CRISTOVAM: “NÃO DÁ PARA COMPARAR O QUE ESTÁ HAVENDO HOJE COM O QUE HOUVE EM 1964”
Integra da fala do senador Cristovam Buarque (PPS-DF), durante a sessão da Comissão Especial do Impeachment do Senado, do dia 04-08-2016, em que foi aprovado, por 14 votos a cinco, o relatório do senador Antônio Anastasia (PSDB-MG), favorável ao afastamento da presidente Dilma Rousseff. O senador Cristovam é suplente da Comissão, portanto, não votou, mas teve participação intensa nos trabalhos:
“Eu não sou membro efetivo da Comissão. Não preciso votar no parecer. E, na verdade, eu me tinha determinado não me pronunciar aqui hoje, guardar o meu voto sobre o parecer do Senador Anastasia para o plenário. Mas, depois de ouvir a fala do Senador Humberto Costa, eu não posso deixar de falar, para dizer a ele que tenho idade suficiente para me lembrar do 1º de abril de 64, que ele comparou com este momento.
“Não há um tanque de guerra na rua, a não ser que considere um ou outro que está lá nas Olimpíadas protegendo o funcionamento dos jogos que o Presidente Lula trouxe para nós. Não li nenhum ato institucional em nenhum jornal, nem ouvi pelas rádios, nem televisão.
“O João Goulart não foi mantido no Palácio da Alvorada durante 180 dias em que nós julgávamos o processo. Ele foi mandado, teve de sair para outro País. O Comando Militar em 64 não deu 180 dias para o Parlamento julgar o Presidente sob o controle, o comando do Supremo Federal Militar.
“O Comando Militar não deu essa possibilidade prevista na Constituição. Também não colocou no lugar de João Goulart um civil escolhido pelo próprio João Goulart, como é o caso do Presidente Temer. Foi escolhido pela Presidente Dilma. Foi eleito com o voto do Senador Humberto Costa também. O voto é secreto, mas acho que esse ele não esconde de ninguém. O que fizeram os militares foi tirar o Presidente João Goulart e colocar no lugar um militar.
“É muito diferente, Senador Humberto Costa, do nosso sofrido 1964. Eu creio que, se é para comparar historicamente, deveríamos comparar com 92, com o impeachment do Collor. Aí, dá para comparar. E, nessa comparação, creio que fomos mais cuidadosos do que os Parlamentares de 1992, com todo o respeito aos que aqui estavam.
“É preciso lembrar também que João Goulart foi destituído, não sofreu impeachment, porque tentava fazer reformas profundas nas estruturas deste País, reforma bancária, reforma educacional, reforma agrária. E, nesses últimos 13 anos, vimos avanços, claro – e erra quem diz que não houve avanços –, mas foram avanços sobretudo assistenciais. Não houve reformas estruturais.
“O João Goulart se chocava com os banqueiros. Não foi aliado dos banqueiros como nós vimos nos últimos anos. Então, não dá para comparar o que está havendo hoje com o que houve em 1964.
“A bandeira da corrupção de que se falou naquela época também – os militares falavam que havia corrupção, mas não havia prova. Agora tem gente presa, ligada ao governo. Há empresários presos ligados por formas diversas ao governo. Não dá para comparar com 1964.
“Ninguém hoje está tutelando o Parlamento. Quem está tutelando o Parlamento? Ali houve uma tutela porque cercaram o Parlamento. Podemos até estar errando ou acertando, mas não estamos tutelados. Na verdade, esse é um dos momentos mais afirmativos do Parlamento brasileiro. Certo ou errado, mas é. Finalmente, o Senado não é um quartel, nem o Senador Anastasia, Relator, ou nenhum de nós vem aqui fardados, nem usando armas e nem portando armas.
“Nós não podemos cair nessa narrativa. Não sou golpista, como o Senado não é um quartel. Agora não sou covarde para, com medo desse nome, decidir o meu voto por um lado que não traga esse nome. Apesar de tudo, o que a gente tem que fazer aqui é votar pelo País.
“Vou votar pelo Brasil, independentemente das consequências, das consequências eleitorais, de perder voto; sentimentais, de perder amigos; de prestígio internacional, que sei que vou perder muito porque essa intriga e essa narrativa chegaram lá; e até mesmo ameaças físicas que cada um de nós pode sofrer – e já estive perto disso em alguns momentos nessas últimas semanas.
“Não vou votar com medo nem mesmo de ser chamado de golpista. Vou votar o que me parecer, certo ou errado, o melhor para o Brasil.”
Fonte: Senado Federal