Rossio, a Rua do Carmo, todo o percurso, está cheio de populares que vitoriam os soldados. Os cravos vermelhos começam a ser enfiados nos canos das G-3. É cerca de 12,30. Diz o capitão: «No Carmo, ao chegar houve desde senhoras a abrir portas e janelas para colocar os homens nas posições dominantes sobre o Quartel, até ao simples espectador que enrouquecia a cantar o Hino Nacional. O ambiente que lá se viveu não tem descrição, pois foi de tal maneira belo que depois dele nada de mais digno pode acontecer na vida de uma pessoa».

Após a intimação para que a guarnição se renda e entregue Marcelo Caetano, não sendo obedecido, Maia recebe ordem do posto de comando para abrir fogo sobre o edifício. Porém, ele sabe que as granadas explosivas das autometralhadoras num largo apinhado de gente irão provocar centenas de mortes. Manda disparar armas automáticas para a parte superior do Quartel .

Entra uma primeira vez dentro do edifício, mas não consegue a rendição. Entra uma segunda vez e exige falar com o Presidente do Conselho. Numa antecâmara, Rui Patrício chora como uma criança e Moreira Baptista olha, ausente, o infinito. Deixemos que ele nos descreva o seu diálogo com Marcelo Caetano:

«Marcelo estava pálido, barba por fazer, gravata desapertada, mas digno.

Fiz-lhe a continência da praxe e disse-lhe que queria a rendição formal e imediata. Declarou-me já se ter rendido ao Sr. General Spínola, pelo telefone, e só aguardava a chegada deste para lhe transferir o Poder, para que o mesmo não caísse na rua! Estive para lhe dizer que estava lá fora o Poder no povo e que este estava na rua. Declarou esperar que o tratassem com a dignidade com que sempre tinha vivido e perguntou o que ia ser feito dele. Declarei que certamente seria tratado com dignidade, mas não sabia para onde iria, pois isso não me competia a mim decidir. Perguntou a quem competia. Declarei que a «Óscar». Perguntou quem era «Óscar». Declarei ser a Comissão Coordenadora. Perguntou-me quem eram os chefes. Declarei serem vários oficiais, incluindo alguns generais, isto para que ele não ficasse mal impressionado por a Revolução ser feita essencialmente por capitães.

Perguntou-me ainda o que ia ser feito do Ultramar. Declarei-lhe que a solução para a guerra seria obtida por conversações. Toda esta conversa, tida a sós, teve por fundo o barulho do povo a cantar o Hino Nacional e o Está na hora».

Depois, pouco antes das 18.00, chega Spínola, que embora tenha dito a Marcelo nada ter a ver com o Movimento, rapidamente assume ares de «dono da guerra», no dizer de Salgueiro Maia. Às 19,30, Marcelo, Moreira Baptista e Rui Patrício entram numa viatura blindada que encostou a traseira à porta de armas do Quartel. Na confusão que se estabelece, com a multidão a gritar «assassinos!», e com os militares a proteger os homens do regime da ira popular, Henrique Tenreiro que deveria também seguir preso no transporte blindado, mistura-se com os populares e escapa-se, gozando mais umas horas de liberdade.

Após a rendição de Marcelo Caetano e a sua saída do Quartel, pode dizer-se que a Revolução estava ganha, embora, ali perto, na Rua António Maria Cardoso, os agentes da PIDE, encurralados como feras dentro da sua sede, disparassem das janelas, matando cinco pessoas. As únicas mortes verificadas durante o 25 de Abril.

A noite iria ser longa. Muita coisa iria passar-se até que nos ecrãs da televisão os Portugueses tivessem ocasião de ver a Junta de Salvação Nacional, com uns senhores empertigados, com um vago ar de golpistas sul-americanos, viessem, armados em «donos da guerra», ditar as leis de uma Revolução para a qual nada tinham contribuído, deixando na sombra os jovens oficiais que, como Salgueiro Maia, tudo tinham feito, que tudo tinham arriscado.



E DEPOIS, O ADEUS



Naquele dia do princípio de Abril de 1992, no cemitério de Castelo de Vide, quatro presidentes da República (António de Spínola, Costa Gomes, Ramalho Eanes e Mário Soares), vêem descer à terra num modesto caixão o corpo de um dos homens que mais contribuiu para que tivessem podido ascender à mais alta magistratura da Nação. No dia 4, Fernando Salgueiro Maia fora vencido pela doença. «O gajo ganhou», dissera ele a um oficial da EPC, referindo-se ao cancro quando se convenceu do carácter terminal da sua doença.

Quem é este homem, vencedor de batalhas, de revoluções, que agora desce à terra, em campa rasa, ao som do «Grândola, Vila Morena»?

Nasce ali, em Castelo de Vide, em 1 de Julho de 1944. Muito novo, fica órfão de mãe. Faz os estudos primários em São Torcato, Coruche, e os secundários no Colégio Nun'Álvares de Tomar e no Liceu Nacional de Leiria. Em 1964, ingressa na Academia Militar.

«Filho de uma família de ferroviários, é a situação de guerra nas colónias que me permite o acesso à Academia Militar, pois o conflito fez perder as vocações habituais, e assim a instituição foi obrigada a abrir as suas portas», diz-nos ele em «Capitão de Abril». Dois anos depois, apresenta-se na Escola Prática de Cavalaria. Depois, a guerra.

Porém, tudo se pode resumir a uma breve legenda: Salgueiro Maia, soldado português que à frente de 240 homens e com dez carros de combate da EPC avançou em 25 de Abril de 1974 sobre Lisboa, ocupou o Terreiro do Paço levando os ministros de um regime ditatorial de quase 50 anos a fugir como coelhos assustados, cercou o Quartel do Carmo obrigando Marcelo Caetano a render-se e a demitir-se. Atingiu o posto de tenente-coronel, recusou cargos de poder. É o mais puro símbolo da coragem e da generosidade dos capitães de Abril.

