Re: Jornal paraguaio chama Brasil de 'imperialista e explorador'
Enviado: Dom Abr 13, 2008 2:09 pm
Relação com Brasil influencia votos
A uma semana das eleições presidenciais, ligação de candidatos com o vizinho é polêmica
Se o Brasil falasse espanhol, o Paraguai seria sua colônia. A ilustração sintetiza o discurso do povo e de políticos paraguaios que a uma semana das eleições presidenciais – consideradas históricas pela expectativa da queda do Partido Colorado depois de 60 anos no poder – insistem em inserir o Brasil no núcleo da campanha eleitoral. Subimperialista, o tacham devido à resistência em revisar o Tratado de Itaipu. Vizinho dominante, repetem, em referência às assimetrias no Mercosul. Irmão mais forte, ratificam devido à forma como o criticado Itamaraty dialoga com seu governo. O ressentimento que desperta o Brasil no Paraguai é o retrato de um conquistador lusófono no continente.
A influência verde-amarela na campanha paraguaia acompanhou a trajetória dos candidatos. O general Lino Oviedo, presidenciável pelo Partido Unace, arrancou sua campanha ancorado na sua proximidade com o Brasil, mostrando-se amigo do presidente Lula.
Em seguida, surgiram denúncias de que o governador do Paraná, Roberto Requião, financia a campanha do ex-bispo e líder nas pesquisas de intenção de votos, Fernando Lugo, candidato pela Aliança Patriótica para o Câmbio. E o Partido Colorado se vale de mais de meio século de governo para convencer que a vitória da postulante oficialista Blanca Ovelar é a garantia de manutenção da densa rede com grupos brasileiros de poder.
Diretor do Centro de Políticas Públicas da Universidade Católica do Paraguai, o cientista político Luis Fretes, avalia que a relação é desigual porque "os paraguaios não têm uma autoridade que se faça respeitar":
– Os paraguaios têm sido fracos em legitimidade. Os brasileiros sabem que podem subornar funcionários do nosso governo, mas os paraguaios não podem subornar os vizinhos. O Brasil só é imperialista com quem permite. Na Bolívia, foi imperialista até onde pôde.
O sociólogo paraguaio José Luis Simón descreve que, desde a ditadura de Alfredo Stroessner, o Paraguai é baratíssimo para o Itamaraty, que sempre comprou tudo o que quis. O problema está na falta de institucionalidade e de uma boa chancelaria no Paraguai.
São mais de 300 mil brasileiros vivendo no Paraguai, donos de grandes fazendas de soja e de gado. Muito além dos 70 km adentro de território paraguaio, estabelecidos como limite para a posse de terra por estrangeiros, os chamados brasiguaios vivem em plena ilegalidade. Na fronteira com o Brasil, há centenas de militares que só falam português e guarani.
As colônias brasileiras no Paraguai "são fruto de condições comparativas", resume o cientista político Luis Fretes, diretor do Centro de Políticas Públicas da Universidade Católica do Paraguai:
- Além de oferecer terras mais baratas, no Paraguai o controle sobre o uso de pesticidas é mais relaxado. A maioria dos brasiguaios vem de Mato Grosso e do Paraná, e muitos organismos brasileiros lhes emprestam dinheiro para a mudança. É uma política implícita e como a imigração inevitavelmente impõe sua cultura, há hoje um predomínio brasileiro na fronteira.
Com ínfima capacidade industrial, o sistema de produção paraguaio é sustentado pelo agronegócio, que tem a soja e carne como principais bens de exportação. No entanto, os produtos não têm trânsito livre nem dentro do Mercosul. A mídia paraguaia acompanha de perto a greve dos auditores da Receita Federal brasileira, que já paralisou pelo menos 800 caminhoneiros de soja paraguaios na fronteira. E a vigilância se estende à exportação de pneus, transação na qual o Paraguai ressalta discrepâncias: o mesmo Brasil que tem capacidade de produção de 150 mil pneus mensais lhes impõe um limite de 120 mil anuais.
Outra polêmica que toma conta das páginas de jornal em Assunção são as suspeitas levantadas com freqüência pelo Brasil sobre a febre aftosa da carne paraguaia.
– Mesmo sabendo que o Paraguai está livre da doença, volta e meia temos cargas apreendidas na fronteira brasileira – explicou Carlos Villalba Rotela, governador da província de Missiones.
O parlamentar Ángel Ramón Cibils acrescentou que a aftosa é um problema do Mercosul e que "é preciso pensar regionalmente" para a carne não subir de preço:
– O que o Paraguai oferece é menos de 1% do que produzem Brasil e Argentina e ainda assim colocam travas. Prejudica a todos. O Mercosul ficou na teoria. Na prática, cada um defende o seu feudo.
