Hora da Verdade pro PV.
Segundo Alfredo Sirkis, um dos fundadores do Partido Verde, nem Serra, nem Dilma, nem Ciro Gomes simpatizam com as questões sociambientais e uma candidatura verde à presidência colocará a questão da sustentabilidade no debate em condições de, no segundo turno, forçar uma acordo programático com quem ficar na disputa final.
Sirkis avalia da seguinte forma os pré-candidatos:
O Serra é mais cosmopolita. Embora seja desenvolvimentista, tem certos canais com nossas propostas, como o secretário de meio ambiente da cidade de São Paulo, Eduardo Jorge, que é do PV. Mas, é uma coisa superficial. Dilma e, particularmente, Ciro Gomes, são francamente hostis às nossas idéias, acham ecologia uma grande besteira. O Lula, aliás, também. Desses políticos tradicionais, de primeira linha, o mais sensível é Aécio Neves.
Leia a entrevista de Alfredo Sirkis para o Página 22, publicação vinculada à Fundação Getúlio Vargas, no site do Partido Verde.
Sirkis: A hora da verdade para os verdes
Entrevista de Alfredo Sirkis para o Página 22, publicação vinculada à Fundação Getúlio Vargas.
Página 22 / Carolina Derivi
Na sua visão, é possível que as questões socioambientais apareçam entre os grandes temas do debate pré-eleitoral? Se sim, com que força, com que maturidade?
Se depender das candidaturas já postas não. Nem Serra, nem Dilma, nem Ciro Gomes simpatizam com esse tema. Essa é a razão pela qual é importante existir uma candidatura verde à presidência.
A eleição presidencial pode ser vista como uma oportunidade de envolver toda a sociedade nesse diálogo? Pode ter importância para o movimento socioambiental, independente de haver ou não um candidato a apoiar?
Uma candidatura verde à presidência colocará a questão das sustentabilidade no debate em condições de, no segundo turno, forçar uma acordo programático com quem ficar na disputa final.
Como o senhor avalia o perfil dos pré-candidatos em matéria de sustentabilidade? Há diferenças entre eles?
O Serra é mais cosmopolita. Embora seja desenvolvimentista, tem certos canais com nossas propostas, como o secretário de meio ambiente da cidade de São Paulo, Eduardo Jorge, que é do PV. Mas, é uma coisa superficial. Dilma e, particularmente, Ciro Gomes, são fracamente hostis às nossas idéias, acham ecologia uma grande besteira. O Lula, aliás, também. Desses políticos tradicionais, de primeira linha, o mais sensível é Aécio Neves.
A sustentabilidade tem condições de mirar o poder? É possível fazer com que o diálogo sobre modelo de desenvolvimento, tão presente na sociedade organizada, penetre nas estruturas políticas? Quais são os eventuais caminhos ou estratégias para que isso aconteça?
É um caminho a ser feito seguindo diversas estradas, picadas, atalhos, túneis, etc... É um movimento que vai perpassando a sociedade por diversos vasos comunicantes --hoje a internet ajuda muito-- até chegar a formar massa crítica como aconteceu nos Estados Unidos com Barack Obama, que assimllou a questão e está usando a crise para emplacar uma agenda de sustentabilidade. Claro, ele tem como dificuldade lidar com o Congresso, onde os republicanos são monoliticamente contra e uma parte dos democratas conservadores também. No Brasil estamos atrasados mas ainda chegamos lá.
Obama parece repensar a agenda de desenvolvimento nos EUA. É uma utopia imaginar que o Brasil também pode vir a ter uma liderança com esse perfil no futuro? Se não, onde essas lideranças podem estar sendo formadas? Há espaço para elas nos partidos?