E quase tudo terá ficado dito.

____________________

Nota: Este texto foi elaborado com base em diversos depoimentos de intervenientes no 25 de Abril. Entre estes destacamos o livro de Salgueiro Maia «Capitão de Abril», editado pela Editorial de Notícias e a 4ª edição de «Alvorada em Abril», de Otelo Saraiva de Carvalho, também da mesma editora.


http://www.vidaslusofonas.pt/salgueiro_maia.htm

Madrugada de 25 de Abril de 74, parada da Escola Prática de Cavalaria, em Santarém:

"Meus senhores, como todos sabem, há diversas modalidades de Estado. Os estados sociais, os corporativos e o estado a que chegámos. Ora, nesta noite solene, vamos acabar com o estado a que chegámos! De maneira que, quem quiser vir comigo, vamos para Lisboa e acabamos com isto. Quem for voluntário, sai e forma. Quem não quiser sair, fica aqui!"



------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------


* - http://pt.wikipedia.org/wiki/Ex%C3%A9rc ... e_Portugal e

http://pt.wikipedia.org/wiki/Ant%C3%B3n ... %C3%ADnola


ELP era um movimento terrorista de ULTRADIREITA... :twisted: :twisted: :twisted: :twisted:
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Re: Ditadura Portuguesa - 1926 - 1974 e período revolucionár

#199 Mensagem por Túlio » Qua Nov 09, 2011 8:44 pm

Mas como tudo tem pelo menos mais de um lado a se apreciar, aqui a até então para mim desconhecida OPERAÇÃO MAR VERDE, em quatro partes. Estupendo documento histórico e mostrando uma outra visão do General Spínola:

http://forumarmada.no.sapo.pt/docs/FA-M ... erde1.html
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Re: Ditadura Portuguesa - 1926 - 1974 e período revolucionár

#200 Mensagem por Paisano » Qua Nov 09, 2011 8:54 pm

Túlio escreveu:
soultrain escreveu:Já que a minha ideia de nos submetermos ao Império Romano não colheu, mesmo sabendo que não tínhamos nenhum deficit publico, acho melhor recuar mais no tempo e que tal voltar à época do Bronze????


Sempre ouvi dizer que ai foi a glória e que as coisas funcionavam muito bem, todos os saudosistas juntai-vos!!!!!!!

Necas, melhor o Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves... :mrgreen: :mrgreen: :mrgreen: :mrgreen:
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Re: Ditadura Portuguesa - 1926 - 1974 e período revolucionár

#201 Mensagem por tflash » Qua Nov 09, 2011 8:55 pm

Revolução de 25 de Abril de 1974 em filme: Capitães de Abril.



























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Re: Ditadura Portuguesa - 1926 - 1974 e período revolucionár

#202 Mensagem por soultrain » Qua Nov 09, 2011 9:59 pm

Realmente o 25 de Abril foi uma operação faltam-me as palavras, roçou a perfeição militar, foi estrategicamente e taticamente perfeita. Ainda teve aquela aura de autenticidade popular, porque era realmente o que a maioria do povo queria. A seguir ao plano militar houve um movimento popular imprevisível, a alegria colectiva acabou com o cinzentismo do país.

A liberdade era algo tão ansiado, por tantos anos que foi uma explosão genuína de alegria e felicidade, pelo que os meus pais me contam. Eu nasci em Agosto de 74, na altura do 25 de Abril o meu pai estava em Lisboa, foi-se embora para Angola pouco depois, só o conheci tinha 3 anos. Talvez pelo sentimento de culpa ele me tenha falado tanto sobre esse período. Ele teve de voltar para Angola, quando se gritava na rua "nem mais um militar para o ultramar", segundo me conta nesse período, especialmente no fim, foi guerra a sério que nunca tinha visto antes.

Discordo bastante do texto acima, considero o Salgueiro Maia um herói nacional e um homem de princípios e integro que realmente não pactuou com muita coisa e ficou na sombra, nunca quis os holofotes para si. Por isso quem escreveu o texto, querer virar os holofotes, não faz sentido e não faz porque ele era um operacional, quem planeou tudo foi a Comissão Coordenadora do MFA , onde o Otelo teve um papel fundamental (apesar do homem ter sido um criminoso após, tiro-lhe o chapéu como estratega).

Mas para ele ser tudo isso que dizem no texto, faltou uma coisa fundamental para ser mais que um herói fugaz do momento! Faltou sair da sombra e lutar pelos seus ideais, isso só raros homens de fibra conseguem, e eu condeno-o por não ser capaz de enfrentar os seus medos e afrontar quem ele discordava. É muito complexo o que se passou no PREC e conheço algumas coisas, mas ele tinha essa obrigação pelo país. Não digo ele passar a ser personagem ou politico, mas a voz de alguma razão, como foi o grupo dos 9, liderado pelo Melo Antunes.

Acaba por ser um personagem fugaz que é imaculado porque não tomou decisões difíceis. Eu sei que ele e muitos dos militares de Abril eram idealistas como o meu pai e só queriam entregar o poder ao povo e realizar eleições democráticas, saindo de cena o mais rápido possível (Este foi um dos princípios de Abril mais nobres e mais complicados de fazer), mas quando as coisas ficaram feias ele tinha de ter erguido a voz. Creio que também ficou decepcionado com o Otelo.

