Olha a dura realidade, jornal o Dia retirado do notimp da FAB
Porta cai do céu
Peça se solta de helicóptero da Marinha, em cidade do Nordeste
Maria Luisa Barros
A tragédia do helicóptero Bell Jet Ranger 3 MB 4050 da Marinha, que caiu em 27 de junho, sobre o Centro Universitário Bennett, no Flamengo, não foi o primeiro acidente com aeronaves da corporação esse ano. Outro, com gravidade muito menor, mas que mostra os problemas de manutenção nos equipamentos, ocorreu em Natal, Rio Grande do Norte, em 14 de junho. Helicóptero da Marinha, modelo Esquilo, perdeu uma porta enquanto sobrevoava a cidade.
A peça caiu no quintal de pensionista da Marinha, Goretti Ferreira Meira, que não se feriu. Apenas algumas telhas da residência foram quebradas. A porta media cerca de dois metros quadrados e pesava mais de 10 quilos. Goretti conta que o piloto aterrissou o helicóptero em terreno de antigo campo de futebol, próximo à casa dela, e pediu a porta. Os instrutores de vôo levaram a peça para o Terceiro Distrito Naval.
Em sua casa, os pilotos admitiram que passaram momentos de desespero, tendo quase perdido o controle da aeronave e ficando em situação difícil, segurando bolsas e outros materiais para que não caíssem. Segundo ela, os militares disseram que voam em aeronaves pouca seguras. “Eles falaram que nunca tinha acontecido de cair a porta. O máximo tinha sido precisar segurar”, detalha.
O acidente só não provocou tragédia porque não havia ninguém no local. “Ainda bem que a minha neta e minha filha não estavam lá. A gente tinha saído para fazer compras. Ontem mesmo, nesse horário, eu estava estendendo roupa”, conta Goretti.
Corte de custos e reserva precoce
O orçamento curto para recuperar aeronaves tem levado muitas delas à aposentadoria precoce. Segundo
a Marinha afirmou com exclusividade ao DIA, entre 2003 e 2004, foram antecipadas transferências para a reserva de nove navios e nove aeronaves. “Em função do elevado nível de degradação e obsolescência, por falta de recursos para adequada manutenção e conseqüente esgotamento de suas vidas úteis”, afirma o documento.
As aeronaves Helibrás Esquilo – semelhante à da casa da pensionista da Marinha – têm entre 16 e 26 anos. O modelo Bell Jet Ranger 3 que caiu sobre o Bennett tinha 19 anos. A Marinha informou que o uso de peças de aviões desativados “constitui-se em uma exceção, que vem se tornando mais freqüente em função das restrições orçamentárias”.
Segurança em risco no mar
Documentos apontam que porta-aviões São Paulo tinha falhas e precisava de reparos antes do acidente que matou três tripulantes
Maria Luisa Barros
A Marinha enfrentou, em dois meses, três acidentes que resultaram na morte de cinco pessoas. Em relação ao porta-aviões São Paulo, em 17 de maio, o DIA teve acesso a documentos que mostram avarias em válvulas, motores e na rede de tubulação da embarcação. Os relatórios apontavam, já na época da tragédia, a necessidade de reparo sob risco de comprometer a segurança da tripulação e do equipamento.
A Marinha reconhece a autenticidade dos documentos e afirma, em comunicado enviado por fax ao DIA, que a manutenção começou a ser feita dia 1º, 45 dias após a explosão na tubulação do São Paulo, que matou três militares e feriu outras oito pessoas.
O primeiro documento – Controle de Reparo de Redes – enumera 48 equipamentos e tubulações com problemas. O item 0S 3352 solicita a substituição de trecho de Redes de Vapor de Abafamento da PCAV e alerta para as implicações decorrentes: “Compromete a ação do CAV e a segurança”. CAV é o grupamento de resgate e combate a incêndios. São os bombeiros do navio.
Tubulação oferece riscos de novos vazamentos
Na rede, o principal problema é de vedação nas tubulações. “Se não for consertada, há riscos de novos vazamentos e acidentes graves”, avisa Jaime de Bona, secretário-geral do Sindicato dos Servidores Civis nas Forças Armadas (Sinfa-RJ).
O segundo documento – Controle de Reparo de Válvulas – aponta 35 avarias nessas peças. Segundo a Marinha, “a quantidade de reparos a serem executados no PMA 2005 é muito superior. Como exemplo, a solicitação de revisão de cerca de 200 válvulas. Se aplica aos demais sistemas do navio, como redes, motores, bombas”.
No terceiro relatório, seis equipamentos usados pela equipe de resgate estão danificados. Um dos motores avariados é o Siroco, usado para levar ventilação a ambientes fechados. Outro dos motores de combate a incêndio está com enrolamento queimado, oferecendo riscos à tripulação.
Manutenção programada vai levar dobro do tempo normal
O Período de Manutenção Atracado 2005, para reparar e revitalizar sistemas do navio, vai durar nove meses. Quase o dobro do tempo normal, segundo militares ouvidos pela reportagem. “Em geral, a manutenção começa em julho e vai até dezembro. Agora levarão mais tempo porque a situação é crítica”, avalia um militar.
Segundo oficial do navio, devido ao risco de acidentes, duas viagens que seriam feitas pelo São Paulo, antes do reparo, foram canceladas.
Estão fora do ar 27 helicópteros
Estão hoje em operação, na Marinha do Brasil, 42 dos 69 helicópteros, sendo 12 Bell Jet Rangers.
Para contornar a redução de aeronaves disponíveis, a Marinha do Brasil afirmou na nota enviada ao DIA que está “em entendimentos” com a Força Aérea Brasileira (FAB) para que pilotos navais possam voar nos aviões da Aeronáutica.
A Marinha também confirma que, dos 23 caças A-4 Skyhawk comprados do Kuwait pelo Governo Fernando Henrique para servir ao porta-aviões São Paulo, somente dois estão voando. Os outros 21 caças estão parados na Base Aérea de São Pedro da Aldeia, na Região dos Lagos, à espera de conserto.
Segundo a corporação, já foi assinado contrato de manutenção de aeronaves com a empresa Lockheed Martin, da Argentina, “a fim de possibilitar aumento de aeronaves e vôos para treinamento de seus pilotos”. A partir de outubro, seis caças estarão em condições de vôo, diz a nota.
Segundo militares, a Marinha investiu no treinamento dos pilotos nos EUA. Mas, com pouca chance de mostrar o que aprenderam, estão perdendo a qualificação. Cada piloto que passa três anos nos EUA custa US$ 750 mil (R$ 1,8 milhão).