Em 86, quando surgiu o PV, pregávamos no deserto. Hoje, nossas idéias ganharam, pelo menos em parte, a grande mídia, setores do empresariado moderno, da classe média e segmentos dentro do aparelho de estado. Quase todos os partidos têm seus ambientalistas, menos ou mais sinceros. É um processo de acumulação histórica como a abolição da escravidão, a república, o voto feminino, etc... vai acontecendo, até um dia acontecer mas, o problema é que estamos correndo contra o tempo. Na questão do clima, há uma janela de oportunidade de uns 10, 15 anos. Se nesse período, não revertermos a destruição da Amazônia, no caso do Brasil, e o uso de combustíveis fósseis para energia (carvão) e o transporte (petróleo), o aquecimento global ficrá fora de controle e se autorealimentará exponencialmente. O futuro de nossos filhos e netos estará terrivelmente comprometido.
É notório o descompasso da atual administração federal com os movimentos ligados à sustentabilidade. É uma característica deste governo, ou o buraco é mais embaixo? Ou seja, há entraves também no funcionamento da política como, por exemplo, as alianças escusas pela governabilidade ou pela própia vitória nas urnas?
Lula, que é uma liderança popular de extraordinário poder de comunicação, tragicamente, considera tudo isso uma grande babaquice embora, politicamente, perceba que isso, internacionalmente, tem importância e, que é bom manter uma imagem positiva. Por isso, mantém um ministro isolado, Minc, ou antes a Marina --que se prestava menos a esse jogo-- para vocalizar posições ambientalistas. Ao mesmo tempo, vai puxando o tapete desses seus ambientalistas e apoia, quase sempre, os setores desenvolvimentistas imediatistas, atrasados, tipo pecuária, soja, etc...
O quadro político brasileiro é uma competição entre duas vertentes da social democracia (PT e PSDB) que, para obter governabilidade, aliam-se ao atraso, quando estão no poder. Em ambos partidos, há setores sensíveis à causa ambiental mas, são mais fracos que os setores desenvolvimentistas e têm aquela clássica dificuldade de quem defende os interesses difusos do planeta e da população contra interesses concentrados e perfeitamente concatenados, que produzem retorno econômico imediato.
Uma reforma política poderia facilitar a ascenção da agenda de sustentabilidade sobre desenvolvimento? De que forma?
Claro! Se tivessemos o voto proporcional por lista, como na Espanha ou Portugal, ou o voto distrital misto, como na Alemanha, o processo político seria programático e não fisiologico-individualizado. Haveria discussão sobre agendas. Com nosso sistema eleitoral é tudo um jogo individual, carreirista, de políticos e de aspirantes a políticos buscando sucesso nas respectiva carreiras políticas. Os partidos são meras legendas para agrupar ambições individuais.
Como o senhor avalia o atual momento do PV? O partido pode vir a se fortalecer? De que forma? Como o PV se compara a outros partidos verdes no mundo? Qual a sua opinião sobre a aproximação do PV com Marina Silva?
O PV está diante de sua hora da verdade. É o mais programático dos partidos brasileiros, mas também sofre uma forte infiltração fisiológica por força do sistema eleitoral e das concessões que fez, em 2006, quando recrutou em massa para tentar superar os 5%, a "cláusula de barreira", que então aparecia como uma ameaça terminal. Por um lado, o PV tem hoje uma parte das principais lideranças ecologistas do Brasil. Por outro lado, tem uma bancada de deputados na qual metade nada tem a ver com esse ideário.
Talvez, nas próximas eleições consigamos, no plano nacional, uma melhoria qualitativa além de quantitativa. A experiência das eleições para prefeito no Rio, ano passado, com a candidatura do Gabeira, foi indicadora do que pode acontecer a nível nacional. Não é certo que ocorra mas, pode se dar e seria um fato de grande importância para a causa verde planetária.
A Marina Silva seria uma grande candidata à presidência da república pelo PV. Só não será se não quiser. O PV já decidiu lançar candidato (a) à presidência e o nome prioritário é o dela. Não subestimo as dificuldades mas, penso que pode, eventualmente se viabilizar e será um fato de repercussão gigantesca, não só nacional como planetária. Hoje, Marina é um símbolo verde internacional. E, nossa responsabilidade é planetária, o papel do Brasil na negociação do
OBS: Por problemas no site nao consegui pegar a materia na integra, apenas este trecho que parece ser metade ou um pouco mais da metade da entrevista.