Deixo aqui uma parte da biografia da wiki:
A 25 de Novembro de 1975 sai da EPC, comandando um grupo de carros às ordens do Presidente da República. Será transferido para os Açores, só voltando a Santarém em 1979, onde ficou a comandar o Presídio Militar de Santarém. Em 1984 regressa à EPC.

Em 1983 recebe a Grã-Cruz da Ordem da Liberdade, em 1992, a título póstumo, o grau de Grande Oficial da Ordem da Torre e Espada e em 2007 a Medalha de Ouro de Santarém. Recusou, ao longo dos anos, ser membro do Conselho da Revolução, adido militar numa embaixada à sua escolha, governador civil de Santarém e pertencer à casa Militar da Presidência da República. Foi promovido a major em 1981.

"O que se percebe hoje é que os idiotas perderam a modéstia. E nós temos de ter tolerância e compreensão também com os idiotas, que são exatamente aqueles que escrevem para o esquecimento" :!:


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Re: Ditadura Portuguesa - 1926 - 1974 e período revolucionár

#203 Mensagem por Túlio » Qua Nov 09, 2011 10:23 pm

Não te entendi, Soul véio: talvez O ÚNICO golpe militar a ser respeitado seja precisamente este: retirar do poder um ditador e trazer de volta a Democracia, recolhendo-se tão logo possível de volta ao anonimato da caserna. Foi o que ele fez e para mim parece bem.

Como disse em outro post, aqui quase tivemos o nosso 25A logo após a 2GM, os Militares deixaram claro a Getúlio Vargas que ou convocava eleições livres das quais não participasse (já governava havia 15 anos) ou levaria golpe; matreiro como sempre foi, concordou e, na eleição para suceder ao governo que o sucedeu, participou e venceu! Poucos anos após, à ameaça de novo golpe, suicidou-se, em episódio até hoje controverso. Foi ele, Getúlio Vargas, Gaúcho de São Borja, civil, o ÚNICO ditador de nossa história, a se usar corretamente a palavra...

Mas e o Regime Militar? A rigor, é complicado chamar de DITADURA, eis que ditadores têm como uma de suas características principais a sufocação de qualquer liderança que lhes ameace o poder perpétuo; aqui era mais como uma troca de comando em um quartel, vinha um General, comandava o Brasil por quatro anos e ao fim deles cedia o posto na forma do Regulamento a seu sucessor e ia para o pijama. Até que um deles o cedeu a um civil (em outro episódio controverso: Tancredo Neves venceu a 'eleição' - entre aspas porque indireta, no Congresso - mas morreu e assumiu uma figura que ainda está por aí, José Sarney...) e, aos poucos, a Democracia voltou a deitar raízes por aqui, entre acertos e erros...

E aí o 'what if': E SE os NOSSOS Militares tivessem agido como o Salgueiro Maia, simplesmente removendo o nocivo (des)governo pró-baderna de João 'Jango' Goulart (outro Gaúcho de São Borja) e convocado novas eleições, entregando o poder de volta aos civis e retornado à caserna?
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Re: Ditadura Portuguesa - 1926 - 1974 e período revolucionár

#204 Mensagem por soultrain » Qua Nov 09, 2011 10:43 pm

Mas não é isso que critico no Salgueiro Maia, isso foi a nobreza dele e de muitos outros militares, alguns conhecidos, outros não.

A minha critica até está ao seu endeusamento, ou seja a quem faz isso. É como um piloto de F1 fazer a melhor corrida de sempre da modalidade e logo depois ir para uma formula menor e ser mediano fora dos holofotes. Nada contra essa atitude, não digam é que ele foi o melhor piloto de F1 da história.

Ele não fez mais que cumprir a sua missão com excelência, como o fizeram outros militares. Militares esses quando viram que a coisa ia para caminhos menos democráticos deram a cara, disseram e fizeram coisas boas e menos boas e caiu-lhes a capa de heróis e passaram a ser iguais a todos com acertos e falhas.

Mas o povão precisa de heróis populares.


Nunca deve branquear o que se passou, não existe ditabranda, só existe ditadura e democracia, não há meias democracias, nem meias ditaduras.

"O que se percebe hoje é que os idiotas perderam a modéstia. E nós temos de ter tolerância e compreensão também com os idiotas, que são exatamente aqueles que escrevem para o esquecimento" :!:


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Re: Ditadura Portuguesa - 1926 - 1974 e período revolucionár

#205 Mensagem por Túlio » Qua Nov 09, 2011 10:52 pm

Exato. Em linhas gerais, na prática concordamos, então. A Democracia pode ser um péssimo sistemo de governo, exceto que ninguém demonstrou outro MELHOR, como diria o véio Lord Winston Churchill... :wink: 8-]
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Re: Ditadura Portuguesa - 1926 - 1974 e período revolucionár

#206 Mensagem por tflash » Qua Nov 09, 2011 11:13 pm

Discordo, uma ditadura comigo a mandar, seria, no meu ponto de vista, um governo melhor. :twisted:
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Re: Ditadura Portuguesa - 1926 - 1974 e período revolucionár

#207 Mensagem por Túlio » Qua Nov 09, 2011 11:15 pm

Melhor para TI! Assim até EU... :twisted: :twisted: :twisted: :twisted:
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Re: Ditadura Portuguesa - 1926 - 1974 e período revolucionár

#208 Mensagem por gaia » Qui Nov 10, 2011 7:47 am

gaia escreveu:
tflash escreveu:Que eu me lembre, a coisa que as acções do BCP mais fazem é descer, e não é de agora.

Obviamente que o conteúdo para a época e para o público a quem era dirigido não tem nada de mais. Agora causa uma certa piada.

Aqui a questão é esta. Foi um regime autoritário que o colega não contesta. Provavelmente também não se adaptaria a algo como a vida nesse regime apesar de o defender.