A uma semana das eleições presidenciais, ligação de candidatos com o vizinho é polêmica
Se o Brasil falasse espanhol, o Paraguai seria sua colônia. A ilustração sintetiza o discurso do povo e de políticos paraguaios que a uma semana das eleições presidenciais – consideradas históricas pela expectativa da queda do Partido Colorado depois de 60 anos no poder – insistem em inserir o Brasil no núcleo da campanha eleitoral. Subimperialista, o tacham devido à resistência em revisar o Tratado de Itaipu. Vizinho dominante, repetem, em referência às assimetrias no Mercosul. Irmão mais forte, ratificam devido à forma como o criticado Itamaraty dialoga com seu governo. O ressentimento que desperta o Brasil no Paraguai é o retrato de um conquistador lusófono no continente.
A influência verde-amarela na campanha paraguaia acompanhou a trajetória dos candidatos. O general Lino Oviedo, presidenciável pelo Partido Unace, arrancou sua campanha ancorado na sua proximidade com o Brasil, mostrando-se amigo do presidente Lula.
Em seguida, surgiram denúncias de que o governador do Paraná, Roberto Requião, financia a campanha do ex-bispo e líder nas pesquisas de intenção de votos, Fernando Lugo, candidato pela Aliança Patriótica para o Câmbio. E o Partido Colorado se vale de mais de meio século de governo para convencer que a vitória da postulante oficialista Blanca Ovelar é a garantia de manutenção da densa rede com grupos brasileiros de poder.
Diretor do Centro de Políticas Públicas da Universidade Católica do Paraguai, o cientista político Luis Fretes, avalia que a relação é desigual porque "os paraguaios não têm uma autoridade que se faça respeitar":
– Os paraguaios têm sido fracos em legitimidade. Os brasileiros sabem que podem subornar funcionários do nosso governo, mas os paraguaios não podem subornar os vizinhos. O Brasil só é imperialista com quem permite. Na Bolívia, foi imperialista até onde pôde.
O sociólogo paraguaio José Luis Simón descreve que, desde a ditadura de Alfredo Stroessner, o Paraguai é baratíssimo para o Itamaraty, que sempre comprou tudo o que quis. O problema está na falta de institucionalidade e de uma boa chancelaria no Paraguai.
São mais de 300 mil brasileiros vivendo no Paraguai, donos de grandes fazendas de soja e de gado. Muito além dos 70 km adentro de território paraguaio, estabelecidos como limite para a posse de terra por estrangeiros, os chamados brasiguaios vivem em plena ilegalidade. Na fronteira com o Brasil, há centenas de militares que só falam português e guarani.
As colônias brasileiras no Paraguai "são fruto de condições comparativas", resume o cientista político Luis Fretes, diretor do Centro de Políticas Públicas da Universidade Católica do Paraguai:
- Além de oferecer terras mais baratas, no Paraguai o controle sobre o uso de pesticidas é mais relaxado. A maioria dos brasiguaios vem de Mato Grosso e do Paraná, e muitos organismos brasileiros lhes emprestam dinheiro para a mudança. É uma política implícita e como a imigração inevitavelmente impõe sua cultura, há hoje um predomínio brasileiro na fronteira.
Com ínfima capacidade industrial, o sistema de produção paraguaio é sustentado pelo agronegócio, que tem a soja e carne como principais bens de exportação. No entanto, os produtos não têm trânsito livre nem dentro do Mercosul. A mídia paraguaia acompanha de perto a greve dos auditores da Receita Federal brasileira, que já paralisou pelo menos 800 caminhoneiros de soja paraguaios na fronteira. E a vigilância se estende à exportação de pneus, transação na qual o Paraguai ressalta discrepâncias: o mesmo Brasil que tem capacidade de produção de 150 mil pneus mensais lhes impõe um limite de 120 mil anuais.
Outra polêmica que toma conta das páginas de jornal em Assunção são as suspeitas levantadas com freqüência pelo Brasil sobre a febre aftosa da carne paraguaia.
– Mesmo sabendo que o Paraguai está livre da doença, volta e meia temos cargas apreendidas na fronteira brasileira – explicou Carlos Villalba Rotela, governador da província de Missiones.
O parlamentar Ángel Ramón Cibils acrescentou que a aftosa é um problema do Mercosul e que "é preciso pensar regionalmente" para a carne não subir de preço:
– O que o Paraguai oferece é menos de 1% do que produzem Brasil e Argentina e ainda assim colocam travas. Prejudica a todos. O Mercosul ficou na teoria. Na prática, cada um defende o seu feudo.