Se o regime de Salazar já era desadequado na época, o que seria agora?

O povo português gosta muito do D. Sebastião e derivados. Chefe de governo com eles no sitio, para mim, só houve um. Sebastião de Carvalho e Melo. Foi autoritário, se bem que para a época isso era normal, mas quando deixou o cargo, Portugal era uma verdadeira potência, a todos os níveis.

Imagem
Tenho que sair , amanhã respondo , porque o Marquês até uma figura que não simpatizo,mas é pertinente relembrar este período da história.
A figura do Marquês é controversa , mação , governou o país com a mão de ferro .
Iluminista , tentou dar um grande incremento ao desenvolvimento económico , vinho porto , texteis , etc.
Acabou com a inquisição , os cristão novos deixaram de ser discriminados , devido aos registos de nascimento.

O lado negro , deixou as prisões cheias , a repressão no porto foi demasiado violenta, o processo dos Távora .
Os processo dos Távora , com uma tortura desmedida , e com uma execução tipo medieval , com requintes sanguinários , para um iluminista deixa muito a desejar.
Toda a família Távora , é presa, até as crianças , os bens foram confiscados , alguns palácios foram arrasados , e solo salgado .

O fim é triste , odiado por todos , até pela rainha D. Maria.

Há anos, visitei os jardim do palácio do marquês de pombal , em Oeiras , e fez me lembrar o chateau de vaux-le-vicomte ,que tinha visitado no ano anterior que pertenceu a Fouquet, ministro das finanças de de Luis XIV, em termos arquitectónicos , tem pouco em comum , mas os proprietários .

Fouquet foi ministro das finanças , e foi preso depois de Luis XIV ter visto numa festa o chateau , e ficou desconfiado.

No caso do nosso marquês , a primeira mulher era uma aristocrata , mas donde veio o dinheiro para construir o palácio ? Da herança primeira mulher , de bons investimentos ?

Curiosamente em 1934, que colocam a estátua do dito cujo , na rotunda do marquês, em Lisboa .

Salazar , disse uma algo curioso, só passados 100 ou 200 , a história e povo , dão o verdadeiro valor aos seus antepassados
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Re: Ditadura Portuguesa - 1926 - 1974 e período revolucionár

#209 Mensagem por gaia » Qui Nov 10, 2011 7:55 am

Túlio escreveu:O colega General Spínola mencionou em tom laudatório em outro tópico o nome de um certo SALGUEIRO MAIA. Fiquei curioso e fui ler mais, acabando por dar com este texto, que achei interessantíssimo. Detalhe; após ler, se eu usasse o nick do colega* que motivou minha pesquisa, o trocaria na hora... :twisted: :twisted: :twisted: :twisted:

Mas o feito de SALGUEIRO MAIA me parece quase épico, vale bem a leitura:

CRÓNICA DE UM PAÍS CINZENTO


Era uma vez um país cinzento onde nada acontecia... Ou melhor, as coisas e as pessoas aconteciam e nasciam, mas logo que acabavam de acontecer e de nascer, a cor era-lhes retirada, tudo passava a ser cinzento como nos noticiários da televisão da época. Até que...


O Salgueiro Maia , deu a especialidade , ao meu irmão , e no fim do curso , houve um jantar , e havia um recruta ,no fim de jantar que resolveu dizer mal do regime e da guerra colonial . Salgueiro Maia sai da sala sem proferir uma única palavra .

Depois do 25A afastou-se completamente do processo revolucionário , porque viu que tinha cometido o maior erro da vida dele .
3.25: ALEA JACTA EST:
MÓNACO, MÉXICO E TÓQUIO SÃO OCUPADOS





Na Rua Rodrigo da Fonseca, em Lisboa, na esquina com a Sampaio Pina, perto do Liceu Maria Amália, há um café-restaurante chamado «Pisca-Pisca». É quase meia-noite do dia 24 de Abril de 1974. Uma noite fria e ventosa, apesar da Primavera. Um grupo de cinco clientes entra no estabelecimento onde as cadeiras estão já arrumadas sobre as mesas. Pedem cafés. Um deles pergunta a um empregado se vão fechar.

- Claro, diz o homem - amanhã é dia de trabalho!

- Se calhar não vai ser - responde o freguês. - E, olhe, no futuro até vai ser feriado!

O empregado olha surpreendido aqueles clientes tardios e com um sentido de humor tão estranho. Se reparasse que apesar dos casacos diferentes, todos vestem calças, meias e sapatos iguais, ainda ficaria mais surpreendido.

São jovens, pouco mais de trinta anos os mais velhos, e estão excitadamente alegres. Com alguns outros, estiveram até agora fechados nos seus automóveis desde as nove da noite, suportando o vento fresco do alto do Parque Eduardo VII. São o 10º Grupo de Comandos. Às 22.55, nos rádios dos carros, sintonizados para os Emissores Associados de Lisboa, a voz do locutor João Paulo Diniz anunciou o Paulo de Carvalho na canção do Eurofestival «E Depois do Adeus» e provocou-lhes esta excitação de felicidade. Preparam-se para assaltar o Rádio Clube Português, na Rua Sampaio Pina, e para o transformar no emissor do posto de comando do Movimento das Forças Armadas.

À meia-noite e vinte, na Rádio Renascença, a voz de Zeca Afonso irrompe com a «Grândola, Vila Morena». É o segundo sinal. O MFA está em marcha, já nada o pode travar.

Na EPA, Escola Prática de Artilharia, de Vendas Novas, o coronel que comanda a unidade é preso no seu gabinete por um grupo de capitães e tenentes. A central telefónica e a central rádio são ocupadas, as entradas do quartel colocadas sob controlo.

Na EPAM, Escola Prática de Administração Militar, no Lumiar, em Lisboa, os capitães e subalternos preparam-se, com as forças sob o seu comando, para se dirigirem para ali perto, para a Alameda das Linhas de Torres, e ocupar os estúdios da Radiotelevisão Portuguesa.

Do Batalhão de Caçadores 5, em Campolide, sai uma coluna apeada para reforçar o comando de assalto ao Rádio Clube Português, que os tardios clientes do «Pisca-Pisca» e os seus companheiros ocuparam já.

Do Campo de Tiro da Serra da Carregueira (CTSC), pouco depois das 2.00 sai uma coluna motorizada para ocupar a Emissora Nacional, na Rua do Quelhas, em Lisboa.

Entre as 3.15 e as 3.25 da madrugada de 25, ao posto de comando, instalado no Regimento de Engenharia 1, na Pontinha, onde o major Otelo Saraiva de Carvalho coordena as operações, chegam sucessivamente as mensagens de que Mónaco, México e Tóquio foram tomados. São os nomes de código para a Radiotelevisão Portuguesa, para o Rádio Clube Português e para a Emissora Nacional. Os capitães sabem que a guerra da informação é fundamental ser ganha. Por isso, deram prioridade aos objectivos que lhes irão permitir dominar as comunicações e ter o controlo da informação.



CAI NOVA IORQUE



Tudo está a correr de acordo com a ordem de operações. Todas as forças vão atingindo os seus objectivos. A coluna do Regimento de Infantaria 10, de Aveiro, chega junto dos portões do Regimento de Artilharia Pesada, da Figueira da Foz, às 3.40. O comandante é preso. Aguarda-se a chegada das forças do CICA 2, também da Figueira, e do Regimento de Infantaria 14, de Viseu. É o agrupamento Norte que, depois de concentrado, se dirigirá aos seus alvos, controlando um segmento da fronteira com Espanha, ocupando o Forte de Peniche, a Pide/DGS do Porto... Outras forças correm para outros objectivos: quartéis da Legião Portuguesa, unidades da GNR e da PSP, as fronteiras mais próximas, as antenas de rádio... Tudo corre bem. No posto de comando, na Pontinha, apenas uma preocupação: o aeroporto da Portela ainda não foi tomado. A Escola Prática de Infantaria (EPI), de Mafra, deveria ali ter chegado à hora H (às 3.00) para tomar a torre de controlo, ocupar as pistas, interditando a descolagem e aterragem de aviões. Terá corrido mal alguma coisa? Finalmente, às 4,20 recebe-se uma comunicação:

- Nova Iorque, conquistada e controlada!

O aeroporto de Lisboa está em poder da Revolução!



AQUI POSTO DE COMANDO...



Às 4,26 o Rádio Clube Português emite o primeiro comunicado. Joaquim Furtado lê pausada e solenemente:

«Aqui posto de comando do Movimento das Forças Armadas.

As Forças Armadas portuguesas apelam a todos os habitantes da cidade de Lisboa no sentido de recolherem a suas casas, nas quais se devem conservar com a máxima calma. Esperamos sinceramente que a gravidade da hora que vivemos não seja tristemente assinalada por qualquer acidente pessoal, para o que apelamos para o bom senso dos comandos das forças militarizadas, no sentido de serem evitados quaisquer confrontos com as Forças Armadas. Tal confronto, além de desnecessário, só poderá conduzir a sérios prejuízos individuais que enlutariam e criariam divisões entre os Portugueses, o que há que evitar a todo o custo. Não obstante a expressa preocupação de não fazer correr a mínima gota de sangue de qualquer português, apelamos para o espírito cívico e profissional da classe médica, esperando a sua acorrência aos hospitais, a fim de prestar a sua eventual colaboração, que se deseja, sinceramente, desnecessária».

Segue-se A Portuguesa e, depois, marchas militares.



SINAL VERMELHO É PARA AVANÇAR



Entretanto, às 3.30, a porta de armas da Escola Prática de Cavalaria (EPC), de Santarém, fora atravessada por dez viaturas blindadas, doze de transporte, duas ambulâncias, um jipe e uma viatura civil de exploração à frente da coluna comandada pelo capitão Salgueiro Maia. Objectivo principal: Toledo ou, descodificando, o Terreiro do Paço e os seus ministérios.

As viaturas atravessam a lezíria sem impedimento. Chegam à auto-estrada e, procurando recuperar o atraso com que tinham saído da unidade, vêm a grande velocidade. Chegam à portagem da auto-estrada do Norte às 5.30, saem da 2ª Circular para o Campo Grande. Em duas horas, a coluna percorreu 90 quilómetros, o que é uma grande velocidade para as autometralhadoras. Salgueiro Maia ouve num dos rádios um carro-patrulha da PSP a informar o seu Comando da passagem da coluna, impressionado com o número de autometralhadoras. Mas passemos a palavra ao comandante Maia: «Enquanto ouvia estas informações, o jipe trava de repente e dou comigo parado no sinal vermelho do cruzamento da Cidade Universitária. Olho para o lado e vejo um autocarro da Carris também parado. Achei que era de mais parar a Revolução ao sinal vermelho, quando o que distinguia os carros do MFA era um triângulo vermelho no lado esquerdo das viaturas ou tapando a matrícula. Mando avançar tocando as sirenes das autometralhadoras EBR até chegar ao Terreiro do Paço».

Às 6.00 a coluna atinge finalmente Toledo, o coração do regime! Os carros de combate cercam os ministérios, a divisão da PSP aquartelada no Governo Civil, a Câmara Municipal, a Marconi e o Banco de Portugal. No centro da praça uma Chaimite e uma autometralhadora EBR, com o jipe do comandante, constituem o posto de comando e a força de intervenção de Salgueiro Maia. A primeira parte da sua missão é cumprida com êxito - chega ao seu objectivo antes de ser dado o alarme geral. Charlie Oito, ou seja, Salgueiro Maia, comunica a Tigre, ou seja, a Otelo:

- Ocupámos Toledo e controlamos Bruxelas e Viena (Banco de Portugal e Rádio Marconi)!

Entretanto, os comunicados vão-se sucedendo na rádio. Às 4.45, aconselha-se às forças militarizadas e policiais que recolham aos seus quartéis e aí aguardem as ordens que o MFA lhes transmita. Às 5.15 sobe o tom e adverte-se as forças repressivas do regime que serão severamente responsabilizadas caso enveredem pela luta armada. Às 5.45, num comunicado mais extenso reforça-se o que foi dito nos anteriores, e apela-se para o civismo de todos os portugueses no sentido de ser evitado qualquer confronto armado. Nos intervalos, cantam José Afonso, Adriano Correia de Oliveira, José Jorge Letria, Francisco Fanhais, Luís Cília, José Mário Branco. Os Portugueses adormeceram cinzentos e escravos num país cinzento onde nada acontecia. A madrugada vai-se enchendo de sons e de cores. Os Portugueses acordam noutro país. Um país onde tudo acontece.



UMA ESTRELA DO MFA VITORIOSO




A partir da chegada da coluna de Salgueiro Maia ao centro físico do poder político, a acção deste capitão confunde-se com a história do próprio 25 de Abril. É óbvio que ao mesmo tempo, em Lisboa e no País, ocorrem factos, o MFA cumpre objectivos, a Revolução assume o controlo. Porém ali, entre o nascer do dia e o meio da tarde, verificam-se os acontecimentos centrais do 25 de Abril. Se Otelo é o estratega, o cérebro da operação, Salgueiro Maia é o seu braço mais importante. Diz Otelo («Alvorada em Abril»): Salgueiro Maia iria ser o comandante das forças do Movimento mais sujeito a situações de perigo e de tensão ao longo do dia 25. O número de homens que tem sob o seu comando e o potencial bélico de que dispõe permitem-lhe, todavia, encarar com certo optimismo as situações de responsabilidade que se lhe vão deparando e sendo resolvidas e que farão concentrar sobre ele e as forças da EPC as preocupações do posto de comando e as atenções e o carinho das massas populares que, a partir do Terreiro do Paço, não mais deixarão de o acompanhar e aos seus homens, guindando desde logo o jovem capitão às culminâncias de primeira estrela do MFA vitorioso».



ALGUMAS NUVENS



Porém, sobre esta estrela rutilante algumas nuvens se vão acastelando.

Os guardiães do regime começam a acordar no meio daquilo que, para eles, é um verdadeiro pesadelo. Desde as 3.30 que, no Porto, o comandante da PSP local telefona para o Comando da GNR a informar sobre a tomada do Quartel General da Região Militar pelos revoltosos. A partir deste primeiro alarme, as comunicações sucedem-se por todo o País. Até que, pelas 5.00, Silva Pais, director-geral da PIDE, telefona a Marcelo Caetano:

- Senhor Presidente, a Revolução está na rua!

É então que se decide que o chefe do Governo se deve acolher ao quartel do Carmo.

É surpreendente que um regime ditatorial, com uma experiência de repressão de quase cinco décadas e em cujas estruturas os militares tinham um peso tão significativo, estivesse afinal tão mal preparado para resistir a um golpe militar. Em todo o caso, algumas medidas foram sendo tomadas. Assim, pouco depois das 6.00 chega ao Terreiro do Paço um pelotão de AML/Chaimites pertencente ao Regimento de Cavalaria 7, comandado por um alferes miliciano que às primeiras palavras de Salgueiro Maia adere ao Movimento. O mesmo acontece a dois pelotões de Lanceiros 2. No Ministério do Exército, o ministro e outros elementos do Governo estão reunidos de emergência para fazer face à rebelião. Ao verem que as forças que vão sendo enviadas para os proteger vão aderindo à Revolução, os valorosos cabos de guerra encontram uma única saída para a situação: abrem à picareta um buraco na parede e, passando para a biblioteca do Ministério da Marinha, dão às de vila-diogo!

No Atlântico, a fragata Almirante Gago Coutinho, integrada numa esquadra da NATO, participa no exercício «Dawn Patrol». Recebe ordens para abandonar as manobras, entrar no Tejo e abrir fogo sobre as forças insurrectas que ocupam o Terreiro do Paço. Cerca das 9.00 a silhueta esguia da fragata surge diante do centro de Lisboa. Uma bateria da Escola Prática de Artilharia, de Torres Novas, segue em Londres , ou seja no morro do Cristo-Rei de Almada, os movimentos do navio. Porém sabe-se que o elevado poder de fogo do vaso de guerra pode causar grandes estragos. Tigre ordena a Charlie Oito que proteja o pessoal e os blindados, metendo o que for possível sob as arcadas da praça. O comandante Vítor Crespo consegue que seja anulada a ordem e que a fragata acabe por ir fundear, cerca do meio-dia, em frente ao Alfeite.

Quando Salgueiro Maia e o posto de comando ainda estão a suspirar de alívio por ter passado a ameaça da Gago Coutinho, surgem cinco carros de combate M/47 de Cavalaria 7 seguidos de atiradores do Regimento de Infantaria 1, da Amadora, e alguns soldados da PM de Lanceiros 2. Um brigadeiro comanda a coluna. Salgueiro Maia, de braços erguidos, agitando um lenço branco, tenta o diálogo, mas o brigadeiro não aceita encontrar-se com ele a meio caminho. Dá ordem a um alferes que abra fogo. O jovem não obedece. Irado, o brigadeiro, repete a ordem directamente aos apontadores dos carros e aos atiradores de infantaria. Salgueiro Maia está a descoberto debaixo da mira das torres dos blindados e das espingardas dos atiradores. Nem as tripulações dos carros nem os outros soldados obedecem. Dando vozes de prisão a torto e a direito, disparando para o ar, o brigadeiro salta do carro e desaparece. Toda a coluna fica sob as ordens do capitão Maia.



RUMO AO CARMO



Antes do meio-dia, pelo posto de comando, Salgueiro Maia é informado de que Marcelo Caetano está no Carmo. Deixando forças a guardar os ministérios, avança para lá. Quando entra no Rossio, aparece-lhe pela frente uma coluna militar com uma companhia de atiradores que o Governo enviara para fazer frente aos revoltosos. O Capitão salta do seu jipe e vai perguntar ao comandante da coluna o que está ali a fazer. É-lhe respondido que tem ordens para o prender, mas que está com a Revolução. E também esta coluna é integrada nas forças que avançam para o Carmo.

As edições especiais dos jornais começam a circular. O Rossio, a Rua do Carmo, todo o percurso, está cheio de populares que vitoriam os soldados. Os cravos vermelhos começam a ser enfiados nos canos das G-3. É cerca de 12,30. Diz o capitão: «No Carmo, ao chegar houve desde senhoras a abrir portas e janelas para colocar os homens nas posições dominantes sobre o Quartel, até ao simples espectador que enrouquecia a cantar o Hino Nacional. O ambiente que lá se viveu não tem descrição, pois foi de tal maneira belo que depois dele nada de mais digno pode acontecer na vida de uma pessoa».

Após a intimação para que a guarnição se renda e entregue Marcelo Caetano, não sendo obedecido, Maia recebe ordem do posto de comando para abrir fogo sobre o edifício. Porém, ele sabe que as granadas explosivas das autometralhadoras num largo apinhado de gente irão provocar centenas de mortes. Manda disparar armas automáticas para a parte superior do Quartel .

Entra uma primeira vez dentro do edifício, mas não consegue a rendição. Entra uma segunda vez e exige falar com o Presidente do Conselho. Numa antecâmara, Rui Patrício chora como uma criança e Moreira Baptista olha, ausente, o infinito. Deixemos que ele nos descreva o seu diálogo com Marcelo Caetano:

«Marcelo estava pálido, barba por fazer, gravata desapertada, mas digno.

Fiz-lhe a continência da praxe e disse-lhe que queria a rendição formal e imediata. Declarou-me já se ter rendido ao Sr. General Spínola, pelo telefone, e só aguardava a chegada deste para lhe transferir o Poder, para que o mesmo não caísse na rua! Estive para lhe dizer que estava lá fora o Poder no povo e que este estava na rua. Declarou esperar que o tratassem com a dignidade com que sempre tinha vivido e perguntou o que ia ser feito dele. Declarei que certamente seria tratado com dignidade, mas não sabia para onde iria, pois isso não me competia a mim decidir. Perguntou a quem competia. Declarei que a «Óscar». Perguntou quem era «Óscar». Declarei ser a Comissão Coordenadora. Perguntou-me quem eram os chefes. Declarei serem vários oficiais, incluindo alguns generais, isto para que ele não ficasse mal impressionado por a Revolução ser feita essencialmente por capitães.

Perguntou-me ainda o que ia ser feito do Ultramar. Declarei-lhe que a solução para a guerra seria obtida por conversações. Toda esta conversa, tida a sós, teve por fundo o barulho do povo a cantar o Hino Nacional e o Está na hora».

Depois, pouco antes das 18.00, chega Spínola, que embora tenha dito a Marcelo nada ter a ver com o Movimento, rapidamente assume ares de «dono da guerra», no dizer de Salgueiro Maia. Às 19,30, Marcelo, Moreira Baptista e Rui Patrício entram numa viatura blindada que encostou a traseira à porta de armas do Quartel. Na confusão que se estabelece, com a multidão a gritar «assassinos!», e com os militares a proteger os homens do regime da ira popular, Henrique Tenreiro que deveria também seguir preso no transporte blindado, mistura-se com os populares e escapa-se, gozando mais umas horas de liberdade.

Após a rendição de Marcelo Caetano e a sua saída do Quartel, pode dizer-se que a Revolução estava ganha, embora, ali perto, na Rua António Maria Cardoso, os agentes da PIDE, encurralados como feras dentro da sua sede, disparassem das janelas, matando cinco pessoas. As únicas mortes verificadas durante o 25 de Abril.

A noite iria ser longa. Muita coisa iria passar-se até que nos ecrãs da televisão os Portugueses tivessem ocasião de ver a Junta de Salvação Nacional, com uns senhores empertigados, com um vago ar de golpistas sul-americanos, viessem, armados em «donos da guerra», ditar as leis de uma Revolução para a qual nada tinham contribuído, deixando na sombra os jovens oficiais que, como Salgueiro Maia, tudo tinham feito, que tudo tinham arriscado.



E DEPOIS, O ADEUS



Naquele dia do princípio de Abril de 1992, no cemitério de Castelo de Vide, quatro presidentes da República (António de Spínola, Costa Gomes, Ramalho Eanes e Mário Soares), vêem descer à terra num modesto caixão o corpo de um dos homens que mais contribuiu para que tivessem podido ascender à mais alta magistratura da Nação. No dia 4, Fernando Salgueiro Maia fora vencido pela doença. «O gajo ganhou», dissera ele a um oficial da EPC, referindo-se ao cancro quando se convenceu do carácter terminal da sua doença.

Quem é este homem, vencedor de batalhas, de revoluções, que agora desce à terra, em campa rasa, ao som do «Grândola, Vila Morena»?

Nasce ali, em Castelo de Vide, em 1 de Julho de 1944. Muito novo, fica órfão de mãe. Faz os estudos primários em São Torcato, Coruche, e os secundários no Colégio Nun'Álvares de Tomar e no Liceu Nacional de Leiria. Em 1964, ingressa na Academia Militar.

«Filho de uma família de ferroviários, é a situação de guerra nas colónias que me permite o acesso à Academia Militar, pois o conflito fez perder as vocações habituais, e assim a instituição foi obrigada a abrir as suas portas», diz-nos ele em «Capitão de Abril». Dois anos depois, apresenta-se na Escola Prática de Cavalaria. Depois, a guerra.

Porém, tudo se pode resumir a uma breve legenda: Salgueiro Maia, soldado português que à frente de 240 homens e com dez carros de combate da EPC avançou em 25 de Abril de 1974 sobre Lisboa, ocupou o Terreiro do Paço levando os ministros de um regime ditatorial de quase 50 anos a fugir como coelhos assustados, cercou o Quartel do Carmo obrigando Marcelo Caetano a render-se e a demitir-se. Atingiu o posto de tenente-coronel, recusou cargos de poder. É o mais puro símbolo da coragem e da generosidade dos capitães de Abril.

E quase tudo terá ficado dito.

____________________

Nota: Este texto foi elaborado com base em diversos depoimentos de intervenientes no 25 de Abril. Entre estes destacamos o livro de Salgueiro Maia «Capitão de Abril», editado pela Editorial de Notícias e a 4ª edição de «Alvorada em Abril», de Otelo Saraiva de Carvalho, também da mesma editora.


http://www.vidaslusofonas.pt/salgueiro_maia.htm

Madrugada de 25 de Abril de 74, parada da Escola Prática de Cavalaria, em Santarém:

"Meus senhores, como todos sabem, há diversas modalidades de Estado. Os estados sociais, os corporativos e o estado a que chegámos. Ora, nesta noite solene, vamos acabar com o estado a que chegámos! De maneira que, quem quiser vir comigo, vamos para Lisboa e acabamos com isto. Quem for voluntário, sai e forma. Quem não quiser sair, fica aqui!"



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* - http://pt.wikipedia.org/wiki/Ex%C3%A9rc ... e_Portugal e

http://pt.wikipedia.org/wiki/Ant%C3%B3n ... %C3%ADnola


ELP era um movimento terrorista de ULTRADIREITA... :twisted: :twisted: :twisted: :twisted:
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Re: Ditadura Portuguesa - 1926 - 1974 e período revolucionár

#210 Mensagem por gaia » Qui Nov 10, 2011 9:14 am

Túlio :

Relativamente, a Salgueiro Maia , foi ele que deu a especialidade ao meu irmão .

No jantar de fim de curso , um dos recrutas resolve falar mal do regime e da guerra colonial , ele simplesmente retira-se da sala .

Quando viu o rumo que a revolução começou a levar afastou-se , vendo que tinha cometido o maior erro da vida .

Há um livro editado , creio que há um ano , " Estado dos Segredos" , que já citei , que explica a influência decisiva do Clube de Bilderberg , em que em uma das reuniões é decidido acabar com regime .

Spinola , escreve o livro " Portugal e o Futuro", em 1973.

Havia um atrito muito grande devido á progressão das carreiras , os de carreira , estavam a ver com maus olhos a nomeação a capitães de alferes que não tinham feito o curso, e o problema das remunerações também estava em causa . O movimento não foi politico , o Spinola resolve liderar , porque era muito vaidoso , e pensava que controlaria a situação , que não veio a verificar.

Após o 25 A , a economia portuguesa começa a entrar em colapso, e o partido comunista com o apoio financeiro e logístico de Moscovo , consegue tomar o poder, e havia uma autentica bandalheira no conselho da revolução , com um Vasco Gonçalves, que era um doido varrido.

Começou a onda prisões a empresários , ocupação de terras , fábricas , empresas , muitas pessoas foram "saneadas" dos cargos públicos que ocupavam , etc.
Há uma fuga de capitais e de quadros , e muitos vão para o Brasil .
Spinola , faz um a figura lamentável , em que existe uma tentativa de se fazer o manifestação em 28 de Setembro da maioria silenciosa , falha e teve de sair do país. http://pt.wikipedia.org/wiki/Maioria_silenciosa

Depois , é a descolonização , 1 milhão de portugueses tem de abandonar os seus haveres em África , muitos são mortos , porque exercito português não lhes deu a devida protecção, e foram apanhados no meio de uma guerra civil , e sujeitos a ataques de bandidos armados .

No verão quente de 1975 , com os retornados irados , com a população irada contra o Gonçalvismo , o ELP de Alpoim Galvão começa a fazer atentados , incita as populações a fazerem assaltos no norte do país às sedes do PCP e de outros partidos da extrema esquerda .
A situação estava explosiva , o clima de guerra civil estava no ar , e informalmente o PS , PPD e CDS e também o ELP criam uma frente comum com forte apoio da Nato , que tem como resultado o 25 Novembro de 1975.
O PCP estrategicamente recua e bem , evitou a guerra civil com consequências imprevisíveis, mas o trabalho que Moscovo lhe incumbiu que era fazer a descolonização estava terminado .
Trancado